Maledhiel escrita por Marko Koell


Capítulo 3
O Recanto das Fadas


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo. Espero que gostem e que possam entrar neste novo universo.
Um forte abraço para você, e boa leitura.



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Enquanto as risadas e brigas aconteciam no pátio do castelo de Artálas, acima, pode-se ouvir um forte estrondo que ecoou por todos os corredores até chegar aos ouvidos de Bellort, que se virou para a grande portaria assustado. Naquele mesmo instante todos entraram em séria indagação sobre o que poderia ter causado tal barulho, logo, não se ouviu mais risadas, nem gritos e a agitação pelo diamante jogado pelos balões cessou. Todos focaram perplexos na grande portaria, até que uma fumaça esmeralda criasse e de lá uma figura pouco conhecida deles. Era Maledhiel, com os olhos perdidos pela raiva, asas abertas e garras a mostra. Ele não disse absolutamente nada, apenas fitou o rei que pareceu dar alguns passos para trás assustado com o que via. A fadinha estava no ombro do elfo, olhando com fúria a todos a sua frente.

Maledhiel deu alguns passos a frente, enquanto o serviçal se aproximava, este era o que segurava a cabeça do rei de Artálas na bandeja, e assim entregou ao jovem elfo que o deslumbrou por um breve momento. Maledhiel então esticou as suas asas o máximo que pode, agarrou a cabeça de seu pai e saltou para além das nuvens negras que agora persistiam em residir em seu reino.

O jovem elfo bateu as suas asas com toda a força que podia e seguiu até uma das cachoeiras próximas ao castelo. Ao posar a terra tremeu e seu sangue pareceu fervilhar ainda mais. Não havia vida alguma, e muito menos água naquele local, onde antes, era o lugar que ele mais freqüentava, justamente pela beleza. As rochas estavam com musgos velhos apodrecidos, as árvores sem folhagem alguma, a terra cinza e o rochedo por onde brotava a cachoeira, seca.

— Artálas já foi um reino com vida. – disse a fadinha com sua voz fina. Maledhiel apenas observou a frente e tentou se lembrar de como era aquele local.

Quando menor, amava freqüentar aquele local, que era chamado de Lar da Vida. A morada dos pequenos seres que eram chamados de pastores da floresta era num buraco no rochedo, vedada pela a água encantada que deslizava com suavidade, criando assim a cachoeira. Maledhiel se enfureceu, e seus olhos pareceram ficar mais amarelos do que antes. Ele andou lentamente pelas pedras do que antes era um lago, tomando o máximo de cuidado possível para não machucar os seus pés descalços, até o centro do que agora era um buraco.

Ele estendeu os seus braços e se agachou, pegando um pouco da areia e deixando escorrer pelas suas mãos. A esse ponto ele já podia ouvir os gritos dos soldados do rei que desciam a colina do castelo em sua captura. Mas ele não deixaria isso acontecer novamente. Deu mais alguns passos e se virou e apenas aguardou a chegada dos guardas que não tardou em acontecer. Os lanceiros foram os que se aproximaram primeiro, esticando suas lanças contra o elfo que não esboçou nenhuma reação. Logo atrás os arqueiros se posicionaram e esticaram suas flechas contra o garoto, que permaneceu imóvel. Caminhou alguns passos a frente e pegou a cabeça de seu pai, que havia colocado delicadamente no chão.

— Elfo. Se entregue ou pagara com a morte. – disse um dos soldados e Maledhiel esticou os lábios tentando um sorriso fajuto e sarcástico.

— Pagar com a morte? - disse ele — Mas eu já morri há muito tempo, no entanto eu diria a vocês: baixem suas armas ou pagaram com a vida!

Os soldados se entreolharam mostrando medo, mas aquele soldado tornou com a palavra.

— Estas terras estão desprovidas da sua magia há anos, você é apenas uma criatura com chifres e asas horrendas.

— Horrendas? – perguntou ele soltando um leve sorriso malicioso.

Foi nesse momento que ele saltou e abriu as asas e com duas batidas derrubou todos os soldados ao chão. Logo ele se retirou e voou para o pátio do castelo, onde pousou ao lado de Bellort, o impetuoso, que estava sentado em uma cadeira real mostrando-se preocupado com a situação.

— Acredito que precisara de muito mais do que algumas lanças e flechas para me afugentar. – disse Maledhiel — Eu pagarei pelo meu pecado enquanto eu viver, mas você, Bellort, pagará com algo muito pior.

— Fará o que elfo da noite? – perguntou Bellort se dirigindo a Maledhiel o encarando — Eu não o temo, pois destruímos sua fonte de magia. Seu povo senão escravizado está morto ou foram todos exilados. A quem você vai recorrer criatura das trevas?

O elfo o encarou.

— Não precisamos da água para emanar nossa força, somos seres da floresta, e você não pode desmatar todas em torno de todo o mundo. Sempre haverá aliados ao qual me seguirão, Bellort.

Maledhiel se jogou para cima do rei, e segurou o seu maxilar com força, quase cravando suas garras na pele do rei, que estendeu as mãos para evitar que os guardas atacassem o elfo.

— Logo eu voltarei, é melhor se preparar, Bellort. – e assim, Maledhiel saltou uma vez mais e sumiu para bem longe, carregando consigo a cabeça de seu pai, e a fadinha o seguiu para além das terras de Artálas.

Em um lugar muito distante dali, havia um pequeno local encantado ainda não tocado pelo homem. Ainda havia fadas voando alegres e todo o tipo de criatura mágica possível. Desde pequenos duendes até imensas árvores humanóides que faziam a segurança do local. A frente um imenso lago a se perder com os olhos, e rochas gigantescas esculpidas pelo tempo com a forma de grandes guerreiros em batalha. As folhagens das árvores tinham as formas de fadinhas que dançavam conforme a brisa os tocava, e mudavam de cor quando a brisa tomava outra direção. Foi abaixo de uma árvore robusta e morta, a mais antiga daquele pequeno reino, que Maledhiel pousou causando euforia em todas as criaturas mágicas que estavam por perto. Ele se virou e olhou para elas, sem esboçar nenhuma alegria e sentou-se em uma pedra que ele havia próximo.

— Este é Maledhiel, o elfo da noite, o único de sua espécie. – disse a fadinha — Filho de Iorthir e Elren, descendentes dos antigos elfos dos contos da meia-noite, rei e rainha de Artálas, que hoje está sob o domínio dos humanos.

Um jovem duende se aproximou e reverenciou o elfo.

— Seja bem vindo senhor da noite, meu nome é Henrus, sou um dos habitantes mais antigos do Recanto das Fadas. Aqui qualquer criatura mágica é bem vinda, e tratada de igual a igual. Os humanos não conseguem ver este lugar, então não há motivos para se preocupar. Mas lamento ter que informar que o Recanto das Fadas seja indisponível para príncipes, pois como eu havia mencionado, todos nós somos iguais. Sua linhagem é pura, porém se não aceitar os termos deste Recanto, receio que não possa ficar.

A sua amiga fadinha o olhou com remorso por ter indicado tal local para repouso, mas Maledhiel não pareceu incomodado com as exigências de Henrus, assentiu com a cabeça e todos pareceram felizes com o gesto do príncipe. Houve uma grande festa de luzes no céu, lança pelas fadas e pequenos elfos das matas, que diferentemente de Maledhiel e de tantos outros, eram bem menores, com orelhas compridas e narizes enormes, grandes fendas lhe causavam um sorriso amedrontador devido aos finos dentes e pequenas garras. Eles eram os responsáveis pelo cultivo das terras, e como já nós sabemos, eram especialistas em magia branca, onde tais feixes azuis a lilás eram lançados dos seus dedinhos ao céu, criando efeitos parecidos com fogos de artifícios.

Maledhiel permaneceu acordado toda a noite, apenas observando a alegria daquele modesto povo, que não se preocupava com as guerras vindas do sul. Mas ele não estava totalmente feliz, pois durante muito tempo naquela noite, perdeu os seus pensamentos em como se vingaria de Bellort.

Vocês devem se perguntar agora. Porque Maledhiel não matou o rei quando teve a chance? Oras, há uma resposta muito simples para tal indagação. Ele não sentiu que seria o momento para se vingar. Ele perdeu o seu povo pelas mãos dos humanos, e embora matasse Bellort, ele desejava destruí-lo de outra maneira.

— O que pretende fazer com o seu pai? – perguntou a fada repousando em sua perna. – o elfo olhou para o lado e pegou com delicadeza a cabeça de seu pai.

— Precisamos enterrá-la em um lugar seguro. Meu pai dizia que quando um elfo morre e é enterrado, no local nascem lírios encantados. Nunca me disse que tipo de magia esse lírio tem. Diga-me Lía, o que fizeram com o seu corpo. – a fadinha engoliu a seco.

— Eles colocaram fogo, meu senhor. – disse ela virando o rostinho, sentindo grande pesar.

— Ele pagaram cada vida tirada pelo fogo. Cada irmão, cada elfo, cada criatura mágica em breve será vingada, minha pequena Lía, que tinha todos os motivos para salvar sua vida, e ficou comigo desde o início.

— O senhor se lembra então?

— De cada pequeno desespero seu em tentar me acordar. De cada historia que me contava para eu repousar, de tudo o que acontecia no castelo, e de cada nome de suas irmãs fadas que foram mortas pelo carrasco. Eu passei muito tempo perdido em meus pensamentos Lía, estou fraco. Mas logo ganharei a força que preciso e irei tomar nossas terras, e expurgar esses humanos.

— Maledhiel, você sabe que um dos votos de rei, é não matar nenhuma criatura viva sob a terra, não sabe? – disse Lía preocupada.

— Mas eu não fiz voto algum, e não sou rei no Recanto das Fadas. Sou apenas um elfo da noite com chifres e asas, que errou e causou a morte de sua família e seu povo e a destruição de Artálas.

— Mesmo assim, por mais cruel que Bellort tenha sido durante todos esses anos, e por mais que ele tenha ferido o nosso povo, talvez a morte não seja o pior castigo.

— Não. Realmente não é. – disse o elfo sorrindo para a Lía – Agora vá, existe um grupo de fadas que farão a vigia das flores de outono, esta linda estação se aproxima, e ela precisa do encanto das fadas para dar continuidade ao ciclo da vida.

— Eu vou. – disse ela alegre batendo as asinhas — Promete não sentir minha falta?

— Prometo minha amiga, agora vá.

Maledhiel se levantou e resolveu caminhar pelas terras das fadas, deslumbrando todo o encanto e magia do local. Henrus se aproximou do elfo e pediu gentilmente que o levasse para caminhar junto. O elfo então pegou o duende e o colocou no ombro, Henrus se sentou e segurou firme na túnica de Maledhiel.

— Já ouviu os cânticos antigos? – perguntou Henrus.

— Muitos, mas tenho certeza de que irá me contar um novo. – disse Maledhiel cordialmente.

— Sou um ótimo contador de cânticos, talvez o melhor entre os quatro cantos deste Recanto. – disse Henrus se gabando — Mas o que quero te contar é sobre a história de Madaliel. Já ouviu está?

— Este nome não me é estranho.

— Com toda a certeza que não é, lembra muito o seu, talvez seja por isso que sua mãe tenha colocado um nome similar.

— Quem sabe! – disse Maledhiel rindo disfarçadamente — Mas receio que a história tenha haver com um elfo com chifres e asas, estou enganado?

— Certamente que não está. Madaliel foi um jovem elfo do dia, e você sabe que definir a especialidade de um elfo é um tanto difícil. Ele era visto por todos com grande graça a beleza, e viveu há muito, muito tempo atrás. Ele era responsável por dar a vida a tudo o qu tocasse, embora tenha nascido com tal particularidade.

— Você menciona os chifres? – perguntou Maledhiel.

— Sim. Um elfo com uma fada só poderia dar em um chifre. – Henrus sorriu, embora o elfo não tenha entendido o motivo. – percebendo a insatisfação do elfo, Henrus pigarreou três vezes e continuou a falar. — Ele foi o primeiro de sua espécie, com toda a certeza, e a sua geração se deu, acredito até alguém bem próximo a sua família, e assim você veio ao mundo de tal forma.

— Minha mãe me contava a história de nossa família, e que eu era bisneto de uma fada.

— Está explicado então. Talvez você seja seu descendente, visto que pela historia ao menos que conheço, nenhum outro elfo tenha de fato chego a se casar com uma fada. Mas essa é uma história um pouco longe da onde eu quero chegar. Madaliel, um elfo do dia, com seus poderes da vida. Deveria ser um belo elfo.

— Henrus, eu percebi que você é um péssimo contador de cânticos antigos, onde quer chegar? – Maledhiel parou de andar e retirou o duende do seu ombro, o colocando em uma pedra média no chão.

— Descobriu meu pequeno segredo. – sorriu o duende — Mas bem, tudo nessa vida tem um oposto. Amor e ódio. Noite e dia. Vida e morte. Receio que talvez você por ser um elfo da noite, também seja o anjo da morte, e isso me preocupa um pouco. Até mesmo pelo o ocorrido, com a sua família e o seu povo. Não, decididamente não o culpo pelo o que aconteceu. Crianças são crianças e você ainda o é, ao menos comparada a mim. Mas o que me preocupa é o seu olhar. É a forma como você está enxergando as coisas agora, e talvez isso seja um problema para o Recanto das Fadas.

— Tenha o máximo de certeza, pequeno Henrus, que não trarei mal algum ao Recanto, muito pelo contrário. Eu estou alucinado pela beleza deste lugar, e o que eu puder fazer para protegê-la, eu o farei.

— Ah! É muito bom ouvir isso. – disse o duende colocando as mãozinhas no bolso e balançando o corpo satisfeito com a resposta do elfo.

— No entanto. – Maledhiel se virou e sua fisionomia mudou para muito séria — Quando chegar a hora, eu tomarei posse do que é meu. E se eu sou realmente o oposto do anjo da vida, acho melhor todos eles temerem a mim.

Ele deixou Henrus sozinho na pedra, caminhou para bem longe seguindo direção a mais ao leste possível, e ali permaneceu quieto por três dias e noites, até que pudesse acalmar o seu coração e voltar para o Recanto das Fadas, com o coração um pouco mais limpo.


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Notas finais do capítulo

Se possivel e puder, obviamente, deixe um comentário.



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