Afterlife escrita por Leandro Zapata


Capítulo 8
Diferenças




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Quando eu coloquei um pedaço do Fruto da Vida na minha boca e mastiguei ao mesmo tempo o Fruto do Conhecimento do Bem e do Mal senti um gosto tão horrível que quase vomitei. Comer essas duas coisas juntas era como misturar jiló cru, gengibre e tomar um suco de limão em seguida. Não é algo que você comeria no almoço, pode ter certeza. Mas tive que aguentar e sem fazer careta, ou o anjo que me dera o segundo fruto notaria algo estranho.

Depois que passei por um portão de ouro maciço, minhas roupas desapareceram sem deixar nenhum rastro, me senti desconfortável a princípio, mas depois notei que havia outras diversas pessoas nuas. Homens e mulheres. E eles não pareciam se importar com isso. Eram como crianças. Então, resolvi não me importar também.

O lugar onde eu estava era um corredor cujo fim era invisível a olho nu. Havia um imenso tapete vermelho que ia do portão por onde entrei até onde meus olhos acalcava. Havia diversos quadros enfeitando as paredes laterais; todos possuíam molduras de ouro. Eu não conhecia muito da bíblia, mas reconheci algumas das pinturas como sendo Moisés abrindo o Mar Vermelho, Sansão derrubando duas pilastras e Jesus sendo crucificado. O corredor era muito iluminado e não tinha teto. Apenas nuvens estavam sobre nossas cabeças. Notei que eu não tinha sombra.

Meu anjo da guarda veio até mim. Eu não lembrava seu nome. Ela tinha nas mãos um pacote de pano e um envelope.

– Oi de novo! Ah, é! Você não vai lembrar-se de mim. Sou Rachel, fui seu anjo da guarda durante sua vida na Terra. Bem, agora você começa uma nova vida e não vai precisar mais de mim. Aqui estão algumas roupas e informações. Você terá um novo nome e uma função no Paraíso.

Ela me entregou a sacola de pano. Tirei dela uma blusa vermelha lisa, uma calça de moletom preta, meias, cuecas e um par de tênis. Notei que as pessoas a minha volta tinham certa dificuldade para vestir-se. Tentei imitá-las. Rachel me ajudou.

– Obrigado. - Eu disse quando estava vestido. Tentei soar o mais inocente possível.

– De nada. - Ela disse amavelmente. - Foi bom ser seu anjo da guarda, e desculpa pela sua morte.

Por um momento senti remorso por ela. Ela estava realmente triste pela minha morte. Como se fosse ela a puxar o gatilho contra Elena. Maldita Morte, vou fazer pagar pela tristeza que causou a essa bela criatura, pensei. Eu só não sabia como.

– Está tudo bem. Não foi sua culpa. - Eu disse enquanto guardava o envelope no bolso da calça.

Ela estranhou. Talvez tenha até duvidado se eu lembrava algo. Mas ela apenas sorriu tristonhamente e foi embora pelo portão de ouro, voltando ao Jardim do Éden. Foi então que algo me ocorreu. Quando eu passei pelo portão, minhas roupas desapareceram e junto com elas o resto do Fruto Proibido e Týr. Droga, o que eu faria agora? Eu não sabia que minhas roupas desapareceriam, provavelmente nem Týr sabia. Como eu iria encontrá-la novamente?

O fio dourado!

Olhei para o meu pulso. O fio estava ali; estava amarrado em volta do meu pulso, mas a cordinha que saia do nó estava arrebentada. Merda.

Andei pelo corredor o mais rápido que eu podia olhando para todos os lados, mas também procurei não correr para não chamar atenção. Talvez Týr aparecesse do nada ou viesse voando na minha direção. Passaram-se alguns minutos quando vi algo estranho. Era um quadro onde estava pintado o momento que Eva retirava o Fruto Proibido da árvore. Era como se o fruto estivesse em alto-relevo ou em 3D. Aproximei-me, curioso. Então o Fruto caiu do nada e eu o segurei com uma das mãos por reflexo. Týr estava agarrada com força ao fruto, do lado onde havia o corte.

– Týr! - Eu quase gritei. De certa forma eu estava feliz em vê-la.

– Não grite, minha cabeça dói.

– Desculpa. O que aconteceu? Achei que você tinha sumido! - Sussurrei.

– Eu estava fazendo um feitiço de cura lento quando senti uma forte energia em suas roupas. Agarrei o Fruto e desapareci. Apenas apareci naquele corredor por causa da nossa ligação.

Notei que o fio dourado estava novamente ligado ao calcanhar da fada. Fiquei pensativo por um momento. Eu estava aliviado por vê-la e de certa forma ela estava bem. Tinha diversas marcas de ferimento pelo corpo, mas todos pareciam estar sob controle. Ela parecia exausta.

Coloquei o Fruto no bolso esquerdo da calça. Týr sentou no meu ombro.

– Abra sua carta. Temos que saber qual é sua função no Paraíso.

Tirei a carta do bolso e abri. Nela havia apenas algumas mensagens bonitas escritas. Algumas explicações. Então achei qual era o meu nome no Paraíso: Leonard Ross. Era o mesmo nome, mas Rachel disse que eu teria um novo nome.

– Meu nome continua o mesmo. Não tem nada de novo. - Eu disse, de certa forma decepcionado.

– Mas para as outras pessoas que não possuem memória, seus próprios nomes são nomes novos. - Týr respondeu - Mas não importa. Qual é a sua função no Paraíso?

– Não tenho nenhuma.

– Como assim? - Ela encarou o papel de uma forma estranha. Realmente o campo “função” estava vazio. - Provavelmente é algo do chefe. Não podemos permitir que alguém sinta sua falta caso você esteja fazendo algo que ele pediu.

– Certo. O que vamos fazer agora?

– Vamos entrar no Paraíso. Este corredor termina no portão de prata, que está a alguns quilômetros à frente. Por ele, entraremos num mundo exatamente igual a Terra, mas há sete diferenças grandes entre a Terra e o Paraíso. São elas:

1ª - Éden - o Jardim do Éden (aqueles que acabamos de passar) obviamente não existe na Terra. Aqui no Paraíso, ele está lugar equivalente à Crescente Fértil (lugar entre os rios Tigre e Eufrates no Iraque) na Terra.

2ª - O Corredor das Memórias - é o lugar onde estamos. Esse corredor vai, em linha reta, do que seria o Iraque até os portões de Jerusalém na Terra, ou seja, no Paraíso vai do Éden até a Nova Jerusalém. O único modo de adentrar esse corredor é através das portas em suas extremidades, não se vê as paredes pelo Paraíso. No final desse corredor, em algum lugar, está uma porta para a Mansão dos Mortos.

3ª - Nova Jerusalém - é o lugar para onde estamos indo. É uma cidade que possui vários nomes: Cidade de Prata, Morada dos Anjos ou até mesmo Paraíso. É lá que moram os anjos, arcanjos, etc. Há também almas humanas que moram ou trabalham por lá.

4ª - Stonehenge - sabe aquelas pedras empilhadas que tem na Inglaterra que ninguém sabe para que servem mas todo mundo vai visitar? Então, aquele é o único templo dedicado a Morte em si. E não confunda a Morte com um deus da morte. São entidades diferentes. Mas não um templo propriamente dito. Ninguém vai lá para adorar a Morte, aquele é apenas um portal para o Castelo da Morte, onde a Morte mora.

5ª - Triângulo das Bermudas - (Sim. Exatamente. Não me olhe com essa cara! Só estou dizendo as coisas que o mestre mandou!) O Triângulo é um escudo mágico muito poderoso criado por Deus. Nem mesmo os Serafins são capazes de atravessá-lo. A magia nesse escudo é tão poderosa que afeta até mesmo na Terra (que de certa forma está conectada ao Paraíso). Por isso muitos barcos afundam quando se aproximam do Triângulo. No centro desse escudo tem uma ilha (na Terra essa ilha já existiu, mas afundou milênios antes), mas ninguém jamais foi a essa ilha.

6ª - O Abismo - ou o Lago de Fogo e Enxofre. Não há muito que falar sobre ele, é basicamente um imenso lago de lava e fedorento.

7ª - A Entrada Trono de Deus - em algum lugar do Paraíso está a porta que leva a Morada de Deus. Ninguém sabe onde.

– Não entendi direito, mas tudo bem. Por que eu preciso saber dessas coisas?

– Não sei, o mestre apenas me disse para te falar. Nosso próximo passo é ir até Stonehenge.

– Simples. Só pegarmos um avião.

– Não podemos.

– Por que não?

– Por que quanto mais próximos chegarmos do céu, mas perto estamos de Deus. Ficará cada vez mais difícil esconder minha presença.

– Bem, se estamos chegando a Jerusalém e se é no mesmo lugar que na Terra temos que atravessar uma boa parte da Europa até Stonehenge. Quase toda ela. E pretende fazer isso como?

– Não sei. Vamos descobrir quando chegarmos à Nova Jerusalém.

Nós caminhamos até chegar a um portão imenso de prata com desenhos aleatórios arredondados e belos de ouro puro. Aquele era o portão da Cidade de Prata.


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