Numa manhã nublada em Seattle, Sam arrumava-se em frente ao espelho, quando Freddie se aproximou:
– Você já percebe o aumento da sua barriga?
– Bastante - disse Sam, levantando a blusa.
Freddie acariciou a barriga da esposa:
– Esse garotão tá crescendo! - orgulhoso.
– Já falei para parar com isso, ainda não sabemos o que é.
– Vamos descobrir semana que vem.
– Talvez. O médico disse que como já estou caminhando para o quarto mês pode ser que dê pra ver.
– Tenho certeza de que vai dar.
– Agora traz uma torta do falecido Sr. Galini pra mim.
– Mas, amor, eu vou me atrasar para a Pera Store.
– Quer que seu filho nasça com cara de torta?
– Claro que não, vou correndo - disse Freddie, saindo do quarto apressado.
Na hora do jantar, Sam saiu da mesa e foi se deitar no sofá. Freddie observou:
– Amor, hoje é o seu dia de levar a louça.
– Eu tô muito cansada, acha que é fácil trabalhar, estudar e ainda carregar um bebê? Lavar a louça é o mínimo que pode fazer para me ajudar.
– Está bem - concordou ele, resignado.
Naquela noite, já era quase 3h da madrugada quando Sam começou a chacoalhar Freddie:
– Acorda preguiçoso!
– O que acontenceu? Outro treinamento de incêndio? - perguntou ele, sonolento.
– Eu tô com desejo de comer hamburguer.
– A essa hora? - perguntou Freddie, esfregando os olhos e olhando para o relógio no criado-mudo.
– Diga isso para o seu filho, eu não tenho culpa se ele quer comer hamburguer de madrugada.
– Tá, eu vou pegar a chave do carro - disse Freddie, bocejando e se levantando da cama.
Mais tarde, Freddie, Sam e Isabelle, adormecida na cadeirinha no banco de trás do carro, passavam no drive thru de uma lanchonete.
– Ei, você não é ex-namorada do Spencer? - perguntou Sam, reconhecendo a moça na janela.
– Sou. O que vão querer? - perguntou ela, indiferente.
Sam começou a fazer o pedido. Antes da volta pra casa, ela já havia devorado todo o lanche.
Na manhã seguinte, todos dormiram demais e acabaram se atrasando.
– Chegando mais atrasada que de costume Sam, assim não dá - repreendeu Gibby, assim que a loira pisou no restaurante.
– Eu tô grávida, pensa que é fácil? Já deve ser difícil pra você carregar essa pança aí, imagina se tivesse um bebê dentro - provocou Sam.
– Mais respeito que sou seu sócio.
– Digo o mesmo. Somos sócios, você não é meu patrão pra ficar regulando a hora que eu chego.
Naquela noite, Sam aproveitou para pedir para Freddie massagear seus pés, alegando cansaço.
Os dias passaram rápido e chegou o momento da ultrassonografia. Sam, Freddie e Isabelle entraram na sala com o médico. Ela se deitou e o médico passou o gel em sua barriga. A imagem começou a aparecer no monitor.
– Vocês querem ouvir o coração do bebê? - perguntou o médico.
– Sim - responderam Sam e Freddie.
– Não - respondeu Isabelle.
O médico sorriu ao comentário da garotinha:
– É normal o ciúme, ela vai gostar do bebê quando o segurar no colo.
– É o que esperamos - disse Freddie.
O médico ligou o aparelho e começaram a ouvir batidas fortes.
– Nossa, o coração do bebê parecia uma bateria de escola de samba. Da Belinha não batia assim, é normal? - perguntou Sam, preocupada.
– Realmente, está forte e está parecendo que é... - o médico não completou, apenas começou a analisar as imagens do ultrassom - Como eu imaginava...
– Fala logo, meu filho tem problema? - indagou Sam, nervosa.
Freddie já estava com a expressão preocupada. O médico acabou com o mistério:
– Não há nenhum problema, acontece que são dois.
– O que? - perguntou Freddie, assustado.
– Meus parabéns, os senhores serão pais de gêmeos! - informou o médico.
– Dois??? Gêmeos??? - disse Freddie, pouco antes de empalidecer e cair da cadeira, desmaiado.
Freddie acordou na maca que antes era ocupada por Sam. A esposa, a filha, o médico e uma enfermeira olhavam para ele.
– O que aconteceu? Eu tive um sonho estranho, sonhei que ia ter filhos gêmeos... Peraí, acho que não foi um sonho! - constatou ele, sentando-se e olhando em volta.
– Eu realmente disse ao senhor que terá filhos gêmeos - confirmou o médico.
– Agora para de frescura e levanta daí - ordenou Sam.
Freddie se levantou e olhou para o médico:
– O senhor tem certeza? Não pode ser um engano? Talvez um bebê muito grande?
– Não, eu suspeitei pelas batidas dos corações e depois confirmei com a imagem do ultrassom, são dois fetos - disse o médico mostrando as imagens no seu computador e delimitando os bebês - E vocês querem saber o sexo?
– Por favor - disse Sam.
– Estamos ansiosos - completou Freddie.
– São dois garotos - contou o médico.
– Fica feliz nerd, queria um garoto e veio outro de brinde - observou Sam.
– Eu tô feliz, mas tô encrencado - conclui Freddie.
Na volta pra casa, Freddie ia calado e Sam quebrou o silêncio:
– Qual o problema Freddie? Está decepcionado porque vamos ter dois bebês?
– Não é isso, a palavra certa seria preocupado. Um bebê caberia no nosso orçamento com um certo sacrifício, mas dois... o que faremos?
– Daremos um jeito. O lucro do restaurante é bom.
– Mas você e o Gibby usam boa parte para investir no próprio restaurante. Eu tenho um salário razoável na Pera Store, mas pago a faculdade. Além disso, como daremos conta de cuidar dos bebês? Você vai ter que se afastar do Gibby's e duvido muito que o Gibby vá querer dividir os lucros na mesma proporção, e como eu poderei te ajudar estudando e trabalhando? Você vai precisar de ajuda com dois!
– Podemos contratar uma babá.
– E pagar com o que? Tem noção de quantas fraldas duas crianças vão sujar? Fraldas são muito caras!
– Você tá insuportável Benson! Tá parecendo a sua mãe!
– Só estou sendo realista!
– O que eu posso fazer? A culpa é minha por que estou esperando dois bebês em vez de um? Eu não fiz sozinha, você queria que eu engravidasse há muito tempo! Eu até me sentia culpada depois que perdi aquele bebê no acidente e pensei que jamais teria outro! - disse Sam, não contendo as lágrimas.
– Desculpa amor, não foi essa a minha intenção, não chora.
– Esses malditos hormônios! Fico uma manteiga derretida! - falou Sam, secando as lágrimas.
Freddie deixou Sam e Isabelle no Bushwell Plaza e voltou ao trabalho. Sam foi para o seu quarto, pensativa.

Isabelle entrou:

– Não preciso ir pra escola hoje né mamãe?
– Precisar, precisava... mas, agora, deixa pra lá - disse Sam.
Isabelle subiu na cama e deitou-se ao lado da mãe:
– Papai ficou bravo por que aqui tem dois bebês? - colocando a mãozinha sobre a barriga da mãe
– Ele não ficou bravo, só assustado.
– A mamãe tá ficando com a barriga estufada - observou Isabelle, rindo.
– E vai ficar muito mais. Daqui a pouco vai parecer que eu engoli uma melancia, porque os bebês vão começar a crescer e esticar a barriga da mamãe cada vez mais, até que vai chegar a hora que vão querer sair. Foi assim com você também.
– Eu não me lembro quando estava dentro da sua barriga.
– Ninguém lembra quando estava na barriga da mãe.
– E como o bebê entra na barriga da mamãe?
Sam empalideceu à última pergunta da filha:
– Que tal mudarmos de assunto? Me conte como vai a escola.
– Mamãe, como os bebês foram parar aí dentro? - insistiu Isabelle.
– O papai colocou sementinhas dentro da minha barriga, então os bebês começaram a crescer, como plantas.
– Que nem o meu feijão da escola?
– Mais ou menos.
– Mas como o papai colocou semente dentro da sua barriga?
– Essa é uma longa história que eu te conto daqui a uns anos.
– Eu quero saber agora.
– Como você é teimosa Isabelle!
A campainha tocou, para alívio de Sam. Isabelle correu para atender. Pouco depois, Carly entrou no quarto, ansiosa:
– E aí, qual o sexo do bebê?
– Você quer dizer dos bebês.
– Ai meu Deus, são gêmeos?!
– Sim, dois meninos.
– Caramba!
– Pois é, o Freddonho se chocou tanto que até desmaiou na hora que o médico deu a notícia.
– Não acredito!
– Acredite.
Quando Freddie chegou em casa, à noite, encontrou Carly desenhando com Isabelle, ambas sentadas no tapete da sala, apoiadas sobre a mesa de centro.
– Oi Freddie, a Sam tá dormindo. Gravidez dá muito sono, então fiquei cuidando da Belinha pra ela poder descansar.
– Valeu Carly.
Carly deu um beijo na afilhada e se levantou para ir embora:
– Só mais uma coisa Freddie. Eu sei que ter gêmeos é algo inesperado, mas a Sam tá sensível e precisando do seu apoio nesse momento.
– Eu sei. Ela terá todo o meu apoio. Pode ser difícil, mas daremos um jeito.
– É isso aí e se precisarem de mim, nem preciso dizer que podem me procurar, até porque sei que farão isso mesmo - disse a morena, rindo.
Pouco depois, Sam acordou assim que Freddie entrou no quarto e disse ao marido:
– Já chegou amor?
– Já sim. Você quer algo especial para comer?
– Não, só quero que você me abrace e diga que vai ficar tudo bem.
– Vai ficar tudo bem, eu te amo - disse Freddie, sentando-se na cama e abraçando a esposa.
Os dois se beijaram. Freddie abaixou-se e beijou a barriga de Sam, acrescentando:
– E amo os nossos filhos!