Chasing the Happy Ending escrita por Annie Cipriano


Capítulo 1
Capítulo 1 - Tris


Notas iniciais do capítulo

Hey, olá de novo!
Ok, ok, eu sei que ficou meio comprido, mas é só o primeiro...
Não tem muita ação nem nada, mas esse é pra explicar como a Tris voltou à vida. O próximo vai ser melhor, já que vai ser narrado pelo divo gostoso e maravilhoso do Tobias :D
Espero que vocês gostem... Até as notas finais :*



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Um tiro. E mais um. Tanta dor, ah, muita dor. Uma sensação estranha de dormência. Um botão. Sangue, muito sangue. David caindo. Minha mãe. Eu a abraço. Paz, serenidade, amor.

São essas imagens que vêm a mim antes mesmo de eu abrir os olhos. Ouço um zumbido e bipes ao meu lado. Sinto o leito acolchoado no qual estou deitada. E pior, sinto dor. Não tanta dor quanto quando levei os tiros, mas ainda assim dói. Abro os olhos, e a primeira coisa que vejo é uma forte luz branca. Fecho-os novamente. Espero alguns momentos e os abro de novo. Melhor. Passo os olhos ao meu redor, verificando onde me encontro. Parece com um quarto de hospital – branco, um aparelho enorme que fica apitando ao meu lado, uma mesa com rodinhas e objetos médicos e uma porta. Então resolvo finalmente olhar para mim mesma. Tubos saem de ambos os meus braços, outro tubo está sob meu nariz, ajudando-me a respirar, quando levanto o fino lençol, vejo uma larga camisola hospitalar e ao levantá-la, vejo um grande curativo cobrindo a maior parte do meu peito.

E é nesse momento que, mesmo com aparelhos para me ajudar a respirar, sinto o ar faltar, meu corpo começar a tremer. Eu... eu morri? Os tiros... David atirou no meu coração! Ah, meu Deus, eu morri! Como posso estar viva?

Sento-me subitamente, e, em pânico começo a arrancar todos os fios presos em meus braços. Levanto da cama, mas minhas pernas estão fracas, caio imediatamente no chão. Fecho os olhos com força e começo a chorar. Eu morri, eu morri, eu morri. Não posso estar viva. Mas espere... Será mesmo que eu estou viva? E se isso for a vida após a morte? Não, é muito doloroso para ser o céu. Será que estou no inferno? Mas eu morri salvando alguém... Não é?

Em meio a meus devaneios, não percebo quando a porta se abre, menos ainda quando pessoas entram apressadas e furam meu braço. Estou ocupada demais considerando se estou no inferno, tentando me lembrar de quem eu era, porque, na verdade, só me lembro da minha morte. Nada além disso. Sinto o corpo pesar, minha mente fica vazia de repente e caio na escuridão.

Quando acordo de novo, estou no mesmo quarto. A grande diferença é que agora estou amarrada à cama, impedida de me mover. E não estou sozinha. Uma mulher e um homem estão aqui também, os dois vestidos como médicos. A mulher é ruiva e alta, deve ter entre 30 e 40 anos, tem os olhos verdes escondidos atrás de um grande óculos e se porta como se fosse superior a todos. O homem é mais velho, tem o cabelo e a barba já grisalhos, os olhos escuros e pequenos, está conferindo meus aparelhos.

A mulher – que antes estava com os olhos em uma prancheta – percebe que eu acordei, coloca a prancheta de lado, abre um sorriso frio e se aproxima de mim.

– Oh, olá, Tris. Eu sou a doutora Andrea e esse é o doutor Richard – apresenta ela, apontando para o homem ao seu lado – Você fez uma bagunça da outra vez que acordou, fomos obrigados a te sedar – olho sugestivamente para as amarras em meus braços, pernas e cintura. Ela aumenta o sorriso – e amarrar.

– Do que você se lembra, querida?

– Eu morri – balbucio. Não tenho certeza nem se ele ouviu de tão baixo que falei, mas mesmo assim, só o fato de eu ter colocado as palavras para fora, torna tudo mais real. Tudo mais aterrorizante – Eu morri – falo um pouco mais alto. Os dois se olham por um instante e então voltam o olhar para mim. Estou arfando, estou entrando em pânico de novo. Começo a puxar os braços, tentando me soltar.

– Tris, calma – pede o homem. Não respondo, continuo murmurando repetidamente “eu morri, eu morri” – Acalme-se, Beatrice – fala mais uma vez, alto. Ele coloca a mão em meu ombro, eu viro minha cabeça em sua direção – Sim, é verdade, você morreu, mas nós...

Ele não consegue terminar a frase, pois nesse ponto já estou completamente descontrolada.

– Eu morri! – grito – Não posso estar viva, não posso, não posso! – balanço a cabeça com toda a força – Não, não, não!

Minha crise finalmente cessa quando algo atinge meu rosto com força. Olho chocada para a doutora, que ainda está com a mão levantada e uma expressão irritada. Por um momento parece surpresa consigo mesma, mas logo passa e a irritação volta. O homem está com uma seringa parada no meio do caminho para meu braço, também olhando para ela com uma expressão estranha.

– Vamos com calma agora, certo? – falou ele, dirigindo-se a mim. Assinto – Sim, Tris, você morreu. Mas nós a trouxemos de volta – ao ver meu olhar de completa descrença, ele explica: – Muitos cientistas e pessoas poderosas tentaram fazer isso. Trazer alguém de volta da morte. Desde que o mundo é o mundo as pessoas tentam mudar a morte, reviver pessoas. Bem, nós conseguimos. Você conseguiu. Depois de milênios tentando, nós somos os primeiros a trazer alguém de volta à vida. Você vai mudar a humanidade, Tris. Vai entrar para a história.

“Recentemente, fizemos alguns estudos relacionados a divergentes. Descobrimos que o cérebro de quem é divergente é um pouco diferente do da maioria das pessoas. São muitos detalhes que você não vai entender, a única coisa que você precisa saber é que seu cérebro tem algumas coisas a mais. Nós precisávamos de uma cobaia, alguém para testarmos. E é aí que você entra. Uma divergente – que sobreviveu até mesmo àquele soro da morte – mortinha e pronta para testes. Trouxemos você para cá, trocamos seu corpo no necrotério. E então quando estávamos examinando você, algo mudou. Seu cérebro começou a funcionar de novo. Claro, foram só alguns instantes, mas foi o suficiente para pegarmos as informações e montarmos um jeito de te trazer de volta.”

Eles me dão um minuto para absorver tudo o que ele falou. Então, eu realmente morri. Mas voltei. Com os olhos fechados, lembro-me de mais alguém: um homem de olhos azul-escuro, sorriso carinhoso. Sinto algo. A primeira coisa boa desde que acordei. Sinto amor, sinto esperança, sinto carinho. A imagem do rapaz me enche de saudades. Um nome vêm à minha mente: Tobias. Não me lembro de quase nada sobre minha vida, mas sei, com toda a certeza, que preciso voltar para Tobias. Preciso sentir seus braços ao meu redor, seus lábios nos meus. Sequer sei o que éramos um para o outro, mas quero, preciso voltar para ele.

Abro os olhos.

– Onde eu estou?

– Na Sede da FERU, Fundação de Estudos do Reino Unido – responde dr. Richard.

– Quando vou poder ir embora?

Ele pigarreia e olha para a Dra. Andrea, que por sua vez olha para mim e pergunta:

– Você se lembra de como e porquê morreu?

Percebo que ela mudou de assunto, o que é muito ruim. Será que eu vou poder ir embora algum dia? Mas não insisto, apenas respondo.

– Baleada. Eu estava tentando apertar o botão, para liberar o soro da memória.

– Lembra-se de quem a matou?

– David – sinto uma onda de raiva me invadir. Mal me lembro de seu rosto, mas a menção ao seu nome já me deixou bastante irada.

– Do que você se lembra sobre a sua vida? – pergunta Richard.

Abro a boca para falar alguma coisa, mas nada sai. Não digo nada porque na verdade, não me lembro de nada. Onde eu morava? Quem eram meus amigos? O que eu gostava de fazer? O que não gostava? Não sei a resposta para nenhuma dessas perguntas. Não sei nada sobre antes da minha morte, não lembro onde conheci Tobias ou quem ele era.

Balanço a cabeça e falo com a voz frágil:

– Eu não... eu não me lembro de nada. Só alguns rostos – paro um pouco para formar os quatro rostos que eu consigo lembrar – Minha mãe, meu pai, meu irmão e... – quase digo “Tobias”, mas algo me faz hesitar. Eu não sei nada sobre esse lugar, sobre essas pessoas, não posso simplesmente jogar no ventilador o nome dele, e se eles o machucarem? Sinto uma pontada no peito e afasto o pensamento – e do meu cachorro – é, essa foi uma mentira muito mal feita. Mas quem sabe? Talvez eu tenha tido um cachorro, só não me lembro dele.

Andrea levanta uma sobrancelha e Richard suspira. Sei que eles não acreditaram na última parte, mas não tem problema.

– Você vai ficar aqui por mais alguns dias, em observação. Vou colocar você para dormir agora – diz Dra. Andrea enquanto, com uma seringa, despeja um líquido em um dos tubos ligados a mim.

– Espere! – peço – Agora que eu voltei dos mortos, eu sou imortal ou algo do tipo? Eu ainda posso morrer?

Ouço uma risada e um “não, você ainda pode morrer, e provavelmente não poderemos te trazer de volta novamente, então tome cuidado” distante e apago pela segunda vez.

[...]

Hoje faz uma semana que estou neste quarto. Foi uma semana cheia de exames, testes, furos e perguntas, além de muito tediosa. Eles não me deixaram fazer nada além de ficar deitada e descansar.

Hoje também é o dia em que sairei do Hospital.

Dr. Richard virá me levar para meu novo quarto, onde ficarei por mais um tempo para testes. Eles querem ver se eu estou totalmente bem.

Durante os dias que passaram, consegui me lembrar algumas coisas, como o nome da cidade onde nasci – Chicago –, alguns nomes que sei que significaram algo importante no passado, mas agora não significam nada – Abnegação, Audácia, Erudição, Franqueza e Amizade – e também me lembrei de alguns rostos, que ainda não consegui ligar a nomes.

Até agora, não me senti ameaçada. Alguns enfermeiros me olharam com uma cara um pouco estranha, como se estivessem com pena de mim, mas provavelmente é só porque eu... bem, porque eu voltei dos mortos.

– Vamos, Tris? – Dr. Richard me chama.

– Claro – falo pulando da cama. Uma das enfermeiras trouxe outras roupas para mim. Agora eu usava uma calça e blusa folgadas e brancas.

O médico me guia por vários corredores. No início tento decorar o caminho, mas depois da oitava curva, desisto.

Três guardas nos acompanham, dois ao meu lado e um seguindo atrás. Não entendo o porquê – será que eles são frequentemente atacados? Ou será que eles esperam que eu ataque alguém? –, mas também não pergunto.

Durante todo o caminho, não encontramos ninguém. Os corredores são largos, com a parede cinza e o chão azul. Todos iguais. Passamos em frente a algumas portas, mas ele não para em nenhuma. Franzo o cenho quando atravessamos uma porta e as paredes mudam do cinza claro para o vermelho. Depois disso, começo a ficar nervosa. Os corredores ficam cada vez mais apertados, até que somos obrigados a andar em fila indiana – um dos guardas entre mim e o doutor e os outros dois atrás.

– Hã... Dr. Richard? Para onde estamos indo? – pergunto, olhando em volta, para as paredes vermelhas, sem portas ou decoração. Uma porta se aproximava.

– Para onde você irá morar por um tempo, querida.

Cruzo os braços em frente ao peito, o ar ficava mais frio ali. Chegamos a uma porta de metal, onde o doutor precisa colocar o polegar em uma superfície preta e depois digitar um código de números. Quando a porta se abre, eu congelo.

Aquilo definitivamente não era o que eu esperava. Um corredor comprido se estendia à minha frente. À minha esquerda e à minha direita estavam diversas celas, com barras pretas separando-as umas das outras e barras pretas separando-as do corredor. Era uma prisão, e a única saída estava atrás de mim.

Não posso dizer que eu não havia considerado a possibilidade de aquilo acontecer, mas eu esperava que fosse mais para frente, caso eu não concordasse com o que quer que eles queiram comigo.

Dou um passo involuntário para trás, batendo no guarda ali.

– Que lugar é esse? O que estamos fazendo aqui? – minha voz sai um pouco desafinada devido ao medo.

O médico suspira e fica apenas parado.

Sinto dois pares de mãos me agarrarem, cada um em um braço. Contorço-me e grito, tentando me soltar. Sou arrastada até uma das celas e jogada lá dentro. Quando eles me trancam ali, mesmo sabendo que de nada adiantará, agarro as barras e grito para me tirarem dali, peço socorro. Nenhum deles me olha. O médico sai sem dizer uma palavra. Os guardas se posicionam na entrada e lá ficam, sem nada dizer.

Vou até o fundo da pequena cela e me encolho sobre a desconfortável e pequena cama. Penso por um momento que irei chorar. Mas chorar por quê? Eu não tenho nada pelo que chorar. Todos que eu amo provavelmente pensam que estou morta. Não tenho ninguém, estou sozinha.

– Você não está sozinha – afirma uma voz ao meu lado.

Espere, eu disse aquilo em voz alta?

Olho para a cela ao lado e lá encontro um rapaz jovem, deve ter a minha idade. Ele tem olhos escuros e pele morena. Está encostado às barras que dividem nossos espaços. Algo nele me é familiar, sinto que o conheço. Concentro-me tentando lembrar dele, porém não acontece nada. Se eu o conhecia, não me lembro mais.

– Hum... Oi. Meu nome é Tris. Aparentemente eu morri, mas agora estou viva de novo – conto. Não sei por quê contei isso a ele, acho que eu precisava dizer isso a alguém, e sinto que posso confiar nele.

– Oi. É, eu sei qual é a sensação... também me falaram que eu morri, mas não me lembro. Aliás, não me lembro de quase nada sobre minha vida – ele para de falar, analisando meu rosto – Ei, nós nos conhecemos? Você é tão familiar... não sei, sinto como se fôssemos amigos. Isso é muito estranho?

– Não – dou um pequeno sorriso – Não é estranho porque... eu me sinto exatamente do mesmo jeito. Talvez nós nos conhecêssemos.

– Ah, a propósito, meu nome é Uriah, prazer.

– Prazer. Mais ou menos – ele ri, uma risada tão conhecida que me deixa sem fôlego por um momento. Um flash de algo passa por meus olhos, ele me convidando para ir para algum lugar, um trem, uma tirolesa, prédios passando ao meu redor, a sensação de estar livre, de voar... e então acaba. Tão rápido quanto começou.

Suspiro e fecho os olhos, encostando-me na parede. Parece que a partir de agora minha vida só vai piorar. A única coisa que evita que eu deseje estar morta é o rosto que insiste em voltar à minha mente. O rosto do homem que eu chamo de Tobias. Prometo a mim mesma que farei de tudo para sair dali, e que assim que eu conseguir, irei achar Tobias. E quando eu estiver com ele, tudo ficará bem.


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Notas finais do capítulo

Então? O que acharam?Reviews? Favoritos?
Gostaram? Acharam chato? Comentem e me contem o que vocês pensaram!

Só vou postar o próximo quando tiver alguns comentários, ok?

Beijos no ♥ de vcs