Garota Desastre escrita por Principessa V


Capítulo 4
Por que eu sou uma cheetah


Notas iniciais do capítulo

Ragazzas, desculpem a demora pra postar ;-;
Espero que vocês gostem.



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Primeiro dia de aula. De novo.

Não consigo expressar o quanto eu odeio primeiros dias de aula. Sabe, eles são o primeiro dia de aula, não precisaria de outro motivo para odiá-los, mas não, não é o único: já notou que eles geralmente ocorrem na segunda-feira? No primeiro dia de aula, aqui, todos os alunos vão para a quadra esportiva, duas filas por ano, uma de meninos e outra de meninas, para receberem os avisos, depois são chamados numa lista para sabermos em que turma estamos; Outra coisa que eu odeio são as pessoas, elas falam, e falam e falam mais um pouco sobre como foram as férias, o porre que tomou, o aborto que fez, a sífilis que pegou, a unha encravada, a história engraçadíssima sobre o tio gordo que caiu na piscina quando estava bêbado, blá, blá, blá, mariposas mexicanas.

A aula começa sete da manhã. Sete. Numa segunda feira. Minha vida já é um inferno na sexta, quando tenho que dançar pra um monte de gente bêbada – e olha que eu gosto de dançar. Não tem ninguém que não chegue na escola com preguiça de viver. Ninguém gosta de ir pra escola, as pessoas vão por que precisam. Ninguém tem direito de ser feliz no primeiro dia de aula.

Eu já gostei de primeiros dias de aula. Antes. No passado, quando os meninos e eu ainda éramos amigos, mas não nos falamos desde o final do ano retrasado, um ano e uns meses atrás. Agora? Nem um pouquinho, por mim essa escola estúpida podia explodir, com todo mundo dentro, menos a tia da cantina, ela faz comida boa.

Esse é meu segundo ano aqui, mas não consegui me acostumar muito bem. Três semanas depois de os meninos me chutarem, mām̐ disse que tinha conseguido uma vaga pra mim – Fábio tinha conseguido, pra ser mais exata – numa das melhores escolas da cidade, na que Nathan estudava quando ainda morava no Brasil e blá, blá, blá, alfaces coloridos.

O bom daqui é que as pessoas não são muito insistentes. Os garotos tentaram dar em cima de mim, mas umas cortadas e um chute bem dado nas bolas de um foi o suficiente para as pessoas terem medo de mim e saírem do meu caminho. Lembra o que eu falei sobre criar uma marca? Então...

— Nayana Martins. — Escutei meu nome e segui em direção a professora de português, entrei na fila e suspirei. Os meninos do time estavam bem ao meu lado, falando as merdas de sempre.

— Você viu as novatas da outra sala? — Matheus falou para Carlos, não acreditava que ia ficar na mesma sala que aqueles idiotas. — Que pena, mas nada que não se resolva... — Ele deu um risinho ridículo, olhei para a fila da outra turma.

Tinha uma menina de cabelos negros e cacheados lá, bem bonita, e uma garota de cabelos castanhos, longos e lisos, muito bonita. A garota de cabelos cacheados estava lendo um livro, na fila, e era óbvio que não queria ser incomodada, enquanto a do cabelo liso já começava a fazer amizades com outras meninas.

Ser novato é um saco. Já repararam como eles sempre ganham a atenção? Acho que é meio pelo desconhecido, eles podem ser qualquer coisa ali. É como um produto novo no mercado, que ninguém conhece, mas tem uma embalagem bonitinha. Aproveitem! Aproveitem! E os novatos sempre são os mais bonitos, mais interessantes e mais divertidos que as outras pessoas que sempre estiveram ali. É claro que isso tem um prazo de validade, até por que aparecem novos novatos, etc, cabras paquistanesas e tal.

Um garoto entrou na fila ao lado das novatas. Era novato também, obviamente. O cabelo era negro, tão escuro quanto o meu, liso e jogado de lado na testa, cobrindo toda a nuca dele e tinha a pele bronzeada, era bem alto e em forma. Quando me viu olhando pra ele, sorriu, tinha covinhas. E sabe o mais estranho de tudo? Eu achava que o conhecia de algum lugar. Mas onde? Ah, isso eu não lembrava, por via das dúvidas mostrei meu dedo médio pra ele, que só fez rir.

Então ele fez algo abominável. Ele começou a andar em minha direção. Olhei para um lado e para o outro, reparei que Matheus, Jonathan e Carlos estavam ali sutilmente assistindo a cena. Já disse que meninos são muito piores que meninas para fofocas? Além disso, eles queriam ver a desgraça daquele pobre e inocente rapaz que vinham em minha direção.

O garoto veio, com um sorriso espetinho no canto dos lábios e ficou me olhando. Eu tentei, juro que tentei fingir que não tava nem aí, mas depois de 10 torturantes segundos eu me virei pra ele, com o meu melhor sorriso irônico no rosto.

— Não olhe muito, garotão, pode se apaixonar. — Falei e escutei os meninos do time rirem baixinho atrás de mim.

— Tarde demais. — Ele falou e piscou, tinha uma voz grave e um sorriso se espalhou lentamente pelo rosto dele. Arqueei a sobrancelha.

— Vou ser educada por que você é novo por aqui e eu não te conheço, mas eu tenho meu espaço pessoal e ninguém entra nele, entendeu? Sou território proibido, odeio todo mundo. Tudo bem ou quer que eu desenhe? — Falei com frieza, mas ele apenas continuou sorrindo. Argh! Que garoto irritante.

Então ele fez algo assustador, esse menino tinha senso de perigo não? Ele se aproximou rapidamente e falou perto do meu ouvido, fiquei surpresa o bastante pra não chutar as bolas dele.

— Primeiramente, eu entendi, mas não posso dizer que irei realizar seu desenho. Segundo, você não pode odiar quem não conhece. — A voz dele estava rouca e ele se afastou rindo, fechei a cara e esfreguei meu pescoço no ombro, incomodada.

— Qual seu nome?

— Pode me chamar de Campos. — Eu pergunto nome, ele me dá sobrenome. Idiota.

— Prazer, eu sou Nayana. — Estendi minha mão pra ele, Campos estreitou os olhos, mas apertou minha mão, foi rápido e firme, bom aperto de mão. — Vai se foder, Campos.

— Você é grossa. — Ele disse, mas não pareceu uma acusação, na verdade, eu poderia dizer até que ele falou aquilo como um elogio.

— Foda-se. — Falei e me virei, ignorando ele, só então percebi que os meninos estavam rindo atrás de mim. — Vão se foder vocês também. — Rosnei pra eles, que só levantaram a mão em rendição e voltaram a conversar as besteiras de sempre.

Mas o tal de Campos continuou ali, parado do meu lado. Eu contei até dez, respirei fundo, e ele continuava ali. Por que era tão difícil ignorar? E ele estava me olhando, eu sentia isso. Cocei a bochecha... E não deu mais, virei pra ele.

— Dá pra parar? Essa aqui é pelo menos a sua fila? — Ele riu. Esse menino só ria? Ele era o que? Cheshire?

— Na verdade não. — Riu de novo e então foi embora.

Garoto estranho, bizarro, esquisito. Hum... E eu tinha certeza que conhecia ele, mas de onde?

***

Eu estava de cabeça pra baixo, meu pé esquerdo estava preso em uma árvore, mas estava tudo bem eu estava até me balançando pra passar o tempo, então minha tia, Sílvia, apareceu e me deu um cupcake. O que era muito estranho por que a tia Sílvia não gosta de mim. Então eu mordi o cupcake e tomei café, que não derramava mesmo eu estando de cabeça pra baixo. Quando dei outra mordida no cupcake, senti um gosto doce e enjoativo na minha boca, olhei para o cupcake e vi... (música de suspense)... Passas.

— Nããããããããããããããããããããão! — Berrei, dando um pulo e percebendo que estava na aula de história. Todo mundo ficou me olhando.

— Nayana, tudo bem? — O professor chegou perto, parecia preocupado.

— Tudo, por que não estaria? — Tentei me fingir de desentendida.

— É que você acabou de fazer cosplay de Luke, aqui na sala. Estava sonhando com o tio Darth Vader, é? — Professor nerd, quem merece? Os meninos começaram a rir, algumas meninas riram, mas a maioria delas ficou com cara de “what?”.

Tudo culpa da tia Sílvia, claro, aquela mulher até em sonho vinha jogar na minha cara que não gostava de mim. Mulherzinha irritante, nem era minha tia de sangue, era cunhada do meu pai. E poxa, passas? Justo passas? Eu sabia que não era a pessoa favorita dela no mundo, mas passas?

Não, professor, foi algo muito pior. Eu sonhei com.. Passas. — Falei a última palavra baixinho.

Dizem, que se você disser “passas” muito alto, vai atrair um monte delas pro seu prato. Afinal todo mundo sabe que passas são duendes que se reproduzem durante a época de natal e se escondem em todas as comidas. Aí tem uva passa no arroz, na salada, no macarrão, no bolo, na maionese, até na sua avó vai ter uva passa. Criaturas asquerosas do submundo. Eca.

O professor começou a rir e balançou a cabeça. — Por que não vai andar um pouco e depois volta mais calma, hein? Você quer sair um pouco da sala?

— Sair é meu sonho, professor. — Falei isso e saí, para a liberdade do corredor. Respirei fundo aquele cheiro de liberdade, me virei e dei de cara com o garoto estranho da fila, o tal de Campos.

— Ah, tá me perseguindo, é? E como foi que você pariu aqui, eu não te vi quando saí da sala. Você tá com a capa da invisibilidade aí, por acaso? — Falei rápido e limpei o suor das mãos na calça. Ele riu e aquelas malditas covinhas apareceram.

— Na verdade você saiu da sala como se estivesse pegando fogo lá dentro, passou por mim como um raio. — Campos deixou o sorriso de canto, um sorriso espertinho que eu detestei. Senti algo no estômago. Fome, só pode ser fome.

— Olha, se a sala estivesse pegando fogo, obviamente eu não teria saído assim. Bem, é claro que eu seria a primeira a sair, mas então eu trancaria a porta pra ver todos morrerem. — Disse e sorri sonhadora, não era totalmente verdade, eu só teria saído correndo mesmo, mas...

Voltei a caminhar, indo para a cantina livrar meu estômago da fome. Fiquei feliz quando o garoto não me seguiu, meu estômago se mexeu de novo quando eu cheguei lá.

— É bom se comportar, viu, senão não ganha nenhum doce depois! — Falei séria, olhando para a minha barriga e a apertando com as mãos, escutei um grito sendo abafado e vi uma aluna olhando pra mim como se eu fosse um fantasma. Olhei pra ela. — Tá olhando o que, ô coisinha? — Ela só balançou a cabeça e saiu correndo. Franzi o cenho, só tinha gente estranha por ali.

***

Depois de tantas horas de tortura, ou escola, dá no mesmo. Fomos enfim liberados. Eu corri para a saída como uma cheetah. Assim, acabei sendo a primeira a sair da escola. Fui pra casa numa boa, fingindo que o mundo não existia e só pensando em tomar um banho e depois ir para os ensaios, poder dançar. Que era única coisa que me deixava feliz.

Eu ia à pé pra casa, por que eu gostava de andar, me dava tempo pra pensar em coisas legais como furar o saco do professor de matemática com a ponta de um salto agulha, cortar os cabelos loiros e longos da menina chata que estudava comigo, tomar um litro de sorvete em cinco minutos, enfim... Pensado em coisas boas. Apesar daquele maldito sol estar berrando a plenos pulmões: VOU DEIXAR TODOS VOCÊS COM CÂNCER, MUAHAHAHAHA.

Cheguei em casa e abri a porta, jogando a mochila no cantinho do lado. Tirei a blusa da escola e joguei em cima da mochila, já me sentindo melhor, comecei a desabotoar a calça quando escutei um pigarreio. Olhei pra cima e vi minha mãe, Fábio e... o Campos. Então eu lembrei de onde eu conhecia ele.

Aquele ali era o Nathan.


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Notas finais do capítulo

Ragazzas, gostaram? Ai, meu deus. Por favor, comentem e deixem a autora aqui feliz. Adoro saber o que vocês acharam?
Inclusive, Nay tá meio revoltada com a vida, não? Ai, ai, dios mio. Espero que tenham gostado.
Tia Victória ama vocês



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