Printemps escrita por Hanna Martins


Capítulo 5
Os jogos continuam


Notas iniciais do capítulo

Se vocês quiserem me matar, estão liberados! Fiquei um mês sem postar (autora triste aqui). Peço imensas desculpas, principalmente, aqueles que mesmo com toda essa demora não desistiram da fic! Queria avisar que o próximo capítulo será o último. Como já tinha dito anteriormente, essa fic é bem curtinha.



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Peeta recolhe as xícaras sujas de chá. Haymitch acabou de ir para sua casa. Olho para o relógio em cima da lareira, o ponteiro pequeno está exatamente em cima do número dez. Dez horas da noite. Até que terminamos nossa reunião, como costumamos chamar nossos encontros para trabalhar no livro de memória, cedo hoje. Não é incomum ficarmos trabalhando até de madrugada, e alguns dias o sol nos apanha acordados ao redor do livro.

Haymitch tem colaborado bastante com suas recordações. Cada tributo de qual foi mentor permanece em sua memória. Seus rostos tristes, jovens e, sobretudo, sem nenhuma esperança, o atormentam toda noite, como confessou certa vez, em que estava um tanto embriagado.

Recolho os papéis com cuidado. O número de folhas preenchidas aumenta a cada dia. Muitas estão cheia de nossas lágrimas salgadas como o mar. Cada folha guarda uma história.

A cortina laranja se agita com o suave vento que entra pela janela. Isso me deixa um pouco arrepiada. Me levanto e vou fechar a janela. O céu está realmente belo hoje. Uma lua redonda e imensa e muitas estrelas cintilam no céu.

Há também alguns pontos de luzes, que a cada dia aumentam mais. Os moradores estão regressando, lentamente, mas estão. Hoje de manhã, enquanto voltava de minha caçada matinal, vi algumas crianças brincando na rua. Elas cantavam uma música alegre, enquanto dançavam em um círculo. Aos poucos a vida também volta ao Distrito 12. A primavera vai chegando lentamente.

Os corpos já foram recolhidos e o imenso buraco feito na Campina foi fechado. Casas começaram a ser construídas. As minas estão fechadas. Os terrenos estão sendo arados para plantação de comida. Agora cada Distrito não é mais responsável por apenas uma coisa. Máquinas vindas da Capital preparam o terreno para uma nova fabrica em que produziremos medicamentos. Sei que esta foi uma ideia de minha mãe.

Minha mãe. Nos falamos esparsamente. Mas nos falamos. Nossas conversas são curtas. Geralmente, ela pergunta como estou, se Peeta está bem, e como estão as pessoas do Distrito. Nossas conversas são triviais. Prim ainda é assunto delicado entre nós. Sei que minha mãe está bem. Seus dias são dedicados ao hospital no Distrito 4. E suas horas livres são reservadas para o estudo. Minha mãe resolveu aprofundar seus conhecimentos médicos. E isso lhe está lhe fazendo muito bem, foi como um novo sopro de vida. Uma pequena fagulha de esperança.

Sei que ela não voltará ao Distrito 12. Há muita dor aqui para que ela possa suportar. O Distrito 4 é a onde ela encontrou seu novo começo. Sinto falta da minha mãe. Depois que tudo o que aconteceu, finalmente posso a compreender melhor. Sua dor, sua falta de vontade de viver. Aquilo que era incompreensível para uma garotinha de 11 anos. Não a culpo mais, nem tenho mais mágoa. Embora sinta falta dela, não me atrevo a pedir que ela regresse para cá. Ela não pertence mais a esse lugar. Além disso, está feliz onde está. Outras pessoas precisam dela.

Fecho a janela. O vento frio causa essa vontade de chorar. E eu não quero chorar hoje. Saio de perto da janela e vou para a lareira me aquecer. Estendo minha mão e deixo que o fogo me aqueça.

Os passos de Peeta se aproximam de mim. Lanço meus olhos em sua direção. Ele me olha.

Ontem, Peeta teve um daqueles flashbacks. Não estava com ele, quando aconteceu. Mas, mesmo antes que ele me contasse, sabia que ele tivera os flashbacks. Começo a reconhecer quando isso acontece com ele, seu olhar fica distante e ele perde o brilho do olhar.

— Amanhã, você precisa ir checar, como anda a construção da padaria, não?

Peeta assente. Uma nova padaria está sendo construída no Distrito. Foi Peeta quem teve a ideia de construir uma nova. Com as pessoas regressando ao Distrito, uma nova padaria era necessária. Nada sobrou da antiga padaria que não fossem cinzas.

— Acho melhor irmos dormimos, então... — digo.

Eu e Peeta voltarmos a dormir juntos desde aquele dia que ele me acordou em meio a um dos meus pesadelos. Não conversamos sobre isso, não entrarmos em um acordo, nem nada, simplesmente aconteceu.

Naquele dia, após Haymitch ir embora, Peeta ficou até tarde da noite terminando os desenhos dos tributos que nosso antigo mentor havia contado a história. Acabei dormindo no sofá, enquanto esperava ele terminar os desenhos. Quando acordei estava em minha cama, com a respiração quente de Peeta em minha nuca. Um pequeno sorriso surgiu em meus lábios. Naquela noite, não tive nenhum pesadelo.

Na noite seguinte, ele voltou a dormir ao meu lado. E eu agradeci mentalmente por isso.

Os pesadelos tornaram-se menos frequente com Peeta dormindo ao meu lado. Antes acordava várias vezes no meio da noite, gritando, agora há até noites em que não sou atormentada por nenhum pesadelo.

Me deito na cama. Peeta deita-se ao meu lado. Ele arruma o cobertor com cuidado ao redor de nós. Um de seus braços cai sobre minha cintura. Gosto de sentir o calor de seu corpo, me acalma. Em poucos minutos estou dormindo.

No entanto, essa noite não é nada calma. Tenho muitos pesadelos. Peeta precisa me acordar e me despertar diversas vezes. Todos os pesadelos são tão aterrorizantes que se não tivesse Peeta ao meu lado, provavelmente, não conseguiria nem respirar.

Ao acordar de manhã, uma sensação sufocante me domina. Parece que há um imenso buraco em meu peito. Tudo me oprime. Nem mesmo o calor do corpo de Peeta consegue me dar um pouco de paz.

Me levanto da cama com certa dificuldade. Pego minhas coisas, meu arco e flechas, a bolsa de caça e vou para a floresta.

Nada me tranquiliza, nem mesmo o imenso céu azul, o vento em meu rosto, os sons da floresta. Tudo só piora meu ânimo. Caminho e caminho, sem uma direção ao certo. Caminho até meus pés doerem. Perdi a noção do tempo.

Detenho meus pés diante de minha antiga casa. Ou melhor, do que sobrou de minha antiga casa. Não sei como vim parar aqui.

— Katniss...

Me volto imediatamente ao escutar sua voz. No entanto, nada falo. Parece que as palavras fugiram dos meus lábios.

— Fiquei preocupado. Quando acordei, você não estava... Imaginei que pudesse vir até aqui...

Desvio meus olhos dele.

— Você está bem? — seu tom é preocupado.

Minha reação é me atirar em seus braços.

— Katniss, o que aconteceu? — sua preocupação aumenta.

Nada falo, escondo meu rosto em sua camisa.

— Katniss?

Sinto seus braços me envolvendo fortemente. Começo a tremer.

— Está tudo bem... — tenta me tranquilizar.

Um soluço sai da minha garganta. Minhas quentes lágrimas banham a camisa de Peeta.

Choro por um longo tempo. Meus soluços são altos. Peeta deixa que minhas lágrimas empapem sua camisa, enquanto acaricia meus cabelos.

Finalmente, após um longo tempo, meus soluços começam a ficar mais baixo e por fim, minhas lágrimas cessam. Porém, não saio dos braços dele.

— O que aconteceu? — pergunta, roçando seus lábios em meus cabelos.

— Prim... sonhei com ela... Sonhei que matava... minha irmã — um soluço escapa de meus lábios.

— Está tudo bem, Katniss. Já passou. Eu estou aqui, e sempre vou estar.

Retiro minha cabeça de sua camiseta e o olho. Seus olhos me transmitem tranquilidade e certeza. Certeza que ele nunca irá me abandonar.

Me coloco na ponta dos pés e aproximo meus lábios dos seus.

Meus lábios nunca mais tocaram os dele, desde aquela vez em que o beije para trazê-lo de volta. Seus lábios estão quentes. Eles recebem os meus com delicadeza.

Sua mão pousa em minha nuca, me trazendo para mais perto dele. A ponta de sua língua umedece meus lábios. Entreabro meus lábios e deixo que sua língua deslize para minha boca. Quando ela encontra minha, tenho certeza que essa foi uma ótima decisão, uma das melhores que já tive.

Apenas nos separamos quando sentimos a necessidade de respirar. Ele encosta sua cabeça em meu pescoço. Um calor muito bom me envolve, quando sinto deus lábios roçarem levemente a pele de meu pescoço. Já senti isso antes. Apenas havia me esquecido do quanto essa sensação era boa.

— Vamos para a casa — sussurra.

— Sim... — respondo um tanto relutante de me separar dele.

Ele me liberta de seus braços, porém, não de todo, ainda mantem um braço em minha cintura. Começamos a andar assim.

A sensação opressiva me abandonou. Agora posso respirar novamente. O beijo de Peeta me trouxe a realidade, como um dia eu o trouxe.

Não falamos durante todo caminho. Entretanto, esse silêncio é bom e tranquilizante.

Em vez de irmos para minha casa, Peeta me conduz até sua casa.

— Eu queria te dar isso em seu aniversário... mas acho que agora também é uma boa ocasião...

Olho para ele em buscar de sua explicação. Ele apenas me conduz até um quarto, que serve como seu ateliê. Abre a porta.

Há diversos quadros. Como eu já suspeitava, Peeta continua a pintar seus fantasmas. Um quadro me chama a atenção. É um quarto escuro, opressivo. Só de olhar para o quadro, tenho a sensação que estou preste a sufocar novamente.

— Peeta... este é...

— Foi onde eu fiquei durante o telessequestro... — completa, me olhando.

— Eu... — tento me desculpar por tocar em um assunto tão delicado.

— Está tudo. Dr. Aurelius diz que devemos falar sobre as coisas que nos atormentam... Pintar ajuda.

Noto outros quadros com esse mesmo tema. São sombrios, cheios de tristeza, a cor escura predomina em todos eles. Não há luz nesses quadros. Tudo é obscuro e triste.

— Mas não é isso que quero mostrar a você.

Ele se aproxima de uma grande tela, que está coberta por um pano branco. Retira lentamente o pano. Seus cabelos louros, seu sorriso inconfundível, seus grandes olhos azuis curiosos... tudo está lá.

— Prim...

Grossas lágrimas começam a cair sem parar.

— Katniss? — fica confuso. — Desculpa, eu pensei que você gostaria. Você gostou tanto do desenho de Prim que fiz para o livro que pensei... que gostaria de uma versão maior... — se justifica diante das minhas lágrimas.

— Não, não é isso... Obrigada.

Meus braços envolvem Peeta.

— Obrigada por pensar em mim sempre... — murmuro.

Levamos o quadro para minha casa. Peeta encontra um lugar agradável na sala para colocá-lo.

Passamos o resto do dia, no jardim. Trabalhamos um pouco no livro. Peeta faz alguns desenhos. Conversamos sobre coisas simples e corriqueiras. Mas Peeta consegue fazer até o assunto mais trivial se transformar na coisa mais interessante com seu dom com as palavras. É bom ouvi-lo falar. Acabo adormecendo com sua voz. Minha cabeça está em cima do seu colo.

Acordo com a doce carícia de sua mão em meu cabelo.

— Pensei que gostaria de ver o pôr do sol — fico feliz por ele não parar de acariciar meus cabelos.

Olho para céu. Me recordando de outro pôr do sol, que assisti com Peeta há muito tempo. Naquela época, estávamos nos preparando para os jogos. Os jogos não acabaram e nem vão acabar. Todo dia é um jogo para mim. Um jogo em que eu tento me manter viva.

Nessa noite, quando tenho um pesadelo. Os braços de Peeta e seus lábios me consolam. Finalmente, seus lábios estão aqui para mim.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Espero não demorar para postar o último capítulo ;). E obrigada aqueles que não desistiram de mim!



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