Namorado "Inventado" escrita por Luh Marino


Capítulo 21
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Eu não acredito que acabou. Me segura, Rosana, estou tremendo. Luísa está des-mai-ada. Xama o xamu.

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Era verdade que, após a ligação de Abigail, eu tivesse ficado levemente mais motivada a tentar de novo com Ashton. Mas toda vez que eu pensava em ir novamente atrás dele, me desculpar, fazer acontecer, eu me lembrava da discussão que havíamos tido em seu quarto na república.

E, toda vez que eu me lembrava dessa briga, eu me sentia suja.

Me sentia horrível.

Me sentia maldosa.

Me sentia humilhada.

Eu havia não apenas me humilhado na frente dele, como também havia o humilhado. Acho que eu nunca havia dito coisas tão péssimas pra alguém antes. E o pior de tudo: não era uma simples pessoa qualquer. Era Ashton. Meu melhor amigo. Ou ex, sei lá.

Como eu havia conseguido dizer aquelas coisas?

Por isso, toda vez que eu pensava em ir novamente atrás dele, me desculpar, fazer acontecer, eu desistia no meio do caminho. Porque, se fosse eu no lugar dele, eu não o desculparia. Assim como não o desculpei pela fatídica revelação feita por Ellinor no dia dos namorados. Assim como não atendi suas ligações e, quando o liguei por fim, o fiz apenas pra terminar a nossa quase-relação.

Por que diabos ele não faria o mesmo comigo?

Eu merecia, afinal.

–x-x-x-

— E então você entra com o Bret, cada um carregando uma aliança. Vão cada um pra um lado, você fica do meu e o cara fica do lado de Eric. Vou te dar meu buquê e você o segura até o final da cerimônia, ouviu? E tem que prestar muita atenção no padre, sei que você vai se distrair, mas não é pra se distrair, Emily! Tem que prestar atenção, porque ele vai dizer “e agora, a troca de alianças” e aí é sua deixa, você tem que me dar a aliança enquanto o Bret dá a aliança pro Eric pra que a gente troque as alianças. E aí vai ter o beijo e tal e nós saímos primeiro, e aí antes de eu sair você tem que me devolver o buquê porque ele é meu!

Taylor falava como uma matraca. Eu estava sentada no sofá enquanto ela andava de um lado pra o outro na minha frente. Só de vê-la se mexendo tanto, eu estava com um pouco de tontura.

Era meio de maio. Havia se passado oito meses desde o noivado de Tay e Eric, e eles estavam pra se casar logo. Os preprativos estavam à tona, eu seria a madrinha, junto com o melhor amigo de Kutcher. Eu nem conhecia o cara. Mas preferia entrar com ele. O plano inicial era eu entrar com Ashton. E aquilo não era algo que eu queria.

Dois meses se passaram desde a ligação de Abby, e eu não tive a cara de pau de tentar nem um mínimo contato com Ford nesse meio tempo. Eu sabia como ele estava graças aos meus pais, e de vez em quando, Eric. Mas só sabia o geral, nada muito aprofundado. George estava querendo se aposentar, Abby estava terminando o curso em Londres, e estava pensando em assumir a gerência no lugar de seu pai, pelo menos até ter dinheiro pra fundar sua própria loja de roupas.

Eu também estava terminando minha faculdade, e pensava em abrir uma escola de tutoria pra alunos com dificuldades. Teria de achar outros professores de outras matérias, mas seria um negócio interessante. Eu gostava de explicar, descobri esse traço sobre mim mesma quando passei a ensinar Cameron.

Cameron que, por sua vez, nunca mais vi. E isso não é uma reclamação. O garoto era um pé no saco.

Tay continuava falando sozinha - porque eu que não estava prestando atenção - quando a campainha tocou. Ela ficou estática na hora e correu pra atender. Quando vi seus pais entrando, tratei de sair discretamente da sala, indo nas pontas dos pés pra o meu quarto.

Os pais de Taylor eram meio neuróticos. Eu não gostava muito deles.

Chegando ao quarto, tranquei a porta. Pendurado na maçaneta do meu guarda-roupas, estava o vestido que eu usaria no casamento, que seria em uma semana. Me aproximei da peça e passei suavemente a mão pelo tecido. Ele era de um ombro só, a alça ornamentada por flores artificiais. Todinho verde água. A parte abaixo do busto era chanfrada, e formava dobras charmosas pelo resto do vestido.

Taylor tinha um bom gosto, isso eu podia admitir.

Me joguei na cama. Estava um pouco apavorada com aquele casamento. Minha família inteira havia sido convidada, ou seja, até Abby e seu novo namorado viriam. Mas esse nem era o problema. O problema era Ashton. Eu estava com medo de não conseguir me portar ao vê-lo. Afinal, eu ainda era Emily Sanders. Havia esbarrado numa criança e quebrado uma mesa de bebidas, espalhando ponche por todo o lado - e tudo isso só no noivado.

Imagina a merda que eu faria no casamento.

–x-x-x-

O dia chegou. Eu estava com Tay nos fundos da Igreja, tentando ajudá-la a ficar pronta. O problema é que ela estava afobadíssima, não prava quieta um segundo. A maquiadora, a cabeleira, a mãe, eu e as outras madrinhas - todas nós já havíamos mandado que ela ficasse quieta, mas quem disse que ela ouviu alguém?

Estava até mesmo chorando antes da hora. Foi o momento em que a maquiadora mais brigou com ela, porque tinha acabado de passar lápis e rímel. E Taylor parecia que tinha esperado ela acabar pra começar a chorar.

Gente mimada e teimosa é mimada e teimosa até depois dos vinte.

Fiquei de saco cheio e saí do quartinho. Queria ter algum tipo de vício pra aliviar o estresse. Tipo fumar. Pensei, acho que vou começar a fumar. É chique, e ri de mim mesma. Fui pra longe do “camarim”. Aposto que Taylor logo ia sair dali atrás de mim, e se eu estivesse bem na porta ela iria me puxar pra dentro, mas se tentasse me procurar, as outras não deixariam e a puxariam de volta pra ela terminar de se arrumar.

Eu só saía ganhando.

Dei uma espiada do lado de dentro da igreja. Os convidados conversavam alegremente, esperando o momento em que a cerimônia começaria. Consegui ver as famílias do casal, sentadas lado a lado. Eric tinha um irmão mais novo e uma irmã mais velha. Eu não lembrava daquilo. Tay era filha única, então seus pais conversavam entre si enquanto a família Kutcher interagia apenas consigo mesma.

Meus pais estavam algumas fileiras atrás, Abby e seu mais novo companheiro de namorico. Ele era bonito, apesar de ter cara de criança. Me perguntei quantos anos ele tinha, e se minha meio-irmã era meio-pedófila.

Do outro lado do corredor, na mesma fileira, estavam os Ford. Ewan e a mulher, Dorothy, conversavam alegremente enquanto Ashton, ao lado da mãe, mexia no celular. Não consegui segurar a curiosidade. Será que ele estava conversando com alguém? Será que era uma mulher? Será que ele já havia me superado?

Porque eu, definitivamente, estava longe de superá-lo.

E, apenas por ironia do destino, Allison e Walter Cooper estavam sentados à frente dos Ford. Era óbvio que Edmund havia sido convidado também, mas ele não estava lá.

Estava me perguntando onde ele poderia estar quando senti uma mão em meu ombro repentinamente. Saltei uns cinco centímetros do chão e soltei um berro enquanto me virava, apenas pra dar de cara com Ed rindo loucamente da minha cara. Tentei controlar a respiração e coloquei a mão no peito, sentindo meus batimentos cardíacos acelerados como Usain Bolt.

— Desgraçado seja, Edward! Quase me matou, boboca! — Reclamei, errando seu nome de propósito e ele só riu mais.

Estava meio curvado, as mãos na barriga e provavelmente quase mijando nas calças enquanto ria.

Demorou uns bons minutos pra se recuperar.

— Você tinha que ter visto sua cara! Foi muito hilária, você fez bem assim, ó! — Tirou um sarro, em seguida fazendo uma cara de espanto tentando me imitar, mas ele estava tão bizarro que duvidei que minha cara conseguisse se dobrar daquele jeito esquisito.

Com a imagem mental de sua própria imitação, ele voltou a rir, e eu lhe dei um tapa no braço. Ele soltou um “ai” e finalmente ficou quieto. Olhou pra mim e apenas sorriu, que nem gente.

— Como você tá, Sanders?

— De boa. Tentando aguentar essa barra pesada que é a vida.

Ele riu mais um pouco e parou ao meu lado, também olhando pra dentro da igreja. Depois de um tempo varrendo o local com os olhos, fez uma careta.

— Seu namorado tá me encarando com raiva.

Me virei e tentei achar o que ele estava falando. Encontrei Ashton realmente nos encarando, mas assim que viu que eu olhava pra ele também, tratou de virar pra frente e voltar a mexer no celular.

— Nossa, não sou obrigada. Fica encarando e quando eu faço o mesmo nem tem a cara de pau de sustentar o olhar.

— Coisa de gente covarde.

— Cala a boca.

— Ué?

— Só eu posso falar mal dele, Ed. — Expliquei, fazendo o cara rir de novo. Ele estava particularmente feliz aquele dia.

Voltei a olhar pra dentro da igreja, mas Ashton havia desistido de vez de ficar olhando. Dei tchau pro Ed e voltei pra o quarto onde sua prima estava se arrumando. Chegando lá, Tay já estava de pé, arrumada, se olhando num espelho que ia do teto ao chão. Me viu pelo reflexo.

— Como estou? — Perguntou, parecendo receosa.

— Perfeita.

Eu não menti. O vestido era inspirado no de Kate Middleton no casamento real. Mangas compridas, rendadas. O decote era um pouco maior que o do vestido da duquesa, e a cauda era mais curta. O tecido também tinha um tom mais perolado, voltado pra um dourado suave. Estava usando sapatos e jóias caríssimas, porque é óbvio que os pais queriam ostentar num evento desses.

Se bem que, se fosse eu, não reclamaria. O anel de noivado brilhava mais que uma supernova e provavelmente valia mais que a minha casa toda.

E o terreno.

E as ações de George na empresa.

E toda a minha vida, provavelmente.

Taylor sorriu ao me ver avaliando seu vestido. Virou-se e me olhou, os olhos brilhando em expectativa. Me aproximei e estendi as mãos, que ela segurou entre as suas. Sorrimos uma pra outra.

Era o dia mais especial da vida dela, eu acho.

— Você ama o cara? — Fiz questão de perguntar.

Acho que era algo importante num casamento.

— Não do jeito que eu achei que amaria meu marido quando sonhava, aos dez anos, em me casar. Mas talvez o amor seja só isso. Só esse borbulho na barriga e leveza na alma.

— Acho que pode ser só isso.

— Se não for, tenho certeza de que to no caminho certo pro amor completo.

Assenti e apontei com a cabeça pra a porta. Tay respirou fundo e olhou pra as outras moças que estavam na sala. Saímos da sala e nos encontramos com os padrinhos. Eric já estava no altar. Sorri pro tal Bret, que me acompanharia, e ele devolveu. Éramos os últimos. Antes de entrar, olhei pra Taylor uma última vez. Ela parecia ansiosa. Acho que fiz uma pergunta com os olhos, porque ela respondeu:

— Sim. Eu amo o cara.

Sorri e me preparei pra entrar.

–x-x-x-

Não foi um casamento surpreendente. Foi como todos os outros que eu havia ido na vida, e foram poucos, porque eles nunca me pareceram convidativos. Tive que ficar o tempo todo de pé, meus sapatos estavam me matando porque eu não tinha costume de usar salto alto.

Prestei atenção no padre.

Porque, se não prestasse, a única outra coisa que me chamava atenção era Ashton.

E eu não iria ficar encarando o Ashton.

Então prestei atenção no padre.

Fiz minhas tarefas: segurei o buquê, entreguei aliança, devolvi o buquê. Não foi difícil.

Vi várias pessoas chorando. Nunca entendi por que elas choram. Metade dos casamentos termina em divórcio. Metade do amor jurado eterno termina na metade. Não é bonito. É bem triste, na verdade.

Já na festa, eu estava sentada em uma mesa qualquer junto com minha família e a família de Edmund. Estava entre Ed e Abby, que não conseguia fazer outra coisa fora ficar se agarrando com o novo namorado. Não tinha falado muito comigo desde que chegara pro casamento, um dia antes. Não que eu me importasse. Acho que nenhuma de nós estava pronta pra recomeçar a relação de irmãs.

Pelo menos, não ainda.

Ed de vez em quando se virava na minha direção e conversávamos por incontáveis minutos, mas então cada um virava pra o outro lado e a conversa ia embora, voltando apenas muito tempo depois. Estávamos nesse vai-e-vem. Talvez quiséssemos ser íntimos, mas ainda não havíamos chegado lá.

Mas seria bom ter um novo amigo. Com Taylor, eu havia descoberto que gostava daquilo.

E por falar no diabo…

— Emy, vem tirar uma foto comigo e com o Eric! — Chegou berrando e já puxando minha cadeira pra que eu me levantasse logo. — E vocês são os próximos, família da Emily.

— Pode deixar, senhora Kutcher. Eles sabem disso.

Com a minha menção ao seu recém-adquirido sobrenome, Tay apenas sorriu mais abertamente, me puxando pela mão até onde Eric conversava com o fotógrafo…

E com Ashton.

— Taylor, o que diabos?

— Calma, ele não vai tirar a foto com você. Mas ele foi o último a tirar com a gente, então puxou um papo com Eric enquanto eu fui te buscar. — Ela explicou, e eu soltei um suspiro aliviado. Ainda não estava pronta pra ter contato com ele.

E nem ele comigo, já que fechou a cara e virou as costas assim que me viu, saindo de perto do noivo.

Eric me cumprimentou com um abraço apertado, alegando não ter me visto muito ultimamente. O que não era mentira, já que Taylor começou a me monopolizar quando ainda faltava um mês pro casamento. Parei no meio dos dois e tirei dezenas de fotos, cada uma com uma pose diferente e divertida. Eu não gostava de fotos sérias. Na verdade, não gostava muito de fotos em geral, mas se era obrigada a tirar, então que fosse algo legal, não algo comum e sem graça.

Depois de duzentas fotos, me separei do casal e fiz um gesto chamando minha família, pra que pudessem tirar fotos com os Kutcher também. Eles se aproximaram e tiramos mais três fotos, duas padrão e uma a mais porque Abby alegou ter piscado. Quando o fotógrafo disse que tinha terminado, olhei para os lados em busca de Ashton. Não encontrei. O que vi foi Edmund me encarando profundamente e, quando botei meus olhos nele, ele apontou discretamente com a cabeça pra uma porta que dava pra uma espécie de sacada.

Encarei a porta e me perguntei se estava mesmo pronta pra falar com ele. Querer, eu queria mais que tudo. Sentia falta da presença do meu melhor amigo, seus sorrisos discretos e seu cabelo que crescia tão rápido. Sentia falta de seus abraços apertados, por mais que eu nunca gostasse deles, e sentia falta de suas brincadeiras irônicas e sem graça na maior parte do tempo.

Eu sentia muita falta de Ashton.

E por isso, queria muito ir atrás dele. Mas, como já havia dito, não sabia se teria coragem. Porque meu maior medo era sua reação. Na verdade, meu maior medo era que sua reação viesse em forma de “não”. Tinha medo que ele me rejeitasse. Que ele não sentisse mais minha falta. Que ele não me quisesse mais como queria antes. Como eu o queria agora.

Suspirei e comecei a andar de volta para minha mesa. Na metade do caminho, antes que pudesse perceber, fui abordada por mãos me segurando forte pelos dois braços. Olhei pros lados e, na minha esquerda estava Edmund, enquanto Abigail estava na direita. Eles me pegaram com vontade e me arrastaram pra longe da mesa, em direção à porta que Cooper havia indicado.

— Que porra vocês estão fazendo? Me soltem, seus loucos! — Mandei, mas não surtiu o efeito que eu queria. Na verdade, eles se entreolharam e riram.

Riram!

— Você não vai fugir disso pra sempre, Emily. — Quem me respondeu foi Gail, assim que paramos na frente da porta. — Entra aí por vontade própria ou eu abro a porta e te jogo lá fora.

Olhei incrédula pros dois, que tinham sorrisos estampados nas caras de pau. Não sabia como reagir, e, no fundo, sabia que se reagisse eles iriam fazer o que estavam prometendo. Por isso, apenas chacoalhei os braços pra que eles me soltassem e, respirando fundo, abri a porta e, sem olhar pra trás, fui pro lado de fora.

–x-x-x-

Ashton estava de costas, olhando pro movimento na rua, apoiado no murinho que separava a calçada da propriedade do salão de festas. Um carro passou e Ashton deu alguns passos pra trás a tempo de não ser acertado pela água que o carro levantou com as rodas quando passou por ali.

Quase ri com sua esperteza, mas eu estava tão nervosa que só sabia tremer. Ele não parecia ter notado minha presença ainda, ou se tinha notado, estava me ignorando maravilhosamente. Cansada daquele tratamento, resolvi botar a cara no sol.

— Abby me ligou. — Disse, e ele se virou num pulo, com uma feição muito assustada no rosto.

É, ele não havia me notado.

— Disse que você a chamou no facebook e perguntou se ela estava solteira. E depois a pediu em casamento.

Ele engoliu a seco, ainda com a cara surpresa. Mas, logo depois, ficou sério e arqueou uma sobrancelha.

— Ciúmes?

— Ela disse que negou. Ela está com um namorado, e a única coisa que eles fizeram a noite inteira foi beijar. — Ele desviou o olhar por um segundo, coçando a palma da mão, desconcertado. — Não, não estou com ciúmes.

Ficamos nos encarando por um bom tempo, até que ele se virou de costas novamente e voltou para o muro, se apoiando lá e voltando a observar os carros do lado de fora. Demorei um tempo pra reagir, mas logo estava ao seu lado, fazendo a mesma coisa.

— Eu quebrei minha promessa. — Ele disse, depois de um tempo em silêncio. Olhei pra ele, questionando, mas ele ainda mirava a rua. Não me encarava de volta. — Eu prometi que um dia iria casar com você. Quebrei a promessa.

Ele se referia à mesma lembrança que eu havia tido no dia em que brigamos. O casamento da vizinha de Ashton quando tínhamos treze anos. Quando ele me disse, indiretamente, que me amava daquele jeito e me deu meu primeiro beijo. Primeiro selinho, na verdade, mas aquilo não importava. Lembrei do quanto eu tinha amado aquele selinho.

— Quebrou porque eu não deixei. — Expliquei, assumindo minha culpa. Minhas mãos estavam suando e minhas pernas estavam tremendo e eu tinha certeza de que se soltasse o muro, iria cair de bunda no chão. — Se eu tivesse deixado…

— Mas você não deixou. — Ele me cortou, e eu nunca havia ouvido sua voz tão fria. Nem quando ele foi me encher o saco no Café e me viu conversando com Cameron.

Olhei pra baixo, pros meus sapatos de salto que apertavam meus dedinhos e provavelmente iriam me causar uma joanete ou, no mínimo, um calo bem escroto. Ouvia que a respiração de Ashton estava alta, ele estava meio ofegante e aquilo estava me preocupando. Ashton não fica ofegante, pensei. Mas então lembrei que tinha errado sobre muitas coisas que eu pensava que sabia sobre Ashton no último ano.

Achei que ele não sentia ciúmes.

Ele sentia.

Achei que ele não corava.

Ele corava.

Achei que ele não chorava.

Ele chorou na minha frente.

Achei que ele não se apaixonava mais depois da menina que se mudou pros EUA depois do colegial.

Ele se apaixonou logo foi por mim.

É, eu estava bem errada sobre muitas coisas que pensei saber sobre meu melhor amigo. Olhei pra ele pelo canto do olho e ele estava com os cotovelos apoiados no muro e o corpo entortado pra frente, com a cara entre as mãos. Parecia um pouco desesperado e eu quis me matar, porque aquilo era culpa minha.

Eu fiz tudo aquilo com Ashton. Eu fiz ele sentir ciúmes, fiz ele chorar, indiretamente fiz ele se apaixonar e lá estava eu, fazendo ele sofrer. Tudo isso por mim. Eu precisava agir em relação àquilo ou me torturaria pro resto da minha vida, arrependida de não ter ao menos tentado consertar.

— Acha que dá tempo se eu deixar agora?

Ele pareceu surpreso, e eu me perguntei se eu era tão discreta assim ao ponto dele sequer considerar o fato de eu ter sentimentos por ele, se eu parecia tão insensível. Ficou me encarando com os olhos esbugalhados e a boca levemente aberta, enquanto eu tinha o cenho franzido, com medo da reação.

— Deixar… o que? — Ele não era burro, mas sim estava querendo ter certeza se o que estava pensando era verdade.

— Você cumprir a promessa.

Ficamos em silêncio de novo, ele ainda com aquela cara. Virei meu corpo pra que ficasse de frente pra ele e andei alguns passos até estar parada a apenas algum centímetros dele. Ash fechou a boca e engoliu a seco de novo antes de também virar seu corpo pra ficar todo de frente pra mim.

— Achei que eu estava confundindo as coisas. — Sua voz tinha um tom de mágoa. Eu não estava surpresa. Eu também estaria daquele mesmo jeito. Na verdade, ele até estava calmo. Eu estaria surtando.

Como surtei na nossa conversa, quando o disse que ele estava confundindo as coisas.

— Me arrependi daquela conversa no minuto em que pus os pés pra fora da sua casa.

Seus olhos, que estavam de um tom tão escuro, ficaram levemente mais claros, e a sombra de um sorriso brincou em seus lábios. Ele parecia feliz que eu estava voltando atrás. Talvez Abby tivesse razão, e Ash iria me perdoar mesmo se eu queimasse sua casa com seu peixe dentro.

— Me perdoa.

Ele voltou à quietude por infinitas horas que na verdade devem ter sido minutos. Mas dizem que tempo é psicológico, ou uma invenção do homem. O ponto é que ele pareceu demorar horas até que, finalmente, os cantos de seus lábios se puxassem pra cima e eu conseguisse ver a pontinha do seu dente canino quebrado - fato que havia ocorrido quando ele tentou morder uma fruta de mentira quando tínhamos catorze anos.

— Eu faço tudo por você, Sanders.

Eu senti a felicidade se alastrando por todo meu corpo, meu rosto, minha alma, até a mais funda raíz do meu cabelo. Fechei os olhos pra que ele não visse que eu queria chorar, e acho que soltei uma gargalhada ao mesmo tempo. Sem sequer medir força, me joguei em cima de Ashton, que quase se desequilibrou e nós quase caímos no chão. Ele se apoiou de costas no muro e eu fiquei na frente dele, ainda com as mãos ao redor de sua cintura enquanto sentia seus dedos se embrenhando em meus cabelos num carinho gostoso.

Olhei pra cima. Ele sorria daquele jeito que sempre sorriu quando olhava pra mim, desde que tínhamos sete anos. Aquele brilho no olhar e o canino quebrado brilhando do cantinho aberto da boca. Meus olhos ainda ardiam com a vontade de chorar, mas eu chorei tanto desde que perdi o Ford que acho que nem tinha mais lágrima restante no meu corpo.

Vi quando ele se abaixou e fechou os olhos, e tremi por dentro quando senti seus lábios nos meus. Não perdi tempo e abri a boca pra que nossas línguas se encontrassem; nunca pensei que fosse sentir falta de um beijo, mas eu senti. Mesmo tendo beijado Ashton apenas, o que, duas vezes? Eu senti falta. Assim como senti falta de todo o resto dele.

Não durou muito, mas foi delicioso e cheio de sensações pelo corpo que me deixou flutuando. Logo ele se separou um pouco de mim, mas não muito, apenas o suficiente pra voltar a me abraçar.

— Não sou mais seu namorado inventado agora? — Ele perguntou, sussurrando no meu ouvido. Ri um pouco.

— Acho que nunca foi só invenção.

Rimos juntos e o silêncio voltou. Eu só queria ficar ali pro resto da vida, sentindo sua respiração contra a minha cabeça e seus braços ao meu redor, um carinho gostoso no ombro que ele fazia com as pontas dos dedos. Seu peito na minha bochecha, levantando e descendo conforme a respiração - que já tinha se acalmado.

Um medo passou rapidamente pela minha mente.

— E se a gente não der certo?

Senti um ventinho na cabeça quando ele riu contra meus cabelos. Me apertou com mais força contra si, tentando me deixar segura. E conseguindo um pouco.

— Eu sei que a gente vai. — Explicou, com confiança na voz. E eu acreditei. — Eu prometi. Um dia vou casar com você, Emy.

E pela primeira vez na minha vida, eu tive vontade de comparecer a um casamento.

––

"Você diz que está só, você e a torcida do flamengo. Acorda cedo e se produz pra ver se aquela pessoa irá te notar hoje - faz isso todos os dias, e todos os dias não percebe que estava olhando pro outro lado da sala enquanto a pessoa que mudaria seu mundo estava sentada e apagada a apenas duas mesas atrás de você. O amor é cheio de ironias, não tem local ou data marcada, apenas acontece, quando você diz que amor não é pra todos, está realmente certa, pois a maioria não se da o trabalho de levantar e sair por ai pra esbarrar com o que é seu. Todos os seus amigos resolvem ir pra uma festa, e você prefere ficar em casa pois não está bem, abre o armário da cozinha e não encontra nenhum remédio - olha que azar, resolve ir na farmácia comprar algum analgésico mas não sabe bem o que comprar, e aparece alguém ali com um sorriso cínico pra te ajudar, sua dor de cabeça passa na mesma hora, e você até leva uns drops de morango dizendo que só estava querendo saber, e irá voltar depois. Claro que irá voltar depois. Amar é sentir uma necessidade incontrolável de dizer que ama mesmo no meio de uma tempestade esperando um táxi que nunca chega. É ter uma intimidade, e eu não estou falando de uma transa num sábado a noite, mas na confiança de uma vida inteira. Amor não é exigência, doamos o coração e seja o que Deus quiser, é um jogo de sorte cheio de blefes que mais gente perdeu do que ganhou. Quando se gosta por amor não importa se ele mora na casa ao lado ou num país do outro lado, se ele é um Shakespeare ou um pedreiro nas cantadas, qualquer pronuncia carinhosa irá te tirar um sorriso sincero. Você se pergunta diariamente quando e como irá acontecer, enquanto come um pacote de Doritos jogada no sofá torcendo pra que o telefone toque, e que seja engano, e que seja solteiro, e que more perto, e que tenha Facebook, mas o telefone não toca, mas por que ele não tocaria? Olha que azar, deu problema na sua linha. Você liga pra companhia telefônica e eles mandam um técnico novo, jovem, inexperiente, que faz muitas perguntas e não sabe ao certo por onde começar, na saída deixa o Email e diz que qualquer problema é só ligar. Claro que irá dar problema, talvez amanhã você corte os fios do telefone com uma tesoura sem querer. Amor é mais sentimento do que percepção, talvez ele não note seu perfume novo, se o seu cabelo está mais claro ou em cinquenta tons de cinza, talvez ele esqueça quando tudo começou e não lembre quando vocês farão um ano de compromisso, mas ele lembrará todos os dias de te fazer a mulher mais feliz desse planeta. Então, pare de pensar quando ou como, não se limite aos porquês. Pare de procurar e comece a deixar as coisas serem como são, o acaso anda surpreendendo muito ultimamente." - Sean Wilhelm


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Notas finais do capítulo

É só isso. Não tem mais jeito. Acabou. Boa sorte. Não tenho o que dizer. São só palavras. E o que eu sinto não mudará.
Obrigada pelas palavras inspiradoras, Vanessa da Mata.
Eu sempre imaginei que finalizar uma longfic seria horrível. Mas nunca pensei que seria assim.
Namorado "Inventado" não foi minha primeira fic escrita, nem minha primeira postada, mas foi a primeira com essa repercurssão. Foi a primeira que conquistou leitores incríveis, foi a primeira que me deixou orgulhosa de ter escrito e postado. Foi a primeira fanfic que me deixou de coração quente de amor. Foi a primeira longfic a ser finalizada.
Escrever esse "Fim" no arquivo da história foi como pegar um pedaço da minha alma, guardar numa caixinha e jogar longe. Vocês não fazem ideia do quanto NI é especial pra mim, do quanto eu vou sentir falta de escrevê-la e postá-la pra vocês lerem.
Também vou sentir muita falta das reações de vocês. E por mais que eu já tenha novos projetos, acho que nada vai ser igual a NI. NI foi, e sempre vai ser, especial.
Obrigada, flores, por todo o apoio imenso e incrível que vocês me deram nessa jornada no último ano. Não tenho certeza quando comecei a postar a fic, mas isso não importa. O que importa é que ela foi finalizada hoje. Mas só no papel, porque eu sei que ainda vou pensar na Emily e no Ashton e na Tay e no Eric e no Ed e na Abby e no George e na Agatha e em todo mundo por muito tempo. Eles são parte de mim.
Vocês podem me acompanhar em todas essas redes sociais que estão lá em cima. Também tem o grupo das minhas fics no facebook, onde vocês podem ficar sabendo das novidades - inclusive da minha próxima fic! Então não deixem de entrar.
Eu amo muito todos vocês. Muito.
Vejo vocês em breve, lindas!