Smother escrita por stardust


Capítulo 1
I grew up, that's different


Notas iniciais do capítulo

primeiramente era pra ser um livro, mas como sempre, tô desistindo e vai virar fic mesmo. Não prometo que isso vá ter um final.
Já tem tantos caps porque eu estava postando ela no socialspirit e resolvi postar aqui também :D
PS.: essa fic não incentiva ninguém a fumar, pelo amor de deus xD



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Coloco a cabeça pra fora da janela e ouço atônito aos gritos da casa vizinha sobre cigarros ou algo assim.
Emma Adams e a mãe se mudaram para cá há pouco tempo. Devo dizer que fiquei bem surpreso quando minha mãe falou delas no almoço de hoje. Quase engasguei com o purê de batatas.
“Emma?”, perguntei, tomando um gole de suco lentamente pra ajudar o purê a descer.
“Sim, lembra-se dela?”, confirmou. Claro que eu lembrava. Eu tinha uns 5 anos quando conheci ela. Estudávamos juntos, quer dizer, mal dava pra chamar aquilo de escola, afinal, só tínhamos 5 anos. Mas eu sempre a via. Talvez ela me desse um pouco de medo. Ela adorava brincar com as joaninhas do pátio da escola, que ficavam escondidas atrás de um arbusto no fundo de lá. Ela também me arrastava junto com ela, e ainda me fazia colocar joaninhas e outros insetos minúsculos nos dedos. Só lembro-me disso porque foram experiências meio... Traumáticas.
Emma Adams quase me obrigou a engolir uma formiga. Não me pergunte como e nem porque. Só sei que ela fez. Depois disso eu evitei chegar perto dela por um bom tempo.
Aos 12 anos ela se mudou, porque o pai morreu, e a mãe disse que tudo na casa lembrava ele, então elas simplesmente foram embora.
Apesar do episódio com a formiga, eu a considerava minha amiga. Na verdade, era porque eu não tinha muitos amigos na escola, e como ela era minha vizinha, nós passávamos bastante tempo juntos ao fim das aulas, que eram de manhã. Sempre achei ela meio esquisita, mas eu não tinha outras opções.
Lembro que ela me abraçava do nada, comia muito marshmallow, era elétrica e amava coisas estranhas, por exemplo mesmo os insetos. Ela tinha uma borboleta de estimação com 11 anos.
“Charlie?”, disse minha mãe, me acordando do meu devaneio. “Você vai lá comigo dar boas vindas depois do almoço”, finalizou, levantando da mesa e pegando meus talheres, prato e copo.
“Obrigado e... aquela menina quase me fez engolir uma formiga, mãe”, digo, franzindo a testa com a lembrança. É, formiga não tem gosto bom.
“Vocês tinham só 5 anos, agora tem 17”. Pude ver seu sorrisinho, e realmente torci pra que ela não estivesse pensando no que eu achava que era.
“Mãe, não sei o que você tá pensando, mas a resposta é não”, eu disse, olhando pra ela com as sobrancelhas arqueadas.
“O quê? Só quero que você reveja ela, ué. Vocês eram amigos! Ela deve estar diferente”, respondeu, sem me convencer muito.
“Emma Adams nunca muda”.
Ok, isso não era totalmente verdade. Quando ela atendeu a porta, com uma aparência típica de adolescente “tanto faz”, eu quase engasguei. Ela estava mesmo diferente. Obviamente tinha crescido, adquirido curvas e etc, mas seu rosto não tinha mudado. A mesma expressão de sempre, os olhos azuis, cabelos castanhos e bagunçados. E sua marca registrada: os dentes da frente levemente grandes. Eu gostava deles, não eram feios.
No entanto ela não tinha mais aquela face infantil cheia de alegria e inocência. Usava um shorts curto, um moletom preto com as mangas arregaçadas, meias e nenhum sapato. Na boca, um cigarro.
“Emma, olá! Há quanto tempo... viemos ver vocês e dar boas vindas”, mamãe cumprimentou.
“Olá, Sra. Price”, ela respondeu, com o cigarro ainda na boca.
“Ahn... Oi”, eu disse, ainda surpreso. Ela me encarou rapidamente, com a testa franzida, e voltou o olhar à minha mãe.
“Entrem”, disse, tirando o cigarro da boca e dando um passo pro lado. Assim que entramos, ela fechou a porta e cruzou os braços.
“Mãe”, ela gritou. “Visita”, e voltou a me encarar. Seus olhos eram hipnotizantes e um tanto quanto exóticos, por algum motivo.
Ouvi passos na escada e vi a Sra. Adams descendo-a.
“Eliza!”, a mulher exclamou, e deu um abraço em minha mãe. Emma revirou os olhos do meu lado e continuo a tragar seu cigarro. “Esse é Charlie? Meu Deus, menino, como você cresceu!”, ela disse, me esganando com seu abraço também. Murmurei um “oi” meio sem fôlego.
“Perdoem o cheiro de fumaça”, ela disse, lançando um olhar ameaçador de mãe à Emma, que pareceu nem ligar. Jogou-se no sofá e puxou um gato pro seu colo. “Mas é ótimo revê-los! Como estão? Ah, sentem, pelo amor de Deus...”, ela puxou cadeiras na mesa de jantar e nos acomodamos. Fiquei observando a casa enquanto as duas conversavam sobre coisas de mãe que nenhum adolescente quer saber.
Era tudo muito iluminado, tanto que quando eu entrei ali meus olhos arderam. A mobília era branca, ou pelo menos quase toda. Mesa, geladeira, armários, cadeiras... na parede tinham muitos quadros, assinados com um “E”, que imaginei ser de Emma, e provavelmente era mesmo, concluí, lembrando de que ela gostava de pintar. Havia paisagens, animais, coisas abstratas e mulheres em poses curiosas. Mas com um traço talentoso.
“Belos quadros”, minha mãe disse, como se soubesse que eu estava observando eles há dois segundos atrás.
“Emma os pintou. Minha menina tem talento”, Jane, a mãe dela, respondeu com orgulho na voz.
“Tem mesmo, Emma”, confirmou minha mãe. Emma fez um som como “ok, obrigada, mas o gato é mais interessante”, e continuou a afagar os pelos dele.
“Porque vocês não sobem ao quarto da Em pra conversarem? Ficaram 5 anos sem se ver, devem ter muita coisa pra colocar em dia”, sugeriu Jane. Emma não respondeu, apenas levantou com o gato nos braços, foi até a escada e estendeu o braço, sem dizer nada, mas entendi como um “sobe logo”. Levantei e fui atrás dela.
Ela abriu a porta e me deparei com um quarto completamente diferente de um normal. Luzinhas e desenhos muito bonitos nas paredes, a cama bagunçada (o que era perfeitamente normal, na verdade), uma escrivaninha com um bloco de folhas e muito material de pintura.
Ela sentou na cama, ainda com o gato no colo. Apagou o cigarro em um cinzeiro na mesinha ao seu lado e ficou me encarando.
“Hm... você não é de falar muito, né?”, perguntei, e me arrependi logo em seguida. Digamos que tenho o dom de falar coisas imbecis. Emma franziu a testa e continuou em silêncio por alguns segundos.
“Você continua meio panaca”, ela disse, me olhando com as sobrancelhas arqueadas e abrindo a gaveta pra pegar mais um cigarro e seu isqueiro.
“Nossa, obrigado”, eu respondi ironicamente. Ela acendeu o cigarro, deu uma tragada e em seguida assoprou a fumaça pro lado.
“Não leve como uma ofensa”, ela falou. “Pelo menos você não é tão estranho quanto eu”, completou, sem parecer se importar de ser estranha.
“Ser estranho as vezes é bom”, respondi, olhando seus desenhos da parede.
“Mas não é sempre. E aí, engolidor de formigas? Como foram esses 5 anos?”, perguntou, se levantando pra abrir a janela e jogar as cinzas lá fora.
“Uma porcaria, como sempre. E os seus, colecionadora de insetos?”, ela deu um meio sorriso.
“Aquela cidade é uma merda. Só tem gente merda. Tava até com saudades daqui”, ela apagou o cigarro e o atirou pela metade no lixo do lado da escrivaninha.
“Você mudou bastante”, falei. O gato pulou da cama e veio se esfregar em meus tênis.
“Eu cresci. É diferente, Charlie”, respondeu, olhando pro teto, cheio de estrelas desenhadas.
“Pra crescer não é preciso mudar muito”, disse, e depois fiquei quieto. “É só preciso que a mente cresça”, concluí. “Você vai pra qual escola?”, perguntei, desviando o assunto.
“Claremont”, ela replicou, arrancando fios da barra inversa do moletom.
“Sou de lá também. Mais tempo me aguentando”, retruquei. Ela me encarou com a testa franzida.
“Sou sua vizinha, ia ter que te aguentar de qualquer jeito”. Ri sem humor ao lembrar desse detalhe.
“Ah, é mesmo”.
Depois ficamos um bom tempo fazendo absolutamente nada. Ela bocejou e ficou me encarando, como se tentasse lembrar de como eu era antes.
“Você continua igualzinho”, ela quebrou o silêncio.
“Sério?”, perguntei. Na verdade eu sabia que ainda tinha a mesma cara de 12 anos.
“É, seu jeito não mudou. Você só tem mais anos agora”, completou, virando a cabeça pro lado de leve.
“Você foi exatamente o contrário... não em tudo, mas você mudou”, o que era óbvio.
“É, você já disse isso” ela parou de falar ao ouvir gritos da mãe. “Melhor descermos”. Ela levantou, sem me esperar, e saiu do quarto.
Retiro o que eu disse sobre Emma Adams nunca mudar.


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Notas finais do capítulo

medinho de estar uma bosta /3 podem falar a verdade, se estiver realmente uma bosta, FALEEEEM c:



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