Alguém que nunca veio - Krumione escrita por Amauri Filho


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá, povo lindo desse Nyah! Como vão!

Talvez alguns já me conheçam por já terem lido alguma fic minha sobre Jogos Vorazes. Essa é a minha segunda fic sobre Harry Potter que posto aqui no Nyah.

E, por favor, comentem! Adoro saber o que os meus leitores acharam.

Espero que gostem xD



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Uma e cinquenta da manhã. Faltavam dez minutos para o horário combinado.

A garota, sorrateiramente, inclinou a cabeça para o lado. Estava escuro, mas a pouca luz que, provindo da lua, adentrava a barraca lhe permitiu ver que Harry Potter e Ronald Weasley estavam adormecidos. Temendo acordá-los, a jovem se levantou o mais lentamente possível de sua cama. Mas, assim que se pôs em pé, Harry se mexeu sobre o colchão. Isso, por si só, já a assustou muito. Mas o fato de o medalhão de Slytherin escorrer para fora da camisa do garoto e se chocar contra a madeira da cama, produzindo um baque, a fez pensar que seus dois amigos poderiam acordar.

Ela permaneceu parada por alguns segundos, temendo ser pega no flagra. Felizmente, isso não aconteceu. Aliviada, a jovem saltitou, nas pontas dos pés, até a saída da tenda. Uma vez em seu exterior, ela caminhou delicadamente sobre a grama, para evitar que o som uma folha seca se partindo pudesse denunciar sua saída furtiva no meio da noite. Após alguns instantes, ela se virou e olhou para tenda um único instante.

Tão pequena por fora, mas tão gigantesca por dentro. Obviamente, ela sabia cada detalhe do mecanismo do feitiço que permitia essa ilusão de ótica mas, mesmo assim, não deixava de ser impressionante. Era a primeira vez que ela deixava os dois sozinhos no meio da noite e temia o que poderia acontecer. Mas seria por apenas alguns minutos. Uma ou duas horas no máximo. Se tudo desse certo, ela estaria de volta antes do amanhecer e nenhum deles teria percebido a sua ausência.

Segurando a varinha com a ponta dos dedos, mas mantendo-a dentro do bolso lateral de seus jeans, a garota deu mais alguns passos para longe da tenda. Por fim, ela se encontrou fora dos limites dos feitiços de proteção que havia lançado sobre a tenda em que ela e os dois amigos dormiam. Mas, por ser a autora dos feitiços, ela ainda conseguia ver a tenda e ultrapassar a fronteira da área protegida quando bem entendesse. Ela inspirou uma última vez e, por fim, girou os calcanhares, rodopiando e mergulhando em um redemoinho.

Imediatamente, ela sentiu como seu um gancho a puxasse para cima pelo umbigo. Por um instante, ela perdeu a referência cima-baixo enquanto seu corpo girava em uma atmosfera que lhe impedia de respirar. A vontade de vomitar se intensificava cada vez mais mas ela não chegou a eliminar a pouca comida que havia ingerido no jantar pois, no segundo seguinte, ela ouviu o som de buzinas e de um gotejar constante. A garota abriu os olhos e percebeu que estava em um beco. Exatamente para onde desejara desaparatar.

Ela retirou um elástico do bolso e prendeu os cabelos castanhos antes de começar a caminhar pelo beco em direção a rua. Apesar dos casacos que vestia, ela sentiu muito frio. Enquanto friccionava as mãos contra seus braços na tentativa de aquecê-los, ela caminhava pelo beco olhando para todos os lados, temendo estar sendo seguida. Um calafrio percorreu sua espinha apenas por ter cogitado essa possibilidade. Mas era uma possibilidade que a deixava tensa e que a fez se assustar ainda mais quando um gato saiu detrás de uma lata de lixo e cruzou o seu caminho velozmente. Por impulso, ela retirou a varinha do bolso e apontou para o animal.

Petrificus Totalus! – ela gritou.

O gato, então, parou de correr. Suas patas colaram-se em seu corpo, que deslizou por uma pequena poça de água. Ela sabia que esse tipo de atitude poderia ser um exagero. Mas não poderia correr o risco de estar enfrentando um animago. De fato, as chances eram mínimas. Mas ela precisava voltar para a tenda ainda naquela noite. Harry e Rony não iriam a lugar algum sem ela. Pensar isso não era algo muito humilde mas, infelizmente, era verdade: os conhecimentos da garota eram cruciais para o desenvolvimento da missão.

Após esse pequeno incidente, ela pensou se não deveria ter usado um pouco de poção polissuco para fazer essa pequena jornada. De fato, era uma estratégia um pouco mais segura. Mas a justificativa que encontrara na noite passada para não utilizar esse recurso voltou à sua mente em instantes: para se transformar em uma pessoa por uma ou duas horas, ela precisaria de uma quantidade substancial de poção e Harry e Rony iriam perceber que um pouco havia sumido. Acusações começariam a surgir de todos os lados e, na situação em que estavam, com apenas uma Horcrux e Rony com o braço ferido, não era uma boa alternativa provocar uma briga. E, além disso, fora por ela que Viktor Krum se apaixonara. E não por outra pessoa. Era com ela que ele queria se encontrar.

Já haviam se passado quatro dias desde que esse passeio estava planejado. Rony ainda estava muito abalado devido ao seu recente ferimento no braço, causado enquanto fugiam do Ministério da Magia. Por isso, o trio caminhava em passos lentos há alguns dias e, por consequência, a única forma de higiene que eles conheciam era feita através de feitiços. Mas, naquele dia, eles encontraram um lago na Floresta do Deão. A decisão foi unânime: iriam acampar na margem para, assim, poderem tomar o primeiro banho decente em dias. Talvez por cavalheirismo, tanto Harry quanto Rony a deixaram ir primeiro.

A garota precisou de um simples e único feitiço para deixar a água de uma pequena região do lago aquecida, enquanto todo o resto da superfície estava quase congelando. Em pouco instante, ela submergiu até a altura do pescoço. Mas seu tão sonhado banho foi interrompido alguns instantes depois: uma grande águia prateada cruzou o céu e pousou sobre um galho próximo à margem. Assustada, ela se esticou para alcançar sua varinha no bolso interno de seu casaco, que ela deixara sobre a grama; para isso, contudo, não precisou sair completamente da água. Mas, no instante seguinte, a boca da águia se mexeu e uma voz familiar chegou aos seus ouvidos.

“Estar-rei no Mumbaloo’s Bar, em Londres, em quatro dias às duas da manhã. Gosta-rria muito de te verr, Ermio-nine.”

A águia se dissolveu no ar e, após alguns instantes, a jovem sorriu encabulada. Mesmo não havendo ninguém com ela, ela sentiu suas bochechas corarem por alguns instantes. O problema, contudo, concretizou-se quando ela retornou para a tenda, onde Harry e Rony aguardavam.

–Era um Patrono? – perguntou Rony curioso. – De quem?

–Patrono? – a jovem perguntou, fingindo não saber do que ele falava.

–Aquele pássaro enorme – explicou Rony. – Eu e o Harry vimos. Foi falar com você.Perdemos ele de vista quando ele pousou em algum lugar.

–Comigo? – ela disse de forma irônica. – Vocês só podem estar loucos. Devem ter visto uma estrela cadente, isso sim. Saibam que o lago está livre, se quiserem ir tomar banho. Eu não desfiz o feitiço, então a água ainda está quente.

E, dessa forma, ela conseguiu convencê-los de que nada ocorrera. Ou pelo menos, conseguira deixá-los em dúvida. Os quatro dias que se seguiram a deixaram muito nervosa. A possibilidade de reencontrar Viktor Krum a deixava tão ansiosa que elas mal conseguia dormir a noite. Mas, ao mesmo tempo, ela temia pelo rapaz. Estando na missão em que estava, todo o tipo de coisa que saísse errado com ela poderia envolvê-lo. Principalmente após a invasão ao Ministério da Magia, quando seu rosto passou a estampar cartazes por todas as esquinas do mundo bruxo: se os Comensais da Morte descobrissem sobre ela e Krum, eles fariam qualquer coisa para atraí-la. Diversos tipo de tortura. Talvez, poderiam até matá-lo... A simples idéia de que isso poderia acontecer fez um calafrio percorrer a espinha da jovem enquanto ela caminhava para fora do beco. Ela não podia deixar isso acontecer. E só havia uma forma de deixá-lo fora de risco. Doía-lhe o peito ter que admitir isso, mas ela sabia que era preciso fazer.

A rua na qual o beco terminava não era muito movimentada: havia apenas alguns carros. Contudo, devido ao horário, não havia pedestre algum, o que lhe assustava um pouco. Contudo, a excelente iluminação permitia-lhe observar toda a extensão da rua: ela saberia facilmente se estivesse sendo seguida. Bastou-lhe andar apenas mais alguns minutos até que Hermione Granger se viu no centro da movimentada Picadilly Circus. Mesmo às duas da manhã, a praça estava movimentada de carros e pedestres e isso a deixou ligeiramente mais confortável. Mesmo assim, ela redobrou sua atenção: qualquer um alí poderia representar uma ameaça.

Por fim, do outro lado da praça, Hermione avistou um grande letreiro em neon amarela e rosa: Mubaloo’s Bar. A fachada do estabelecimento era grande e coberta por coqueiros iluminados por holofotes verdes. Por um instante, a dor voltou a tomar o peito da garota. Para proteger Krum e para seguir estritamente às ordens de Dumbledore, ela não comentara com ele os objetivos dessa viagem que fazia com Harry e Rony. Mas o pouco que comentara sobre temas paralelos foram suficientes para que o búlgaro percebesse que era algo perigoso e que a colocaria em problemas com o Ministério da Magia, como de fato acontecera. Por isso, ela sentiu-se muito feliz em ver que Krum tivera o cuidado de escolher um bar trouxa para se encontrar com ela. Assim, ela ficaria afastada de qualquer perigo do mundo mágico. Mas essa felicidade fora completamente destruída quando ela se lembrou de seu objetivo em reencontrá-lo.

Em seu interior, o bar era escuro. A iluminação era feita, praticamente em sua totalidade, pela velas na mesa pela luz dos prédios ao redor do bar, que adentravam o local por meio de imenso teto de vidro. Após entrar, Hermione não precisou procurar muito para encontrar Viktor: o jogador estava sentado em uma mesa há pouco metros da entrada e parecia nervoso. O drink à sua frente estava pela metade e ele parecia agitado. E ela imaginava o porquê: nesses quatro dias, a garota não enviara nenhum Patrono, confirmando que iria ou não se encontrar com ele. Provavelmente, Krum estava pensando se ela viria.

No momento em que Hermione concluiu o possível motivo da agitação de Krum, ele se virou para olhar a porta de entrada do bar. Os olhos dos dois se cruzaram e, inconscientemente, sorrisos se formaram nos lábios dos dois. A garota, então, caminhou lentamente até búlgaro. Estavam a menos de dois metros de distância um do outro quando ele se levantou da cadeira que ocupava e ela se jogou em seus braços. Nesse instante, Hermione sentiu novamente os lábios de Krum tocarem os seus ao mesmo tempo em que a barba do jogador de quadribol roçava a pele ao redor de sua boca.

–Estava com saudades – ele disse.

–Eu também – confessou Hermione antes de buscar mais um beijo dele.

–Quer-r beber alguma coisa?

A garota, então, respondeu com uma negativa com a cabeça. Viktor, então, chamou o garçom e pagou-lhe pelo drink que havia bebida antes de se retirar do bar com Hermione. De mãos dadas, os dois caminharam pela Picadilly Circus até chegarem a uma pequena travessa.

A iluminação era feita por apenas alguns postes espaçados por distâncias muitos longas, de forma que alguns pontos eram bem iluminados e outros, dominados pelo breu. Os interiores das casas ao longo da travessa estavam tomados pela escuridão, indicando que seus moradores já dormiam. Mesmo assim, para evitarem serem interrompidos, Hermione e Viktor se acomodaram entre as raízes de uma árvore em uma das porções escuras da rua: Viktor sentou-se no chão, apoiando suas costas contra o tronco e Hermione sentou-se sobre sua perna direita, olhando para frente e deixando que os braços do búlgaro a envolvessem pela cintura.

–Eu estava pr-reocupado com você, Ermio-nine – disse Viktor. – Seu r-rosto está em vár-rios cartazes de pr-rocurados do Ministér-rio da Magia. O que aconteceu?

–Vick... – Hermione hesitou. – Eu já disse... Eu não posso comentar esse tipo de coisa.

–Eu sei! – ele disse. – Mas invadir-r um lugar daqueles não é muito comum, não é? Tente imaginar como eu fiquei pr-reocupado com você quando descobr-ri o que aconteceu e você não me mandou notícias...

Nesse momento, Hermione sentiu um aperto em seu peito. De fato, ela deveria tê-lo avisado de que estava bem. Invadir o Ministérios da Magia e roubar um de seus funcionários não era algo que era noticiado tão constantemente no Profeta Diário. E se tornava ainda mais incomum por estarem em um regime de exceção no qual as pessoas sumiam ou eram encontradas mortas todos os dias. Viktor deve ter se desesperado quando soube que Hermione estava envolvida no que aconteceu.

–Me desculpe por isso – ela disse para ele, acariciando a palma de sua mão. – Mandar um Patrono pra te responder poderia denunciar minha localização. Eu não podia arriscar. E é tanta coisa acontecendo, Vick... Eu estou com medo. Não sei o que mais pode acontecer.

–Então, me deixe ir-r com você nessa viagem – Krum pediu. – Quer-ro estar-r com você. Par-ra saber que está bem. Eu pr-rometo que não vou atrapalhar-r você, o Arry e o Rony. Vou fazer-r tudo o que vocês pedir-rem. Mas me deixe ir-r com você.

Hermione, então, reprimiu uma risada. Não porque o que Viktor dissera era engraçado. Mas porque, devido à muitas circunstâncias que ela não podia lhe esclarecer, o pedido dele se tornava completamente absurdo.

–Eu os treinos do time de quadribol? – Hermione perguntou na tentativa de fazê-lo desistir dessa idéia absurda que ele tivera de ir com eles caçar as Horcruxes. – A seleção da Bulgária iria te demitir por causa das faltas.

–Ah, não – Viktor disse, não conseguindo reprimir sua risada. – Eles não ir-riam me demitir-r. Não quer-ro me gabar, mas eles não ter-riam ninguém para me substituir e eles sabem disso. Eu poder-ria viajar-r com você par-ra onde quer-r que fosse e faltar a quanto tr-reinos eu quisesse que eles não far-riam nada comigo. Eu só quer-ro estar-r com você par-ra saber que está a salvo, Ermio-nine.

A garota sorriu e se virou para encará-lo. Após um rápido instante no qual, devido à escuridão, ela apenas conseguiu ver os olhos do búlgaro devido à luz das estrelas por eles refletida, Hermione inclinou-se e beijou a boca dele com paixão. E Viktor retribuiu o beijo de forma apaixonada, segurado o rosto dela com leveza com suas mãos.

–Sabe, às vezes eu acho que foi por essa sua gentileza que eu me apaixonei – disse Hermione quando, finalmente, os lábios dos dois de distanciaram, fazendo-o sorrir e finalmente, conseguindo mudar de assunto e fazê-lo esquecer de sua idéia inicial.

–E eu me apaixonei por tudo o que você é, Ermio-nine – ele respondeu, sorrindo levemente.

Nesse momento, Hermione voltou a beijá-lo. Mas dessa vez, foi um beijo ainda mais intenso: ele se debruçou sobre ele, apoiando suas mãos sobre seu peito enquanto ele a envolvia em um abraço apertado e carinhoso, deslizando sua mão direita pelas costas da garota enquanto a esquerda se perdia por entre os fios castanhos de sua cabeça.

–Eu queria que esse momento durasse pra sempre – disse Hermione.

–E vai – disse Viktor. – Quando tudo isso acabar-r, eu vou fazer-r o meu possível par-ra que você seja a mulher-r mais feliz do mundo.

–Você já me faz, Viktor – Hermione emendou. – Você já me faz.

Então, ela o beijou novamente. Um beijo rápido e que fez aquele tão conhecido aperto voltar a dominar o seu peito. Não queria. Mas era preciso fazê-lo. Ela tinha que protegê-lo. Jamais se perdoaria se algo acontecesse a ele e a culpa fosse dela.

–Agora, eu preciso ir – disse ela, levantando-se.

–Nós poder-ríamos nos encontrar de novo? – Viktor perguntou enquanto postava-se em pé.

Hermione aproximou-se e envolveu seus braços ao redor da nuca do rapaz.

–Claro – ela disse. – Mas não aqui. Não acho seguro ficarmos repetindo os mesmo lugares.

–Onde então?

–Perto de onde eu morava com os meus pais, tem uma casa de chá chamada The Peasant Girl – disse Hermione. – Daqui a uma semana no mesmo horário. Ela fica aberta o dia todo. Pode ser?

–Qualquer-r lugar é perfeito com você – Krum respondeu, curvando-se para beijá-la.

Hermione sorriu, abraçando-lhe ainda mais forte.

–Viu o que eu quis dizer sobre a sua gentileza? – ela disse. – Agora, eu realmente preciso ir.

Viktor abaixou-se para beijá-la mais uma vez. Por fim, eles se distanciaram e Viktor olhou para trás uma última vez enquanto caminhava pela travessa, distanciando-se de Hermione. Mas, no momento em que ele voltou a olhar para frente, Hermione soube que chegara a hora. Precisava fazer e tinha que ser rápida. Não poderia repensar sua decisão novamente; se o fizesse, ela sabia que sua hesitação a impediria de por seu plano em prática.

Após conferir que as janelas das casas mais próximas continuavam apagadas e, assim, saber que nenhum trouxa a veria realizar o feitiço, Hermione retirou sua varinha do bolso e apontou para Viktor. Não queria ser covarde e atacá-lo pelas costas. Mas também não queria que a última verdadeira lembrança que Viktor teria dela fosse a de um ataque enquanto ele estava desarmado e indefeso. Por isso, ela apenas se contentou em sussurrar:

Estupefaça!

O jato de luz vermelha saiu da varinha de Hermione e explodiu nas costas de Viktor, dissolvendo-se no ar como fumaça. O búlgaro caiu de joelhos sobre a calçada no momento em que os últimos resquícios de luz vermelha se extinguiram em meio à noite e, então, ele tombou para o lado.

Hermione, então, aproximou-se dele e girou o corpo caído sobre a calçada. Após analisá-lo por alguns segundos, ela percebeu que ele estava inconsciente. A garota guardou a varinha no bolso e, segurando Viktor pelos pulsos, puxou-o para a raiz da árvore onde, instantes antes, os dois trocavam beijos e carícias. Viktor, contudo, devido à corpulência que o fazia um exímio jogador de quadribol, era absurdamente pesado, de forma que a tarefa de arrastá-lo pela calçada exigiu de Hermione alguns minutos e muita força. Mas, por fim, ela conseguiu colocá-lo sentado, apoiado sobre o tronco.

Ela, então, retirou a varinha e se ajoelhou em frente a ele. Já havia feito isso uma vez com seus pais, alguns meses antes. Poderia fazer de novo. Mas ela temia errar. No caso de seus pais, não havia chances de haver erros: uma vez que ela apagara deles todas as memórias sobre a única filha, Hermione, por consequência, apagara todos os sentimentos que eles tinham por ela. Mas, com Viktor era diferente. Hermione não precisava apagar todas as memórias dele em relação a ela. Só algumas... Mas isso significava que, se não apagasse as memórias certas, ele ainda poderia se lembrar dela de alguma forma especial e, portanto, ainda sentiria algo por ela. E isso seria absolutamente perigoso. Hermione não teria coragem de apagar todas as memórias dele sobre ela, apesar de isso ser mais sensato e garantir que ele ficaria longe de qualquer risco.

A garota, então, apontou a varinha para o rosto inconsciente de Viktor.

Obliviate!

Naquele momento, Hermione sentiu a infinidade das memórias de Viktor em suas mãos. Poderia fazer o que quiser com elas: trocá-las de ordem, alterá-las ou até apagá-las. Ela só devia selecionar quais memórias deveriam ser apagadas. Mas ela já tinha uma idéia de quais lembranças deveria eliminar: beijos, abraços e qualquer forma de momentos íntimos que os dois já tiveram. Qualquer lembrança que permita a Viktor entender que, em algum dia, ele e Hermione já estiveram em um relacionamento que mantiveram em segredo de tudo e de todos. Ela manteria algumas memórias acerca dela: manteria as conversas que os dois tiveram na biblioteca de Hogwarts durante o Torneio Tribruxo; o dia em que ele, após uma pomposa reverência, pediu-lhe para ser seu par no Baile de Inverno e beijou delicadamente a sua mão quando ela disse “sim”; o dia em que dançaram juntos no Baile; algumas das cartas que trocaram durante um ano antes de conseguirem se ver novamente nas férias de Hermione após ela concluir o quinto ano em Hogwarts. Mas ela precisaria excluir memórias altamente significativas: o pedido de desculpas de Krum após ele a beijar pela primeira vez no dia em que a comitiva de Durmstrang estava deixando Hogwarts, após o trágico final do Torneio Tribruxo; quando ele visitou a sua casa para conhecer seus pais nas férias de Natal de seu sexto ano em Hogwarts; quando os dois passaram uma tarde inteira em uma sorveteria de Londres.

Assim, após terminar de reorganizar a mente de Viktor, a garota se inclinou para ele e beijou seus lábios uma última vez.

–Eu te amo, Vick – ela disse quando uma lágrima escorreu pelo seu olho esquerdo.

Todas essas memórias, a partir daquele dia, pertenceriam apenas a Hermione.

E ela se sentiu egoísta por isso.

***

A The Peasant Girl era uma casa de chá muito pequena. A fachada era pintada de branco e o nome do estabelecimento estava gravado em uma placa de acrílico presa à uma grande pedra de mármore na parede.

Logo que entrou, Viktor Krum ouviu uma sineta tocar.

Ele não fazia idéia de como o nome do lugar surgira em sua cabeça. Ele nunca estivera alí e, por isso, passou a semana achando que estava louco. Poderia ter sido em um sonho... Mas havia algo de estranho com o fato de ele sonhar com um lugar que não conhecia e que nunca estivera. O búlgaro não sabia com quem combinara e quando havia feito, mas tinha certeza de que havia combinado com alguém de que deveriam se encontrar nesse local e naquela data. Mas, por mais que se esforçasse, não conseguia se lembrar o nome da pessoa. E a situação se tornava ainda mais estranha pelo fato de o nome da casa de chá ter surgido em sua mente após ele acordar no meio da rua, apoiado em uma árvore de um bairro residencial no centro de Londres, sem sequer conseguir se lembrar de como chegara alí.

Mesmo assim, ele se sentou em uma mesa afastada da porta de entrada e pediu um chá quando a garçonete veio lhe atender. E ele esperou. Sabia que, às duas horas da manhã, essa pessoa, seja lá quem fosse, viria se encontrar com ele. Sabia que viria. E, assim, Viktor Krum passou a noite inteira sentado em uma mesa da The Peasant Girl, esperando por alguém que ele não sabia quem era mas que, com certeza, conhecia.

Alguém que nunca veio.


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Notas finais do capítulo

Deixem seus reviews, lindos e lindas do tio Maumau!

Um beijão e um abraço bem apertado para todos!

PS1: Eu escrevi "Viktor" porque uso os nomes originais dados pela JK. Eu simplesmente me recuso a usar os nomes com as alterações feitas pela tradução.

PS2: Entrem para o grupo das minhas fics no Facebook para receberem notícias e informações sobre projetos em andamento ou projetos futuros!

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