Charlotte correu para dentro de casa. Subiu as escadas de mármore como se aquilo fosse crucial para sua vida, o que na verdade era. O pânico havia a atingido, ela não poderia sustentar essa pequena troca por uma ou duas semanas, seria pela sua vida inteira.

Quando finalmente chegou ao quarto de sua irmã, Charlotte o observou por completo, e pousou seu olhar na cama da irmã. Correu até lá, e passou seu braço magro por debaixo do colchão até encontrar um caderno. Era o diário de Alya.

Ela sentou-se na cama e começou a lê-lo, a sensação de pânico somente aumentou depois de ler o diário. Ele praticamente apenas falava do que Alya e Alexandra Lestrange faziam, sobre como Alya sentia falta de Bellatrix, e referências sombrias e maldosas sobre segredos e piadas que Charlotte não conhecia. Ela não poderia sustentar a amizade que fora criada entre Alya e Alexandra. Ela teria que ter uma nova amiga. Mas, teria que ser alguém que não conhecesse Alya direito. Mas, quem?

As quatro meninas no quintal surgiram em sua mente. Era perfeito. Rose, Dominique, Roxanne e como era o nome da ruivinha?

Charlotte correu para o guarda-roupa de Alya e depois de vários minutos ela encontrou o anuário. O nome da garota brilhou aos seus olhos. Como ela não reconhecera? A garota era Lily Luna Potter! Ela teria o grupo perfeito. Rose, a inteligente. Dominique, a gordinha que faria tudo por ela. Roxanne, a esquisita que não tem amigos. E Lily, a santinha. Elas se renderiam a ela, fariam tudo que mandasse.

Charlotte foi até a janela e viu um carro preto se aproximando. Ela não conseguia ver o motorista, mas sabia que eram seus pais, reconhecera pela voz inesquecível de Axl Rose que seu pai tanto amava.

–Eles já a levaram? – Charlotte pulo pelo susto que levou por seu irmão entrar sem ao menos fazer barulho em seu novo quarto.

–Poderia bater antes de entrar? – Ela o olhou carrancuda.

–Não precisa ter medo. Ela não voltará tão cedo. – O garoto disse como se estivesse se divertindo. O que era verdade. Charlotte o analisou e se perguntou como seu irmão fora para a Lufa-Lufa.

–Ainda não entendo como foi parar na Lufa-Lufa... – Charlotte sussurrou quase que de forma inaudível.

–Tenho mesmo que repetir a minha conversa mental com o chapéu seletor? Tenho que repetir todos os argumentos que usei só para ir para uma casa que mamãe repudiava, para ver se ela te tratava melhor do que a nossa grifinória malditamente louca? – Sirius disse rindo abertamente. Charlotte travou. Seu irmão fizera isso só para ajudar a irmã? Seu irmão mais novo a odiava?

–Bem, vou indo. Sonhe com o Green Day, Aly... – Sirius disse antes de sumir pela porta. Ele a chamara de Aly? Esse era o apelido de Alya!

Ela passou a mão pela extensão do rosto. Seu irmão a chamara de Aly! De Aly! Merlin! Seu teatro estava pior – ou melhor – do que pensava!

Ela foi até o espelho do quarto e começou a se observar. Ninguém acreditaria que ela era uma falsa Alya. As roupas eram do mesmo estilo que Alya usaria. Sua postura era igual a da irmã, como uma dama. Uma dama das trevas.

Em um movimento, ela jogou os cabelos para trás. Ela iria governar Hogwarts. Ela seria a melhor Alya que já existira. Não se contentaria em apenas ser motivo de inspiração para os alunos da casa das cobras, ela seria para Hogwarts inteira.

Ela pegou o anel da irmã que havia escondido, e o colocou no dedo indicador direito, o mesmo que a irmã usava. Ela olhou para seu reflexo no espelho, e recitou o mantra da irmã. Que agora era seu, assim como tudo na vida que um dia já fora de Alya.

–Eu sou Alya, e eu sou fabulosa.

**********

–Vamos lá pessoal! É pelos bruxos carentes!

Alya apenas revirou os olhos. Como Molly Weasley podia ser tão ridícula? Ela se fazia de boazinha, mas não era qualquer um que poderia entender sua farça. Oh, não, essa não é a verdadeira Alya. Essa é Charlotte, que agora se autodenominava Alya.

Essa era uma típica tarde de sábado na escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Os alunos estavam organizando um bazar para ajudar um orfanato bruxo. Os alunos arrecadavam comida, roupas, brinquedos e tudo o que servisse para as crianças bruxas. Alya estava encarregada de ajudar as pessoas de qualquer função, o que era ótimo, pois poderia colocar seu plano em prática de juntar seu mais novo grupo de amigas.

Alya observou o local. Todos os alunos estavam ali porque foram obrigados pelos pais. Mas, sempre temos exceções. E essa exceção se chamava Rose Weasley, a ruivinha fora a única a querer participar do bazar. Ou era apenas uma tentativa de ser melhor que a mãe?

–Acredita que ele ficou olhando para a minha saia? – Uma garota desconhecida que passava por ali disse a amiga. As duas estavam com saias curtíssimas até para uma prostituta.

Roxanne riu – Se não queria que ele não olhasse, ela deveria não andar assim.

Alya riu enquanto a observava. Ela era uma garota bonita, mas se modernizasse o estilo de roupas, tirasse aquela mecha rosa ridícula e parasse de andar com um porco de pelúcia, seria facilmente alvo das cantadas dos garotos.

–Acho que seria mais fácil, ela vir apenas com calcinha! – Alya riu enquanto se aproximava da garota – Eu sou Aly, você é Roxanne certo?

–Sim... – Roxanne respondeu gaguejando e logo suas bochechas ficaram vermelhas.

–Então, Roxy... Não quer se juntar a mim, nesse bazar tedioso? – A loira disse amorosamente.

–Claro! – Roxanne exclamou fazendo alguns a olharem. Ela não estava conseguindo disfarçar sua felicidade.

–Ótimo!

************

Lily arrumava os brinquedos doados nas caixas. Ela não acreditava que teria que largar um dia de treino de quadribol para ter que ficar em um bazar.

A Potter percebeu algo diferente na loira que tanto admirava, ela estava acompanhada. Ao seu lado estava uma garota baixinha, com um par de All Star’s pretos, calças rasgadas pretas, uma blusa roxa, uma bolsa xadrez azul escura que deixava a mostra um porquinho de pelúcia. Seus cabelos eram castanho-escuro e tinham várias mechas cor de rosa. Ela logo a reconheceu, era uma sonserina, assim como Alya.

Lily não entendeu, mas sentiu raiva da garota de mechas róseas. Ela balançou a cabeça tentando afastar aqueles pensamentos.

–Oi Lily! Tudo bem se te ajudarmos? Ah, a propósito essa é a Roxy! – Alya disse abrindo um singelo sorriso.

–Ah, nós nos conhecemos, Alya. Nós somos primas. – Lily disse sem graça. Ela não queria estragar tudo. Estragar uma possível amizade.

–Oh, me desculpem. Eu esqueço que os Weasley’s são uma... Big family!*– A loira disse fazendo as duas garotas que estavam envergonhadas rirem. – E me chamem de Aly! Alya é só quando minha mãe descobre que eu fiz algo de errado! A propósito Lily, você pratica quadribol, não é?

–Sim, eu arrisco um pouco. – A pequena Potter sorriu envergonhada.

–Arrisca? Você é ótima! – Roxanne elogiou a prima.

–Pode me tirar uma dúvida? Bem, eu estava pensando... – Alya começou a inventar uma pergunta idiota. Até que não seria tão ruim ser amiga daquelas garotas!

************

Dominique Weasley arrumava as guloseimas para os visitantes. Essa era uma tarefa difícil para a pequena grifinória. Ela jurara que emagreceria, mas aqueles doces em sua frente, a faziam pensar seriamente se dietas eram uma boa idéia. Ela queria ser magra e bonita, assim como as modelos de revistas, como sua mãe Fleur, e como a nova rainha de Hogwarts, Alya Black.

–São sapos de chocolate? – Dominique olhou para ver de quem era a voz e se surpreendeu. Alya Rosier Black, com seu lindo vestido florido preto até os joelhos com um salto scarpin cinza estava com duas garotas impopulares falando com ela?

–Ahn, sim... Se quiserem provar. – Dominique respondeu incerta.

–Claro. Por que não? – Alya pegou três sapos de chocolate e dividiu com as novas amigas – Quem os fez?

–Eu... – Dominique disse timidamente.

–São ótimos! – Roxanne a elogiou.

–Bem, nem vou apresentá-las já que são da mesma família. Domi, você não gostaria de vir conosco? Vamos ver se alguém precisa de ajuda. – Alya convidou a loirinha docemente.

A garota a encarou surpresa. A garota mais popular de Hogwarts a estava convidando? Mas, e a barraca com os doces? Quem se importava! Alya Rosier Black, a rainha de Hogwarts estava lhe chamando para acompanhá-la e possivelmente ser sua nova amiga!

–Claro! – Dominique disse entusiasmada. Alya entrelaçou seu braço direito com o de Dominique, o esquerdo estava Lily e entrelaçado ao da ruiva, Roxanne.

–Ah, e antes que eu me esqueça. Achei sua blusa adorável. – Alya mentiu. A camiseta laranja que Dominique usava era feia e sem graça. Sem falar que estava totalmente suja de farelos de algum alimento.

************

Todos paravam para olhar Alya Rosier Black passar com suas novas amigas. Ninguém entendia como ela estava andando com garotas tão... Normais? Mas, obviamente ninguém contestava ou criticava. Afinal, ela era uma Black. E Black’s você não os julga, pois é o subordinado deles. E isso foi algo que Alya aprendeu desde cedo.

A jovem bruxa não olhava para aqueles ao seu redor. Eles não mereciam sua atenção. Ela exibia um sorriso maldoso, de como quem está prestes a aprontar algo. O que não era mentira.

Já as outras três estavam confusas. Nunca se sentiram tão bem. Alya as fazia se sentirem especiais, amadas e desejadas. Mas também desconfortáveis, era como se qualquer passo errado fosse as fazer cair das nuvens direto para o inferno.

Alya silenciosamente, acompanhada das novas amigas, se aproximou de uma garota ruiva, sua última vítima.

–Buh! – Alya gritou assustando a garota, que pelo susto, acabou riscando a folha onde escrevia algo.

Alya e as garotas riram do susto da ruiva.

–Isso não tem graça, Black! – A ruiva disse firme. Com certeza era a única que teria coragem de enfrentar a sonserina.

–Ah, deixe de frescuras Rose, todos sabem que os Weasley’s são bem humorados. Vamos, estamos aqui para lhe fazer uma proposta. – Alya proferiu sorrindo. O que as pobres garotas não sabiam, era que aquele sorriso não era amigável. Era um sorriso de quem conseguiu cumprir um plano.

–Estamos? – Dominique perguntou confusa.

Alya revirou os olhos – Sim, estamos. Não quer vir conosco, Rose? Vamos andar um pouco.

–Eu não posso. Tenho que cuidar das folhas, e... – Rose disse envergonhada.

Alya a fitou friamente. Aquela garota estava mesmo dispensando sua companhia?

–Lucas! – Alya chamou um garoto de cabelos negros – Fique no lugar da Rose. Vem Rose, vamos nos divertir! Ah, e eu vi sua letra. Ela é muito mais bonita que a minha.

E assim se iniciou a amizade das seis garotas. Mas o que as pobres meninas não sabiam, era que estavam entrando em jogo satânico. Onde não importava quem começava, e sim quem terminava. E o jogo só terminaria, quando elas pagassem pelos erros da fonte da felicidade. E essa fonte se chamava Alya.