Nós sempre nos encontramos, como imas, como sempre. Nós fugimos correndo em direções opostas e acabamos nos esbarrando, suas mãos me seguram e eu me perco em seus olhos. Sempre assim.

Quando o nosso terceiro fim chegou? Quando eu me mudei para uma hora e meia mais longe de você. Quando não eram mais quinze minutos para chegar na sua casa e quando nós paramos de nós ver quase que diariamente. Foi doloroso, ta? Você me ligava, lembra? A gente conversava por horas a fio, seja por ligações ou a troca de mensagens infinitas. Nós tínhamos assuntos infinitos e, cara, isso era incrível. Nunca ficávamos sem ter o que dizer, era tudo tão fácil.

A cidade nova era uma droga. Os garotos me cercavam, carne nova no pedaço, isso te irritava também. Daí você veio pra cá, lembra? Você veio na minha casa a mais de uma hora da sua me ver. Foi ótimo. Nós andamos de skate, por Deus, como você tentou me ensinar a andar naquele troço. Nós tomamos sorvete, porque eu queria mostrar pra você que agora eu comia, que eu não me preocupava mais com cada caloria. Nós caminhamos de mãos dados, sorrimos em meio a beijos, nós corremos e brincamos... A melhor parte, você sabe, foi assistir as estrelas. Foi sentar em silencio ao seu lado me alinhando em seu peito e ficar olhando para o céu estrelado que encantou ambos. Aquele beijo foi mágico.

–Você ainda é meu. –Eu sussurrei.

–E você sempre vai ser minha.

E eu não vou te contradizer, porque aquela eu, aquela Lilly, ela vai ser sua pra sempre. Ela vai ser sua em algum mundinho onde você ainda é meu. Mas aquela eu morreu e aquele você morreu junto, nós os enterramos no fundo de nossas consciências e o velório esta acontecendo até agora. Aceite isso: Eu era sua, você era meu. Nós mudamos e agora não nos pertencemos mais, agora somos diferentes e os opostos se atraem, mas não ficam juntos.

Quando você foi embora a gente se perdeu. Dessa vez não foi como o primeiro ou o segundo fim... Dessa vez a gente realmente deixou de sentir falta do que tínhamos e focamos no que era nosso. Você começou a trabalhar, mudou-se para uma escola nova e fez vários novos amigos, manteve-se ocupado disso. E eu me ocupei com os meus também novos amigos, me concentrei na escola, foquei nos meus hábitos e hobbies, voltei a desenhar, a escrever e foquei nas minhas aulas de dança como nunca. Nós nos distraímos e nos perdemos, e eu ainda acho que seja melhor assim.

Você não me ligava mais, eu não te chamava mais em chats para saber como você estava e então, em um dia qualquer nós nos esquecemos, não por completo, mas gradativamente, como que aos poucos.

–Eu era só um garoto quando você me destruiu. –Você me condenou.

Você nunca percebeu que eu também era só uma garota e que você também me destruiu. Estou sendo parcial? Eu também te destruí, não é? Eu também quebrei você todo em caquinhos e dei de ombros, esperando que você montasse esse quebra cabeça de mil peças sozinho, mas, veja só, você se saiu muito bem!

Eu sentia sua falta, talvez. Se eu sentia, eu camuflava, eu nem percebia. Aposto que você fez o mesmo porque, por mais opostos que fossemos tínhamos algo em comum: pavor de sofrer.

Você era a calma e eu a explosão, você era a razão e eu era impulsiva, você gostava de chuva e eu gostava de calor e sol, você era de rock e eu MPB, você era filmes e eu livros, você era salgados e eu doces, você era piscina e eu mar, você era RPG e eu wpp, você era carinho e eu grosseria, você era a lua e eu estrelas, você era das manhãs e eu das madrugadas... Nós éramos tudo e agora não somos nada.