O REVERSO DA MEDALHA - Fanfic Express escrita por Serena Bin


Capítulo 5
Uma Arma Modificada


Notas iniciais do capítulo

Olá lindezas!
Agradeço aos comentarios do capitulo anterior. Em especial a Heysisters, que comentou pela primeira vez. Seja bem vinda gatinha.
Esse Capítulo é seu.
Beijos e Boa Leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/579323/chapter/5

Sou retirado rapidamente do estúdio. Ao longe ouço os gritos da platéia.

Pessoas clamando por minha vida, outra perplexas demais para esboçar alguma reação.

Enquanto sou transferido para outro cômodo, sinto uma dor excrussiante em minha cabeça. Em poucos minutos me encontro sentado em uma cadeira dura dentro de uma sala ladrilhada.

Meus olhos ainda muito inchados recebem mais uma leva de socos, e quando já não posso mante-los abertos, a dor me toma. Algo tão forte que faz com que eu vomite uma secreção branca, provavelmente algum líquido de meu estômago machucado.

Imagino Johanna. Ela é forte, disso não tenho dúvidas, mas tenho medo do que possam ter feito a ela que, claramente sabe bem mais do que eu.

Eu quero reagir, mas quando mais um ataque encontra minhas costas, perco minhas forças, então não me debato, apenas tusso muito, sentindo as pontadas agudas em meus pulmões.

Estou sufocando aos poucos, porque a dor é tão intensa. Ouço vozes incitando meus agressores, mas há um momento em que cessam.
Demora um pouco para que eu reconheça, mas quando isso acontece é nítida a risada rouca e maléfica de Snow.

– Que pena. - o presidente começa - É realmente uma pena. Voce estava se saindo tão bem.

Snow levanta meu rosto ensanguentado rudemente, fazendo com que eu sinta ainda mais dor. Ele continua:

– Poderíamos ter tido uma aliança longa, Peeta. Porque eu realmente gostava de voce, entretanto , assim como outros, resolveu não me dar ouvidos. Trágico.
Estou tossindo porque sinto uma fadiga jamais sentida antes.

– É triste que não tenha aceitado meus conselhos, avisando o Tordo sobre o meu ataque ao treze - Snow diz olhando em meus olhos - Mas sabe o que é mais triste?

Ele pergunta com ares de ironia, como se a resposta fosse engraçada.

– O que é mais triste é que eu lhe avisei, assim como avisei Katniss Everdeen.

Eu procuro entender as palavras de Snow, mas nesse momento me falta o discernimento. Ele continua:

– Eu disse que não queria machuca-lo, nem aos seus amigos mas...eventualmente não me resta escolha. Voce não me ouviu uma vez. Tudo bem, posso lhe avisar novamente, mas isso meu caro Peeta, tem um preço...bem caro.

Estou tentando digerir as palavras de Snow, mas falho. Só entendo o que ele quer dizer no momento em que uma janela se abre em minha frente. Há uma sala escura com câmeras, tento imaginar o que Snow pretende. Mostrar-me ferido aos rebeldes? Permaneço quieto. Minha surpresa vem quando as luzes da pequena sala se acendem, e contemplo tres indivíduos, com rostos cobertos.

– Eu realmente não queria chegar a esse ponto. - Explica Snow, mas não presto atenção porque estou fixado nas câmeras da sala, que estão ligadas transmitindo as reações apavoradas de tres pessoas já muito debilitadas.
Antes que eu possa reagir há uma ordem, então tres guardas disparam quilos de balas nas pobres vítimas.

A perplexidade e o horror me tomam. Imediatamente o sangue dos tres mancham a pequena sala, e até mesmo o vidro encontra-se pintado de vermelho.

Nunca imaginei algo tão bárbaro, nem mesmo nos jogos, com toda a mortalidade dos tributos, nunca senti tanto medo e tanto terror como sinto agora. Mas ainda é pouco, porque no momento em que os sacos pretos são retirados dos rostos das vítimas, eu tenho o maior choque de minha vida.

Ali. Atados à parede, e somente à carcaça de carne eu os reconheço enquanto Snow lança sua última frase antes de sair da sala:

– Eu disse que um novo aviso teria um preço caro.
Os rostos das tres vítimas são descobertos. Cada um com sua última expressão. Um olhar amedrontado, um esboço de grito, lágrimas.

Kara. Pearl. Portia.

Não há pensamentos em mim. Há somente dor, medo, terror, perdas e culpa.

Mais culpa do que qualquer coisa. Sinto-me vergonhosamente culpado pela morte de meus tres preparadores. A forma banalizada como morreram, servindo de terror para uma nação. Tudo isso faz com que eu me sinta desprezível.

Eu choro, imploro para que me matem logo. Espero para que me deem algum veneno mas nada acontece. Acabo dormindo, pela exaustão, pela dor, pelo medo, pelo terror, mas novamente sou desperto quando os gritos começam, mas agora não estão vindo do quarto ao lado. Eles veem de longe, mas o cheiro de carne queimada é forte o bastante para penetrar minhas narinas como se estivessem queimando cadáveres ao meu lado.

Fico atento, na expectativa de ouvir algo. Encosto-me rente à parede, mas não há ruído algum.

Então eu chamo por Johanna, na tentativa de ter algum indicio de que ela esteja bem, porque após minha experiencia com Portia e minha equipe de preparação, só consigo imaginar cenas terríveis, mas ao que parece o quarto está vazio.

Fico apreensivo, me mantenho atento, e demora até que finalmente haja uma movimentação no corredor.

A porta do quarto ao lado se abre. Um estrondo do que parecer ser algo pesado batendo contra o chão e a porta novamente se fecha.

O cheiro. O terrível cheiro de carne queimada está mais forte. Mais uma vez me coloco a chamar por Johanna, mas não consigo resposta e, quando estou prestes a desistir eu ouço o gemido fraco dela.

– Johanna! Johanna! - repito baixinho contra a parede - Pode me ouvir? Sou eu, Peeta. Noivo de Katniss Everdeen, se lembra de mim?
Não obtenho resposta, mas insisto.

– Johanna! Diga alguma coisa, qualquer sinal de que está viva! - imploro.

Então há um suspiro e o som de algo se arrastando pesadamente.

– P-Peeta? - uma voz do outro lado diz com dificuldade. - Peeta Mellark, é voce mesmo?

– Sim - respondo com entusiasmo sutil. É bom saber que ela está viva, não há uma ligação próxima entre nós, talvez agora haja uma cumplicidade já que nós dois estamos provando do mesmo veneno amargo de Snow.

– C****lho! - ela explode com a mesma "simpatia" de quando a vi dando sua entrevista para Caesar na noite anterior ao massacre quaternário - Então voce está vivo?!

Um riso sutil sai de meus lábios.

– Voce está bem? - pergunto, no entanto Johanna demora a responder e quando finalmente ouço sua voz, ela parece triste e dolorosa.

– Vou ficar.

– O que fizeram com voce? - pergunto porque realmente me preocupo com seu estado.

– Nada de mais. - ela responde com um riso triste - Apenas bateram em mim.
Decido não perguntar mais, porque julgo ser doloroso demais para ela falar sobre isso.

– E voce, como está? - ela pergunta rispidamente.

– Bem, já estive melhor. - Respondo. Rimos pela falta de sorte que temos.

– Como sabia que era eu nesse quarto? - Johanna pergunta entre um gemido de dor e outro.

– Bem, eu ouvi seus gritos e palavrões. - digo, e ela ri porque sabe que é verdade- Alguém com o vocabulário de Johanna Mason é facilmente reconhecida na Capital.
Há um momento de riso frio entre nós. Podemos sentir a dor atraves das palavras um do outro e embora ela não admita, sei que Johanna está muito machucada.

– Ficou sabendo do ataque ao oito? - pergunto baixinho porque tenho medo de ser notado pelos guardas.

– Sim. - Johanna responde calmamente - E adorei.

– Adorou? - rebato.

– Sim. - responde - Katniss é uma desmiolada metida a heroína, mas tenho que admitir que ela é forte, eu mesma não sei se teria tido a ousadia que ela teve.

Ouvir Johanna falar sobre não ser ousada é engraçado, porque não consigo imagina-la chorando pelos cantos ou se lamentando. Cada vencedor adquiriu algo com os jogos: Haymitch, a bebida. Os morfináneos do 6, o vício. Katniss e eu, problemas, e Johanna, audácia. A maneira simples e grossa como ela encara a vida é sua maior blindagem.

– Mas isso vai ter volta. - ela completa - Sim, porque Snow também é ousado.

– Oque acha que ele planeja? - pergunto mesmo já sabendo a resposta.

– Booooom! - Johanna faz o som de uma bomba e ri descontroladamente até começar a tossir.

Evito o riso, porque sei que isso é verdade. O silencio que se segue é mútuo.

Ninguém quer realmente falar sobre as consequencias desse ataque rebelde,mas eventualmente quebro a quietude e confesso.

– Então é verdade, quero dizer, que o treze existe mesmo?- pergunto curioso.

– Sim. - Johanna responde rapidamente - Sempre existiu, como minhocas debaixo da terra. Foi tudo parte de um acordo. A Capital os deixaria vivos se os rebeldes recuassem. E foi o que aconteceu.

– Acordo? - há dúvidas em mim - Não houve uma vitória da Capital? Não foi por isso que criaram os Jogos? Para nos lembrar de quem é que manda?
Eu paro com minhas indagações porque Johanna está rindo.

– É uma longa história padeiro. - responde - Fato é que, o treze existe e está mais forte do que a Capital imagina. Oh sim, planejam por esse ataque a muito tempo, mas só agora encontraram a faísca de que precisavam, eles encontraram...

– Katniss. - interrompo. - Encontraram um rosto para a revolução.

– Sim. - Johanna responde felizmente.

– Então é verdade, que eles a estão usando, como Snow a usou. - digo começando a sentir raiva.

– Não encare dessa maneira, a revolução sempre esteve armada, mas até o 74º Jogos ninguém havia ainda notado isso, e bem, Katniss notou - Johanna pede.

– E porque não a avisaram sobre a fuga da arena?

– Porque muita gente já estava envolvida em tal plano.
Sim, muitas pessoas sabiam disso. Haymitch, Plutarch e agora Johanna. Um plano tão bem arregimentado e orquestrado para que ninguém desconfiasse.

– Imagino. A cúpula tinha tudo armado, tão bem arrumado que não iriam precisar da humilde ajuda dos vitoriosos- digo irônico, mas a resposta de Johanna me deixa coberto de cólera.

– Bem, isso é outro ponto. - ela responde - Tirando voce e Katniss, metade dos tributos já estavam cientes de tal ataque, entretanto o fato de Katniss explodir a arena não estava previsto. Isso foi um golpe de sorte.

Metade dos tributos. Isso me faz lembrar da morfinácia que vi morrer em meus braços na arena. Pulando em minha frente, salvando minha vida. Ela devia saber sobre o plano.

– A mofinácea. - digo a mim mesmo relembrando toda a cena.

– Sim, Lyv Zieze, distrito 6 - Johanna acrescenta - Ela era uma das cumplices.
Lyv. O nome pequeno e forte agora se atribui a minha salvadora. Desejo dizer-lhe obrigado, mas em vez disso apenas sinto o silencio, porque ela se sacrificou por uma causa maior que ela mesma. Morreu salvando uma pessoa que nem conhecia, morreu como uma desconhecida. Morreu sem conhecer a liberdade.

– Peeta? - Johanna chama rapidamente assim que paro de falar.

– Estou bem. - respondo - Quem mais sabia?

– Finnick, Beetee e Wiress, distritos 5,8,10,11 e em partes o distrito 1. - Johanna responde me causando confusão, porque até onde sei o distrito 1 é altamente ligado a Capital.

– Distrito 1? - digo incrédulo.

– Em partes, como por exemplo o fato de tentarem parar os jogos ainda nas entrevistas. Tentariam usar da fama adquirida para comover a mídia e acabar com o massacre.

– Bem, as lágrima de Cashmere nunca me pareceram genuínas de qualquer forma.- solto.

– Nem o bebe de voces foi capaz disso. - Johanna enfatiza.

O bebe. Minha tentativa desesperada de parar os jogos, que falhou miseravelmente mas que entretanto rendeu a mim e a Katniss um favoritismo ainda maior perante a audiencia.

– Sim, nem nosso filho foi capaz de mobilizar essa guerra. - menciono o bebe porque a falsidade da criança só pertence a mim, Katniss e talvez a Haymitch.

Suponho que a Capital não deva saber que tudo foi um jogo para ganhar tempo, mas as palavras de Johanna são reveladoras. Ela não só sabe da mentira como também sabe que Katniss e eu nunca tivemos um relacionamento mais íntimo.

Há um silencio até que alguém fale mais alguma coisa. Então quando me lembro,

menciono a entrevista com Caesar.
– Eu soube do ataque ao treze horas antes de minha entrevista com Caesar. - digo vagarosamente.

– Voce oque? - ela pergunta duvidosamente.

– Eu soube do ataque surpresa de Snow ao treze e os avisei.
Johanna não responde rapidamente, mas quando o faz parece estar tendo uma síncope, porque sua voz espelha agitação.

– Os avisou?! Como?! - pergunta - Estamos isolados!

– Na entrevista, durante uma intervenção rebelde - explico.

– Houve uma intervenção rebelde?! - Johanna pergunta animadamente - Então eles conseguiram?

– Sim - respondo - Eu ouvi Beetee, mas não havia nenhuma imagem do treze, apenas tomadas de guerra em algo chamado pontoprop. E enquanto os teasers eram exibidos eu os avisei.

Johanna esta rindo verdadeiramente do outro lado da parede, mas seus risos são interrompidos quando ouvimos ruídos nos corredores. Há alguém a nossa espreita.

Saio rapidamente de perto da parede e me coloco deitado na cama, esperando pela batida na porta mas ao invés disso, a porta que se abre é a do quarto ao lado.

– Vamos dar um passeio querida? - a voz é conhecida. Berna, a mulher que ouvi conversando com Snow horas atras.

Imagino que tipo de ligação Berna possa ter com o presidente, embora eu tenha quase certeza de que se trata de uma oficial de policia. Permaneço quieto na expectativa de captar algum indicio de tortura, mas nada acontece, apenas ouço passos rápidos que quando atingem o corredor me fazem correr para a pequena abertura que tenho no quarto.

E é então que vejo. Dois guardas carregando algo que parece ser uma mulher jovem. Careca, fraca, a pele clara marcada com horríveis hematonas, feridas e queimaduras, muitas queimaduras.

Uma figura tão horrenda que jamais lembra a mulher estonteante e bela que conheci num dos elevadores da Capital, uma visão tão tenebrosa que me faz olhar perplexo. Toda a crueldade de um homicida estampada no corpo de uma pessoa.

Uma compaixão me toma, um sentimento profundo de dor em vê-la naquele estado, e por um momento me sinto aliviado pelo fato de que Portia, Kara e Pearl, estarem mortos.

Pobre Johanna Mason, uma audácia censurada.

Eu a acompanho com os olhos até que ela e os guardas desapareçam no fim do corredor. Tento imaginar a que tipo de passeio se referem; um terror ainda maior me toma quando penso na possibilidade de uma possivel execução, afinal nada mais eficaz para um recado do que a morte de um vencedor ao vivo na TV.

Minha mente mais uma vez trabalha freneticamente buscando uma conciliação, mas eventualmente paro porque agora ouço passos próximos. Alguém ainda está no corredor, e está a poucos metros de mim; então quando os ruídos cessam, percebo a maçaneta da porta de meu quarto girar; não me escondo porque seria inútil, nem me coloco na defensiva, apenas espero e quando a porta finalmente se abre, noto as sombras que se formam na parede.

Claramente há dois guardas, mas há uma terceira pessoa. Esguia, alta com uma postura sombria e disciplinada.

– Peeta Mellark - diz - É um prazer te conheçer, vamos dar um passeio?

Embora eu não veja seu rosto, reconheço quem é porque no momento em que sua voz chama por meu nome, sinto um arrepio percorrer meu corpo.

Sim, a voz forte e suave, uma ironia grandiosa. Sei exatamente quem é.

Berna.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ler. Que tal deixar um comentario? Não dói nada. :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O REVERSO DA MEDALHA - Fanfic Express" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.