Garota Desastre escrita por Principessa V


Capítulo 2
Prólogo parte II – Não sou uma garota de bem


Notas iniciais do capítulo

Ragazzas, amori miei.
Eu demorei a postar? Ai, espero que não.
Leiam, nos vemos no final.



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Me mexi, tentando achar uma posição mais confortável dentro da viatura. Estava usando a camisa de Rafael, já que a minha foi rasgada por aquela vadia e eu tinha ficado com os bonitos de fora, também perdi o lado esquerdo do meu sapato. O mais legal de tudo era minha pele grudenta e cheirando a cerveja barata.

— Mas que porra, que merda a gente vai fazer agora? — Lucas sussurrou do meu lado, na viatura.

— Não sei, mas querem saber de uma coisa? — Rafael e Lucas olharam pra mim, em expectativa.

— Hoje faz um dia que ontem foi hoje. — Rafael riu e Lucas me olhou como se quisesse me socar.

— Caralho, Nay! A gente tá indo preso e você fica fazendo piada? — Ele berrou.

— Ei, vocês, calem a boca aí, vagabundos. — Um policial gritou, batendo na grade com força, pelo menos isso fez Lucas se acalmar um pouco. Eu detesto gente nervosa do meu lado.

— Luquinhas, querido, me estressar vai mudar nossa situação? — Perguntei com falsa doçura na voz.

— Não. — Negou, fazendo careta.

— Vai nos tirar daqui?

— Não.

— Hm... Vai ajudar de alguma forma?

— Não, mas...

— Então por que eu deveria me preocupar? — O interrompi, estava cheia de melodramas.

Lucas se calou, virou o rosto para o vidro. Rafael me olhou e deu um sorriso triste, mas também virou a cara. Tudo bem, era a primeira vez que eu colocava a gente em uma confusão tão grande. Sempre tentamos fugir da vista da polícia, meu pai, por exemplo, fugiu das vistas da polícia a vida inteira e, em toda sua vida de gangue, nunca foi preso. Não era nada bom, os caras marcam sua cara.

Eu sempre coloquei os meninos em situação delicadas, complicadas e estressantes, mas sempre consegui resolver todas. Mas como iria resolver aquilo? Era simplesmente... Argh!

Pensa, Nay, pensa. Você entrou nisso e enfiou todo mundo aí, agora dá um jeito de resolver. O mínimo que você pode fazer é ajudar seus amigos, não estrague tudo, pelo menos dessa vez.

Meus pensamentos continuaram na mesma linha até a delegacia. Ah, que linda forma de passar meu primeiro aniversário! Ah, sim, primeiro, eu faço aniversário duas vezes no ano, por que eu sou especial, faço aniversário de seis em seis meses. É que um é o dia que eu realmente nasci, e o outro é o que está na minha certidão de nascimento. Mas depois eu explico isso...

Hm, ei, não seja inútil, tem alguma ideia – qualquer ideia – do que eu posso fazer para ajudar? Tá vendo o nível do meu desespero? Tô até pedindo a sua ajuda...

Mas entenda, meus meninos... Eles são os únicos amigos que conheci na vida, as únicas pessoas pelas quais vale a pena eu me esforçar. Eles que me ajudaram quando meu pai morreu, eles me protegeram, cuidaram de mim, me ensinaram que a vida estroça a cara de quem é ingênuo; a vida te dá uma bolacha – bolacha sim, mané – de água e sal e depois te dá um headshoot, e ainda rouba tua bolacha.

Rodei a pulseira que eu ganhei deles no meu aniversário de quinze anos, dezesseis pérolas, uma pra cada um deles, sorri ironicamente de olhos fechados. Viu só? Eles são lagartinhas prestes a virar fadas e sair dispensando brilho por aí. Eu cresci com eles, então só... Não me lembro de nada em que eles não estavam presentes, pelo menos um deles. Por isso, eles e minha mãe são as únicas pessoas que eu faria qualquer coisa.

Chegamos à delegacia sem eu perceber. O prédio era velho, mal pintado e estava lotado. Um gordo estava se debatendo, tentando escapar de ser preso, mas tinham cinco guardas ao redor dele. Sinceramente, né por nada não, mas como ele achava que daquele tamanho ia conseguir fugir dos policiais? Pegar ele era como achar palha num palheiro e... Argh! Ele acabou de cair no chão e a calça rasgou: Ele está sem cueca.

Fomos levados pelos policiais, meus outros meninos já estavam ali, deram um risinho sem graça e triste quando entrei e eu dei o melhor sorriso que podia. Alguém tinha que ser forte nesse momento tão difícil pra eles, se eu demonstrasse fraqueza não duvidaria nada que eles começassem a chorar ali mesmo.

— Carlos, Raul, Henrique, Beto, Luan, Marquinhos, Ruan, Aldo e Jorge. — Contei, faltavam Felipe, Andrew, Jhoe, Fábio e Michael, pelo menos eles tinham conseguido escapar, eu acho. — As coisas vão ficar bem.

— Claro que vão! — Ironizou Jorge e eu respirei fundo.

— Ah, melhor do que está agora? Impossível. — Completou Raul, e foi aí que a cacofonia começou.

Ei, ei, ei, porra! — Gritou um policial que entrou. — Mas que caralho é esse na minha delegacia? — Ele virou pra um policial ali perto, pelo jeito educado e gentil, aquele era o delegado, eles conversaram baixinho, e como eu estava do outro lado, não escutei porra nenhuma.

— Então, bonito, vagabundinhos que se meteram em briga em festa, né? — O delegado continuou, já a par das novidades, incrível como as notícias chegam rápido nesse mundo de hoje, não? — Bem, vou ser justo, tô de bom humor hoje, me contem o que aconteceu.

Eu fiquei calada e os meninos começaram a falar todos ao mesmo tempo, vi a cara do delegado começar a ficar mais azeda se sovaco de gordo sem desodorante na academia, aí o olhar dele parou em mim e me viu calada, mas continuou, eu sabia que aquilo ia dar mer...

— Calem a boca, porra. Vocês acham que eu escutei uma só palavra que vocês falaram? — Quando os meninos se calaram, ele virou e olhou pra mim. — Você, amorzinho, por que não conta o que aconteceu? — Alguns policiais riram, mesmo assim fui pra frente com o olhar firme.

— Senhor, estávamos na festa, sem fazer mal à ninguém, aí um cara tentou me agarrar à força, então eu tentei empurrar ele, mas o idiota me empurrou e eu acabei caindo em cima de umas pessoas, meus amigos tentaram me ajudar, mas aí quiseram bater neles e quando eu vi a confusão já estava armada. Não foi culpa nossa. Minha blusa foi rasgada, por isso meu amigo me emprestou a dele e estamos aqui. — Falei da forma mais sincera possível, talvez eu conseguisse nos tirar dali sem nenhuma advertência.

— Hm, eu não diria exatamente isso, mocinha. — O delegado falou, ele era quase gordo, parecia ter por volta dos cinquenta anos e o cabelo já era branco, as peles em volta estavam caídas numa expressão eternamente entediada, e a boca torcida num formato zangado, a pele dele estava tão oleosa que dava pra fritar batata frita.

Franzi o cenho completamente confusa. — Como assim, senhor?

— Bem, acho que a culpa foi, de certa forma, sua. — Eu nem sei o que pensei naquele momento, minha mente meio que parou. — Eu sei como as mulheres tem se comportado hoje em dia, mocinha, as que não se dão respeito, assim como você, ficando com qualquer um só por que eles pagam coisas pra vocês, você até cheira a cerveja, sinto daqui, você saí com essas roupas apertadas, provocando tentações nos meninos, sabe como homens são e mesmo assim insiste em provocar e depois se revolta quando as coisas acontecem.

Ele se sentou, apoiando uma perna numa mesa e deixando a outra em pé. Com um olhar de certeza no rosto. Eu fiquei tão chocada que não consegui falar nada.

— Depois vocês são estupradas por aí, mas... Se não estivesse vestida assim, dançando no meio desse monte de machos, que você diz serem seus amigos... Você acha que os caras vão pensar o que de ti? Que é Madre Teresa? Por favor, gracinha, espero que seja mais inteligente que isso. Você saiu esperando confusão, se não quisesse tinha ficado em casa, ou teria ido ao cinema, mas não, hoje em dia vocês preferem agir como mulheres da vida. Porque mulher de bem está em casa a essa hora, não colocaria nunca um vestido acima do joelho ou essas coisas apertadas, e tenho certeza que tava vestida com uma blusa pequena e provocante, com as costas e os peitos de fora, a mulher direita não saí pra beber, nem pra cair na noite com os amigos. Já percebeu que é a única mulher no meio desses rapazes? — Ele falou calmo, mas o olhar dele começou a me analisar mais detalhadamente, senti um frio na espinha.

Meus meninos todos ficaram calados, virei para olha-los e eles não pareciam estar muito diferentes do que eu me sentia.

— Então, o senhor está me dizendo que é minha culpa que um bêbado tentou me agarrar enquanto eu dançava e, por isso, eu e todos os meus amigos estamos aqui? — Falei rápido e, pra minha vergonha, minha voz saiu mais instável do que o desejado.

— Olha só, você não é tapada. — Ele riu e os policiais riram junto. O delegado se levantou e se aproximou de mim, eu praticamente senti Rafael ficar tenso do meu lado. — Mas eu fiquei aqui pensando, eu podia liberar vocês — Rafael relaxou, mas eu sabia que tinha um se ali. O delegado se aproximou mais e esfregou uma mecha do meu cabelo. — se você me der um agradinho, gracinha, deixo vocês passarem como se nunca tivesse visto vocês. Acho que isso não vai ser difícil pra você.

Eu fechei os olhos e cerrei o maxilar, então... Eu escutei o som rápido, forte e certeiro de um soco sendo acertado. Abri os olhos pra dar de cara com a cena que eu sabia ser a ruína de qualquer chance diplomática de sair dali sem envolver um advogado: Rafael tinha dado um soco bem na cara do delegado que, com a surpresa, tinha ido pro chão.

***

Tinham treze marcas na parede. Treze meses. Foi o tempo que passamos presos.

Você deve achar que é exagero, que não passamos tanto tempo assim na cadeia, no xilindró, vendo o sol nascer quadrado, etc.

Mas vou dizer uma coisa: você está certo, na verdade eu e Luan, que éramos menores de idade, ficamos detidos, fazia 130 minutos que estávamos ali – treze grupos de dez –, até que nossos responsáveis chegassem pra assinar nossa saída, pera, errei, a forma certa de falar é: até que nossos responsáveis chegassem para assinar nosso atestado de óbito.

Ficamos juntos numa cela, não tive muito tempo pra processar o que tinha acontecido, quer dizer, eu nem conseguia pensar naquele delegado idiota sem que a raiva me subisse e eu tivesse vontade de cortar o pau dele fora e enfiar na boca dele. E foi por isso que eu e Luan ficamos brincando de adedonha, é, estava muito divertido.

Rafael, Lucas, Raul e Henrique foram presos por agressão à autoridade. Então não fiquei sabendo mais nada deles, minha mãe veio me buscar antes da avó de Luan. Desejei sorte e fui pra casa. Minha mãe não disse uma palavra, nenhuma.

Engoli em seco, o silêncio era muito pior do que qualquer outra coisa que ela pudesse fazer.

Fomos pra casa, entramos, fui pro quarto e passei a noite por lá, até dormir.


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Notas finais do capítulo

Ragazzas...
O que acharam? Não ficou muito triste, né?
Ai, me falem, por favor, fico nervosa querendo a opinião de vocês :3
Ai, ai, tô ansiosa pra falar com vocês. E se quiserem entrego recados de vocês pra Nay,
Hm...

PS: O prólogo foi dividido em 3 partes pra não ficar muito grande, espero que não se zanguem, mas ele tem que ser assim pra explicar melhor o futuro.



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