Procura-se Um Namorado escrita por Woodsday


Capítulo 2
Você de novo, Medeiros?


Notas iniciais do capítulo

HELLO people do meu Braseeeeeel! Aqui é a Miss Mystic trazendo mais um capítulo quentinho pra vocês! Gostaria muito de agradecer pelos comentários lindos e maravilhosos que deixaram no prólogo, acreditem, eles fazem toda a diferença. Espero que apreciem o capítulo e perdoem qualquer errinho de português.



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O acorde familiar do toque de meu celular despertou-me da letargia em que me encontrava e eu ergui o rosto minimamente, observando o relógio marcar 8h20m da manhã. Afundei minha cabeça no travesseiro macio em um sinal de despedida e levantei-me da cama, ainda grogue por causa de meu sono recém-interrompido e com uma dor de cabeça digna de uma bela enxaqueca. Me pus a procurar o aparelho e após alguns trôpegos passos e algumas batidas em meu dedo mindinho, finalmente consegui encontrar o celular escondido em meio as cobertas bagunçadas.

– Alô? - Atendi, sem ao menos checar o identificador de chamadas. Estava com tanto sono que mal conseguia manter meu cérebro raciocinando, sem contar com a ressaca marota que se apoderava de meu corpo.

– Liv, porque demorou tanto para me atender? Não é educado deixar as pessoas esperando! - Suspirei, reconhecendo a voz de minha irmã e pensando no quanto possuía tendência ao drama, característica hereditariamente transferida por mamãe.

– Eu estava no banheiro. O que foi? - Menti, claramente prezando por minha sanidade física e mental. Se Pietra soubesse que eu estava dormindo até essa hora, provavelmente começaria um monólogo sobre como eu precisava ser mais saudável e como dormir até tarde afetava meu organismo e todas essas coisas. Ela podia ter até um pouco de razão, mas puxa, quem em sã consciência consegue acordar tão cedo em pleno domingo? Ainda mais após uma festa.

– Hum, bem, estamos todos aqui em baixo esperando por você para o café. O David veio! – Praticamente gritou em entusiasmo, causando pontadas horríveis em minha cabeça. Afastei o celular da orelha por um momento e tomei uma respiração, mentalmente me amaldiçoando por ter bebido tanto na noite anterior. Agora teria de suportar um café da manhã com a família Barcelos sem estar em minha perfeita sanidade mental. Oh Deus, eu estava no inferno!

Gemi levemente com o pensamento e logo tratei de dispensar minha querida irmã, afirmando que ela estava gastando créditos á toa, visto que estávamos apenas um andar de distância e lhe garanti que desceria para o café em alguns minutos. Mas mentalmente agradeci por ela não ter inventando de aparecer em meu quarto com sua aparência impecável de modelo da Victoria Secrets e fazer com que me sentisse um fracasso logo pela manhã.

Depois de Pietra ter me mandado uns vinte beijos estalados pelo telefone, finalmente consegui me despedir. Com uma pressa mais do que necessária segui para o banheiro e tomei um banho bem gelado, sentindo-me imediatamente mais relaxada. Resolvi colocar um pouco de maquiagem para amenizar minha péssima aparência e quase tive um ataque quando percebi que o corretivo não estava ajudando em quase nada e que meu olho continuava extremamente caído, denunciando minha ressaca. Sem contar com meu cabelo que parecia um monte de palha. Como situações desesperadas exigem medidas desesperadas, coloquei um casaco preto de capuz e um antigo óculos de mesma cor, que tinha insistido em comprar quando tinha 13 anos. Eu estava ridícula, tinha certeza, mas me senti reconfortada ao lembrar de que nos filmes de ação eles usavam aquele tipo de figurino o tempo todo então não podia ser tão ruim.

Ouvi vozes animadas vindas da sala de jantar e decidi fazer um desvio em direção à cozinha antes de enfrentar todo mundo. Eu realmente precisava de um suco de maracujá se fosse ter de suportar aquele café da manhã, que incluía a ilustríssima presença do namorado da minha irmã.

– Maria? – Sussurrei baixinho, me esgueirando silenciosamente pelo cômodo. Os olhos e ouvidos atentos.

– AI MINHA VIRGEM! TÁ AMARRADO EM NOME DE JESUS! - Maria se virou em minha direção fazendo o sinal da cruz, os olhos arregalados de choque e medo. Franzi o cenho mediante sua reação e pulei quando senti algo atingir meu rosto e minha boca, que infelizmente estava aberta. Senti o gosto ácido dos grãos e reconheci o sabor, era sal. Maria estava tacando sal em mim?

– Maria, o que você está fazendo? Sou eu, Olivia! – Aproximei-me lentamente de uma Maria desconfiada e retirei meus óculos pretos e o capuz que havia puxado sobre a cabeça.

– Olívia! Isso é coisa que se faça menina? Eu pensei que cê fosse uma alma penada. – Colocou a mão no peito e soltou a respiração, parecendo aliviada. Contive uma risada e fiz uma careta, fingindo que estava ofendida.

– Puxa Maria, eu estou tão péssima assim?

– Claro que não! Você é linda, já te disse isso. Mas vestindo essas roupas eu realmente não a reconheci e cê chegou toda de fininho. – Balançou a cabeça em desaprovação, mas não resistiu à atuação e caiu na risada, balançando os ombros em divertimento. Contagiada pelo som acabei rindo também, mas logo desisti da tarefa quando senti pontadas desconfortáveis em minha cabeça.

Joguei-me em uma das cadeiras em frente á bancada da cozinha, onde Maria cortava um tomate com muita habilidade e cruzei meus braços sobre o mármore gelado.

– Ai Maria, minha cabeça dói! – Eu resmunguei, fechando os olhos com força como se pudesse magicamente fazer parar a dor latejante em minha cabeça.

– Dá nisso beber igual uma pinguça a noite toda! – Retrucou, colocando em minha frente uma xícara de café preto bem forte, do tipo que eu odiava.

– Não me faça essa cara, Olivia. É melhor cê tomar e melhorar logo do que ficar resmungando feito uma velha pelos cantos.

Suspirei vencida e levei a xícara até os lábios, franzindo o rosto quando o gosto amargo do café tomou meu paladar.

– Eu sou um fracasso Maria, só trago desgosto para essa família. Além de que, nunca sequer namorei. E eu tenho 21 anos! – Murmurei desanimada, permitindo que o bichinho do fracasso e da tristeza falasse mais alto em minha cabeça.

Ao ouvir minhas palavras, ela largou o que estava fazendo e se apoiou no balcão em frente á mim e me encarou com muita seriedade. Observando seu rosto, constatei que mesmo com cinquenta anos, Maria ainda sem dúvida conservava seu charme mestiço. Os cabelos crespos e armados em pequenos cachos e a pele tão morena que chegava a ser quase dourada disfarçavam perfeitamente os traços recém-adquiridos da meia idade.

– Confesso que cê tá perdendo a melhor parte da vida. Mas não esquenta com isso garota! Ninguém fica mais inteligente de namorar não, pelo contrário, fica mais é burro! Então pare de dar ouvidos pra doida da sua mãe. Cê vai encontrar um rapaz bom e gentil do jeitinho que merece! Quem não iria querer uma garota inteligente e bonita como você?

Maria sorriu docemente e eu retribui o gesto enquanto jogava meus braços por cima de seus ombros em um abraço desajeitado. Ela riu, afagando minhas costas do mesmo jeitinho que costumava fazer quando eu era criança e tinha sonhos ruins. Era incrível como ela sempre tinha as palavras certas para me fazer sentir melhor.

– Agora me deixa trabalhar menina! Logo teu pai começa a me atazanar o juízo e você sabe como eu odeio quando alguém vem se meter no meu almoço. – Ela pegou o pano de prato de cima da mesa e jogou sobre os ombros. – E hoje eu não tô podendo demorar, já que aquele salão de festas tá uma bagunça dos diabos e estou dando uma mãozinha na limpeza.

– Você não devia trabalhar tanto Maria, já faz muita coisa só nessa cozinha imensa.

– Olivia, eu tenho 50 anos, mas não estou morta. Além de que trabalho há quase 23 anos nessa casa e já acostumei com o serviço. – Apoiou as mãos na cintura e me olhou de cara feia, como se eu tivesse lhe ofendido. Fiz minha melhor carinha de inocente e tratei de deixar a cozinha, antes que Maria resolvesse me expulsar a vassouradas de lá.

Caminhei em direção a sala de estar e antes de fazer minha entrada nada triunfal, tratei de esconder o casaco em algum lugar, mantendo apenas os óculos. Entrei no cômodo, automaticamente interrompendo a conversa, visto que todos se viraram em minha direção com expressões dignas de um filme de comédia. Mamãe parecia ultrajada, papai usualmente calmo, David um tanto surpreso e Pietra com a cara de alguém que acabou de ter visto um filhote de panda sendo abandonado em uma lixeira.

– Bom dia pessoal! – Cumprimentei, sentando-me em uma das tantas cadeiras que acompanhavam a mesa. Por sorte, dessa vez, havia conseguido me sentar longe de David. Ele podia ser o namorado de minha irmã, mas era irritantemente bonito, rico e esnobe. Achava que era melhor do que todo mundo e isso eu definitivamente não conseguia suportar em silêncio. Para evitar problemas eu costumava evitá-lo a todo custo.

– Liv! Que roupas são essas? Temos visitas! – Ralhou mamãe, lançando um olhar crítico para minha calça jeans, meus óculos e minha blusa masculina do Capitão América.

Visitas? David estava mais para encosto, isso sim!

Com o objetivo de evitar mais reclamações, mantive-me em silêncio e logo a conversa começou a voltar, graças à habilidade que minha irmã tinha de ser extremamente sociável.

Aproveitei que estavam distraídos para me servir do pão ''proibido'', que Maria colocava na mesa sempre que eu vinha para casa. Meus pais estavam na onda de comida saudável, o que eu até achava bom, mas tinha algumas coisas que eram simplesmente indeglutíveis. Incluindo o pão, que para mim tinha gosto de algo parecido com cimento. Por isso estava mais do que feliz de poder me deliciar com um pão francês quentinho, cheio de glúten, porém duas vezes mais saboroso. Compensava totalmente.

– A festa estava incrível mamãe! Todos compareceram, incluindo o filho do Marcelo Medeiros que estava estudando nos Estados Unidos. – Pietra continuou a conversa animadamente, chamando levemente minha atenção na menção do nome. Tinha a sensação de que me era familiar, provavelmente deveria tê-los conhecido na festa, embora não me lembrasse de quase nada do evento. Acho que havia bebido mais do que eu inicialmente imaginava.

– Gustavo é um garoto de ouro! Marcelo está considerando seriamente em colocá-lo no controle da empresa, mesmo que tenha se formado há pouco tempo. – As palavras de papai me deixaram levemente paralisada e eu senti o pedaço de pão que estava mastigando se agarrar em algum ponto de minha garganta. Ao mesmo tempo em que ficava sem ar, minhas lembranças retornavam com toda a força. O início desastroso da festa, a conversa extremamente tediosa na mesa dos meus pais, drinks demais e flerte com Gustavo...Gustavo Medeiros. No exato momento que me dava conta do mico que havia passado na noite anterior, comecei a sentir o ar retornar levemente aos meus pulmões seguido de uma inevitável crise de tosse, fazendo com que eu expelisse todo o pão que havia comido. Tudo o que posso dizer é que não foi uma cena elegante.

– Ai Olívia, só você pra deixar essa casa mais divertida! – Murmurou Maria assim que lhe contei sobre a festa e o desastroso café da manhã, que causou uma enxaqueca em mamãe, uma risada em papai e muita vergonha em minha querida irmã. Acho que ela ficou tão constrangida que logo arrumou um jeito de distrair David, provavelmente para evitar que ele se lembrasse do quanto eu podia ser desajeitada.

– Só você pensa isso. Aposto que mamãe se enclausurou no quarto e ligou para todas as amigas para despejar o drama de ter uma filha desastrada e solteirona. – Lamentei, ajeitando a bolsa sobre meus ombros como forma de distrair minha mente dos pensamentos desanimados. Eu pensei que havia me acostumado com as críticas de mamãe, mas agora estava quase certa de que eu dava mais atenção á elas do que gostava de admitir. Machucava-me no final das contas.

– Garota, se você continuar dando ouvidos para o que a louca da dona Ingrid fala, juro que vou te dar um belo chute na bunda ouviu?

Eu assenti para ela, disfarçando uma risadinha com as mãos.

– Senti saudades, Maria.

Ela sorriu, entregando-me um saco pardo.

– É pra você comer durante a viagem. E veja se vêm me ver mais vezes, está bem? – Exigiu enquanto pegava minha bolsa do chão, caminhando ao meu lado enquanto rumávamos em direção á porta de saída.

– Sempre há a opção de se mudar comigo. – Eu pisquei e ela revirou os olhos.

– Como se eu fosse sair de São Paulo. Toma tento menina! – Resmungou e eu ri mais uma vez, dando um beijo estalado em sua bochecha como um gesto de despedida. Peguei a mala de sua mão e comecei uma caminhada em direção á Cezar, que me esperava pacientemente ao lado do carro.

Abriu a porta para que eu entrasse e lançou um sorriso discreto para Maria ao mesmo tempo em que dava a partida no automóvel. Empoleirei-me no banco de trás para que ela pudesse me ver através do vidro do carro e acenei freneticamente, parecendo uma criança. Assim que sua figura robusta tornou-se indistinta, tornei a me sentar comportadamente no carro, deixando minha mente vagar enquanto observava a paisagem.

Como meus pais moravam em Campos do Jordão, o aeroporto mais próximo seria o de São José dos Campos, então de lá eu pegaria um voo para o Rio de Janeiro. Uma viagem sem dúvida, cansativa. Mas, o quão confortável era ficar longe dos meus pais e dos seus comentários assustadores? Valia a pena o bastante.

Acabei cochilando no carro e Cezar educadamente me chamou quando chegamos ao aeroporto. Ele me acompanhou até o portão de embarque e eu sorri, abraçando-o gentilmente. Cezar era consideravelmente mais alto que eu, tinha os cabelos encaracolados e a pele tão branca que chegava a ser translúcida. Possuía algumas ruguinhas na beira dos olhos, mas tanto quanto Maria, não aparentava já ter passado dos cinquenta. Eles eram casados há 25 anos e Cezar trabalhava como motorista da família há quase tanto tempo.

–Tome muito cuidado dona Olivia.

– Pode deixar Cezar. – Eu me afastei com um aceno e entreguei meu passaporte para a comissária, que sorriu enquanto me indicava a entrada.

Assim que me acomodei sobre a poltrona do avião, coloquei os cintos e o fone de ouvido, ligando qualquer música lenta e relaxante, imediatamente adormecendo.

Fui acordada meia hora depois com a voz rouca do piloto avisando de que logo pousaríamos em solo carioca. Retorci-me na poltrona desconfortável do avião em uma falha tentativa de esticar e desfazer os nós de meus músculos tensos pela posição em que dormira, desistindo da tarefa assim que recebi um olhar nada educado do passageiro ao lado. Contive a vontade de dizer-lhe algumas palavrinhas e concentrei minha mente na tarefa árdua de enrolar o fone de ouvido corretamente e guarda-lo na pequena bolsa de mão apoiada em meu colo. Conferi o celular uma última vez, tirando do modo silencioso para que pudesse ouvir caso alguém me ligasse e tornei a recostar-me na poltrona, observando a paisagem tomar nitidez à medida que descíamos.

Por fim o avião pousou e saímos em fila indiana. Enfim, lar doce lar!

Inspirei o ar geladinho que saia do ar condicionado do táxi e olhei pela janela, apreciando por um momento a visão das casas e das familiares artes de rua enquanto mordiscava o restante do sanduíche de frango que Maria havia feito. Logo desisti de observar a paisagem e me encontrei travando uma conversa animada com o taxista, seu Geraldo, um senhor de idade muito fofo que fazia questão de me contar sobre suas inúmeras aventuras. Descobri que o mesmo havia sido Piloto de avião, soldado do exército, garçom e nas horas vagas cantor de seresta. Impressionei-me com a quantidade de coisas que ele havia feito durante aqueles anos e me peguei desejando ter aquele brilho singelo nos olhos que dizia sem sombra de dúvidas que aquele homem havia aproveitado sua vida ao máximo.

– Obrigada Seu Geraldo! Tenha uma boa viagem viu? – Apertei-lhe a mão com respeito e peguei o cartão que o mesmo havia estendido em minha direção.

– Ligue sempre que precisar de um taxista Dona Olivia! – Sorri com doçura mediante a sua proposta e saí do carro, acenando com afinco enquanto observava o Chevrolet se afastar da calçada.

Cumprimentei o porteiro do prédio e tomei o elevador, apertando o botão para o 4º andar. Olhei para o meu reflexo no espelho e arregalei os olhos mediante aos meus cabelos arrepiados e fiz o melhor que pude para ajeita-lo antes de sair da caixa de metal claustrofóbica. Tomei o caminho pelo corredor acarpetado e busquei a chave da porta em meio há tantos objetos que religiosamente mantinha em minha bolsa. Longos minutos ou segundos depois (eu não estava realmente contando), fechei os dedos em torno do objeto prateado e soltei um suspiro vitorioso enquanto destrancava a porta. Ouvi alguns murmúrios abafados e pulei de susto quando encontrei um casal seminu se agarrando em meu sofá.

– AI MEU DEUS! – Rafael gritou e saltou do sofá como se tivesse levado um choque. Olhou para Eloisa com espanto e começou a correr pela sala coletando suas roupas com uma cara de quem havia cometido o crime do século. Lou não disse nada, provavelmente tão chocada quanto eu.

Cruzei os braços e observei meus dois melhores amigos, tentando manter minha cara de Pôquer. Era a primeira vez que pegava os dois em uma cena tão íntima, mas não dava pra ficar séria em uma situação daquelas. Quero dizer, Rafael era gay, pelo menos era o que ele dizia, mas considerando a relação que possuía com minha melhor amiga tinha minhas dúvidas. Ele simplesmente não conseguia resistir ao charme e aos cabelos vermelhos de Elô, parecia que literalmente voltava pra dentro do armário quando estava com ela, o que quase chegava a ser poético se não fosse trágico.

– Desculpa gente, não consigo ficar séria com vocês! – Desculpei-me enquanto me curvava em uma gargalhada de dar gosto.

– Só a minha nossa senhora do chuveiro elétrico pra me dar resistência para aguentar vocês duas viu? – Rafa fez uma cara de desgosto e vestiu suas últimas peças de roupa. Lançou-me um olhar raivoso e saiu do apartamento como se o mesmo tivesse pegando fogo, me deixando á sós com Eloisa.

– O que aconteceu com vocês dois? – Indaguei assim que consegui parar de rir, me jogando no sofá de solteiro totalmente desconfortável, que para minha infelicidade parecia ser a única coisa imaculada no cômodo. Não queria nem imaginar o que aquele casal havia feito pela sala quando eu não estava presente.

– Ai Liv, o Rafa não consegue suportar meu charme, apenas. – Elô cruzou os braços por trás da cabeça e relaxou no sofá, com cara de sonhadora. A verdade era que todos, menos eles, eram capazes de ver que estavam apaixonados.

– Por falar nisso senhorita, quero todos os detalhes da festa! Pra já! – Exigiu Elô, mudando de assunto e voltando sua atenção para a minha face já corada. Gemi e afundei meu rosto em minhas mãos, tentando esconder meu constrangimento. Eu realmente não queria relembrar a vergonha que havia passado na festa ao beber igual uma maluca e ter assediado o filho dos Medeiros.

– PELA SUA CARA ALGUMA COISA ACONTECEU, O QUE APRONTOU? EU QUERO SABER TUDO! – Elô pulou igual uma mola no sofá e eu quis cavar um buraco no chão para esconder minha cabeça. Ela nunca deixaria eu me esquecer daquela história, ainda mais quando não conseguia se conformar com a minha falta de histórico amoroso.

– Eu bebi um pouquito – sinalizei com os dedos - a mais do que deveria porque a conversa na mesa dos meus pais estava um porre! Foi só isso, como sempre. – Sorri amarelo, com a esperança de que Elô engolisse minha desculpa esfarrapada. Mas acho que algo em meu rosto a alertou de que estava mentindo e minha amiga, aos trancos, dentes cerrados e olhos de Annabelle exigiu que eu contasse a verdade. Um olhar bem assustador, devo dizer.

– Tá bom! Tá bom! Acontece que eu fiquei totalmente bêbada e inventei de conversar com um cara aleatório na festa, dei em cima dele na cara dura e ainda descobri que a criatura não era nada mais nada menos que Gustavo Medeiros. – Expeli toda a história em um fôlego só, na esperança de que ela não entendesse pelo menos metade de minhas palavras. Mas se tratando de Eloisa Vasconcelos, uma ninja disfarçada, nada passava despercebido.

– Gustavo Medeiros? Aquele gato que foi estudar nos Estados Unidos? – Ela gritou, os olhos arregalados de choque.

– Esse aí mesmo! Os pais dele não paravam de falar o tempo todo o quanto era perfeito e que havia estudado em Harvard e blá blá blá! Já o havia visto uma vez quando éramos crianças, mas não fui capaz de reconhecê-lo.

– Você não leu as revistas? Saiu matérias sobre ele em quase todas! – Afirmou Elô, pulando em animação.

Revirei os olhos diante da obviedade da coisa. É claro que ele havia saído nas revistas, afinal, seu pai era dono de uma das empresas mais famosas do país e sua família era tão rica quanto a minha, o lhe que garantia um lugar de destaque no patamar das celebridades.

Eloisa se levantou e foi até o quarto, voltando de lá em um átimo com uma revista Perfil a tira colo. Minha amiga cursava Publicidade e Propaganda na faculdade, por isso vivia atualizada em tudo quanto era assunto, ao contrário de mim que sempre era a última a saber das coisas.

Ela lançou a revista em minha direção e eu a agarrei no ar um segundo antes de bater em meu rosto. Respirei aliviada e abri na página que havia indicado, encontrando uma foto dele e uma matéria ao lado que em resumo contava sobre á sua volta a São Paulo, destacando novamente que ele havia estudado em Harvard.

– Ele nem é essa Coca Cola toda vai. Eles adoram salientar que o Medeiros estudou em Harvard, como se fosse grande coisa. Quero dizer, os pais deles pagaram! Ele não entrou por mérito próprio. – Resmunguei enquanto olhava para foto da revista, incapaz de desviar os olhos de seu rosto.

– Ah, eu acho que ele é uma Coca Cola e tanto! Esse homem é lindo de bonito! – Elô se abanou como se estivesse morrendo de calor e eu fui incapaz de não rir, tentando não concordar com a parte do ‘’bonito’’.

– Tá, ele é até agradável de olhar, mas como a Maria costuma dizer: Aparência não põe a mesa. – Fechei a revista e suspirei, tentando encerrar o assunto a todo custo. Precisava tirar a situação com o Medeiros da cabeça.

– Você não quer é admitir que o gatão abalou suas estruturas! Isso sim! – Soltou Elô, sorrindo convencida.

– E a senhorita ein? Que não assume que está apaixonadinha pelo Rafa! – Dei língua para minha melhor amiga enquanto segurava uma risada.

– Puxa, Liv! Acho que a bebida ainda está te afetando. – Ela balançou a cabeça parecendo preocupada e eu revirei os olhos, levantando-me do sofá e seguindo em direção à cozinha. Elô me acompanhou, esperando pelo jantar que eu prepararia para nós duas.

– Ai, como eu amo morar com uma chef! – Ela fez um barulhinho engraçado com os lábios e eu ri.

– Vocês me exploram isso sim! Lerê Lerê.– Me coloquei a abrir a porta dos armários e Elô pegou uma garrafa de vinho para nós duas.

– Não seja exagerada, garota. Eu te pago muito bem com todo o meu charme irresistível.

Eu joguei os temperos em cima da minha tábua e encarei minha amiga com uma sobrancelha arqueada.

– Tudo bem, esquece. – Abanou as mãos e me esticou uma taça de vinho. – Mas, por favor, me conta, ele é tão bonito quanto parece?

Eu dei de ombros me fazendo de desentendida. Porque nem morta admitiria para Elô que Gustavo Medeiros era sim tão bonito quanto parecia nas revistas.

– Quem? – Minha voz soou terrivelmente falsa e eu me amaldiçoei por ser uma péssima mentirosa.

– Como quem?! O papa?! – Ela bufou. – O Gustavo, Olie. Ele é bonito mesmo?

– Ah! – Eu exclamei, procurando uma resposta que não entregasse o fato dele ser extremamente bonito, cheiroso e atordoante. – Ele tem certo charme. Ei, o que acha de frango ao molho branco? – Mudei de assunto e exatamente como eu sabia que aconteceria, o estômago de Elô falou muito mais alto. Logo embarcamos em uma conversa divertida sobre sua relação com Rafa e sobre meus futuros planos de montar um restaurante.

Elô e eu éramos melhores amigas e mais do que minha própria família, ela me entendia perfeitamente. Era fácil morar junto dela.

Logo após o jantar, cansadíssima, joguei-me na cama ao lado Elô e adormeci quase que imediatamente ao som da voz de minha amiga, que continuava a falar sobre seu fim de semana sem sequer perceber que eu já estava entregue ao mundo de Morfeu.

O som nada lento de uma das músicas da Kesha me despertou no dia seguinte e apertei os olhos, desejando que Elô desligasse a maldita música e voltasse a dormir, mas infelizmente, essa era a rotina diária da minha melhor amiga. Ela acordava cedo todos os dias e fazia uma vitamina horrível e verde, para logo após correr pelo calçadão. Eu queria poder dizer que fazia o mesmo, mas era naturalmente sedentária.

Espiei o relógio do meu celular e constatei que eram 6h20m da manhã. Com lentidão exagerada e preguiça em excesso, abri as cortinas do quarto e observei o sol já a pino, deixando sobre aviso que o dia, como quase sempre seria quente.

Vesti-me sem pressa e fiz uma maquiagem bem leve para não parecer desleixada e mantive meu cabelo na forma natural, caindo em cachos pelas minhas costas. Assim que cheguei até a sala, logo minha atenção se desviou para um bipe vermelho que meu telefone emitia, sinalizando uma mensagem de voz. Suspirei, prevendo de que se tratava de mamãe e coloquei para reproduzir, pronta para ouvir uma bronca daquelas pelo meu comportamento rebelde na festa da família. Assunto este que não surgira durante o nosso café da manhã totalmente desastroso.

Bom dia, querida. Como você está? Ah, Pietra me disse que a viu acompanhada durante a festa. Gostaria de me contar sobre ele? Quem sabe possa dar outro pulinho em São Paulo? Podíamos fazer umas compras, eu, você e a sua irmã. Seria adorável! Beijos querida, eu te amo!

A secretária eletrônica deu um ultimo apito, sinalizando o fim do recado e eu suspirei pesadamente, apertando o botãozinho de “apagar”. Não conseguia acreditar que minha mãe não soubesse que quem estava comigo no bar era Gustavo Medeiros, afinal, ela fazia de tudo para saber o que se passava na minha vida. Provavelmente se eu estivesse na cidade mais remota do Alasca, ela saberia.

– Liv? Eu fiz panquecas! – Ouvi a voz familiar de Elô e encaixei o telefone de volta no suporte, surpresa por ela ter voltado tão rápido de sua corrida matinal. Caminhei até a cozinha, hipnotizada pelo cheirinho maravilhoso que emanava das famosas panquecas doces de Eloisa Vasconcelos. Se tinha uma coisa que minha amiga sabia fazer melhor do que muitos chef’s que eu conhecia, incluindo a mim mesma, eram as panquecas. Elas transbordavam sabor e maciez, que obviamente não se devia só aos ingredientes e a calda maravilhosamente espessa que ia por cima. Ela certamente fazia mágica, colocando amor em tudo o que se dedicava a fazer, característica essa que mais amava e admirava em sua personalidade.

– Estou salivando. O cheiro está maravilhoso! – Elogiei, me sentando em uma das cadeirinhas altas em frente ao balcão de mármore da cozinha. Observei minha amiga cozinhar e sorri com o brilho que seus olhos emitiam, sinalizando que estava feliz. Logo me lembrei do dia em que nos conhecemos, quando eu sendo normalmente desastrada, deixara meu celular cair na pia do banheiro da faculdade. Elô presenciou toda a cena e insistiu em me ajudar, indo comprar um saco de arroz no intervalo das aulas para tentar recuperar o aparelho. Depois disso viramos amigas inseparáveis e acabamos por dividir nosso atual apartamento. Eu era infinitamente e imensamente grata pelo Nokia que se sacrificara em prol de nossa amizade.

– Bom, está servida! – Disse ela, servindo-me um prato com mais panquecas do que eu seria capaz de dar conta, mas não reclamei.

– Liv, vou correndo porque hoje vou precisar estar mais cedo na revista. A gente se vê mais tarde, beijo! – Enfiou um pedaço de panqueca na boca com pressa e beijou minha bochecha logo em seguida. Ri, um pouco tonta por sua movimentação exasperada e lhe mandei um beijo com os lábios, observando seus passos em direção á porta. Voltei a desfrutar de minhas maravilhosas panquecas e acabei guardando as sobras na geladeira, ciente de que quando Rafael aparecesse, devoraria tudo. Limpei o restante da louça e me preparei para ir até o restaurante também. Joguei a bolsa por cima do ombro e peguei o material da faculdade nos braços, enquanto me atrapalhava para trancar a porta do apartamento.

Encostei-me na parede do elevador e encarei os inúmeros botões, lembrando-me de que naquele dia completariam exatos três anos desde que havia me mudado para o Rio de Janeiro. O apartamento fora um presente do meu pai e embora tivesse o desejo de poder dizer algo como “batalhei pelo meu próprio lar’’, tinha que admitir que não, eu não batalhei. Quando contei a ele a decisão de morar no Rio, longe dos olhares acusatórios da minha mãe, ele simplesmente jogou a chave em minha direção e me aconselhou a fazer um bom proveito do lugar.

Meus pais não sabiam um bom jeito de dizer “eu te amo”, então, eles me davam presentes. Roupas, joias, brinquedos, viagens, tudo o que uma pessoa poderia querer. Em nenhum momento posso dizer que eles foram relapsos, ou coisa assim, eu sabia que eles me amavam. Mas me amavam tanto quanto amavam seus empregos. Era uma competição injusta no final das contas.

Eu passei mais tempo da minha vida ouvindo broncas de Maria sobre comer direito, não correr, não bater nas garotas e nos garotos do que as broncas da minha mãe sobre comer como uma dama, decorar talheres, falar e andar direito. “Uma garota não se veste assim, Olivia. Uma Barcelos não se veste assim”, ela dizia isso sobre quase todas as minhas roupas. Mas bem, quem mais eu veria além dos meus amigos? Ninguém. Essa era resposta. Minha mãe não entendia isso muito bem. Era um saco lidar com toda sua exigência de perfeição. “Parabéns, Pietra. Agora ensine sua irmã”. Por sorte ela tinha Pie, ou morreria de desgosto. E isso, era um escândalo que os Barcelos não queriam.

– Bom dia Dona Olivia! – Passei por João Carlos e como todas as manhãs ele sorriu simpaticamente. Retribui seu aceno e segui em direção ao estacionamento, entrando em minha pick-up preta.

O restaurante não abria tão cedo, seu horário comum era ás onze. Mas, como haviam coisas a ser decididas, como os pratos do dia, o especial ou até a organização da cozinha, Rômulo, meu chefe e orientador culinário quase sempre me pedia para chegar mais cedo. Às sete, as vezes às oito. Hoje, especialmente, às oito. Disse-me que tinha uma surpresa, e eu estava vibrando de ansiedade.

Estacionei em frente ao Mia Ragazza e pulei para fora do carro. Logo na entrada dei de cara com Jessica, uma das garotas da cozinha, nos dávamos bem, mas não conversamos com tanta frequência já que tínhamos turnos diferentes. Isso me chamou atenção, porque ela estava por aqui tão cedo?

– Bom dia, Jéssica. – Eu sorri para ela.

– Bom dia, Olivia. – Ela abriu a porta para nós duas passarmos e eu segui em sua frente. O restaurante estava cheio, todos sussurravam parecendo ansiosos e impacientes. Na verdade, todos os funcionários estavam lá. Eu não conhecia todo mundo, já que saia cedo para a faculdade, então educadamente os cumprimentei enquanto cortava caminho até o centro do tumulto.

Senti certo choque ao notar um homem em evidência no meio de todos, seu português soava levemente puxado, mas ele parecia perfeitamente capaz de interagir com nosso idioma. No entanto, eu tinha completa certeza de que ele não pertencia ao nosso país. A beleza, obviamente, não era nem um pouco brasileira. Os cabelos eram cachos pequenos e castanhos, tão castanhos que podiam ser chocolate derretido, assim como os olhos, possuía um sorriso de covinhas e a pele branca combinava perfeitamente com a barba por fazer. Precisei segurar o fôlego por um momento para prestar atenção no que aquele homem dizia.

Ele ergueu a mão e acenou dispensando todos os funcionários, alguns deles recolheram suas bolsas e saíram pela porta, os demais vestiram seus uniformes e voltaram á suas funções. O sorriso prestativo continuava em seus lábios, era um sorriso bonito. Na verdade, ele era o homem mais bonito que eu já tinha visto... Quer dizer, depois de Gustavo.

Pisquei em surpresa quando ele se aproximou de mim, esticando a mão em minha direção.

– Você deve ser a Olivia.

Tentei não parecer idiota e peguei sua mão.

– Sou eu. E você...?

– Dante. – Sorriu mostrando os dentes e não vi outra opção a não ser não retribuir seu sorriso. No entanto, minha testa se vincou como sinal de minha confusão. Dante riu baixinho, percebendo minha expressão.

– Sou o filho de Rômulo. Vim assumir o lugar dele.

Assumir o lugar dele? Filho? Do Rômulo? Meu chefe Rômulo?!

Pensei por um momento que ia ter um ataque e praticamente cair dura ali mesmo.

– Onde ele foi? Cadê o chefe? – Minha voz soou tremida e chocada.

– Ele foi para casa. – Ele coçou a cabeça, parecendo perdido com minha reação. – Para a Itália. – Acrescentou.

– Ai Deus! Como assim?! Ele não podia! Não pode! – Meus olhos se arregalaram e eu provavelmente fiquei branca, porque senti o sangue sumir do meu rosto.

– Respira. – Dante ergueu as mãos em sinal de rendição, como se isso fosse me acalmar. – Sei que meu pai estava sendo seu orientador. Mas, foi uma emergência, Olivia. E eu não me importo de tomar a atividade de orienta-la.

Abri a boca chocada. – Você?

– É, eu. – Sorriu torto, aparentemente não se importando com minha reação incrédula.

Dante não parecia ter nem 30 anos, ele não poderia possuir a mesma experiência que Rômulo tinha para me ensinar.

– Olha, não me leva a mal, sem querer ser grossa...

–Mas, já sendo... – Dante me interrompeu e eu me calei, sentindo meu rosto esquentar em constrangimento. Eu não era mal educada, nunca fui. Mas, cozinhar era minha vida. Trabalhar com Rômulo sempre fora meu sonho e poxa vida, depois de só um ano de trabalho ele simplesmente larga tudo e vai embora.

Respira Olivia, respira.

– Olivia. – Dante chamou minha atenção e eu suspirei. – Eu sou um bom chefe, vou te ensinar tudo que sei. Confia em mim. Eu sou bom. – Ele sorriu brilhantemente e eu pisquei meio atordoada.

–Tudo bem. – Eu fechei a boca antes que a baba escorresse, porque, meu Deus! Aquele era exatamente o tipo de homem que faria Elô quase pirar na batatinha.

Eu suspirei e ele esticou a mão em minha direção, pedindo-me para acompanha-lo até a cozinha. Eu encarei sua palma e toquei-a com a ponta dos dedos, ela era macia e quente. Dante fechou os dedos ao redor da minha mão e nós seguimos juntos para a cozinha dos fundos, onde ele indicou-me vários ingredientes diferentes.

– O que acha de Capeletti in Brodo? – Ele indicou os ingredientes, pegando alguns em suas mãos como se conferisse sua qualidade.

– Hummm. – Murmurei, sentindo o cheirinho dos temperos. – Eu acho maravilhoso. Mas, nunca fiz. – Dei de ombros.

– Hora de fazer, garotinha. – Ele dobrou as mangas de sua Dólmã e eu vesti a minha junto com um avental, imitando seu gesto e ignorando deliberadamente o apelido.

– Primeiro, pegue o frango. – Indicou o frango gentilmente.

Eu segui suas instruções, completamente atordoada em meio ao seu forte português italianizado, a voz calma e baixa. Completamente envolvente. Dante exalava charme e confiança e diferente do que esperava, possuía muita técnica.

Pouco depois das quatro da tarde, meu celular tocou e eu me apressei em atendê-lo, me esgueirando para dentro do banheiro feminino do restaurante.

– Ai amiga! – A voz da Elô soou do outro lado da linha. – Precisamos conversar. – Suas palavras eram cautelosas e me perguntei o que poderia ter acontecido dessa vez. Elô só usava aquele tom de voz quando estava com medo de me contar alguma coisa.

– Elô? O que houve?

– Puxa amiga! – Ela suspirou, preocupada. – Bom, eu não sei como dizer isso, mas Deus é pai e sabe que quem rodeia é Cowboy. Então, vou soltar a bomba!

– Ai não...- Murmurei, já adiantando a próxima desgraça.

– Liv, publicaram uma matéria maldosa sobre você ser lésbica.

– O que?!

– É ridículo! – Ela se apressou em dizer. – Foi uma jornalista idiota da revisa Perfil. Ela simplesmente acha que só porque você não teve nenhum namorado publico até agora, é lésbica! Como se isso fosse possível! É uma idiotice amiga, mas eu não queria que você ficasse sabendo pelos outros...

Eu gemi e senti meu coração acelerar. Primeiro, porque a maldita revista era muito conhecida e lida por muita gente. E segundo que isso seria um motivo suficiente para mamãe me encher a paciência eternamente, sem contar que eu morreria de vergonha.

– Elô, depois a gente conversa. Eu... Estou no restaurante. – Murmurei meio atordoada e desliguei o telefone sem me despedir direito da minha amiga.

O problema maior é que eu não queria me importar com o que diziam ou pensavam, mas eu me importava. E odiava isso.

O expediente no restaurante terminou antes do que eu esperava. E eu fiquei aliviada por isso. Dante era incrível e um professor excelente, ainda assim, minha cabeça estava muito longe dos fogões.

O caminho até a faculdade não era longo, mas às seis e meia da tarde o trânsito do Rio de Janeiro era tão infernal quanto o de São Paulo. O que quase esgotava minha paciência. Batuquei uma música qualquer com os dedos no volante e quando finalmente cheguei ao campus, estacionei em minha vaga de sempre. Ao lado estava o Honda do Rafael, onde ele e Elô encontravam-se encostados, discutindo a respeito de alguma coisa que provavelmente iria me interessar, mas mantive minha curiosidade guardada, não queria interromper a sintonia que havia se restaurado entre os dois.

– Oi gente. - Cumprimentei, pulando para fora do carro e ativando o alarme já com a bolsa por cima do ombro.

– Liv! – Elô jogou seus braços por cima dos meus ombros e eu a apertei suavemente, retribuindo o carinho com gratidão. Eu estava precisando.

– Tudo bem? – Perguntei e me aproximei do Rafa, abraçando-o também.

– Tudo ótimo com a gente, baixinha. – Ele respondeu pelos dois. Rafael era personificação de beleza, ok, nem tanto. Mas ele era muito bonito. Um sorriso divertido nos lábios, cabelos castanhos, alto e com um corpo magnífico. Porém, gay. Talvez não tão gay assim, considerando sua relação com Elô.

– E você, gata, como vai? – Ele soou verdadeiramente preocupado, o que me levou a pensar que já tinha ouvido sobre a notícia. Eu sabia que ambos tentariam evitar o assunto e me animariam o máximo possível, mas confiava que Elô mais tarde me mostrasse à maldita matéria. E talvez eu pudesse quem sabe, soltar um processo atrás da colunista idiota.

– Eu estou bem, gente. – Menti, claramente evitando o assunto.

Nós caminhamos em direção à entrada da faculdade, uma de cada lado de Rafael e ele segurando nossas cinturas. Conhecíamo-nos desde o primeiro semestre de faculdade e como Elô cursava publicidade nos despedimos dela logo no primeiro prédio, já o Rafa estudava engenharia e eu sempre me surpreendia com sua habilidade com números e equações. Quando nos aproximamos de sua sala, ele me abraçou rapidamente prometendo que nos veríamos novamente no fim das aulas.

Minha sala era no último prédio do campus, um pouco longe de tudo, o que era bem chato considerando que eu precisava percorrer uma distância bem maior. Assim que me aproximei, encontrei alguns alunos já sentados em suas carteiras e tirei meu celular do bolso constatando que ainda faltavam dez minutos para o começo do primeiro tempo.

Suspirei e comecei a me ajeitar na carteira, tirando da bolsa meu bloco de notas e o notebook junto com uma caneta azul. Eu não costumava trazer muitas coisas, geralmente o laboratório continha tudo, mas quando as aulas eram teóricas, aí eu era forçada a trazer algum material. A matéria no caso era empreendedorismo e sustentabilidade. Somente mamãe achava que Gastronomia se resumia a apenas picar salsinha e limpar frangos.

O sinal tocou, três horas depois, anunciando o fim da avaliação e do horário de aulas. Levantei-me com o corpo e o pescoço tenso e entreguei a prova, desejando minha cama mais do que nunca. Eu achava que tinha ido bem, mas já havia aprendido a não criar tantas esperanças em relação as minhas notas.

Fiz o caminho de volta ao centro recreativo do campus e me sentei no banquinho onde costumava encontrar meus amigos, que por sinal não estavam em lugar algum á vista. Suspirei cansada e decidi esperar enquanto mexia em meu celular, checando e-mails e mensagens, que não passavam de alguns spams e recados irritantes da operadora exigindo uma recarga. Estava tão concentrada em excluir as malditas mensagens que nem reparei quando Eloisa sentou ao meu lado, parecendo tão cansada quanto eu.

– O que aconteceu? – Indaguei, guardando o celular de volta na bolsa.

– Tive um problema com o trabalho, mas o professor me deu mais um dia para concertar. Graças a Deus! – Suspirou, parecendo aliviada e preocupada ao mesmo tempo.

– Ainda bem amiga, mas fica tranquila que você vai tirar de letra! – Abracei-a de lado e olhei ao redor do Campus, procurando por algum sinal Rafael, mas o que vi em vez disso literalmente me tirou o fôlego. Eu era incapaz de acreditar nos meus próprios olhos, pois ali estava em toda a sua glória, Gustavo Medeiros.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam? O que será que o Gustavo tá fazendo na faculdade da Olivia? muahaha
Altas revelações esperam vocês no próximo capítulo yey! Parei com o bullem, não quero deixar todo mundo curioso (talvez só um pouquinho). Beijo seus liandos!



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