A nação escrita por Rodrigo Silveira


Capítulo 2
O ateu


Notas iniciais do capítulo

Eaew! Voltei para entregar o segundo capitulo que a partir de agora sai todo domingo! espero que gostem.
Rodrigo - esperando 2015 - Silveira



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An havia acabado de voltar de sua cansativa viagem a capital. A suprema secretária da fé tinha solicitado os relatórios da cidade de Efren no qual ela tinha nascido e agora era assistente do secretário local. Normalmente, deveria ser o próprio Elviz Lerod, o secretário local quem viajaria para o palácio divino. Contudo, ele pareceu indisposto nos últimos dias e pediu a jovem assistente que fosse em seu lugar. A menina caminhava entre as humildes ruas de seu vilarejo ainda não asfaltado. Os livros e papéis já lhe pesavam devido ao cansaço da viagem de mais de um mês. O que An mais desejava naquele momento era reencontrar sua tão sonhada cama em seu pequeno apartamento.
– Olá moça!
Três jovens mal encarados abordaram a jovem. Eles usavam roupas negras e correntes de prata. piercings e tatuagens obviamente falsas. Ela tentou passar por eles.
– Deus os abençoe. Ela disse cabisbaixa.
O mais alto dos três, um rapaz careca de queixo quadrado e olhos fundos a segurou pelo braço.
– Não é bem uma benção que nós queremos gata.
Ele a empurrou contra a parede fazendo-a derrubar os livros e papeis no chão. An teve sua boca tampada pela mão de um dos outros dois que se aproximaram. Os olhos lacrimejantes da garota procuravam algum droide guarda civil. Infelizmente, não encontraram nenhum.
– Eu vou me sentir muito abençoado depois disso.
Antes que pudesse fazer alguma coisa, o jovem mais alto foi atingido por uma barra de metal na cabeça que o fez soltar a jovem. Os outros dois estavam pasmos olhando para o que parecia ser o líder da turma caído ao chão com a cabeça sangrando. O agressor estava ali parado, nariz empinado. Olhos negros e firmes encarando a todos ali. Os dois lados da cabeça estavam raspados deixando apenas uma alta listra de cabelos negros do topo da cabeça até a nuca. Os braços morenos do garoto estavam cruzados mostrando seu bom físico na camiseta branca com detalhes rasgados.
– Então? Ele perguntou. Alguém mais quer uma benção?
Os dois outros que não tinham sido agredidos correram até sumir ao entrar em uma das varias esquinas daquela rua desértica. O rapaz chutou aquele que estava caído ao chão como se tirasse um saco de lixo de seu caminho. Aproximou-se de An e puxou-a pelo braço tirando-a de perto daquele que tentara a violentar.
– Obrigada. Ela disse quase sem voz Eu sou assistente da secretaria da fé. Pode pedir a benção que quiser, meu chefe a concederá.
– Que tal aquela que o cara queria? Ele deu um sorriso sarcástico e virou-se de costas com os braços novamente cruzados enquanto ela recolhia os livros e os papeis do chão.
– Nem pensar. Agora sério. Qual benção? Você deve querer alguma. Todos querem.
– Eu não. - Ele disse olhando-a sobre os ombros.
– Ah! An disse pondo-se de pé e ajeitando os cabelos castanhos claros no rosto. Já sei. Foi o seu aniversário e você acaba de voltar da muralha. Está mais do que abençoado. Não é isso? Qual seu nome?
– Bom, na verdade, se você quer saber, - O rapaz começou a andar em frente. An o seguiu. me chamo Ari-el. E realmente estou indo para a muralha. Mas não para tocar nele e pedir as bênçãos de deus pelo meu aniversário. Vou lá para mijar na muralha.
An parou. E olhou séria para ele. Ari-el não podia enxergar sua expressão. Mas, o que para ele era uma piada engraçadíssima, para todas as pessoas do país era uma coisa muito séria.
– Com deus não se brinca. - Ela disse com certa rigidez na voz.
– Ah sim, deus. Ele voltou seu rosto para ela. Estava com um sorriso sádico de canto a canto da boca. Dentes amarelados expostos. Se eu vir ele por lá eu deixo um pouco de mijo para ele.
An quase deu um leve grito com as assustadoras palavras proferidas pelo rapaz.
–Como ousa! Policia! Policia! Ela gritou com toda força que tinha. Temos um delinquente aqui!
– Ah qual e? Com um rápido movimento, Ari-el agarrou An pelo braço e a levou grosseiramente até um beco vazio. Fica quieta garota. Olhe, para você ficar mais calma, eu não sou um delinquente. Beleza? Eu sou um ateu.
Ao ouvir isso, a expressão de medo do rosto de An transformou-se em uma expressão de horror. Ari-el a segurava bem próximo de si. Ela podia sentir o cheiro de graxa e ferrugem que vinha dele. Os olhos firmes decididos dele olhavam fixamente os olhos verdes dela. Tentou gritar, mas, por algum motivo não teve forças. Ari-el aproximou-se mais dela. Estavam tão próximos que ela podia sentir sua respiração. Os batimentos do coração do rapaz.
– Policia! o grito seco e rouco doeu-lhe a garganta.
Ari-el olhou em volta. Ao longe, podia ouvir o barulho que faziam robôs policiais que se aproximavam.
– Bom - Ele disse Isso é um até breve?
Ela tentou responder. Estava apavorada. Reagir? Tentar segurá-lo até que os policiais chegassem? An caiu no chão. Sua vista esmaeceu e em seguida, escureceu. A sensação de tempo perdido veio junto com a voz de um dos policiais da vila que tentava reanima-la.
– Senhorita! Ele disse ao vê-la voltar a si. O que aconteceu? Consegue se levantar?
An sentou-se, escorando-se na parede do mesmo local onde havia caído enquanto ouvia um pouco enjoada o questionário do policial.
– Vamos levá-la para a enfermaria. Disse outro policial, ele era maior e mais robusto que o outro. O queixo quadrado e uma feição de que não gostava de resolver assuntos como esse. Mas era o tipo de problemas que apareciam naquela cidade pacata. O homem ajeitou a boina verde sobre a cabeça revelando os cabelos brancos.
– Não. Respondeu An quase gemendo segurando as pernas com as mãos trêmulas. Preciso ir até a secretaria da fé.
– Tem certeza que não prefere ir para a enfermaria? Ou para casa? Perguntou o policial mais jovem e franzino. Os olhos dele eram inseguros e não se fixavam em An por muito tempo.
– Eu tenho que ver o senhor Lerod. Ela respondeu olhando para os pés.
– Muito bem. Então nós vamos acompanhá-la mocinha! O jovem se levantou e dirigiu um semi-sorriso para An. O outro policial deu um leve suspiro de frustração e entrou na maquina velha e enferruja da que era seu robô de vigilância.

[...]
Elviz Lerod era um homem de cerca de trianta anos de idade, estava cuidando da secretaria da fé, responsável por analisar e gerenciar a fé dos cidadãos daquela província há quase dez anos. O estresse da monotonia o tinha impedido de viajar até a divina capital para entregar pessoalmente os relatórios anuais ao Sumo sacerdote supremo Dorian Riacar. Por isso, An Chaterine sua jovem e promissora assistente tinha sido envidada em seu lugar. Talvez isso não fosse visto com bons olhos pelo substituto de deus. Quanto tempo tinha se passado? Uma xícara de café? Duas três? O dia permanecia monótono.
– Senhor Lerod! A porta da secretaria abriu-se. Jimmy Oldsen, ajudante de Elviz adentrou apressado passando entre os vários livros cheios de poeira nas velhas estantes da secretaria e posicionou-se frente a sua mesa. É a An! Está com dois policiais.
Os olhos cinza de Elviz ornados com um par de olheiras miraram através do garoto. Na entrada, estavam os dois robôs policiais de cerca de três metros cobertos de ferrugem acompanhados de sua secretária.
– O que aconteceu senhores? Ele perguntou levantando-se e indo em direção à porta.
– Nós a encontramos caída em um beco próximo daqui. Respondeu um policial robusto saindo de dentro da maquina cujas engrenagens rugiam ao abrir a pequena sala de comando para que ele pudesse descer. Nos oferecemos para levar-lhe para casa, mas, ele fez questão de vir para cá.
– Obrigado senhores. Disse Lerod aninhando An em seus braços. Eu cuido dela a partir de agora.
Os dois guardas se retiraram e Jimmy fechou a porta. O homem sentou An em uma cadeira frente a sua mesa. O jovem ajudante entrou em uma pequena sala que dava para a humilde e não tão limpa cozinha da secretaria.
– Preciso voltar para o palácio divino. Disse An em um tom quase mudo colocando uma mecha de cabelo castanho atrás da orelha. preciso me encontrar com Nielbri. O mais rápido possível.
Ao ouvir o nome da maior de todos os membros da secretaria da fé, os músculos de Elviz enrijeceram-se. Ele sentou-se na cadeira de sua mesa frente tentando olhar An nos olhos, esperando que de lá saísse o motivo pelo qual ela se disporia a voltar em uma viagem tão grande até a terra de Dorian Riacar.
– O que está acontecendo? Ele perguntou.
– Eu preciso de um visto seu. Ela disse sem olhá-lo nos olhos. Uma autorização para usar os trens da secretaria.
Elviz deu um suspiro que indicava certo nível de estresse.
– Se não me der um motivo justo, o que eu vou colocar no seu passaporte? Você está cansada An. Pode ficar em um dos quartos aqui. Amanhã nós conversamos. O homem ajeitou as mangas do terno vermelho e levantou-se. Foi até uma mesa onde um bule de café e uma xícara o esperava.
– Hoje Ela começou com uma voz tão tremulas quanto estavam suas mãos agarradas na barra de sua saia florida. Eu fui atacada. Os olhos cinza de Elviz voltaram-se para ela. E quem me resgatou A essa altura, o café derramou-se queimando os dedos do secretário. Foi um ateu.


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Notas finais do capítulo

Bom, é isso e até domingo que vem. Ah, e se tiver gostado, comenta e espalha para os amigos, isso dá motivação para todos os autores. Fui...



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