Afterlife escrita por Leandro Zapata


Capítulo 59
Acorde!




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Thais Walker observava com cautela os três Filhos do Abismo que estavam dentro da loja de conveniência que ela tentava assaltar. Já faz duas semanas que ela havia chegado a Rouen, às margens do rio Sena, e Leonard ainda estava inconsciente assim como Týr. Felizmente, havia diversos mercadinhos e casas de onde ela podia tirar comida, o que fazia sempre de manhã a cada três dias. O resto do período, ela curava os dois. Dez, doze ou quatorze horas por dia, dependendo de como estava sua reserva de energia.

Ela sempre encontrava com Filhos quando ia buscar comida, contudo não os matava, pois sabia que denunciaria sua posição aos outros. Nem sempre conseguia trazer uma quantidade grande de comida por causa disso. Finalmente, depois de quase duas horas de espera, os Filhos saíram da loja, deixando-a completamente abandonada, e não notaram a garota observando-os. Assim que eles estavam fora de vista, ela entrou na loja.

Pegou o máximo de coisas que conseguiu. É claro que ela poderia marcar os alimentos e transportá-los para a casa depois, mas preferia não fazê-lo. Tinha que guardar energia para curar Leonard. No entanto, ela marcava alguns usando um canetão vermelho, assim quando ele acordasse poderia transportar a comida para lá - sabia que ele acordaria faminto.

Voltou sem ser notada para casa quando a luz estava alaranjada no céu. Aquela seria uma longa noite, como todas as noites durante aquelas duas semanas. Ia dormir ao lado da pessoa amada, mas ele nem se daria conta disso. Sentiu um aperto no peito... Solidão? Sim, era isso. Queria poder ouvir sua voz de novo.

Preparou a janta para si e comeu em silêncio. Depois tomou banho e deitou ao lado de Leonard, que não se moveu ao peso dela. Apesar de todos seus ferimentos estarem curados, ele ainda não acordava, como se estivesse em outro mundo. Uma lágrima escorreu em seu rosto enquanto fitava o rosto dele.

– Sabe, você é muito mais bonita quando não esta chorando. - Ele disse, abrindo os olhos e com a voz fraca.

Num salto, devido a surpresa, Thais abraçou-o com toda a força de seus braços. Feliz por ele finalmente ter acordado.

– Eu estou aqui em baixo, caramba. - Týr resmungou por sob um dos seios de Thais, que sem querer esmagara a fada.

– Desculpe. - Ela disse, saindo de cima dela.

– Obrigada! - Retrucou sarcasticamente.

Thais não conseguia conter as lágrimas de alegria que escorriam em seu rosto. Eles estavam acordados! Os dois sentaram na cama, Týr permaneceu deitada onde estava.

– Faz quanto tempo que estamos dormindo?

– No mínimo duas semanas. Qual a última coisa que se lembra?

– Eu estava em Paris, perto do Arco do Triunfo. Eu estava cercado de Filhos. Eu escondi meu sobretudo e a espada, e Týr usou um feitiço. Então...

Ele levou a mão à cabeça, como se tentar lembra causasse dor a mente dele.

– Eu estava em uma floresta... - Ele parecia atordoado. - Uma floresta escura... Então eu a vi...

– Quem? - Thais perguntou.

– Elena. - Respondeu. - Eu a vi como num sonho. Mas não era um sonho propriamente dito, era diferente. Era real! Eu sabia que podia tocá-la finalmente! Mas então... Algo me trouxe de volta... Algo me impediu de abraçá-la e beijá-la...

– Isso fui eu... Sinto muito. - Týr disse, sentando e com o semblante triste. - Sua alma viajou pelo Reino dos Sonhos, e não pense que isso é uma coisa boa, se eu não tivesse te trazido de volta e mantido sua alma aqui, você teria se perdido para sempre.

– Obrigado. - Ele respondeu com um sorriso. - Foi bom rever meu passado, mas eu preciso mesmo é continuar no meu presente e lutar por um futuro.

Thais fitou o amigo e sorriu. Era exatamente por isso que ela se apaixonara por ele; ele era do tipo que cavalgaria em um cavalo branco para salvar uma princesa, se ele tivesse um cavalo e uma princesa. Ela não conseguia parar de sorrir.

– Você nos salvou, não? - Leonard reparou de repente. - Só você poderia ter encontrado meu casaco e espada. E agora estamos aqui, sãos e salvos.

– Sim, mas tive ajuda. Alguém que você não imaginaria.

Ele pareceu pensar, mas não foi capaz de deduzir quem era o ajudante misterioso.

– Tem razão. Não faço a mínima ideia.

– David. Aquele da bíblia.

– Você quer dizer, Davi? - Ele arregalou os olhos. - Isso parece impossível de muitas formas.

– E tem outra coisa que preciso te contar. Eu comi do Fruto Proibido. Eu lembro-me de todo meu passado na Terra.

– Então você tem muitas histórias para me contar! - Ele disse com um sorriso; ele não parecia estar nem um pouco zangado pelo fato de ela ter comido uma parte do fruto sem a permissão dele.

Ela repetiu o pensamento.

– Eu? Zangado? Por que estaria? Eu deixei o Fruto para que você encontrasse, esperava que você comesse.

Ela fitou-o mais um pouco e abraçou-o novamente.

– Você deve estar faminto! - Concluiu. - Vou te contar minha história enquanto cozinho algo para você.

– Posso tomar um banho antes? E vestir uma roupa. Não gosto muito que uma garota bonita me olhando só de cueca.

De repente Thais se deu conta e ficou vermelha igual a um tomate. Levantou tensa e deu as costas para ele.

– Qual é? - Ele respondeu. - Você me viu assim durante duas semanas. Só por que estou acordado agora você vai ficar com vergonha?

Ela não respondeu e saiu do quarto para a cozinha, onde conjurou toda a comida que tinha marcado naquelas duas semanas e preparou um baquete para ele e Týr. Em algum momento enquanto cozinhava, ela ouviu o chuveiro lá em cima ligar.

Thais nunca, na vida ou na morte, se sentira tão feliz em cozinhar para alguém.


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