Na manhã seguinte, Sabo acordou com um lindo sim de pássaros cantando.

—-COCOROCÓÓÓÓÓÓÓÓÓ!!!!!

O loiro abriu um olho só.

—-Hack....? Mas que diabos....?

—-Bom dia Sabo-Kun. Seu remédio- Hack lhe estendeu um copo e um comprimido.

—-Qual a do cacarejo?

—-Sou metade peixe-galo. Gostou?

—Prefiro o balde.

—- Ah, claro que prefere. Ser acordado pela namorada é muuuuito mais agradável que escutar o lindo cacarejo do amigo marmanjo, não é mesmo?-O tritão tinha na voz um tom irônico de falsa decepção.

O loiro nem se preocupou em responder, preferindo sentir o comprimido engolido seco raspar pela garganta devido à falta de água.

—-Hack, por que o copo esta vazio?

—-Ah, eu bebi pra molhar a garganta e preparar a voz pra te acordar. Viu só a consideração que eu tenho por você?

—-(Gasp,cof)Haha, muito engraçado (HHãrr)-sua voz era rouca e engasgava- Onde está Koala?

—-É domingo, dia de folga. Desliguei o despertador pra deixar ela dormir até mais tarde.

—-Entrou no quarto dela ontem?-A ideia de Hack e Koala sozinhos o incomodava.

—- Fui la antes de vir aqui. Ela merece um descanso por aguentar você por tanto tempo.

—-Como se você fosse fácil de aturar.

—-Eu não preciso depender dela para trabalhar com a papelada.- Alias, é bom você começar a trabalhar logo. -O tritão depositava uma enorme pilha de papeis ao pé da cama. -E tem mais 3 pilhas dessa te esperando no escritório.

—-Certo, certo- O loiro pegou a primeira folha da pilha-Hnnn... Números.... Porcentagens... Planilhas...- Ele levou a mão ao queixo, em uma expressão pensativa- Cheguei a conclusão de que... ISSO É MUITO CHATO!

Hack abriu um pequeno sorriso de canto:

—-Mais tarde Koala vem te trazer café da manhã e te ajuda com isso. Daí é mais divertido não?

—-Uhum...-O humano virou o rosto- Pera, eu tenho que esperar a Koala pra tomar café? Mas ela vai demorar pra acordar!

—-Sinto muito!-hack acenava de costas, já indo em direção a porta- Tenho que ir agora. Estarei ocupado dormin...- Sua fala foi cortada pela porta aberta subitamente, atingindo-o em cheio.

Uma Koala descabelada e esbaforida continuava parada ainda do lado de fora, segurando a maçaneta com um mão e uma bandeja com a outra, encarando o tritão meio desacordado caído no carpete.

—-Ai meu deus, HACK! DESCULPA! Alguém mexeu no meu despertador e eu estava atrasada e...-Ela se virou para a cama- Seu café Sabo-kun- voltou-se para o tritão-Hack! Ai, nossa, vai ficar um galo feio!

O ferido se esforçou para não rir da piada inconsciente que a amiga em pânico tinha feito, MAS piada+videocassetada+Koala ainda de pantufas por causa da pressa era igual a uma cena cômica que ele não podia deixar passar.

—-BWAHAHAHAHAHAHAhah...Ai!-A risada lhe rendeu mais pontadas na região machucada e derrubou a bandeja apoiada no colo.

—-Vejo que já esta de bom humor,  Sabo-kun- Hacck se levantava esfregando a testa- Já vou saindo, cuide da sua papelada.-Ele parecia ansioso em sair do quarto.

—-Espera, Hack, você precisa ir a enfermaria!-Koala não conseguiu alcançar o amigo

A porta se fechou e um silencio constrangedor bateu entre os dois,se prolongando por longos segundos, até Sabo quebra-lo:

—-Entãããããããoooo...é o segundo companheiro que você manda pra enfermaria em dois dias. Deve ser um recorde.

—-Eu sinto muito...- A garota se sentou na cadeira ao lado da cama e se encolheu.- Nunca consigo fazer nada direito.

—-Hey, esta tudo bem, ninguém esta bravo com você...-Ele hesitava em estender a mão e tocar o rosto da amiga.

Ela levantou a cabeça, tentando segurar as pequenas lagrimas que escorriam pelos cantos dos olhos

—-Pelo visto a velha história de que ter mulher a bordo traz azar é verdade.- Ela sorriu fracamente

—-Azar? Foi graças a você que fomos para Dresrossa e eu encontrei meu irmão depois de 13 anos! Isso foi sorte pra mim-Ele finalmente tocou a bochecha da amiga

—-Bom, vamos lá, temos muita papelada esperando para ser despachada!-A garota levemente corada desviou o assunto e puxou uma parte da pilha, saindo do toque do companheiro

—-Detesto burocracia.- Sabo resmungou, o que fez Koala dar uma leve risada.-Ah! Obrigado por adiantar um pedaço do trabalho, te devo uma.

—-Some essa com a ida a lanchonete que me prometeu.

—-Caramba, ainda não esqueceu?

—-Minha memória para comida é infalível. - A garota já ria, totalmente a vontade.

—-Falando em comida, cadê meu café da manhã?-Ele se deparou com um punhado de farelos e cacos encharcados que um dia haviam sido torradas e suco de laranja- Ah, achei.

—-Não posso ir buscar mais comida pra você. Conhece a regra.

—-Ahhhh, mas eu tô com fome...

—-Isso não é nenhuma novidade- Ela sorriu.- Tem alguma coisa no frigobar? Ou na dispensa? Eu posso cozinhar.

—-Ahn... Deve ter teias de aranhas. Talvez um besouro no armário da pia e se não me engano tem uma família de lagartixas na geladeira quebrada.

—-Porque não mandou pro conserto?

—-E desabrigar aquela pobre família de insetívoros que me livram de pernilongos? Que tipo de monstro você acha que eu sou?- o revolucionário levou as costas da mão ao rosto de forma teatralmente dramática.

—-Ahn...certo... Eu acho que devo ter alguns doces e biscoitos de Dressrossa no meu quarto, vou ver se trago pra você.

—-Esta sendo muito generosa marsupial. Que bicho te mordeu?

—-É minha culpa você estar nessa situação. Além disso, preciso ir trocar as pantufas- Ela apontou para os próprios pés, fazendo o companheiro rir e se dirigiu a porta.

—-Hey! Volta logo! Preciso de ajuda com a papelada!

—-Haha, pode deixar!-Ela tinha um sorriso divertido contagiante.

—____________________________________________________________________________________

A colega acabara de fechar a porta quando Sabo bateu no próprio rosto no melhor estilo facepalm que conseguia:

—-“Preciso de ajuda com a papelada”? Que estúpido!- Não se importava de falar sozinho como um lunático.

Ele não entedia o porque, mas apesar de se sentir totalmente a vontade quando ficava a sós com a amiga, também era como se estivesse constantemente sob pressão, e ele ODIAVA ser pressionado, pois perdia completamente a linha do raciocínio e acabava falando e agindo sem pensar, o que era muito atípico do revolucionário, geralmente muito racional (por mais e não pareça.). Na verdade, ele sabia e muito bem a resposta, mas preferia negar para si mesmo que marcar a alternativa correta.

Era ÓBVIO que ele amava a garota. Sabia disso. Tivera CERTEZA disso quando se vira tão dependente da companhia da melhor amiga que praticamente entrara em desespero nas duas semanas de férias em que a mesma decidira passar na cidade natal.

Para Sabo não haveria problema nenhum em tentar assumir uma relação com a amiga. Aquela história de “estragar a amizade” e “friendzone” era uma grande balela. Conhecia a parceira bem o suficiente para ter praticamente certeza de que, caso pedisse uma chance ela iria sorrir e dizer “Porque não tentar?” Num tom despreocupado como se ele tivesse perguntado se ela queria provar hambúrguer com mostrada. Pelo menos era assim como ele esperava, IMAGINAVA a cena. E ele já imaginara diversas vezes. MUITAS vezes.

Também pensava que caso realmente optassem por tentar, o convívio dos dois não mudaria muito. Claro, poderia finalmente beija-la, no rosto e nos lábios, não apenas insinuar que faria isso para  fazê-la calar a boca. Teria mais liberdade em segurar sua mão ou abraça-la pela cintura ao caminhar. Nunca diria isso perto de Hack, mas talvez a cabine conjunta talvez fosse mesmo uma boa opção, visto que a garota era muito melhor de abraçar que o coala de pelúcia (“presente” de Hack naquelas fatídicas férias) que ele mantinha escondido embaixo da cama. Sim, ele sabia disso porque estava acordado naquela noite de poucos dias antes, em Dresrossa, quando embalara a companheira para que protegê-la do frio. Ele sabia que ela detestava ser protegida, e que boa parte do que fazia era desnecessário, mas ele não conseguia evitar. Por mais que a garota fosse forte (o que com certeza ela era) ainda era menor, mais nova e tinha aparência frágil, o que trazia o instinto protetor do loiro a tona.

E apesar de todos os motivos positivos em tentar algo a mais com a amiga, um único motivo o fazia hesitar: Dragon.

O único superior de Sabo já o alertara sobre relacionamentos no mesmo dia em que decidira colocar Koala como sua parceira.

(~~Flashback, 5 anos antes~~)

—- EU NÃO PRECISO DE UMA BABÁ!- Um Sabo de 18 anos explodiu

—-Koala não será sua babá. Vai fazer parte da sua equipe com Hack quando não precisar substituí-lo nas classes de Karatê Tritão.- Dragon mantinha o semblante inexpressivo que sempre mantinha.

—-Mas não precisamos de uma mulher na equipe! Mulheres a bordo trazem má sorte!

—-Sabo, se esta apelando para velhas superstições de marinheiro quer dizer que está mesmo muito desesperado- Hack abriu um sorriso de canto- Além do mais, eu a conheço. Era o “pet” de alguns dos meus conterrâneos, os Piratas do Sol. É uma humana adorável.

—-É bonita?- Sabo parecia subitamente interessado

—-Hey, hey garanhão, se interessou não é mesmo? Haha! Eu não sei, só a vi quando criança. Por agora deve ter mais ou menos a sua idade.

—-Não há objeções a fazer, Sabo. Tem 18 anos agora e vai assumir o posto de Ivankov, que “desapareceu” em Impel Down. Com isso, virão muitas responsabilidades novas e vai precisar de ajuda.-Dragon colocou ponto final na conversa. - Hack, esta dispensado.

Hack se levantou e fez um leve meneio de cabeça em despedida ates de sair pela porta. Sabo recolheu seus papeis e pretendia seguir o companheiro quando o superior o parou

—-Sabo.

—-Sim, senhor?

—-Assumindo esse posto, não serão só seus poderes e responsabilidades que irão aumentar. Seus inimigos também.

—-Sei disso senhor.- Sabo já estava do lado de fora da sala

—-Então procure não se envolver em relacionamentos sérios nem e apegue muito a alguém. Se você ama, mantenha distante.

(~~Flashback off~~)

Sabo compreendia o que o chefe queria dizer. A melhor maneira de proteger aqueles que amava era mantendo-os longe para driblar a ira dos inimigos com sede de vingança. O próprio Dragon havia se afastado da esposa e do filho (dos quais nunca falava), e o loiro percebia que tinha razão. O método podia machucar ambas as partes, mas era o que parecia ser a única opção.

Sabo se deitou estirado de braços abertos na cama, sentindo a dor nas costelas atacar.

—-“Se você ama, mantenha distante”—ele murmurou entre dentes, antes de cair no sono