Sangue Mestiço escrita por Selenis


Capítulo 13
Uma Recepção Calorosa; Os Quartos




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UMA RECEPÇÃO CALOROSA

Quando os raios diurnos surgiram de trás do monte e incidiram em meu rosto, foi quando eu tive a vontade de olhar pela janela e ver os picos e as montanhas. Rolando os olhos um pouco mais para baixo, visualizei a ponte por onde o expresso de Hogwarts passava. E adiantando-os horizontalmente, vi outro carro, muito parecido com que eu estava, voando na mesma velocidade.

O motorista direcionava a sua atenção às nuvens, enquanto que a garota no banco de trás lia um volume pequeno; demonstrando total interesse naquelas linhas cujos assuntos prendiam a sua atenção. E ali fiquei a observá-la, tentando imaginar se o que ela havia dito era real.

“ Você me beijou! “, sua voz ecoando em minha mente, como uma vitrola quebrada.

Balancei a cabeça, tentando me desvencilhar daqueles pensamentos. Mas não adiantava, pois mesmo se eu conseguisse parar, vários outros inquietavam minha mente.

“ Meu pai, minha mãe.... O que eles dirão ao me ver? De que forma irão reagir? ”.

Só fui me dar conta de que havia me perdido em minhas próprias apreensões, quando Hermione Granger ergueu os olhos do livro e me fitou demoradamente por trás da janela. Supus de que ela faria algum gesto obsceno, mas não. Em vez disso, fechou o volume e se esticou para frente, tocando de leve o ombro do motorista. Seus lábios se moveram enquanto palavras mudas soavam de sua boca. O motorista não fez nada, como se não estivesse escutando.

Granger voltou a se recostar no banco, cruzando os braços, enraivecida. Ela me olhou novamente, mas não demorou em voltar a me ignorar. Seu corpo caiu por cima do banco, desaparecendo de vista. Eu voltei a me contentar com a paisagem montanhosa.

A noite já havia caído quando os carros começaram a descer lentamente. Uma visão distorcida da mansão em meio a névoa que a cobria.

Os carros foram descendo lentamente, e ouvi o motorista dizer:

– Chegamos, Sr. Malfoy.

Desci do carro, abotoando o paletó.

O porta-malas bateu, e as bagagens passaram levitando a poucos centímetros do chão perto de mim. O carro que trazia Granger, aterrissou suavemente e suas rodas só vieram a parar a cinco metros distantes da entrada.

Hermione Granger desceu, esticando os braços e dando um longo bocejo depois de um belo cochilo. O motorista depositou as suas malas ao seu lado, e nos vimos juntos em frente ao percurso que dava acesso à minha moradia.

Vibrei ao sentir o vento gelado da noite arrepiar minha nuca, e os cachos avolumados de Granger fazerem cócegas ao lado de meu rosto. Seu cheiro invadiu minhas narinas, e senti-me ligeiramente extasiado.

As luzes piscavam nas vidraças, e pude ouvir com clareza o barulho da água escorrendo da fonte. O portão de ferro deslizou para dentro, e engolindo um seco e enxugando o suor das palmas na calça, dei o primeiro passo e não ousei em mais parar. Caminhei como se estivesse hipnotizado, ou algo do tipo. O nervosismo tomava conta de mim, assim como um manipulador toma conta de sua marionete.

– Ei, espere! – fingi não ter ouvido Granger gritar a muitos passos atrás de mim. – Draco! Espera... Wingardium Leviosa!

Imaginei ela apontando a varinha para as bagagens, fazendo com que estas levitassem e a seguissem. Escutei suas passadas apertadas para tentar me alcançar, e logo viu seu vulto fino e pequeno acompanhar meu ritmo. As paredes de sebes me cercavam, e por um momento pude ter perdido a sanidade; já que imaginei um trasgo emergindo da planta e me atingindo na testa com o seu tacape.

Isso de fato não aconteceu, mas o algo que não poderia estar mais longe dessa ideia, teve o mesmo impacto:

Meus pais estavam lá; com seus olhares frios pregados a mim.

Quando subi os degraus, vacilante, minha mãe envolveu seus braços finos e rígidos em mim. Meu pai apenas segurou meu ombro e apertou, lançando a Hermione Granger um ar desdenhoso.

– Olá, meu filho. – Disse Narcisa, enrugando a tez num sorriso de lábios crispados. – Senti sua falta.

– Oi, mãe. Pai...

– Seja bem-vindo, Draco.

Mais duas pessoas surgiram da escuridão. O homem usava uma capa negra abotoada até o pescoço e tinha expressões severas, enquanto que a mulher, mais alta e franzina que ele, com seus cabelos loiros e languidos caindo em uma cascata pelas suas costas, exalava um ar muito mais afável que o do próprio.

No entanto, eu não poderia estar mais errado.

– Boa noite, Sr. e Sra. Malfoy. – Cumprimentou o homem, fazendo uma breve reverência quando levou a mão enluvada ao peito, e inclinou um pouco a coluna em nossa direção. – Eu sou Klein Denski Mitchell, e essa é Olívia Doges Rutchell. Somos representantes do Nível dois no Ministério, da Seção de Autoridade dos Exames Mágicos do Departamento de Educação Mágica. Fomos designados pela Alta Inquisidora, Dolores Jane Umbridge, para acompanha-los e leciona-los durante o período em que se encontram ausentes da escola.

– Agora Fudge resolveu meter o nariz aonde não foi chamado? – exclamou Granger.

– Calada. – Vociferou Lucio Malfoy.

– Srta. Granger. – Disse Olívia Doges Rutchell, com sua voz fria e branda. – Será que é necessário lembrar-lhe de que estão frequentando o quinto ano letivo em Hogwarts, e que estão prestes a fazerem os exames dos N.O.M.s ...

– Sim, mas Umbridge não tinha o direito. Apenas Dumbledore... – começou Granger.

– ... e de que devo ressaltar que os dois foram escolhidos como monitores de suas casas, e advertir como essa suspensão macula o histórico da escola? – ela olhou para mim. – Principalmente o senhor, Draco Malfoy, que faz parte da Brigada Inquisitorial. – Meu pai limpou a garganta. – Senhorita – ela deu um minúsculo sorriso desdenhoso –, mesmo contra a sua vontade, Hogwarts voltará aos eixos. Se bem que a nossa Alta Inquisidora sem dúvidas é a chave para a porta que pode certamente livrar Hogwarts desse entulho de confusões que tem se acumulado desde a entrada do seu atual diretor, Alvo Dumbledore. Agora percebe a gravidade da situação?

Hermione fez uma careta de raiva, e falou:

– Cornélio Fudge é um tolo se acha que Dumbledore quer ocupar o seu cargo no Ministério! Se bem que – ela exalou um ar de sagacidade

“ Fudge não é um ministro tão bom assim, não é? Ressaltando de que, no início de sua gestão, pedia conselhos ao nosso diretor, Alvo Dumbledore, antes que tomasse uma decisão. Hagrid nos falou – Explicou, ao ver as expressões de meus pais para ela. – Ele nunca quis ser ministro, o Dumbledore. E com razão! Cornélio colocando mentiras no Profeta a respeito de Harry e ele, sobre a volta de Você-Sabe-Quem no Torneio Tribruxo. E agora pôs uma insana dentro da escola que não permite o uso de Feitiços Defensivos na aula, e deixando marcas, se é que me entende, a quem desobedece uma de suas leis. ”

Klein pigarreou e Olívia arregalou os olhos de cigana, oblíquos e muito verdes, para Hermione; parecendo que iria estuporá-la ali mesmo.

– Percebe agora a gravidade da situação? – falou Granger, deitando a cabeça de lado como uma criança curiosa.

– Essa sua arrogância é o fruto de maus aproveitamentos na área de disciplina. Eis mais um motivo para Umbridge ficar no comando. E é bom para você, srta. Granger, que não sejam verdadeiras as suposições a respeito de seu diretor.

Olívio virou-se com Klein, sua capa negra dando um giro, e acompanharam meus pais. Entraram na mansão, e eu disse a Hermione, que parecia ter levado uma facada no estômago:

– Vem.

OS QUARTOS

Quando entramos, minha nostalgia de casa berrou em meu íntimo quando vi a grande e suntuosa entrada. O carpete magnífico cobrindo chão de pedra, e os rostos pálidos de meus antepassados nos retratos pregados às paredes; seguindo-nos com seus olhares vidrados na medida em que passávamos com as malas.

O fogo crepitava numa lareira, onde meus pais, Olívia e Klein, encontravam-se conversando num tom baixo o suficiente para que não ouvíssemos. Pude notar o vinho tinto de sangue balançar e refulgir à penumbra na taça de cristal que meu pai segurava nos finos dedos cheios de anéis. Na mão livre, apoiava-se na bengala com cabeça de cobra.

Sem mais delongas, subimos rapidamente os degraus da escada. As malas deslizando à frente. O corredor de cima era estreito, porém ainda acobertado de quadros da linhagem dos Malfoy.

Entrei numa porta, e despejei minha bagagem em meu quarto. Mas não dei tempo a Granger para que ela o visse, quando a percebi espichando o pescoço às minhas costas. Bati a porta e a tranquei.

– Poxa, seu grosso! – disse ela.

– Anda, Granger, e cala essa boca.

Ela me apontou ameaçadoramente sua varinha, e senti um arrepio percorrer minha espinha. Ergui as mãos livres, ela abaixou a varinha e perguntou:

– Onde é o meu quarto?

Eu balancei a minha entorno de minha cabeça, e uma camada fina de reboco caiu do teto quando este se desintegrou, revelando mais um andar. Uma escada tomou forma e desceu, nos permitindo o acesso ao novo cômodo.

– Pode subir. – Falei, sorrindo.

– Eu vou ficar ali em cima? – indagou ela, apontando em direção ao quarto.

– É.

– Em cima do seu quarto?

– É! – rosnei.

– Não, prefiro outro bem distante do seu.

– Prefere então o porão? – provoquei.

Hermione entortou a boca, e disse, cedendo:

– Tá, tudo bem! – meneou a varinha, e as malas subiram para o aposento. Ela subiu a escada, mas parou e voltou-se para mim: – Lembre-se do motivo de estarmos aqui. Vamos estudar, Draco. E se quiser se ver livre de mim, sugiro que pegue seus livros agora mesmo e estude Feitiços Defensivos. Acredite, vamos precisar.

– O que a faz acreditar que o Lord das Trevas realmente voltou? Potter é um mentiroso, e você não é diferente, sujeitinha de sangue ruim! Potter, sendo o covarde que é, certamente deve ter matado o filho dos Diggory ano passado apenas para criar esse rumor, e ele e Dumbledore poderem derrubar Fudge! Todos sabem que ele era afim da Cho Chang, a namorada de Cedrico...

Hermione apontou a ponta da varinha incandescente para mim, seu rosto demonstrando seriedade.

– Um: Harry não é como você, Draco, que corre chorando para debaixo de uma asa maior quando algo dá errado. Dois: eu confio plenamente em meus amigos, e sei que nenhum deles se rebaixaria a algo tão profano. E três: por favor, não se permita estar sucumbindo a essa baboseira.

Ela tornou a subir, e a escada girou para cima. Mostrei a língua para o teto, e girei a maçaneta de minha porta, irritando por ter esquecido de que a havia trancado. Apontei a varinha para a fechadura:

Alorromora!

E a porta deslizou para dentro. Tornei a batê-la com pujança, e deitei na cama. Fiquei pensando em tudo o que estava acontecendo: nos dois representantes do Ministério em minha casa, como os novos tutores. Hermione Granger, a sangue ruim em minha casa, as notas, os estudos... meus pais... Potter, Dumbledore...

Então, para fugir daquele turbilhão de pensamentos, agitei a varinha:

Accio Teoria de Defesa em Magia!

Uma das malas abriu, e um livro veio voando ao meu encontro. Agarrei-o pela lombada, e me dispus a ler o seu título, relembrando do dia em que Dolores nos entregara. E unindo o que acabei de ouvir esta noite com o que Granger dissera, e o que meu pai queria que me tornasse, abri o volume e me dispus a ler aquilo que o Ministério aprovara como apropriável.

O trasgo agora parecia ser uma situação oportuna.


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