Simultaneamente, Athena e seu mordomo, Zort, acordam.

No escuro e com um silêncio assustador cheirando a terra molhada.

Ela falha ao se levantar e precisa da ajuda de Zort. Ele a segura pela cintura e a mantém de pé.

Enquanto ele tenta descobrir onde estão, ela olha em volta procurando seu anel. Qualquer brilho é incriminador e perceptível.

-Acho melhor sentar um pouco. – Zort aconselha e a ajuda a deitar num encosto de pedra – O anel sumiu? – Athena concorda com a cabeça – Deixe-me procurá-lo.

Zort a deixa descansar e começa a remexer algumas pedras.

Athena cessa suas buscas e deixa o trabalho com Zort. Olhando em volta, percebe que eles estão em um tipo de caverna, mas diferentes das que ela leu nos livros de seu pai. Aquelas tinham uma saída ou entrada, esta não.

Sua visão se ajusta com dificuldade devido a feixes de luz que escapam dos buracos entre as pedras. Há uma saída, ela só está tapada.

Faz um lembrete mental para que Zort quebre o obstáculo para eles saírem de lá, mas só depois de recuperar seu anel.

Enquanto o mordomo busca incessantemente, ela tenta se lembrar de como foram parar ali. Nada surge na sua mente por alguns segundos.

Até que ela se lembra.

Ela estava passeando na vasta biblioteca de seu pai quando encontrou um livro intitulado ‘Luz: A Cura Para o Mundo’. Sabia muito bem que seu pai era um dos mais ricos feiticeiros da luz, e que ela herdaria toda a fortuna dele um dia, mas não entendia a fixação doentia que seus parentes e colegas tinham com a Luz.

Folheou de leve o volume grosso que tirara da parede. Gravuras riscadas e coloridas contavam lendas que ela sabia decoradas de tanto ouvir seu pai fanático se gabar. Entretanto, uma das histórias chamou sua atenção. Era sobre um gato de três pernas que fora adotado por um feiticeiro da luz, como seu pai, e foi Iluminado pelo dono.

“Após receber a clareza proporcionada pela Luz, o outrora ignorante animal tornou-se um dos mais requisitados sábios.” Ela leu. Fechou o livro com força e o enfiou no buraco da estante. Riu com raiva.

Um gato se tornar um sábio só porque foi “iluminado” era uma ideia que não entrava em sua cabeça racionalista. Athena chamou Zort e o questionou sobre sua opinião a respeito dos contos fantásticos que se transmitiam de geração em geração. Para sua surpresa, o mordomo apenas respondeu:

-Meu patrão é um fanático, assim como todos os outros que acreditam na Palavra da Luz.

A frieza daquela frase e a falta de medo de castigos vindos de seu pai fizeram com que Athena se alegrasse com Zort. Há muito não sorria.

Esta era a última lembrança que tinha.

Não conseguindo se lembrar quando isto tinha ocorrido, foi até Zort para ajudar com a busca.

-E então? – disse levando as mãos à cintura.

-Não está aqui, senhorita. – Zort se horroriza ao ver um sinal imenso no rosto de Athena – Mas o quê... – ele balbucia apontando para a testa dela.

Athena procura algo no bolso do vestido e encontra um pequeno espelho. Posicionando o objeto para se ver, descobre o horror de Zort em sua testa.

Mesmo com a pouca luz, o símbolo é visível. Está presente em alguns lugares de sua casa que ela jurava serem seus. Uma cruz negra com um único ponto no canto superior esquerdo. Ela tinha visto em seus esconderijos, mas não sabia como eles haviam surgido ali.

Após alguns segundos, ela cai pra trás e deixa o espelho se espatifar no chão. Zort se apavora cada vez mais à medida que Athena se contorce no chão.

A cruz começa a brilhar na sua testa enquanto as convulsões pioram.

-Rocha! Q-q-q-queb-bra r-rocha-a-a! – ela grita espumando pela boca. Sua cabeça se vira e a luz negra da cruz revela as rochas requisitadas. Zort se apressa em destruir a parede de pedras.

Um.

Dois.

Três.

Quatros socos são suficientes para tirar a primeira pedra. Zort olha para trás em desespero, mas Athena ainda se contorce e baba. Ele arranca todas as outras pedras e a luz do Sol esfaqueia seus olhos, mas ele permanece na luta para salvar sua mestra.

Quando uma abertura maior até que o grande Zort está feita, Athena volta ao normal. Ela se levanta e limpa o rosto. Olha para o espelho quebrado e tem uma ideia.

Posiciona os cacos do espelho para que a recém-chegada luz do sol ilumine toda a caverna.

Com o rosto sem respostas, ela se dirige a um ponto pouco iluminado. Põe a mão entre as duas pedras e retira seu anel. Coloca no dedo e sente os poderes dos feiticeiros da luz entrarem por debaixo de sua pele.

“Estamos com você, Athena...” um sussurro ecoa pela caverna.

-Quando eu estava tendo convulsões aqui fora – ela gesticula para a caverna iluminada – recebi informações aqui dentro. – apontando para a cabeça ela senta-se em uma pedra e continua a falar – Nós... Eu fui escolhida para representar os feiticeiros da luz nesta batalha pelo controle do mundo. Todas as tribos principais tiveram um escolhido para representá-las e quem sobreviver ganha o controle.

-Todas as tribos? – Zort pergunta.

-Sim. Os feiticeiros da luz, os demônios, os seres da floresta, o exército de Mirra, os híbridos, os ferreiros e todas as outras. Temos um mundo alternativo para esta batalha e o mundo de fora está congelado no tempo enquanto perdurar este confronto. – ela se levanta e bate palmas – Se não queremos morrer, é melhor andarmos e procurarmos comida. Abrigo nós já temos, mas é comida que vai nos salvar.

Athena sai pela caverna e o que ela vê a surpreende.

Um gigantesco penhasco se encontra a sua frente. Seus pensamentos são interrompidos quando a caverna que estavam desaba junto com a parte onde pisava.

Caindo em alta velocidade ela só consegue pensar em se salvar. Uma voz a manda fazer algo em meio à queda, e ela sabe que isso significa que ela vai ter de abandonar sua personalidade racional para salvar sua vida e seu povo.

Aceitando seus poderes, Athena ressurge em forma de uma anja com majestosas asas de pura luz. Ela agarra Zort rapidamente e o leva para um lugar seguro. Quando os dois estão em segurança, suas asas desaparecem e ela volta a sua forma normal. O anel brilha como mil sóis em seu dedo e ela sabe o que isso significa.

Ela é a mais nova Imperatriz da Luz.