Tempo escrita por GabiLavigne


Capítulo 3
2016


Notas iniciais do capítulo

Parece que o ano se passou mais uma vez e aqui estou eu.
Feliz ano novo ♥



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Para um encarregado, ele aparentou ser jovem demais.

De fato, nunca antes tinha se imaginado um ano daquela forma. Como uma criança de feições gentis e inocentes. Surgiram indagações a respeito da competência dele, afinal seria 2016 capaz de desempenhar o seu papel, apesar de tão novo?

Apesar disso, quando 2015 descansou eternamente, colocou suas esperanças naquele garotinho, que seria o novo escolhido a carregar o ano em seus ombros. A se sacrificar em prol dos humanos.

Haviam especulações sobre quais seriam os objetivos de 2016, se ele tentaria - igual aos outros - mudar o mundo de alguma forma. Ainda assim, apesar de todas as dúvidas e ilusões, esperança era a expectativa que desejavam sentir através dele. 

Talvez quem tenha cogitado isso, no fim, tenha sido mais ingênuo do que a criança designada como 2016. Aparentemente ele não conseguiu suportar o fardo ou até mesmo leva-lo adiante. Quem sabe as intenções tenham sido boas no inicio, mas afetado pelas crueldades do tempo e pela sua impotente existência, a criança que deveria abrir novos caminhos, enlouqueceu. 

O tempo do qual esteve encarregado, acabou presenteando violência demasiada e desesperança contínua. O estrago feito nunca poderia ser associado à face infantil de 2016. Ele deveria ter melhorado as coisas. Deveria ter continuado o trabalho, que os outros encarregados deixaram para trás.

Deveria.

Mas não o fez.

O pobre garoto enlouqueceu na própria tentativa de cumprir com a tarefa que lhe estava destinada. Ele perdeu a batalha e não conseguiu reunir forças o suficiente para manter-se de pé e enfrentar o que estava por vir. Ele fora dilacerado por dentro, pelos próprios ideias que negligenciou. 

Ao contrário dos outros, ele não se iludiu com o pensamento de que poderia melhorar algo. E talvez isso tenha ocasionado a grande falha que ele carrega.

Mas o pesadelo dito interminável, finalmente estava chegando ao fim. A nova encarregada deverá ser capaz de remendar o estrago, é o que dizem. Com certeza ela dará um jeito nesse caos, é o que esperam.

A onda de sofrimento causada pelo encarregado instável, terminaria. 2017, uma garota animada e positiva, estava determinada a mudar as coisas. Dessa vez, definitivamente.

Ela sabia que estava chegando a hora. Podia sentir a ansiosidade, a empolgação em seu peito e o medo perceptível, ao imaginar que carregaria o próximo ano inteiro nos ombros. Ainda mais depois de uma situação desastrosa como aquela.

Seria muita responsabilidade, ela sabia. Ainda assim julgou-se preparada e capaz de lidar com qualquer circunstância. Seja alegria ou tristeza. Prazer ou dor. 

Tornou a manter a fachada confiante, até chegar ao local onde 2016 estaria, pronto para partir. 

No entanto, ao alcançar tal lugar, não consegue escapar da sensação de peso que se aglomera em seu interior. Ela podia ver um garoto, amarrado. Embaixo de seus olhos, grandes olheiras escuras ressaltavam o iminente cansaço, que vinha perseguindo-o. O garoto parecia tremer, inquieto. 

Desespero. Angústia. Anseio por algo que o libertasse.

Não apenas das amarras que o prendiam. Ele procurava um fim definitivo. Queria descansar. Mesmo ciente de ter causado tanto caos, tudo que o garotinho queria, era desaparecer e livrar-se daquele peso que fora seu tormento por todo esse tempo.

2017 respirou fundo, aproximando-se vagarosamente daquela criança frágil. Pensou que o que sentiria ao encara-lo pela primeira vez seria desprezo. Mas tudo que lhe vêm à mente é pena. Vê-lo numa situação tão lastimável é doloroso, até mesmo para ela.

Acima de tudo, sabe que ele morrerá odiado. 

E não desejaria tal destino a ninguém. 

Lentamente, ajoelhou-se diante do menino e tocou suas mãos num gesto delicado, temendo assusta-lo. 2016 voltou seus olhos amedrontados e cansados para ela.

— Aguente só mais um pouco. Já vai acabar.

Após isso abraçou o menino, sentindo-o relaxar em seus braços. 

— Desculpa.

Aquilo foi tudo que ele lhe respondeu, num tom de voz frágil e derrotado. Como uma criança consolada pela mãe, ambos estavam ali. Então, envolvendo o rosto dela com as mãos pequenas, 2016 levou os lábios até uma das bochechas da nova encarregada. 

O seu toque foi leve e inesperado.

Os fogos acionados pelos humanos, já estalavam no céu em magnificas cores. Esperanças novas estavam sendo criadas. Expectativas que esperam ser alcançadas. 

2017 não sabe ao certo como reagir. Não sabe se poderá ser a solução para todos aqueles problemas ou realmente trazer a esperança pela qual todos tanto anseiam. 

Mas sabe que aquele é um novo recomeço. 

Sabe que em algum lugar, deve existir a tal esperança. A chance de realiza-la. Sabe que 2016 também deve ter acreditado nela em algum ponto.

Afinal, quando o mesmo descansou em seus braços pronto para partir, ela viu.

Ele estava sorrindo.

 


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Notas finais do capítulo

É isso. Até o ano que vem ♥ Obrigada para quem lê e desculpa por não ser melhor.



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