Robert levantou Susana do chão novamente. A garota não parava de chorar e muitas pessoas caíram na gargalhada embora Feng gritasse e falasse mal a todos.

— Não acredito que ela fez isso! É muito burra mesmo – Murmurou Astrid, perplexa com o que a irmã fazia para conseguir chamar a atenção.

Imediatamente, Logan correu até a barraca do vinho e junto com outros homens ele ajudou a retirar o barril que esmagava os pés de Feng.

— Veja só o que a sua filha fez! Você vai me pagar cada gota de vinho que eu perdi hoje!-  Gritou o homem, tão nervoso que nem sequer agradeceu.

— Acalme-se Feng! Prometo que lhe pagarei e peço desculpas por Susana, creio que ela não tinha intenção... – Logan tentou abrandá-lo, mas foi interrompido.

— Passarei em seu sítio amanhã para o acerto! – Concluiu Feng dando de ombros, com o rosto vermelho em fúria.

— Mas... amanhã?... – Murmurou Logan, surpreso.

Feng virou as costas antes que o homem pudesse dizer algo mais, e com  a ajuda de seu filho ele se foi andando com muito esforço por conta da dor.

— E agora Logan o que você vai fazer? – perguntou Marine desesperada, enquanto afagava os cabelos de Susana ainda chorosa.

— Dar a ele o que ele quer! Dinheiro! - Suspirou Logan.

— Desculpe-me Logan... eu...eu ...a culpa é minha. – Choramingou Susana, com os olhos marejados e uma clara expressão de arrependimento.

— Não culpe-se por isso, minha querida! Acidentes acontecem... - Ponderou o homem compreensivo.

— Qual o prazo que ele estipulou? – Questionou Astrid preocupada.

— Amanhã de manhã... - Logan respondeu vagamente e mantinha os olhos firmes na sobrinha.

As três mulheres olharam perplexas para Logan, mas o homem não parecia estar tão abalado quanto deveria. Em poucos minutos, o centro foi se esvaziando, a música havia cessado assim como os fogos de artifício. Todos rumaram para suas casas surpresos com o ocorrido da noite.

Susana era apontada com deboche pelos jovens que passavam e estava claro que seria o principal assunto de muitos dias.

— Vamos embora! – Concluiu o homem, ao perceber que os olhares das pessoas permaneciam sobre os quatro.

Todos caminharam para a carroça sem discutir, estavam um tanto frustrados e surpresos com o ocorrido da noite. Susana ainda estava aos prantos e sua mãe tentava acalmar-lhe o espírito agitado. Astrid não dissera uma palavra sequer, estava irritada demais com a arrogância de Feng e preocupada demais com o que ainda poderia acontecer. Logan deteve-se um tempo em subir na carroça, virou-se para trás e percebeu um olhar conhecido em sua direção. O olhar de Gandalf. No entanto, o homem apenas respirou fundo e seguiu em frente com a família para casa.

No dia seguinte todos acordaram mais cedo do que de costume. Logan separou algumas de suas economias e juntou com as de Marine, embora tivessem uma vida próspera não eram ricos e a colheita do semestre não havia superado suas expectativas.

— E agora o que vamos fazer? – perguntou Susana preocupada.

— Vamos esperar querida, talvez ele aceite... – Marine forçou um sorriso.

— Podemos oferecer alguns de nossos cavalos... – Sugeriu Astrid confiante apesar de estar preocupada com a situação, já que Feng era conhecido como um verdadeiro casca de ferida arrogante e ganancioso.

— Podemos tentar Astrid... – Resmungou Logan mais para si.

Imediatamente ouviram alguém bater na porta. Susana começou a tremer e tentava manter o controle para não chorar. Astrid respirou fundo e apertou seu colar com firmeza. Marine se jogou na cadeira aflita e Fergus lhe ofereceu um copo d’água. Logan abriu a porta e cumprimentou Feng e seu filho, Finn.

— Bom dia Feng! Entrem! - Logan tentou ser cordial apesar da raiva que estava sentindo.

— Bom dia! – O comerciante olhou com indiferença e respondeu secamente.

Finn olhou de relance para as garotas e um sorriso malicioso discretamente foi percebido por Astrid, e estava certa de que o jovem tramaria algo.

Logan entregou uma bolsa com as moedas a Feng. O homem não disse uma palavra sequer, jogou as moedas na mesa e se pôs a conta-las pacientemente entediado.

— Hum, isso cobre o prejuízo de meus barris, mas não de todo vinho que perdi. – O homem respirou fundo e olhou com insatisfação para Logan.

— Bom, posso oferecer meus melhores cavalos para completar a dívida... – Ele parou de repente, pois a falta de educação do comerciante era insistente.

— Não quero cavalos! – Interrompeu secamente- Cavalos não rendem dinheiro, ninguém está a fim de compra-los, eles só servem para nos dar gastos!

— Posso te pagar até semana que vem... – Logan tentou negociar, mas Feng deu de ombros.

— O que você sugere Finn? – Feng indagou o filho percebendo o olhar do jovem para Susana.

— Que tal levarmos a garota conosco meu pai? Ela pode nos ajudar a recuperar o prejuízo... – Finn sugeriu estampando em seu rosto divertimento ao olhar para Susana que estava espantada.

— Hum, se este é o seu desejo meu filho... ela trabalhará para mim, cuidará das minhas videiras... e você! – apontou para Logan – Quero meu dinheiro até o fim da próxima semana!

— Ninguém leva minha filha! Ou se não... – marine gritava desesperada e foi interrompida.

— Ou se não o que? Vai me bater? – Feng riu maleficamente – Este lugar não tem lei, está esquecido no fim do mundo... Agora vamos Finn!

Finn puxou Susana pelo braço. A garota se debatia tentando escapar. Astrid chutou a canela do jovem fazendo-o gritar de raiva.

— Sua bruxa! Como ousa!- Finn gritou e tentou revidar o chute de Astrid.

— Seu nojento solta ela! - Astrid revidou com um soco, mas o jovem a impediu e apertou seus punhos com força.

— Calem-se! – Gritou Logan e Finn rapidamente soltou Astrid - Esperem! Vocês terão Susana, mas não hoje e não agora...

Ao ouvir que o marido concordara com Feng, Marine sentiu as pernas bambas e se jogou nos braços de Fergus. Astrid segurava a irmã que se derretia em lágrimas.

— Então quando? Não vou esperar mais... - Feng estava impaciente e cerrava os dentes.

— Amanhã cedo ela estará pronta! – Logan disse sério o que espantou todos.

— O que?! – Gritou Marine antes que desmaiasse nos braços de Fergus.

— Ótimo! Que assim seja... – Feng parecia satisfeito e Finn sorria divertidamente com malícia - Vamos meu filho! - O homem saiu na frente mancando e chacoalhando a bolsa com as moedas e Finn seguiu atrás com o mesmo estilo arrogante e esdrúxulo do pai.

— Mãe... Não quero ir... Por quê eu? – Susana chorava freneticamente debruçada sobre a cadeira.

— Mas tio ... Você não pode aceitar isso! Ele está errado... não temos dinheiro suficiente mas você não pode deixar que ele leve Susana – Astrid estava nervosa e perplexa com a atitude do tio.

— Eu sei Astrid! Tenha paciência em breve as coisas se ajeitarão! – Logan olhou no fundo dos olhos da sobrinha. – Vai dar tudo certo!

“Espero”, ele pensou e saiu rumo ao celeiro.

Astrid ficou parada, seus pensamentos estavam a mil, o que será que seu tio escondia? Porque aceitara a a proposta de Feng?