Seddie, a história continua escrita por Nany Nogueira


Capítulo 137
O passado bate à porta


Notas iniciais do capítulo

Eu adoro abordar temas polêmicos e colocar situações corriqueiras na qual os personagens divergem e depois ver a opinião de meus leitores nos comentários. É incrível como um mesmo fato pode ser visto sob pontos de vistas distintos e penso que toda discussão respeitosa é muito positiva, porque leva à reflexão.
Foi bom ver que alguns leitores ficaram contentes com a gravidez da Carly entendendo que ela queria muito isso e mereceu essa alegria e outros foram contra por entender que isso vai de encontro à ideia da sociedade machista que quer que todas as mulheres tenham filhos biológicos. Os dois lados têm a sua razão!
Fico feliz em saber que tenho leitores inteligentes e críticos e espero que continuem levando adiante debates produtivos e críticas construtivas.
Aproveitem mais um capítulo!



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– Meu nome é August – apresentou-se o homem, apertando a mão de Cris – Carlotta Shay está em casa?

– Não. Minha mãe saiu.

Gibby foi até a porta:

– Quem é você e o que quer com a minha mulher?

– É só com ela – respondeu August – Eu volto depois. Foi muito bom te ver garoto – bagunçando o cabelo de Cris.

Os dois fecharam a porta e Cris comentou:

– Pai, você já teve a sensação de que conhece uma pessoa?

– Como assim?

– Não sei explicar, parece que eu conheço esse homem, que eu já vi em algum lugar, mas não me lembro onde.

– Ele é um tipinho comum. Vamos voltar ao jogo.

Mais tarde, Carly chegou em casa cheia de sacolas, contente:

– Amor, crianças, vejam que roupinhas mega fofas eu comprei para o bebê... - abrindo as sacolas sobre a mesa de centro.

Gibby sentou-se ao lado dela no sofá, enquanto as crianças olhavam as roupinhas e perguntou:

– Por que um tal de August veio te procurar aqui mais cedo?

– Como é que eu vou saber? O único August que eu conheço é o cara da lavanderia.

– Eu também conheço o cara da lavanderia, mas não era esse August.

– Então eu não faço ideia.

– Não está me escondendo nada né Carly?

– É claro que não, que ideia. Não confia em mim Gibby?

– Confio e espero que seja digna da minha confiança.

Cris falou:

– O cara disse que volta depois pra falar com você mamãe.

– Viu Gibby? Quando ele voltar saberemos o que ele quer – disse Carly, ao marido.

Enquanto isso, no apartamento 13B...

O celular de Freddie tocou. Sam indagou ao marido, que assistia televisão sentado no sofá:

– Não vai atender?

– Pra quê? Pra ouvir o décimo desaforo do dia por causa dos trotes do Nick? Ou para dizer que não é da pizzaria, da padaria ou do cemitério?

Nick começou a rir e o pai lhe lançou um olhar fulminante, fazendo o garoto se calar.

– Eu deveria te deixar de castigo até os 18 anos Nicolas. Você apronta uma atrás da outra e sempre sobra pra mim. Semana passada quase acabei preso no shopping – recordou-se Freddie.

– Nick já se desculpou e se arrependeu, não precisa ficar jogando isso na cara dele a vida toda – defendeu Sam.

O celular de Freddie parou de tocar, mas recomeçou logo depois. O moreno o atirou no sofá, nervoso e foi para a cozinha, Sam foi atrás:

– Pra quê tanto estresse bebê? Desliga o celular se está te incomodando. Não precisa se irritar tanto por causa da travessura de uma criança.

– Nick tem o mesmo comportamento deliquente que você tinha.

– Eu sou delinquente, mas você quis se casar comigo e ter filhos, então a culpa não é minha, mas sua. E digo mais, se passar trote é ser deliquente você também é. Eu não quis te desmentir na frente dos garotos, mas me lembro muito bem quando tentou passar trote pra impressionar a Carly, foi bem naquela época que ela namorou o vizinho bad boy.

– Falou bem: eu tentei. Não tenho esse seu talento nato pra transgressão.

– Você tem talento nato pra ser um mané.

– Olha aqui Sam, você gosta de me ofender, mas isso já tá me enchendo.

– Quem me ofendeu primeiro foi você.

Isabelle entrou na cozinha e interrompeu a discussão dos pais:

– Bolinha pegou seu celular pra brincar papai.

– O quê? - falou Freddie, nervoso, correndo para sala.

O moreno viu Bolinha mordendo seu celular como se fosse um osso, tentou se aproximar, mas o cachorro rosnou e quase abocanhou sua mão.

– Sam, só você vai conseguir tirar meu celular da boca do Bolinha – disse Freddie olhando para a esposa.

– E por que eu faria isso?

– Por que eu tô te pedindo. Você já estragou uns 5 celulares meus, está me devendo essa.

– Tá bom – concordou Sam, sentando-se no chão ao lado de Bolinha e fazendo carinho na cabeça do cachorro – Oh meu lindinho! Cadê o meu menino? Vem me dar um beijinho.

Bolinha soltou o celular no chão e começou a pular em Sam, lambendo o seu rosto e abanando a cauda.

Freddie apanhou rapidamente o celular e reclamou:

– Ah não! Está estragado!

– Você deveria agradecer ao Bolinha – falou Sam, levantando-se do chão com o cachorro no colo.

– Você pirou de vez Sam?

– Agora seu celular não toca mais para te incomodar – disse Sam, em tom de zombaria.

No dia seguinte, pela manhã, no apartamento 8C, a família Shay Gibson apressava-se para sair, quando a campainha tocou.

Carly abriu a porta e viu um moreno a sua frente.

– No que eu posso te ajudar? - perguntou Carly, desconfiada.

– Carlotta Shay, certo?

– Sim.

Gibby aproximou-se:

– Carlotta Shay Gibson – abraçando a esposa.

– Meu nome é August Peterson, de Fresno – apresentou-se o rapaz – Eu vim ver o meu filho.

– O quê? - perguntaram Carly e Gibby ao mesmo tempo, surpresos.

– Que filho? - indagou Gibby.

– Eu era o namorado da Faye. Na época que ela engravidou, eu era muito jovem, estava começando a faculdade, tive medo, não assumi...

– Está insinuando que o Cris é seu filho? - perguntou Carly, nervosa.

– Não senhora, estou afirmando, eu sei que é.

Cris olhava assustado para a discussão. Carly virou-se para o garoto e disse:

– Vá para o seu quarto agora mesmo Cristopher.

O menino obedeceu a mãe.

Gibby se insurgiu:

– Cris é o nosso filho – apontando para si próprio e Carly.

– Eu sei que estão criando o Cris como se fosse o filho de vocês...

– Como se fosse não! Ele é! - afirmou Carly.

– Ele tem o meu sangue.

– E daí? - indagou Carly – Você estava com ele quando era só um garotinho assustado de 6 anos que assistiu a morte da família inteira num acidente de carro? Cuidou dele nas noites que teve febre psicológica? Levou ele para a terapia para que voltasse a falar depois do trauma? Deu amor e carinho esses anos todos?

– Não e me arrependo muito, por isso mesmo quero me aproximar do meu filho, ter um tempo com ele...

– Vai ficar querendo! - disse Carly, furiosa, batendo a porta na cara de August.

Gibby abraçou a esposa:

– Eu sei que é difícil, tenho vontade de dar um soco na cara desse idiota que quer ser o pai do nosso filho, mas fica calma amorzinho, não vai fazer bem para o bebê – passando a mão na barriga dela.

– E se ele quiser levar o nosso garoto?

– Ele não pode fazer isso. Você o adotou na justiça.

– Será que o juiz não pode tirar o Cris de mim depois que souber que o pai biológico apareceu?

– Eu acho dificil, mas podemos procurar um advogado para dar maiores informações... A Melanie!

– A Melanie me odeia.

– Ela não te odeia, só tem ciúme de você. Melanie não é má pessoa. Eu vou falar com ela. Pelo menos pedir umas informações.

– Você que sabe, pergunte o que quiser, mas vou procurar um bom advogado aqui em Seattle.

O jantar daquele dia foi tenso. Cris perguntou:

– Aquele cara é mesmo meu pai?

– Nunca mais repita isso Cristopher – ralhou Carly – O Gibby é o seu pai e eu sou a sua mãe.

O garoto se calou.

Naquele final de semana, Melanie apareceu:

– Vim visitar minha filha e te ajudar Carly – disse a loira à morena.

– Eu dispenso – falou Carly, ríspida.

– Eu entendo que está chateada comigo. Tem motivos pra isso, o que eu disse não foi legal, peço desculpas.

– Já pediu, mais alguma coisa?

– Carly, eu estudei o seu caso. A adoção, em regra, é irreversível. Mas, um dos requisitos da adoção é o consentimento de ambos os pais para a destituição do poder familiar. No caso do Cris, a mãe já tinha morrido e, ainda, deixou expressa a sua vontade de dar o menino pra você em testamento, e o pai era desconhecido. Agora, o pai apareceu e pode alegar que não consentiu para a adoção do filho.

– Então o juiz pode tirar o meu filho de mim só porque um vagabundo que abandonou uma mulher grávida resolve assumir sua responsabilidade anos depois?

– Não foi isso que eu quis dizer. Acho muito difícil que o juiz faça isso, porque se ele estava desaparecido o seu consentimento se tornou desnecessário, mas, certamente ele vai sustentar essa tese e eu vou derrubá-la. Pode contar comigo.

– Obrigada Melanie – disse Carly, começando a chorar – Desculpa, são os hormônios da gravidez, ando sensível e muito nervosa com essa história.

– Eu te entendo perfeitamente. Tô aqui pro que você precisar.

Pouco depois, Carly estava chorando no ombro de Sam, no apartamento 13B:

– Essa vida é mesmo muito injusta! Vou ganhar um filho e perder outro? Por que?

– Não fica assim amiga, a Mel já te explicou que isso não vai acontecer.

– Ela não garantiu nada.

– Por que não depende dela, depende de um juiz. Mas, a Mel é muito inteligente e excelente advogada, se ela não conseguir dobrar o juiz ninguém mais consegue.

Enquanto isso, Cris conversava com Isabelle no quarto da menina.

– Sabe Belinha, eu fiquei com vontade de conhecer aquele homem que disse que é o meu pai. Eu acho que ele é mesmo, porque me lembro de ter visto fotos dele nas coisas da minha mãe Faye.

– E por que não diz isso para a sua mãe Carly?

– Porque seria como enfiar uma faca no peito dela.

– Olhe pelo lado positivo.

– Que lado positivo?

– Você estava com medo que sua mãe não quisesse mais saber de você por causa do bebê e agora mesmo ela tá lá na sala chorando com medo de te perder. Ela te ama.

– É verdade, não tenho mais dúvidas de que sou importante pra ela – concordou Cris, sorrindo.

No apartamento 8C, Melanie brincava com Mabel no quarto da menina.

– Eu sou a Elsa e você é a Anna mamãe – disse a pequena amarrando uma capa roxa em Melanie – Agora preciso que faça uma trança no meu cabelo, de lado.

– Pode deixar, sou muito boa com penteados – disse Melanie começando a trançar os cabelos loiros da filha – Ficou linda a minha princesinha – falou ao terminar.

Mabel foi se olhar no espelho:

– Agora sim! Somos duas princesas! - puxando a mãe para frente do espelho também – Só tá faltando o príncipe.

– A mamãe vai te contar um segredo: nenhuma princesa precisa de um príncipe para ser feliz, se ele aparecer será para somar a felicidade que já existe no reino construído pela princesa.

– Tem razão, não precisamos de um príncipe, podemos cantar e dançar sozinhas.

As duas brincaram até sentirem sono e dormirem juntas, na cama da pequena.

No domingo de manhã, Freddie olhava atentamente para um papel em suas mãos, Sam se aproximou questionando:

– O que olha tão concentrado amor?

– Nada, matéria de aula – respondeu ele, colocando o papel no bolso – Melhor irmos logo para o apartamento da Carly, ela não gosta quando a gente se atrasa para o almoço.

– Tem razão. Crianças!!! - gritou Sam, fazendo os filhos aparecerem rapidamente na sala.

No apartameto 8C, Sam, Freddie, Isabelle, Eddie, Nick, Spencer, Audrey, Júnior e Melanie juntaram-se à família Shay Gibson.

Durante o almoço, Júnior colocava a comida na própria cabeça. Audrey se apressou a limpar o garoto enquanto Spencer ria da arte do menino.

– Pelo menos é só comida, pior lá na casa dos seus pais, que eram minhocas – recordou-se Spencer, rindo.

– E você ainda deixou ele brincar com as minhocas, mais um pouco ele estava engolindo – lembrou-se Audrey.

– Como foi a festinha lá na casa dos seus pais no Canadá Audrey? - quis saber Carly.

– Foi muito legal. Minha mãe preparou tudo com carinho. É o primeiro neto dela e ela iria morrer se não tivesse esse prazer de organizar tudo. Uma pena que vocês não puderam ir na comemoração do primeiro aninho do Júnior.

– Nós tínhamos que trabalhar – justificou Carly.

O interfone tocou e Carly foi atender, era Lewbert dizendo que August queria subir:

– Ele não pode subir... nem agora, nem nunca... ele está proibido de pisar no Bushwell, você entendeu Lewbert?!

A morena voltou pra mesa, aflita:

– Agora esse cara vai querer impor a sua presença? Daqui a pouco vou chamar a polícia!

– Pode ser que ele só queria visitar o Cris e não tirar ele de você. Talvez devesse conversar melhor com ele pra entender quais são as suas reais intenções – falou Freddie.

– Não quero ele se aproximando do meu filho.

Alguns dias depois, pela manhã, Carly foi surpreendida por um oficial de justiça:

– Carlotta Shay Gibson, favor assinar a sua via.

Carly assinou e logo viu do que se tratava: August estava pedindo a guarda de Cris na justiça.

No apartamento 13B, Sam separava as roupas que mandaria para a lavanderia. Sempre olhava dentro dos bolsos das calças do marido para ver se não tinha algo. Numa calça encontrou o papel que ele lia atentamente no domingo e se surpreendeu.


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