Entre armas e rosas escrita por RoseGun


Capítulo 13
Mike




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Sigo o mapa até o lugar que tenho que ir, um campo de treinamento. Por um minuto aquele lugar me parece familiar, era onde ficava o meu campo de treinamento e o lugar em que eu fui preparado para lutar contra uma ameaça internacional. Está um pouco mudado, tem mais prédios e uma bela fachada com o mesmo brasão que estava no meu braço.

Desço do carro, pego o meu quepe e no mesmo minuto que piso no chão um menino aparece na minha frente. Suas insígnias me mostram que ele é ajudante do capitão, ele é extremante jovem para ter esse cargo, por esse motivo não me concentrei quando ele disse o seu nome. Ele fez um gesto com a mão para eu segui-lo, o que eu faço de imediato.

Enquanto ando pelo campo, muitas pessoas param e olham para mim, algumas apontam e cochicham algo para as pessoas ao lado, outras me olham como se quisessem brigar comigo e poucas me olham como se eu fosse irreal ou até imaginário.

Quando chego à sala do capitão, o menino me deixa na porta. Entro na sala e vejo um belo sofá de couro a direita e uma secretaria sentada em sua mesa atendendo alguns telefonemas. Quando ela me vê no canto da sala suas bochechas coram e ela da um leve riso de timidez, tenho que admitir ela é linda. Ela me mostra o sofá e com a mão no telefone diz que não vai demorar até o capitão me ver. Ela estava certa, pois não demora muito e as portas do capitão são abertas.

Levanto-me de imediato, algumas pessoas saem da sala e a secretaria me leva até a sala do capitão, onde se encontram uma mesa grande de madeira e duas poltronas de couro um pouco velhas. Bato uma continência para o capitão que me diz:

–Não precisa disso garoto, somos família.

Ele sai de traz da mesa e me abraça, seus cabelos grisalhos ficam mais brancos vistos de cima, ele então me solta e me estende a mão a qual eu aperto. Nós nos sentamos e então sua secretaria quebra o silêncio:

–Quer beber algo senhor?

Depois de algum tempo noto que esta falando comigo, seus olhos pretos me encaram:

–Pode ser qualquer coisa querida, desde que você venha com ela.

E suas bochechas coram e ela sai apressadamente da sala. Agora os olhos do capitão me encaram, ele dá um sorriso meio torto e diz:

–Linda ela, não?

–É... Eu tenho uma queda por ruivas. - digo retribuindo o sorriso.

–Bem, não estamos aqui para falar de mulheres, estamos aqui para falar dos seus feitos. Ficamos muitos felizes quando recebemos a notícia de que você faria parte do nosso pelotão. Muitas pessoas aqui já ouviram suas histórias...

–Histórias? – O interrompo antes que ele continue.

–Sim, o senhor é uma lenda. Matou cerca de 300 soldados nazistas, não é isso?

–450 na verdade, mas quem conta essas coisas.

A porta então se abre, quebrando o som de nossas risadas, e a bela secretaria traz uma xicara para mim, – Café... - eu sussurro com um ar de desapontamento.

Quando ela saiu o assunto se volta a mim, mas especificamente ao meu pai, de certa forma isso me incomoda profundamente.

–O seu histórico de tiros é impressionante.

–Um tiro, um morto.

–Exatamente, soube que esse é seu lema. Porem eu estou muito curioso em saber como um soldado se tornou o melhor sniper que eu já ouvi falar.

Limpo um pouco a garganta, para ganhar tempo tentando me lembrar dessa época. Sinto falta de quando era criança e meu pai me ajudava a segurar a arma e sinto falta até mesmo da dor do meu braço esquerdo por causa do coice que a espingarda dava.

–Meu pai me ensinou a atirar, me ensinou tudo o que eu sei sobre armas e sobre munição. O exército só usou esse “talento” e disse que eles que me ensinaram.

Pressiono minha mão contra o braço da cadeira, faço-me parar de falar para não dizer algo me arrependa para um superior:

–Sim, temos registros de serviços de seu pai como soldado. Porem o seus registros ultrapassam o dele em níveis extraordinários. Mesmo assim, as coisas não serão tão fáceis como quando você era um simples sniper em meio campo.

Ele falava como se ir à guerra, enfrentar pessoas morrendo e tentando te matar, ficar cercado de corpos e sangue e voltar para casa só para descobrir que as pessoas que você ama não estavam lá para te receber, fosse à coisa mais fácil e comum do mundo:

–Como você já deve ter observado o brasão em seu uniforme não é o comum que soldados usam. É o brasão do Delta Force.

–Delta Force?

–Sim, é normal você desconhecer. Poucos conhecem então o mais adequado seria eu te explicar, afinal é para isso que você irá servir sua vida, não?

Ele soltou uma bela gargalhada e eu forcei um riso, mesmo não tendo achado nada engraçado:

–Pois bem, Delta Force é a principal força contra terrorismo e de operações especiais do Exército dos Estados Unidos. Sua sede fica em Fort Bragg, no estado da Carolina do Norte. É a unidade mais sofisticada em campo que o exército dos Estados Unidos dispõe porem conseguimos instalar uma pequena parte de ação nesta base. O seu principal objetivo, desde a sua criação, é agir como uma força antiterrorismo nacional, e por isso precisamos dos melhores soldados, tanto para agir, quanto para treinar os demais novatos. Essa será a sua função aqui. Sua e de Robert.

–Robert? Ele não ficaria em um esquadrão separado, pelo que me informaram?

–Nos planos iniciais, sim. Contudo olhamos os registros de Robert e achamo-lo um tanto desairoso agindo por ele mesmo. Também vimos à relação entre vocês e achamos que seria uma boa ideia e até apropriado, deixar vocês ambos como líderes do esquadrão B2, você claro como primeiro tenente e ele como segundo.

–Esquadrão B2 não é?- Esperei que ele se levantasse da cadeira para que eu também o fizesse. - Bem capitão, isso é tudo?

–Sim, já passamos as instruções para Robert. Ele deve estar a sua espera com os novatos do esquadrão. Você pode voltar para a sala de espera onde já deve ter um soldado para conduzi-lo ao seu destino.

Quando percebo que acabou, bato uma continência de despedida - mesmo tendo me dito não precisar faze-lo - e me retiro da sala. A sala dava direto para um largo corredor cheio de imagens, símbolos e armas do que foi considerada a Grande Segunda Guerra. Não tinha notado quanto daquelas coisas eu usei quando servi, quando entrara na sala do capitão era só um mero corredor, agora havia se transformado em lembranças boas e ruins.

Um uniforme de Tenente, coberto com um quadro, como se fosse uma obra de arte, que eu não usava, mas que as pessoas que gritavam comigo simplesmente para “eu ser um bom soldado” usavam. Continuo andando pelo corredor vendo coisas que não via há tempos e relembrando tudo que eu tinha vivido. Memórias felizes como Robert fazendo besteira e momentos tristes como quando me jogavam na lama gritando que eu era “incapaz” e desonrando o nome de meu pai.

Minha mente sai dos devaneios de uma época não tão feliz quando chego ao fim do corredor e vejo uma arma, a Colt M1911 uma pistola semiautomática de ação simples, que todos os soldados recebiam para patrulha a pé em território nazista. Lágrimas escorrem do meu rosto em um movimento involuntário de arrependimento:

–Luke...

Sussurro para mim mesmo lembrando que quando eu...Foi um acidente...Eu não queria...Foi algo involuntário...Eu só fiz o meu treinamento. No dia em que eu e Callie pegamos o avião, eu vi como Luke morreu.

Um soldado tinha visto um homem com a suástica nazista no braço fardado, Luke, ele impedia uma mulher de seguir seu caminho por entre a floresta. Ele a segurava nos ombros e gritava em alemão que ela não poderia passar. A mulher em prantos repetia a frase em iídiche (língua judia antiga) “Eu tenho que alimentar meus filhos”, obviamente o Luke não entendia, mas o soldado que estava a observa-lo sim.

O soldado puxou a arma e atirou em Luke. Três tiros, um na cabeça dois no coração, como a escola antiga de soldados americanos ensinava em tempos de caos. Quando o corpo de Luke que tinha contido vida caiu no chão, o soldado pode ver o rosto dele e o sangue vermelho caído na neve, transformando o branco da neve em vermelho escuro.

Eu juro. Eu não queria. O soldado era eu... Eu matei o Luke. Eu matei o amor da vida de alguém e o destino me puniu por ter matado ele matando Kate.

Sangue só se paga com sangue.


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