A Paciente escrita por Cary Monteiro


Capítulo 1
Tornozelo


Notas iniciais do capítulo

Tudo o que estiver em itálico é pensamento da personagem.



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Asami Sato observava o relógio de parede, eram quinze para às onze, seu plantão mal tinha acabado de começar e ela já se encontrava entediada. Era uma terça-feira à noite tranquila demais no pronto-socorro e até então ela só tinha atendido quatro ou cinco pessoas, todas com problemas ridículos demais para mantê-la entretida. Nem mesmo uma tinha algo grave demais para ficar lá e bater papo com ela até ser transferida para um hospital. Asami imaginava se pedir que alguém se acidentasse e aparecesse para lhe fazer companhia fosse algo ruim demais para se desejar...

Ela foi até a máquina de café obter um chocolate quente e sonolenta observou a televisão da sala de espera. Estava começando algum filme de comédia de natal, típico para a época. Faziam dois anos que ela não comemorava natal. Desde que seu pai morrera e ela ficara sem nenhum familiar parecia estúpido demais continuar com a festividade. Sim, ela tinha amigos, mas nunca quis se entrometer na festa de ninguém. Felizmente seu trabalho lhe mantinha ocupada o bastante para não pensar tanto sobre o assunto. O mês havia acabado de começar, mas ela não podia se importar menos. Um “ding” da máquina avisou que seu pedido estava pronto, ela retirou sua caneca fumegante do local e sentou numa das cadeiras, olhando a televisão sem realmente querer prestar atenção no que passava. A recepcionista tirava uma soneca e levara um susto quando a porta de correr se abriu num baque.

- POR FAVOR, AJUDEM MINHA AMIGA! – Um garoto alto de cabelos ondulados e olhos verdes gritou. Ele era usado de apoio por uma garota de pele morena e belos olhos azuis.

- Bolin, não exagera, eu não tô morrendo! Eu nem mesmo estou sangrando! – Ela retrucou. Asami tomou mais um gole de seu chocolate e se levantou. Ah, finalmente alguma ação, pensou enquanto se dirigia até sua sala para aguardar pela paciente. Alguns minutos depois os dois apareceram na sua porta, o garoto choramingava muito enquanto a menina soltava um suspiro cansado.

- Muito bem, qual dos dois é meu paciente? – Asami brincou, porém sendo completamente ignorada. O menino chamado Bolin lhe entregou a ficha da paciente e cautelosamente ajudou sua amiga a se sentar na maca. Asami foi lendo a ficha enquanto isso. – Korra... Ahm...

- Só Korra. – A garota respondeu. Asami deu uma olhada nela antes de voltar ao papel. Korra era uma completa moleca. Era noite, mas ela usava boné com a aba para trás, o clima estava começando a esfriar, mas ela usava uma jaqueta de mangas cortadas. Calça jeans bem desbotada e encardida em vários locais, um tênis surrado em apenas um dos pés...

- Dezenove anos... E... Sua ficha só diz isso? – Asami virou a ficha do outro lado para ter certeza.

- Pelo jeito a recepcionista esqueceu de escrever que eu sou cem por cento irada. – Korra lançou uma piscadela marota. É, tão radical que veio parar no pronto-socorro, huh?, Asami suspirou.

- Pois é! Tão radical que torceu o tornozelo! – O garoto de olhos verdes comentou irritadiço.

- Ah, é só um um tornozelo idiota! Pare de se importar tanto.

- Muito bem, senhor, hum, por favor, fique na sala de espera até eu chamá-lo de volta, sim? – O garoto fungou e deu tchau à Korra que lhe respondeu com um fraco soco no ombro dele. – Então, senhorita Korra, o que houve com seu tornozelo? – Ela começou.

- Foi o que ele disse, eu torci. Estava tentando algumas manobras muito loucas de skate, devo ter calculado mal alguma delas e caí de mal jeito no chão. Nada demais...– Ela contou. Asami ajoelhou-se para observar melhor o pé da garota.

- Posso ver que está bastante inchado já, mas só veio ao pronto-socorro agora por que?

- Porque não estava incomodando tanto assim. Porque o Bolin não parava de choramingar achando que eu fosse perder o pé! – Korra de repente silvou e prendeu a respiração quando sentiu que as mãos da médica lhe tocavam o local afetado.

- Bem, ele não está completamente errado.

- Acha que eu tenho o quê? Seis anos? Eu já quebrei muita coisa e nunca perdi nada. Não vai ser agora que vai rolar. – Korra respondeu com

- Ah, bem, não estou tão certa quanto a esta vez, mas... – Asami olhou para cima e percebeu que a garota lhe olhava um tanto nervosa. – Já sei! Vamos lhe dar um remédio e ver se funciona, okay? – Ela apenas acenou com a cabeça. Asami levantou-se e foi até a sua caixa de remédios.- É só um anti-inflamatório. Vamos esperar que ele aja bem, assim eu poderei lhe fazer um curativo.

- E quanto tempo ele demora para agir? – A garota perguntou enquanto Asami lhe entregava um comprimido e um copo d’água.

- Uns quinze minutos, espero.

- Certo, vou lhe contar mais detalhadamente o que aconteceu então. – Korra sorriu para a médica, que lhe lançou um olhar de indagação. - ... Eu estava no parque, de boas com alguns amigos. Estávamos na nossa curtindo a noite, dando rolês e fazendo ollies no meio da pista quando...

- Espera, espera. O que é “ollie”? – Asami interrompeu-a.

- Desculpe, doutora, esqueci que essa não é sua praia. – Ela riu. - É uma manobra básica, porém muito irada! Você dá um impulso no skate, como se fosse saltar de cima dele, levanta a cauda e bum! Ele salta junto. Estávamos medindo entre nós quem conseguia dar ollies mais altos. Claro que ninguém me batia, eu já sabia andar de skate antes mesmo de engatinhar. Mas tinha um metido lá, e aí que a história realmente começa, o nome dele era Tahno. Moleque imbecil, me chamou para um duelo de ollie e claro, eu aceitei.

- E então você se machucou?

- Calma, doutora, quase chegando lá. O Tahno me apontou uma lixeira, eu dei um impulso com o skate e pulei fácil o obstáculo. Era minha vez de escolher, mandei ele saltar sobre o banco de pedra da pracinha. O maldito me sorriu e pulou o banco como se fosse simples!

- Mas bancos são menores que lixeiras, não?

- Em altura sim, mas ele havia pulado a largura do banco! Aquilo me enfureceu. Era a minha vez de ir de novo, ele me apontou uma criança de cinco anos...

- E aí você parou porque ficou muito perigoso, não é?

- Acha que eu daria o gosto da vitória tão fácil assim? Eu pulei a criança, doutora! Ela ficou minha fã depois!

- Ai, céus... – Asami postou a mão no rosto, pensando no desespero da mãe dessa criança.

- Era minha vez de novo, eu não ia deixar barato! Apontei para a mesa do bar.

- Isso não me parece grande desafio, quer dizer, comparado ao o que você fez...

- Hahah, isso mesmo, doutora! Mas só havia uma mesa naquele bar e junto dela havia um homem, o cara mais perigoso do bairro!

- Quem?

- O vendedor de repolhos!

- Ué!?

- Tinha que ter visto a cara do moleque! Ficou tão irritado que jogou o skate dele longe! Mas eu encarei o desafio e pulei o cara! Todo mundo ficou de boca aberta!

- Prontinho, senhorita Korra.

- Huh, o que? – Korra percebeu que a médica acabava de lhe enfaixar o tornozelo e ela, tão distraída e excitada em contar a história não havia sentido nada. Mesmo ainda sentindo um pouco de dor, ela estava adorando ser tocada por mãos tão delicadas. – Devo dizer que a senhorita tem verdadeiras mãos de anjo. – Korra elogiou enquanto coçava o nariz. Asami olhou para cima e sorriu.

- Ah, obrigada, é com elas que mantenho este emprego. – Ela se levantou e voltou a sua cadeira, escreveu em um papel e depois entregou para Korra. Vou lhe dar uma cartela de anti-inflamatório e aqui está uma receita de um antibiótico caso seu tornozelo piore, não creio que vá acontecer, o inchaço já melhorou bastante, mas é bom previnir, ou seja, nada de skate por enquanto, senhorita.

- Tem algum pirulito aí? – Korra perguntou enquanto saía da maca.

- Não, vou ficar te devendo um. Não quer que eu chame o seu amigo?

- Pirou? Eu nem estou sentindo mais nada. Pode deixar que daqui eu me viro, doutora. – E foi saindo pela porta. De repente ela mostrou a cara de volta – Ah! Obrigada doutora... Hum...

- Sato. Asami Sato. – Ela lhe apontou o crachá.

- Asami? Gostei. Valeu mesmo! – E saiu novamente.

- Ah, que garota engraçada... – Asami riu sozinha e de repente lembrou qe Korra não havia terminado sua história. A médica se levantou e correu para o corredor. – Hey, Korra. Afinal, como você se machucou? – Korra virou-se e sorriu.

- Ah, foi embaraçoso. Eu fiquei tão feliz com a vitória que tropecei numa pedra e caí. Sorte que Tahno já tinha ido embora ou eu nunca me perdoaria! – Ela coçava a cabeça, muito risonha e enrusbecida. Asami pois a mão na boca para abafar uma risada. Pela janela de vidro do corredor, que ia do chão ao teto ela podia ver a sala de espera agora um tanto lotada, com Korra saltitando em um pé só até o amigo e dando-lhe um último tchau.

Num momento da noite Asami lembrou de seu pedido do começo do plantão e pensando melhor, achou que deveria fazer isso com mais frequência.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que eu tenho uma porção de outras fanfics pra terminar, mas em ritmo de festividades e logo agora que esse ship foi canonizado, eu não poderia perder a chance de fazer uma fanfic sobre as soon as possible!

Não esqueça de deixar um comentário, por favor. Muito importante pra mim e obrigada por ter aparecido!