Survival Game: O Pesadelo escrita por Catelyn Everdeen Haddock


Capítulo 9
08


Notas iniciais do capítulo

Mais um capitulo!



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Passei a noite em claro pensando no emocionante encontro com a mãe de Otto. Muito obrigada por salvar o meu filho, ela agradecia chorando. Mas eu fazia de tudo para mantê-lo vivo naquele instante. Anne tentava tratar daquela ferida gangrenada e Sophia auxiliava incansavelmente. No momento dos pêsames, eu queria poder chorar, mas deixava tudo para a noite, enquanto dormia.

Na hora em que a mãe do Otto me abraçou, eu fiquei com uma certa insegurança dentro de mim. A partir daí, me tornei sensível. Até pensei que os nazistas fossem tirá-la do palco a força, mas ela descia lentamente e aos prantos. O prefeito Gies fez questão de acompanhá-la no caminho até a família, o que deixou a primeira-dama um pouco chocada com a atitude. Mas era o dever de um prefeito e de qualquer pessoa de acompanhar alguém que está enlutado, ainda mais nesse cortejo. Mordi o lábio para aguentar as pontas até a noite chegar, quando, de repente, uma salva de aplausos pairaram no ambiente. Anne segura bem firme na minha mão esquerda.

Logo depois, retornamos ao edifício, onde fomos elogiados pelos funcionários e pela equipe de filmagem. Margot e Marni olhavam maravilhadas para mim. Arqueei uma das sobrancelhas.

– O que foi aquilo, Heinrich? - perguntou Margot, com um sorriso estampado na cara e, ao mesmo tempo, surpresa.

– Er, bem... - ia falar que tinha decorado a mensagem de maneira simplificada, se não fosse pela tamanha euforia de Marni.

– Você fez a multidão chorar - falou em falsete, levando as mãos cruzadas ao peito, ainda eufórica. - Conquistou a confiança daquela senhora, mãe de família. Oh, você merece um abraço.

Marni veio até a mim, me envolvendo em seus braços. Confesso que fiquei um pouco sufocado nela, tive certa dificuldade em mexer os braços. Depois, (graças a Deus!) ela me liberou. Porém, Anne a via com o cenho enrugado.

– Falei de uma maneira bem simplificada - finalmente falei, ofegante. - Nada mais.

E Anne deu uma piscadela para Marni.

– Não é que ele tem um talento para a oratória? - falou ela, murmurando para Marni. - Ele até fez um discurso bem diferente e até surpreendeu a todos da escola, no Dia da Seleção.

– Ah, lá vem você com aquele papo furado - resmunguei, quando acabei de ouvir isso da boca dela.

– Que papo furado? - Anne começou a discutir. - Quase ninguém da história do Survival Game fez um discurso bem detalhado nos últimos Dias da Seleção e você diz que isso é papo furado? Mas você causou uma bela impressão em todo mundo da escola...

Mas a minha paciência estava a pino em mim.

– Já disse, Anne, e não vou repetir, que fiz um discurso banal, não detalhado - insisti, quase levantando a voz para brigar.

Acho que fui longe demais. A partir daí, Anne fechou a cara para mim e virou para frente, não falando mais nada a respeito do meu "talento" para a oratória. Marni chegou a me repreender.

– Heinrich Holger! Isso lá foi modo de falar com a sua namorada, na frente do prefeito?

Bufei e logo fechei a cara. Antes que eu pudesse rebater, Margot interveio, me defendendo na hora exata:

– Ele só fez a sua parte, Marni. Heinrich não tem obrigação de seguir as instruções simples e banais do discurso - e virou-se para mim. - Ele só agiu como se estivesse em casa.

***

Passei a noite em claro pensando do dia de hoje, enquanto observava o céu estrelado da janela do trem em movimento. Me dava uma vontade imensa de poder falar que eu tentei salvar o meu amigo, todavia tudo foi em vão. Antes de embarcar nessa viagem, tive um sonho com o Otto, no momento em que ele foi esfaqueado nas costas por Arnold. E eu tremia com isso. Esperava pelo fim, assim como o esperei naquele dia em que fui baleado.

Nos dias em que se seguiram, a próxima parada foi Bonn, onde fomos recebidos com a mesma euforia, típica dos fãs. A mãe de Sophia se parecia muito com ela e desde então, tanto a família dela e de Hermann, quanto as famílias dos demais, nos receberam com muita cautela. Seguimos a turnê nas paradas em Colônia, Hamburgo, Leipzig, terminando a viagem em Berlim, onde fomos hospedados em um hotel cinco estrelas, cujo andar mais alto era exclusivo para os vencedores do reality.

Simplesmente me jogo na cama box casal, cujas roupas de cama eram escarlates, com detalhes em fios dourados. Deixo a mochila de lado e me acomodo na cama. De frente a ela, há uma tela LED de mil polegadas, quase tomando conta da parede transparente que não é nada menos que uma parede de janelas, cujos vidros soa temperados. Do lado direito, há um banheiro master, onde há uma jacuzzi, chuveiro elétrico e, pertinho da porta da suíte, há um pedestal de notas, cujas folhas indicam o dia de um evento para os vencedores.

Anne se senta ao lado da cama onde estou deitado. Ela se acomoda em mim, se apoiando sobre o meu peito. Nós dois desfrutamos do momento fora da realidade. Bom, para falar a verdade, mais ou menos que isso.

– Eu esperava por tudo nessa vida - ressoa Anne, com a bochecha deitada sobre o meu busto. - menos uma virada radical.

– Você disse "virada radical"? - indaguei, curioso.

– Desde a morte dos meus pais, eu nunca tive uma vida melhor. Fiquei constantemente inconsolável com isso e com o mundo até os quinze anos. Passava noites ínsones com a perda deles. Vivi um luto patológico.

Apuro a minha audição e compreendo a triste realidade que ela viveu.

– Hitler II destruiu parte da minha infância - cisma. - E parte da minha adolescência. Agora ele me trata como uma mártir da causa.

– Ele trata a todos nós - murmuro. - Ele fez uma desinfecção racial e cultural. Foi com o uso do terror, típico do Holocausto.

Eu luto para poder descansar, mas a Anne continua a bater na mesma tecla daquele lance do espetáculo fúnebre de Frankfurt.

– Eu sinto muito pela emoção daquela senhora - murmurou Anne.

– Eu também senti, Anne - afirmo. - Aquela senhora é a mãe do Otto. Ela disse que eu salvei o filho dela. Mas nem cheguei a tempo.

Me levanto devagar por causa da Anne, que levanta também e se senta na cama. Ela respira fundo e concluiu, na maior calma:

– Nenhum de nós chegou, Richie. Mas a culpa foi minha, eu é que confundi o formol com a morfina.

– Deve fazer algum sentido - pondero, mordiscando o beiço.

– Como assim?

– Otto foi esfaqueado por Arnold. Sophia e eu o trouxemos para a caverna. De repente, nos enviaram o tal remédio, nos confundindo com a morfina, e... - parei por dois minutos, tempo suficiente para o resto da memória entrar no eixo novamente. - Otto adormeceu como se não sentisse dor, no momento da gangrena da ferida.

Sei que no momento avançado da gangrena, a pessoa sente muita dor, como se fosse dormência, devido à falta de abastecimento de oxigênio nos vasos sangüíneos. Mas com o formol, tenho pra mim que a substância tóxica afetou os nervos, fazendo com que ele não sentisse mais dor. Aquele odor pútrido da ferida, não só infestava a caverna, como também era um sinônimo de que não havia mais esperança para a sobrevivência.

– Heinrich - Anne pôs o dedo indicador no meu lábio e eu fiquei esperando pelo próximo beijo. Mas isso não aconteceu, para a minha desilusão. - Nós salvamos ele. Otto sofreu muito como nós no programa. Ele também foi oprimido antes disso, pois ele também era um judeu como o resto de nós. Não precisa se culpar por causa disso.


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Notas finais do capítulo

Na parte em que Marni dá uma bronca em Heinrich, parece a Effie, não é?

Cat ❤