ESD - O Controle escrita por SEPTACORE


Capítulo 2
Túnel do tempo




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Realmente, o dia de ontem tinha sido um dia incomum. Parece que todas as circunstâncias apontavam pra mesma coisa: eu havia morrido.

Uma mulher lançou chamas em mim e depois vi uma figura alada - possivelmente um anjo - me buscando.

Mas quando acordo, me encontro no sofá de casa. Meus pais estão conversando com outras duas pessoas na cozinha. Reconheço a voz do professor Fili acompanhado de uma mulher.

Então Fili sobreviveu às chamas. Lembro-me muito bem de tê-lo visto queimar depois de enfrentar a mulher que lançava chamas. Admito que tudo está muito embaraçoso. Parece que as coisas que aconteceram não aconteceram. Estou com a mesma sensação de ter acordado de um sonho.

E na real: acho que isso foi um sonho. Devo ter adormecido no sofá antes de ir pra escola. Nada do meu dia tinha acontecido. O professor Fili não produz luz alguma, não havia mulher lançando e chamas e com certeza não havia ninguém voando. Estou até rindo de mim por acreditar que aquilo tudo era real.

Aproximo-me da cozinha discretamente para ouvir o assunto.

–... É uma ótima entidade – fala o Prof. Fili. – Provavelmente, a melhor.

– E vamos admitir que seu filho é especial - diz a mulher.

Querem me mandar para uma entidade? E como assim sou especial? Não tenho nenhum problema mental! O que eles estão pensando?

– Sim, eu entendo. O tio dele, meu irmão, também fazia coisas assim – diz minha mãe. –, mas ele resolveu usar o poder para ser mágico, não queremos que ele vá pelo mesmo caminho.

Quando ela diz isso, minha cabeça até dói. Agora volto a acreditar que não foi um sonho. Tudo por uma palavra: "poder".

– Mas, é exatamente pra isso que a ESD foi feita – começa Fili. – Ele vai aprender a controlar o que ele tem de especial. Ainda não descobri o que é, mas ninguém consegue sobreviver e ainda derrotar uma mulher que atira chamas sem fazer nada.

– Tudo bem, aceitamos a proposta da entidade – fala meu pai.

– Que entidade? E o que é ESD? – pergunto, após entrar na cozinha.

– Olá, James - diz Fili.

– Não me venha com "olá", apenas me diga o que aconteceu hoje quando fomos atacados por aquela mulher que atira fogo.

Meus pais me olham com cara feia pelo meu comportamento, mas desde hoje de manhã não me preocupo mais com comportamentos.

Espero Fili explicar, porém quem explica é a mulher que o acompanha, e devo admitir que a voz dela era tão linda que poderia parar uma guerra.

– Bem, quando Fili foi atacado, vi que tudo estava perdido e fui salvar sua vida.

Então era ela que voava.

–... Mas já era tarde demais, a Vipera lançou chamas sobre você. Porém, não sabemos por que, mas as chamas não o danificaram e voltaram pra ela.

– E então, ela fugiu, queimando com o próprio fogo - completa Fili. - E depois, Hila pousou e nos trouxe até aqui.

– Agora sabemos que você é especial - diz Hila.

Demora um pouco até meu cérebro processar tudo o que acabei de ouvir. Então, aproveito para fazer as perguntas que tenho agora.

– E onde fica essa ESD mesmo? E o que significa "ESD"?

– ESD é uma sigla pra "Entidade de Super Desenvolvidos". Fica no Monte Alvor, no Acre - explica Fili.

Começo a rir, mas vejo que apenas eu estou rindo. Achei que ele estivesse zoando, mas se fica mesmo no Acre, então tenho uma longa viagem.

– E há mais de mim? – pergunto. - Quer dizer, de nós?

– Sim - diz Hila. - Como os poderes se manifestam na adolescência, estamos buscando essas pessoas desenvolvidas por todo o país. Os "SD" mais velhos ficam disfarçados como professores nas escolas com o objetivo de identificar e trazer essas pessoas para a entidade.

– E é o que acontece agora - diz Fili, depois se dirige aos meus pais. - Reuniremos todos os SDs mais novos do estado de São Paulo no parque Ibirapuera. Lá, terá uma passagem e um guia que os levará em segurança até a ESD. Acham que podem levá-lo?

– Sim, com toda certeza! - meu pai diz.

– Ok, então, minha missão termina aqui - diz Fili. - Enviaremos uma mensagem com o ponto de encontro para o seu e-mail.

– Não querem ficar para o jantar? - diz minha mãe.

– Obrigado, Sra. Camões, mas temos muito o que fazer. Até a ESD, James. E boa sorte.

– Até lá, James! - diz Hila.

– Até - digo.

Eu os acompanho até a porta da frente. Depois, vejo as asas rosada de Hila surgirem de suas costas. Ela segura Fili por trás e parte para o céu.

De madrugada depois da conversa que tive com meus pais a respeito de tudo isso, verifico no meu celular o e-mail que me mandaram às 19h49min.

*Entidade de Super Desenvolvidos*

A entidade avisa brevemente que o ponto inicial de encontro será no dia 03 de Janeiro, ao amanhecer, no Parque Ibirapuera, São Paulo - SP. Dois dos nossos estarão à espera.

PS: No leste do rio, a flor estará. Às Seis e meia, no rio brilhará.

03 de Janeiro. Amanhã, no amanhecer. Restam-me apenas algumas horas para estar lá.

Levanto da cama e ouço passos pela casa. Não sou o único acordado.

A porta abre e a silhueta do meu pai aparece.

– Apronte-se. Vamos tomar o café em alguns minutos.

E saiu. Fui direto ao banheiro tomar um rápido e quente banho. Visto roupas normais do dia-a-dia e em alguns minutos já estou tomando um rápido café com meus pais. Após isso, sem delongas, entramos no carro e minha mãe dirige até o parque.

Moramos há apenas trinta minutos e a viagem, apesar de sem conversas, foi rápida.

Ao chegarmos, vemos que já é o começo do amanhecer. Abraço os meus pais e eles me dizem coisas confortadoras como:

"Não vista a mesma cueca".

"Manteremos contato com a diretoria de lá.”

"Noras ou netos não!"

Como sempre, confortantes.

Pego a mala que preparei e vejo no Google Maps o local.

O carro dos meus pais sai e me deixam sozinho.

Não tão sozinho assim, já que é São Paulo. A cidade é enorme e há muitas pessoas espalhadas.

Ao chegar ao ponto marcado, vejo e conto sete pessoas no local. Quatro garotos e duas garotas. Chego perto e pergunto a um deles, já que estão todos de mala também.

– DSE também?

Isso provoca um riso neles.

– ESD, sim - responde um alto, de pele café com leite e cabelos castanhos. - Prazer, André.

Apertamos as mãos.

– Estávamos esperando por você - diz a garota mais alta entre eles. Sua pele é muito branca e seu cabelo é ruivo. - Fili me disse que seriam oito a ir no amanhecer.

– Ok. Como vamos mesmo?

Um garoto meio loiro e de altura mediana arriscou.

– Acho que temos que pular aí.

– Não me... - começa um garoto, que, pelo que seu colar indica, se chama Toni. No entanto, ele para de falar quando uma parte próxima a nós no rio começa a brilhar em um tom dourado, porém não muito forte.

Uma das garotas olha para o relógio.

– 06h30min. É a hora exata onde a flor dourada se abre e tem que receber o toque-alavanca.

– É um sistema inteligente. - Afirmo, e em seguida André pula com sua mala no rio. Ele não volta tão cedo e todos nós pulamos em seguida. A água está bem limpa para que vejamos uns aos outros e também que a garota que disse a hora, Ana Moreira, tocasse na planta dourada.

Nossas malas não hesitavam por estar abaixo d'água e, de repente, a flor ativou uma rocha grande a sua direita e um tipo de buraco foi se abrindo. Em mais segundos, enquanto respirávamos os últimos segundos, mergulhamos novamente até atravessar a passagem e ela se fechar. Mas não antes da luz que iluminava um barco a nossa frente em um túnel gigante ser diminuída ao extremo.

– Gente, chama o SAMU! - grita Ana, na escuridão. – Não estou vendo é nada! SOCORRO!

– Gente, sou só eu ou vocês também estão com as roupas e mala secas?

Após a voz de um dos sete dizer isso, verifico minha blusa e sinto que é verdade.

Quando olho para uns dez metros além de nós, percebo que há algo dourado no ar. Quando caio na real e vejo o que é, eles também veem.

– G-Gente... TÔ PASSANDO MAL, SÉRIO. O QUE É AQUILO?

Uma voz na escuridão responde por mim.

– Olhos. – Milhares de luzes são acesas na parede direita do túnel. Agora vemos tudo, principalmente o proprietário dos olhos brilhantes e da voz. Um garoto um pouco mais velho que nós, de cabelos pretos. Alto. Segurando uma bandeira preta e branca na proa do barco. - Meus olhos.

– Aproximem-se – diz um cara alto, um pouco moreno e de cabelos negros. – E venham pelas beiradas do túnel. Essa água pode ser traiçoeira.

Nós vamos pela beirada do túnel enquanto percebo que a água começa a subir um pouco. Assim que chegamos, os garotos nos ajudam a subir no barco e em dois minutos todos já estamos lá dentro. De mala e tudo.

Sentamos num sofá improvisado e ficamos olhando um para os outros. O barco se movimenta e começamos a ir com certa rapidez. Tudo que ilumina são as luzes na parede.

– E então... Se apresentem - diz o mais velho. - Sou Alexandre.

– James Camões - digo.

– Ana Moreira.

– Mattheus Marques.

– Barbara Baptista.

– André Galdino.

– Monique Marin.

– João Pedro, mas me chamem de Toni.

Por último, o garoto completou:

– Gorran.

Em seguida, todos os olhamos para o garoto cujos olhos pararam de ficar dourados e voltaram para uma cor marrom claro.

– Felipe Miranda.

A fim de quebrar o novo silêncio, Mattheus faz uma pergunta.

– Por quê seus olhos ficam dourados?

– É meu poder – responde –, minha visão é dez vezes mais avançada que as suas. Ela é fruto de um desenvolvimento... natural. E vocês?

– Eu descobri muito recentemente... - começa Mattheus. - Eu posso me multiplicar.

Felipe e eu levantamos uma sobrancelha.

– Eu tenho telepatia. Posso ler a mente de todos vocês... – diz a garota alta, Barbara. Todos a olhamos. – Menos dele – e ela aponta para mim.

Em poucos segundos, todos os dezoito olhos se direcionam a mim, fazendo-me ficar envergonhado.

– Não leve a mal, James. É que quando eu tento, só consigo ouvir um... cco.

– Espera... Então você está lendo nossa mente desde que a gente se encontrou lá? – pergunta André, tendo apoio nos olhares dos outros. – Isso não é considerado invasão de privacidade?

Barbara rapidamente se explica.

– Hã... Foi só por alguns segundos, gente. E às vezes eu não consigo controlar, sabe? Sem falar que a sua mente, André, é confusa.

– O que quer dizer com confusa? – diz ele.

– Ela é... Não consigo acompanhá-la.

Após a frase de Barbara, um barulho de algo batendo na água ecoou por todo o túnel.

Felipe e Alexandre levantaram assustados. Os olhos de Felipe viraram dourados novamente e ele olhou para o caminho a nossa frente enquanto Alexandre nos dizia para ficarmos sem fazer sequer algum movimento.

– São... MINHOCAS GGIGANTES! – grita Felipe, ao mesmo tempo em que o plano de ficarmos sem fazer movimento foi por água abaixo. – Alexandre, eles estão vindo.

Eu e mais alguns levantamos e vemos uma coisa rápida na água vindo em direção ao barco. Em um momento, a criatura bate contra o barco e todos os tripulantes só faltam voar.

Felipe se apressa em pegar um bumerangue não sei de onde e começar a ir mais para a proa.

– VENHAM AQUI, MINHOCAS ESTÚPIDAS!

Quando ele grita isso, preferimos que não tivesse feito. Duas minhocas gigantescas surgem da água.

Monique e Barbara se agarram uma na outra enquanto Ana e Toni estão prestes a vomitar.

O bumerangue rápido de Felipe atinge a cabeça da minhoca e a faz se contorcer de dor.

Alexandre abre os braços como o Cristo Redentor e o túnel começa a tremer.

As minhocas passam por debaixo do barco, batendo no casco e indo para a popa. As garotas que lá estavam saem correndo e gritando.

Alexandre corre para a popa enquanto Felipe pega um arco e uma flecha mortífera.

Alexandre faz o barco ir mais rápido e quando as minhocas ficam longe o suficiente, manipula a terra que há acima do túnel e com ela faz as pedras caírem em cima, esmagando uma minhoca inteiramente enquanto a outra morre de dor após a flecha de Felipe ser solta.

O barco se distância mais e mais até que todos se considerem salvos.

– Por essa a gente não esperava! – exclamou Alexandre.

– Nós acabamos de sair do Ibira, em São Paulo, e temos que chegar ao Acre – diz Gorran, ofegante. – Vamos chegar por volta de quantos dias?

Felipe explica de forma rápida.

– O tempo nesses túneis é reduzido. Já estamos quase lá.

Em alguns minutos, o barco começa a ficar mais lento e uma luz é vista no fim do túnel.

Corro até a proa e o barco se aproxima mais.

A paisagem de uma imensa fortaleza mutante entra na minha cabeça. E em pensar que vou ficar morando aí. Sinto vontade de abrir um champanhe agora mesmo.

Só espero que não contem aos meus pais.


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Notas finais do capítulo

Esperamos que gostem :D



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