Smother escrita por stardust


Capítulo 10
A strange feeling


Notas iniciais do capítulo

Um cap importante e fofo xD espero que gostem e comentem u3u



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/577183/chapter/10

Eu não sabia bem o que eu estava sentindo. Eu não estava entendendo. Era estranho, era ruim, mas também era bom. Quer dizer, eu sabia. Mas na hora eu não me toquei.
Percebi que eu olhava demais pra ela. Pensava demais nela. Não a via como a Emma criança e que era praticamente a minha única amiga. Eu ficava meio estranho quando estava com ela, só não tinha reparado nisso. Na verdade, estar apaixonado é uma coisa muito estranha. O seu estômago pareça um freezer que gela a cada vez que você pensa, se aproxima, conversa com a pessoa, ouve sua risada, voz e etc. Você só pensa nela, o dia todo.
Espiei ela enquanto pensava nisso. Logo meu coração acelerou um pouco, e desviei o olhar.
“Você tá melhor?”, ela perguntou.
“Acho que sim”, respondi com um longo suspiro. “E você?”
“É... sei lá.” Ela pegou a caixinha de cigarros e acendeu o último. “Sempre me alertavam que nicotina era viciante e que acabaria por me matar. Mas nunca tive medo. Acendia-os um a um, e lentamente aspirava todas as toxinas para o meu corpo. Quando me sinto sozinha, os cigarros são o único calor que me confortam.”
“Então é por isso que você fuma”, eu disse. Ela assentiu lentamente, deu uma tragada e passou o cigarro pra mim. Fiz o mesmo.
“Eu nunca devia ter dado a certeza para aquelas pessoas que se achavam controladoras. Dar o prazer pra elas de me verem fumar, acabar comigo mesma.”
“Que pessoas?”, perguntei, devolvendo-lhe o cigarro.
“Ah... Ainda não te contei daquilo, não é? Então... se quiser, eu conto.”
“Claro que quero”, respondi. Não importava sobre o que ela estava falando, era bom ouvi-la.
“Quando nos mudamos pra outro lugar, eu não me adaptei a nada. A escola, as pessoas, a realmente nada. Sentia como se estivesse em outro planeta. Naquela cidade não tinha muita gente que prestava, sabe? Mas depois de um tempo, acabei fazendo amizades. Péssimas amizades. Era tipo... um grupo de umas 10 pessoas. Todos com 14, mais ou menos. Fumavam, matavam aula e coisas do tipo. Confesso que não me sentia bem com esse tipo de gente. Apesar disso, foram simpáticos, disseram que gostavam de mim, mas fizeram com que eu mudasse. Eu não iria conseguir fazer outros amigos além deles, então eles meio que me obrigavam a ser como eles, senão eu não teria ninguém. Fiquei anos com eles, até que começaram a usar drogas. Me ofereceram, mas era demais pra mim. Neguei, e todos começaram a discutir comigo. Eu era careta por não fazer o mesmo que eles, mas eu não queria saber. Mandei eles irem pro inferno e me deixarem em paz. Mas eles não iam simplesmente... me deixar em paz. Então fui meio que perseguida por eles por quase dois anos. Na verdade, foi por isso que voltamos. Eles já tinham quebrado janelas da nossa casa e até me espancado... É. Então aqui estou.”
Fiquei com vontade de saber como eram as pessoas que a espancaram, porque se algum dia me encontrasse na rua com um deles, iria socar sua cara com prazer.
“Meio que aconteceu comigo também, essa coisa de ter que ser um idiota pra ter amigos. Mas prefiro ficar sozinho.”
“Boa escolha”, ela disse. E então ficamos em silêncio. Por um bom tempo. Até que ela levantou, sorriu levemente e foi embora. Simples assim.

Comecei a andar pra casa alguns minutos depois, mas lentamente. Não conseguia ver mais ela a minha frente. Aproveitei para ficar pensando.
Tudo ali me lembrava ela. O azul do céu, as flores, as nuvens.
Quando finalmente cheguei em casa, minha mãe recostada à pia, com a mão sobre a testa e olhos fechados.
“Mãe?”, chamei. Ela abriu os olhos e virou-se pra mim. “Tudo bem?” Ela assentiu lentamente. Andei até ela. “Deixa isso aí, eu lavo”, falei, me referindo à louça.
Tirei a esponja da sua mão, que estava gelada. Franzi a testa levemente.
Levei-a pro sofá lentamente, sem que ela falasse nada.
“Deite aí, vou buscar um cobertor.” Fui até o seu quarto, peguei o cobertor e um travesseiro e depois a cobri cuidadosamente.
Depois fiz também um chá com bolachas para ela. Ela comeu-as devagar, com os olhos fixos na parede. Dei-lhe um remédio pra dor de cabeça e acariciei seu cabelo.
“Agora descanse.” Ela assentiu e deitou-se.
Sempre que ela ficava desse jeito, era porque sentia falta do papai. Era um pouco raro, porque ela lidava bem com a perda dele. Ouvi seu choro baixo, voltei ao sofá e segurei sua mão.
Ela me observou enquanto chorava até adormecer. Quando finalmente o fez, lhe dei um beijo na testa e voltei para a cozinha.

Assim que deitei na minha cama, comecei a pensar nela. Queria dormir e acordar ao lado dela. Queria olhar e encontrar a sua doce expressão e cílios delicados descansando no lado mais quente do travesseiro, dormindo pacificamente ao lado de mim. Queria olhar o relógio até que ela se aninhasse perto de mim e por isso a minha mente inquieta poderia finalmente dormir serenamente ao ouvir seu batimento cardíaco.
Mas a única coisa que eu ouvia, apesar do silêncio quase absoluto, era o meu próprio coração batendo rapidamente. Logo comecei a ouvir grilos. Por um bom tempo fiquei ali, deitado, olhando para o teto e sem conseguir dormir. Percebi que tinha sido bastante tempo, já que agora eram pássaros cantando e a luz do sol da manhã invadia meu quarto.
Eu não tinha percebido o quanto pensava nela até que ela começasse a construir uma casa na minha mente. Mas tudo bem. Eu a dava permissão pra viver nela.
Levantei, lavei o rosto e voltei para minha cama. E de repente eu estava ali, sentado, sobrecarregado com o quanto eu a amava e surpreso com a rapidez com que isso começou.
Minha mãe abriu a porta e sorriu.
“Obrigada por tudo que você fez ontem, me ajudou bastante”, ela agradeceu, sincera, e sentou do meu lado. “Tudo bem, Charlie? Você parece cansado.”
“Não foi nada, mãe. E... é, eu estou um pouco”, respondi, esfregando os olhos.
“Não dormiu?”, ela perguntou, com um tom de preocupação na voz.
“Um pouco”, menti. Era melhor assim.
“Hmm”, ela me olhou desconfiada.
“Mãe, posso fazer uma pergunta?”
“Claro.”
“Quando podemos saber que estamos apaixonados?”, perguntei. Ela deu um sorrisinho e acariciou meu rosto.
“É aquela garota, não é?”, ela perguntou. Franzi a testa levemente e olhei pra baixo.
“Só responda, mãe”, pedi. Ela sorriu de novo.
“Quando tudo que você faz é pensar na pessoa. Quando você apenas sorri vendo ela sorrir. Quando se preocupa mais com a pessoa do que com si mesmo. Isso é amor.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Smother" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.