A nação escrita por Rodrigo Silveira


Capítulo 1
O cisma


Notas iniciais do capítulo

Este primeiro capitulo é na verdade a introdução da historia que se passa dezoito anos no futuro do que se contará aqui. Espero que gostem e, se estiverem lendo isso no dia de postagem, feliz natal!
— Rodrigo - Noel - Silveira



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Linchel andava apressadamente nos corredores do palácio divino. Ao seu lado, uma criada levava um recém-nascido, ninando-o com todo cuidado para impedir que seu choro ecoasse pelo castelo cujas paredes eram feitas do mais resistente minério e cobertas de valiosas pinturas e pedras preciosas. Os lustres mantinham todo o caminho até a sala do sumo sacerdote iluminado. Ela deteve se diante da grande porta dourada cheia de relevos angelicais.
- O que deseja? Apresente-se! – Ordenou um dos guardas de armadura branca que guardava a sala daquele que no lugar de Deus governava a nação.
- Sou Linchel Ozy! Sumo sacerdotisa do décimo sexto estado. – Ela retirou o capuz que cobria sua cabeça. Os fios de cabelos loiros e cacheados revelaram-se. – E essa é minha criada. - disse apontando para a jovem próxima de si. - Tenho uma audiência com Dorian.
Os soldados uniram as pernas e segurando a espadas nas bainhas que ficavam em suas cinturas, fizeram um sinal de continência. Linchel passou pela porta e adentrou a sala do sumo sacerdote. O cômodo tinha cerca de cinquenta metros quadrados. As paredes eram pintadas de branco e com algumas inscrições sagradas talhadas em ouro. No centro da sala estava Dorian Riacar, o sumo sacerdote da nação, sentado em um grande trono feito de mármore e cravejado de rubis e esmeraldas. Ao seu lado, estavam duas grandes máquinas de combate de formato humanoide que mediam quase três metros de altura. Contudo, os homens que conduziam aqueles robôs, não estavam ali. Eles pareciam mais como estatuas que entravam em contraste com a arquitetura antiga.
- Senhorita Linchel! Que prazer. É bom revê-la. – Para surpresa da sumo sacerdotisa, o chefe da nação não estava sozinho. Bulgo Ror, O ministro chefe dos exércitos do país estava ali e virou-se para cumprimentá-la. – Infelizmente, as circunstâncias na são as melhores.
Linchel apertou a mão do homem. Um aperto firme, digno daquele que era o mais firme dos homens do circulo de Deus. Bulgo Era o senhor robusto de cerca de cinquenta anos. Como em todas as ocasiões, ele estava vestido de suas vestes militares que ostentavam varias medalhas que ganhara nos conflitos dos quais participara.
- Estamos quase entrando em uma guerra civil, sacerdotisa. – Dorian interrompeu as boas-vindas. – Sei que você havia marcado uma audiência comigo, mas esse caso é mais urgente.
Linchel dirigiu-se até o trono e beijou o anel dourado na mão de Dorian que manteve seu olhar imponente durante todo o tempo. Voltando para o lado de Bulgo ela falou:
- É exatamente por isso que eu estou aqui meu senhor – A respiração da sacerdotisa fraquejou. Ela sabia que o que se passaria naquela sala a seguir era muito sério. Ajustando os óculos no rosto, continuou. – Muitos querem negar esse fato, mas, isso não é uma guerra civil. É uma guerra de fé.
Bulgo esfregou uma mão na outra. O homem de porte musculoso estava tenso. O sumo sacerdote olhou Linchel de cima. Uma mecha dos longos cabelos loiros de Dorian cobriu-lhe a face. Com a mão esquerda ele tirou-a. O anel dourado com o símbolo do país reluziu.
- Explique-se.
- Os eruditos há muito tempo tem ignorado vários escritos antigos – Linchel estava nervosa. Nunca seus lábios tremeram tanto em seus quase cinquenta anos de vida. – As traduções me parecem desleixadas. Pedi que alguns professores e pesquisadores analisassem secretamente o texto.
- Esse não é o trabalho deles. – Dorian parecia desconfortável. Ele cobriu as mãos com o manto púrpuro. A mulher continuou o argumento.
- Os textos na língua antiga apresentavam um significado diferente do vernáculo que é ensinado em todo o país.
- Os eruditos não erram em sua área. – O sumo sacerdote contra argumentou.
Bulgo permaneciam em silencio. Tenso. Linchel seguiu.
- A nova tradução bate com os novos escritos dos cismáticos. – Linchel viu os finos lábios de Dorian cerraram-se e seu rosto tomar uma expressão de ódio. – E aqui, senhor, Sumo sacerdote, - A sacerdotisa apontou apara a criança que estava nos braços da jovem atrás de si. – está a criança que falam as verdadeiras profecias.
- Que absurdo. – Dorian gritou a todos os pulmões. – Você veio até o palácio de Deus forjar provas da mais pura Heresia! Guardas! Guardas! – Ele esbravejou de pé. Com um rápido movimento tomou da criada a criança e entregou a Bulgo que a segurou desajeitado. Os choros do menino ecoaram na sala. Os guardas entraram. Os homens de alva armadura metálica seguraram as mulheres pelos pulsos. Elas tentaram fugir, espernear e gritar. Era tarde. Nada podiam fazer. Estavam presas. O olhar do representante de Deus voltou-se para Bulgo. Estava diabólico. – Livre-se da criança. – Dorian estava quase espumando pela boca. – Livre-se. – Disse ele dando ênfase no que significavam “Livrar-se”.

[...]

Chovia muito aquela noite. Diante do palácio divino, estavam os cismáticos. Homens e mulheres que defendiam uma doutrina que era inaceitável naquela nação governada por deus: As escrituras estavam erradas. Ora, para o senso comum de todo o país dizer que existiam um erro casual ou proposital naquilo que era acreditado por todos ser a palavra de deus era um absurdo. Eles estavam todos de joelhos e acorrentados. Suas cabeças abaixadas esperavam a sentença que viria daquele que era, segundo as escrituras, o representante de deus, Dorian Riacar. Ele estava sentado em um trono de metal trabalhado com detalhes que simulavam uma grande árvore cheia de folhas. Do seu lado esquerdo e direito, havia soldados da guarda branca, a elite de todos os exércitos da nação. Eram trinta soldados. Quinze de cada lado. Todos vestiam uma farda branca, armados com espadas de prata posicionadas na cintura, olhavam para frente, perfeitamente simétricos. Todos eles. Dorian levantou-se e passou a caminhar de um lado para o outro frente aos cismáticos. Seus olhos os enfrentavam com um ar de superioridade.
- Muitos dos robôs da guarda civil estão enfrentando as latarias diabólicas que vocês construíram para subjugar a deus em todas as ruas do país. É uma briga absurda esta que vocês propõem. Se eu fosse seguir as leis ordinárias eu deveria prendê-los todos e esperar o tempo de clausura para em seguida executá-los. – Os olhos de Dorian detiveram-se frente à Linchel. Seus cabelos cacheados estavam encharcados. Contudo, os dele estavam protegidos da chuva, pois o sumo sacerdote estava posicionado debaixo de uma sacada improvisada para a sentença. O povo esperava a conclusão do julgamento nas imediações do palácio. – Contudo, esta guerra civil deve ser parada urgentemente. Essa é a vontade de deus. Este confronto contra deus acaba hoje. Por incitarem a revolta do povo dentro dessa nação, vocês serão executados. Aqui e agora. Guardas!
Dorian levantou dois dedos e os soldados desembainharam suas espadas na direção dos condenados. Entre os soldados, estava Lean Ausmusin que era apenas um garoto com cerca de doze anos. Em nenhum momento ele recuou sua espada ela estava perfeita e simetricamente apontada para frente assim como dos outros soldados mais velhos. Não foi necessário que o menino tirasse a vida de ninguém naquele dia. Afinal, eram vinte o numero de condenados e eles estavam em trinta homens.
A execução foi concluída. O sangue vindo das cabeças decepadas vertia na calçada frente ao palácio causou vertigem em Lean. Agora o menino estava visivelmente perturbado. Esforçava-se para manter-se em pé. Dorian olhou para um dos soldados ao seu lado fazendo sinal para que levasse o garoto para dentro do palácio. O sumo sacerdote sentou-se novamente na cadeira. Um dos criados trouxe-lhe um microfone. A voz do homem soou em toda a nação.
- Senhores cidadãos desta nação fundada por deus. Os lideres dessa revolução herética foram executados. Hoje o nosso deus decretou que essa ousadia chegasse ao fim. Entretanto, o mal deve ser limpo de todo o país. Por isso, todos aqueles que professam a fé no nosso deus devem retirar-se das ruas neste momento.
Terminada a elocução, Dorian levantou-se e sacudiu o manto de forma triunfante para o povo que assistia ao longe, temeroso em aplaudi-lo. O sumo sacerdote foi seguido pelos guardas adentrando o palácio.
- Onde está Jared Ausmusin? – Dorian perguntou.
- Está em um droide de combate na capital do sul. – Respondeu um dos homens.
- Toque a trombeta. Três vezes. –Ordenou o sumo sacerdote. – Em seguida, mande os Arcanjos.
Ao ouvir isso, o guarda parou de caminhar. Estava pasmo com a ordem de seu senhor.
- Mas e os que lutam ao nosso lado contra os rebeldes? – Ele perguntou.
- Obliteração total. – Dorian ordenou.
- E quanto a Jared? Ele é o chefe da guarda branca senhor. Vamos ligar os comunicadores, e chamá-lo de volta.
- Não há tempo. – Dorian deu seu veredito caminhando sem olhar para trás, deixando para o guarda apenas a obrigação de cumprir a ordem.
Em todo o país, a chuva misturava-se ao metal dos grandes robôs de combate do exercito do país que enfrentavam os robôs improvisados pelos rebeldes. Muita destruição e morte já tinha se seguido desde o começo da rebelião. Braços metálicos arrancados esmagavam casas e o metal queimado e retorcido de muitos robôs de ambos os lados do conflito misturavam-se com corpos e mais corpos resultantes daquela batalha. As metralhadoras dos droides, robôs de combates, pertencente aos cismáticos pareciam não conseguir dar conta dos grandes droides de cerca de cinco metros pilotados pelos soldados do exercito que vinha em milhares. Ainda que parecesse que os rebeldes estavam perdendo a causa, existia a esperança da vitoria, afinal, vinte de seus representantes tinham sido enviados até o sumo sacerdote com provas de que sua doutrina estava adulterada.
Quando o aviso da execução foi transmitido pelos alto-falantes em todo país, um silêncio seguido de sentimento de derrota tomou os rebeldes. Muitos deles pararam de lutar naquela hora. Os que permaneceram em combate dentro daquelas maquinas de metal quente e retorcido lutavam apenas por suas vidas. O silencio foi quebrado por um grave som de trombeta. O silêncio seguiu os três intervalos entre os toques. No fim do ultimo toque, os combatentes dos dois lados viram o céu negro e chuvoso de toda a nação ser iluminado. Eram eles. Não havia nada que pudesse ser feito. Para encerrar os conflitos, o sumo sacerdote tinha enviado a maior arma de aniquilação que existia. Os Arcanjos.
Enquanto os robôs do exercito ordinário mediam cerca de cinco a no máximo sete metros, assim como os droides improvisados dos rebeldes, os Arcanjos eram enormes e perfeitamente construídos, humanoides de metal com mais de vinte metros de altura que voavam sobre as cidades com suas imponentes assas metálicas pilotados pela guarda branca. Os seres colossais pareciam observar o conflito do alto. Não como juízes, mas como os supremos executores que eram. No fim, não poderia existir droide algum que sobrepujasse seu poder. Era o fim do conflito. Em todo o país, os arcanjos abriram suas grandes asas e delas saíram uma chuva de mísseis que varreu com fogo não só todos aqueles que estavam dentro de maquinas de combate, assim também como todos os seres humanos que não escutaram as ordens de retirada de Dorian ou os que não fugiram a tempo de sua fúria implacável.
Desde então, passaram-se dezoito anos.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado... #Cuida que domingo tem mais.



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