Por você mil vezes - Se não fosse amor escrita por Suy


Capítulo 59
Se não fosse amor - Cap. 16: All about lies.


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, o capítulo está enorme! Mas não tinha como dividir meninas, então desculpem as que não gostarem. Mas como muito pedido antes, tem POV do Ethan, aliás tem dele, do Matt e da Sophie tudo em um único capítulo! kkkk

Boa leitura meninas,
Beijão!



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POV Matthew Davis

Entrei em minha sala após o almoço, Sophie não comentou sobre a vinda de Amy aqui no escritório, então acredito que não tenha sido nada sério. Pelo que tinha descoberto sobre Amy, ela adorava provocar Sophie e vice-versa, as duas se odiavam e eu entendia os motivos que levaram Sophie a se sentir assim, afinal, Amy teve uma grande participação no incidente que a fez perder o bebê que esperava. Me pergunto em como ela seria hoje se sua filha tivesse nascido... Ela teria ficado com Connor? Acho que não... Foi ele quem terminou com ela e acho muito difícil que um filho o faria mudar de idéia. Talvez ela não tivesse seguido a carreira de empresária, talvez eu jamais fosse a conhecer... Mas eu ia querer conhecê-la, iria querer conhecer sua filha, Annie. O quão linda poderia ser uma miniatura de Sophie Trammer? Eu cuidaria dela como se fosse minha filha, eu iria querer que ela fosse minha filha e me chamasse de papai e eu seria o melhor pai que eu pudesse e o melhor companheiro para elas duas, seríamos a família perfeita. Seríamos. No passado. No presente, Sophie está feliz e pela primeira vez eu senti que era de verdade. Eu estava seguindo o conselho de Brian, sendo um cara legal, agindo com maturidade... Mas parece que isso só a afastava mais de mim e isso me matava. Se eu não te amasse Sophie Trammer, já teria desistido de você.

“Davis.” Atendi meu telefone no primeiro toque.

“A Srta. Willians está na recepção, devo avisá-la que vai descer?” Emily perguntou e eu bufei.

“Não, autorize para subir Emily, estou sem saco para descer.”

“Tudo bem senhor, vou avisar.” Ela disse educadamente e desligou.

A última coisa que eu queria agora era lidar com Lindsay, mas infelizmente eu não tinha como cortá-la da minha vida. Ainda, pelo menos.

“Boa tarde, papai!” Lindsay entrou em minha sala sorridente.

“Eu já pedi pra não me chamar assim...” Apoiei meu queixo na mão.

“E como você acha que o bebê vai te chamar?” Ela colocou várias sacolas em cima da cadeira.

“Mas ele me chamando de pai vai ser lindo, você me chamando de pai é esquisito...” Fiz uma careta e ela gargalhou.

“Você é tão engraçado Matt...” Ela tirou algumas coisas de dentro das sacolas e começou a me mostrar. “Olha esses sapatinhos, não são lindos?” Os peguei de sua mão, eram brancos e tão delicados.

“São lindos mesmo... Tão pequenos.” Sorri ainda os olhando, imaginando meu provável filho os usando.

“Eu comprei essas roupinhas também...” Ela começou a me mostrar umas blusas e eu torci o nariz para uma.

“Amarelo? Não tinha uma mais feia?” Falei ironicamente.

“Qual problema com ela?”

“Amarelo não é muito... Sei lá, sem cor e sem graça.” A peguei de sua mão a analisando.

“Mas é cor neutra, se for menino ou menina vai poder usar.”

“Por isso eu disse pra esperar até saber o sexo, ai a gente compra umas cores melhorzinhas.” A devolvi a blusa e ela a guardou de volta na sacola.

“Ele está com as perninhas fechadas, o doutor ainda não conseguiu ver o que era.”

“Então deve ser menina e está preocupada em se cobrir, está certíssima.” Coloquei a mão em sua barriga e ela sorriu. Ainda não estava muito grande, mas já dava pra perceber uma pequena diferença.

“Se for menina...” Ela colocou sua mão sobre a minha. “Vai amar ter um pai como você.” Sorri sem graça e tirei minha mão.

“Com a minha sorte, deve ser menina mesmo.”

“Ia gostar mais se fosse menino?” Ela sentou próximo a mim.

“Vou gostar do bebê não importa o sexo.” Falei sério.

“Eu sei. Mas você acompanhou o crescimento da Megan, a Marissa vai ter uma menina... Seria legal um menininho.”

“Bem... Seria. Mas só espero que ele nasça bem, com saúde... O resto é só resto.” Dei de ombros.

“Eu mal posso esperar para sermos logo uma família.”

“Ér...” Falei um pouco constrangido. “Talvez devêssemos conversar com Marissa depois sobre como devemos agir com o bebê.”

“Como assim?”

“Você sabe... Como devemos fazer quando formos explicar por que não somos casados e por que não moramos na mesma casa... Essas coisas. Quero deixar tudo bem claro com ele desde o começo e já que Marissa é psicóloga, ela pode nos ajudar.”

“Eu achei que...” Ela me olhou em choque.

“Achou o quê?”

“Que iríamos morar juntos.”

“Lindsay...” Respirei fundo. “Não confunda as coisas, já te pedi isso inúmeras vezes. Por favor entenda, se for meu filho eu vou assumir ele, jamais vou te deixar desamparada ou deixar que falte alguma coisa para vocês dois, mas... Eu não te amo Lindsay, não me imagino mais dividindo minha vida com você e sinto muito por isso.” Falei e ela desviou o olhar de mim por um momento.

“Tudo bem... Não é hora nem lugar para conversar sobre isso. É melhor eu ir, estou morrendo de fome e não me alimentei bem o dia inteiro.”

“Você precisa se alimentar bem, está comendo por dois.” Levantei. “Tem um restaurante aqui em frente, eu vou com você até lá.” Ela assentiu se levantando.

“Eu posso deixar essas sacolas aqui e pegar quando voltarmos?”

“Claro, sem problemas.” Falei e saímos da sala. “Emily, só vou naquele restaurante aqui em frente para Lindsay comer alguma coisa, mas eu não devo demorar. Qualquer coisa que você ou Sophie precisarem de mim, eu estou com o celular.” Disse para Emily.

“Está certo Sr. Davis.” Ela sorriu educadamente e Lindsay e eu fomos para os elevadores.

“Então a bruxa já voltou para o trabalho...”

“Sim Lindsay, ela voltou hoje.” Disse impacientemente. “E mais respeito por ela, por favor.”

“Sabia que ela ia voltar logo, vaso ruim não quebra.” Ela riu debochando e eu a censurei com os olhos. “Ok, não está mais aqui quem falou.”

Demoramos no restaurante um pouco mais do que eu acharia que demoraríamos, quando por fim voltamos ao prédio, saímos do elevador e parados ao lado de Emily, estavam Sophie e Ethan, ela olhou com surpresa ao ver Lindsay comigo e logo desviou o olhar de volta para Emily.

“Boa tarde.” Falei secamente com Ethan que apenas acenou com a cabeça em resposta. “Já vai embora?” Olhei para Sophie.

“Já... O Ethan saiu mais cedo do trabalho e veio me buscar.” Ela disse sem olhar para mim.

“Espero que não tenha nenhum problema com isso.” Ethan falou com ironia.

“De forma alguma, eu apenas trabalho para sua namorada, ela é que é a chefe, pode sair a hora que quiser.” Respondi calmamente. “Nos vemos amanhã.”

“Sim, até amanhã.” Ela falou me olhando rapidamente e sorriu para Emily se despedindo.

Ethan colocou sua mão nas costas de Sophie a guiando para o elevador e eu andei a caminho da minha sala, com Lindsay ao meu lado. Olhei para trás antes de entrar e encontrei o olhar de Sophie me observando com tristeza, mas ela desviou rapidamente quando percebeu que eu estava a olhando também e entrou no elevador. Ela está triste por ter me visto com Lindsay? Isso era patético, deveria ser proibido amar tanto uma pessoa e não poder estar com ela.

“Matt...” Lindsay colocou a mão em meu braço me fazendo voltar para a realidade. “Sabe que isso é impossível acontecer, ela está feliz com outro.”

“Isso não é da sua conta.” Disse com a maior calma que eu consegui. “Eu levo suas sacolas até lá embaixo.” Comecei a juntar suas coisas.

“Eu só não quero que você perca tempo com uma causa perdida, quando tem a mim e o seu filho aqui ao seu lado, duas pessoas que te amam de verdade.”

“Lindsay...” A encarei. “Eu a amo.” Lindsay engoliu em seco.

“Não é mulher pra você Matt, vocês nunca dariam certo.”

“Eu que devo saber se ela é ou não mulher para mim Lindsay e se você quer saber, acho que ela é perfeita, não mudaria absolutamente nada nela.”

“A não ser o fato de ela estar namorando.” Ela falou com sarcasmo.

“Tem mais alguma coisa sua, ou é só isso aqui mesmo?” Ignorei seu comentário, ela fez que sim com a cabeça e saímos novamente da sala, a levei até a recepção e pedi que trouxessem seu carro.

Subi e ao invés de ir para minha sala, fui para a varanda. Sentei em uma das cadeiras e fiquei apenas pensando no rumo que a minha vida estava tomando. Isso não está certo, está errado, está muito errado... Tudo deveria ter sido diferente.

“Toc, toc...” Ouvi uma voz e me virei, Brian estava atrás de mim com uma garrafa de whisky e dois copos na mão. “Fui te procurar na sua sala, mas Emily me disse que você tinha descido com Lindsay e Sophie com Ethan.”

“É... Foi um encontro realmente muito agradável.” Voltei minha atenção para a paisagem de Nova Iorque.

“Eu imaginei isso, por isso o whisky.” Ele sentou ao meu lado e colocou a garrafa no chão, me entregando um copo.

“Não é algo meio ilegal? Você sabe... Beber dentro da empresa e no meio do expediente?” Falei tentando conter meu riso.

“Bom, por acaso a chefe maléfica não está e ela só vai saber se um de nós dois contar. Eu não pretendo fazer isso e você?” Ele levantou as mãos e eu peguei o copo.

“Enche até o topo.” Ele riu e encheu nossos copos.

Ficamos bebendo e conversando as besteiras rotineiras. Pelo menos eu tinha o Brian, que sempre estava ali comigo e era um amigo fiel. Por uns momentos me permiti esquecer de Sophie, Lindsay, Ethan e filhos. Por uns momentos eu me senti bem. Não como se estivesse feliz, mas como se não sentisse mais nada... E era bom, era reconfortante. Então eu lembrei de Sophie, o que fez tudo ficar uma merda novamente.

POV Sophie Trammer

Mas é muito vagabunda mesmo... Mulher quando quer consegue mandar mesmo no homem, impressionante. Era claro que aquela Demônia estava usando essa gravidez como desculpa pra se aproximar mais ainda daquela pateta e ele tão inteligente e sagaz que era, caía nessas histórias da Lindsay. Ai que raiva! Eu entendia muito bem o que ela estava fazendo, por que eu havia feito a mesma coisa com Connor, achava que a gravidez ia fazer com que ele volte para mim. Adivinha só Lindsay Demônia? Não voltamos, então nem se anime!

“Está tudo bem?” Ethan colocou a mão em minha perna e eu me assustei. “Está tão calada.” Ele sorriu.

“Está sim.” Peguei sua mão e a beijei. “Só estava aqui pensando em umas coisas do trabalho, estou com umas idéias novas... Fico empolgada.”

“Então correu tudo bem no primeiro dia?”

“Correu sim... Quero dizer, exceto a parte da visita da minha doce e carinhosa madrasta.” Disse irônica. E claro, do encontro incrível com Matthew e a Demônia.

“E o que ela queria?” Ele disse sem tirar os olhos do trânsito.

“Ah, o de sempre... Infernizar minha vida.”

“Você tem, oficialmente, a família mais bizarra de todas!” Ele riu.

“Não são minha família.” Dei de ombros. “O único que ainda escapa dali é o Brian e ironicamente, nem temos o mesmo sangue.”

“E você tem a mim também.” Ele me olhou sorrindo. “E inclusive, sou todo seu o resto do dia de hoje e amanhã, consegui folga.”

“Conseguiu folga?” Repeti confusa. “Mas você é o dono do negócio Ethan, tem folga quando quiser.” Ele ficou calado por um momento e depois segurou minha mão.

“É só forma de falar.”

“Então temos hoje a noite toda só para nós dois...” Coloquei o braço apoiado em seu ombro e comecei a fazer carinho em seu cabelo. “Eu gostava mais quando você deixava o cabelo maior, você está quase careca.” Falei rindo. Ele tinha adotado esse novo visual há algumas semanas e eu odiava esse cabelo tão curto.

“Ele maior dava muito trabalho.”

“Que trabalho Ethan?” Falei debochando. “Você sequer penteava.”

“Não me questione mocinha!” Ele falou engrossando a voz e eu gargalhei.

“Ah, desculpe, esqueci que você é o macho alfa da relação.”

“Que não se repita!” Ele cerrou os olhos.

“O senhor é quem manda capitão...” Disse com sarcasmo.

“Só está dizendo isso pra alegrar meu ego de homem.”

“Você me conhece tão bem.” Sorri inocentemente.

Finalmente chegamos em sua casa, Ethan desceu primeiro e me ajudou a sair do carro, ele pegou minhas coisas e entramos em casa.

“Lar doce lar!” Ele me beijou rapidamente. “Já volto, só vou levar suas coisas lá pra cima.”

“Tá bem.” Ethan subiu e eu dei uma rápida olhada na casa.

Tinha vindo poucas vezes aqui, mas só por ser realmente longe. A decoração era o que eu mais gostava, a casa toda tinha tons claros, sem muitos móveis, o que deixava os cômodos parecerem maiores do que eram. Parei de frente a lareira, onde tinham alguns porta-retratos com fotos de Ethan com o que eu julguei ser seus pais, ele e Kenny, ele de farda recebendo algum prêmio que eu não fazia idéia do que era e um pouco mais do lado, uma foto minha. Uma das que eu tinha tirado quando havia feito o ensaio com Luke, era uma foto de rosto que eu estava sorrindo. Peguei o porta-retrato e fiquei o olhando.

“É o meu quadro preferido, se você quer saber.” Ethan surgiu atrás de mim, me abraçando.

“Eu não sabia que você tinha essa foto.”

“Ken tinha imprimido algumas para escolher quais iam usar naquela campanha, quando vi essa me apaixonei e pedi a ele para mim. Você está sorrindo tão naturalmente e com tanta vontade... Gosto de ver você assim, feliz.” Ele beijou meu pescoço, me fazendo arrepiar e eu coloquei o porta-retrato no mesmo lugar que estava.

Virei ficando de frente para ele e o beijei, ele pôs as mãos em minha cintura e subiu por meus braços, parando em meus ombros, tirando o meu blazer e o jogando no chão. Coloquei meus braços ao redor do seu pescoço e ele desceu as mãos para minhas pernas e me levantou as envolvendo em seu corpo e apoiou minhas costas na parede, me deixando presa entre ela e ele. Sua mão subiu pelas minhas costas, chegando um pouco abaixo do pescoço e começou a puxar meu zíper do vestido.

“Ethan, espera.” Disse ofegante e ele parou imediatamente.

“O que foi? Está doendo alguma coisa? É a perna?” Ele me olhou preocupado. “A gente pode comer primeiro se você quiser, ou ver televisão, ou fazer qualquer outra coisa que você queira e...”

“Ethan...” Cobri sua boca com minha mão, o fazendo se calar. “O meu cabelo prendeu no zíper do vestido, eu só ia pedir um segundo para soltá-lo.” Falei tentando não rir. “Mas a gente pode ver televisão ou fazer qualquer outra coisa... Jantar se você quiser já que você que é o macho alfa, você quem manda.” Sua expressão suavizou e ele encostou sua testa em meu ombro aliviado.

“Fiquei com medo que tivesse te machucado de alguma forma.” Ele pôs uma mão em meu rosto.

“Olha, vamos fazer um trato. Se, por acaso, fizermos alguma coisa que me incomode ou me machuque, eu prometo que vou deixar você saber disso.”

“Certo...” Ele falou ainda um pouco tenso e eu o olhei confusa.

“Por que todo esse drama? Não é como se fosse nossa primeira vez.” Sorri.

“Eu sei, nossa primeira vez foi mais tranqüilo...” Ele esboçou um sorriso. “Eu estou com essa vontade estúpida de que seja perfeito hoje.”

“Nós dois estamos aqui, sozinhos, na santa paz da sua casa... Eu não vejo como daria para ser mais perfeito do que isso.”

Ethan me beijou, sem o desespero da primeira vez, foi calmo, lento e muito gostoso. Parecia que estávamos dando o nosso primeiro beijo, quando geralmente as pessoas vão com cautela, mas não era ruim, era incrivelmente bom. Ele começou a andar e quando percebi, já estávamos subindo as escadas. Entramos em seu quarto e ele me colocou no chão com cuidado, andou ficando atrás de mim, colocou meus cabelos de lado e abriu meu zíper, deixando o vestido cair no chão. Senti-me um pouco sem graça e não conseguia me explicar o motivo disso, Ethan se aproximou beijando minha nuca, com uma mão em volta da minha barriga, coloquei minha mão por cima da sua e fechei os olhos aproveitando a sensação de tudo que estava sentindo no momento. Tinham acontecidos tantas coisas nos últimos meses, na sua maioria coisas ruins, principalmente ter visto Matthew e Lindsay juntos hoje como uma família feliz, tinham me deixado um pouco abalada, mas estar ali naquele momento com Ethan fazendo eu me sentir tão única, me fazia querer aproveitar o momento e eu estava disposta a aproveitá-lo. Virei para ele e levantei sua blusa a tirando, coloquei uma mão em seu pescoço e outra em seu peito e nos beijamos com força e desejo, ele me pegou no colo novamente e sentou comigo em sua cama, desabotoou meu sutiã e alisou minhas costas de cima abaixo, passando pelas minhas coxas e apertando minha bunda, me fazendo gemer, ele desceu os beijos por meu pescoço e puxou a lateral da minha calcinha, a rasgando e repetindo o mesmo gesto do outro lado, virou me deitando de costas na cama cuidadosamente, passei as unhas pelo seu abdômen e parei no botão da sua calça, o abrindo, ele se levantou tirando a calça junto com a cueca e voltou a ficar por cima de mim.

“Eu só quero que saiba que passei muitos meses tendo que reprimir meu desejo e tesão por você.” Ele levantou meu queixo com a mão e o mordeu. “Então não vou me contentar só com umazinha...” Ele mordeu de novo com um pouco mais de força. “Mas você pode pedir para eu parar a hora que quiser.” Ethan olhou em meus olhos, sério e eu revirei os meus.

“Quer calar logo essa boca e me beijar?!” Falei impaciente, ele riu e me beijou por mais longos minutos, ou horas... Eu perdi completamente a noção do tempo.

Estávamos suados, ofegantes, deitados um do lado do outro, tentando de alguma forma recuperar o nosso fôlego.

“Isso foi...” Ele começou a falar, mas se calou respirando pesado.

“Uau.” Falei me abanando, por que mesmo com o ar condicionado na temperatura ‘pólo norte’, ainda estava morrendo de calor.

“É... Uau.” Ele me olhou sorrindo.

“Então é isso que acontece quando se fica meses reprimindo seu desejo?” Falei com diversão.

“Eu estou um pouco surpreso também...” Ele ficou de lado, apoiando a cabeça no braço. “Quer descer pra comer alguma coisa?”

“Honestamente, não consigo mover um músculo sequer, quem dirá descer...” Sorri sem graça.

“Minha coragem pra descer também não está muito grande.” Ele colocou a mão na minha cintura. “Mas posso trazer aqui pra cima algo que você queira comer.”

“Eu não estou com fome, de verdade.” O beijei rapidamente.

“Então... Banho.”

“Isso é um convite?” Falei e ele encostou sua testa na minha.

“Não, é uma intimação.” Ele se levantou rapidamente e me pegou no colo, indo para o banheiro.

Meus banhos não tinham nada de sexys no momento, eu tinha que ficar sentada para não molhar a bota, mas Ethan não parecia se importar, geralmente ele ou Luke me ajudavam nessa parte, ele não gostava que Luke me desse banho, mesmo eu explicando que, por motivos óbvios, eu não fazia o tipo de Luke e eu não tinha nenhum problema em ficar sem roupa na frente dele... Parando pra pensar um minuto, qualquer um deles poderiam me dar banho, eu tinha ficado pelada na frente de todos eles mesmo. Perfeita definição de vadia, Sophie... Ri do meu próprio pensamento. Terminamos de tomar banho, Ethan me deu uma camisa sua para eu dormir, sentamos na cama e ele ficou atrás de mim, penteando meus cabelos.

“Tem noção do quão fofo isso é?” Disse sorrindo.

“O que é fofo? Eu penteando seu cabelo?” Ele perguntou e eu fiz que sim com a cabeça.

“A gente parece um casal normal.”

“Nós somos um casal normal!” Ele se levantou um pouco e beijou meu rosto. “Eu gosto do seu cabelo, principalmente quando você o deixa solto.”

“Fazem anos que eu uso o cabelo do mesmo jeito, estava pensando em mudar um pouco...”

“Hum... Só não corte ou pinte.”

“Mas se eu não cortar e nem pintar, como eu vou mudar?” Disse rindo.

“Eu tenho uma idéia...” Ele se levantou e sentou de frente para mim. “Você usa o cabelo repartido no meio, então...” Ele penteou minha franja a deixando de lado. “Pronto, linda, penteada e cheirosa.” Ethan me beijou e voltou a sentar atrás de mim, me abraçando.

Ficamos um pouco em silêncio, apenas fazendo carinho um no outro e eu fiquei observando a minha perna.

“Acha que vai levar muito tempo até que eu possa andar sem essa bota?” Perguntei para ele.

“Eu não sei... Acho que seu raio-x é próxima semana é na próxima semana, ai dependendo do resultado o Dr. Harper vai nos dar uma resposta, por que talvez ainda tenha que...” Ethan se calou e eu virei o rosto em sua direção.

“Ainda tenha que o quê?”

“Nada Sophie, não precisa se preocupar ta?”

“Então me fala, se não é nada demais.” Dei de ombros. Ele desviou o olhar de mim e voltou a me olhar cauteloso.

“Acho que existe a possibilidade de operarem sua perna de novo.”

“Mas por que acha isso?”

“O seu médico tinha conversando comigo um pouco antes de dar sua alta.”

“Por que você não me disse nada Ethan?” Falei incrédula. Como ele poderia ter escondido algo assim de mim?

“Por que eu não queria te preocupar e não é nada certo, ele só me disse que talvez fosse preciso, se eu te falasse alguma coisa você iria ficar nervosa e preocupada de graça.” Nesse ponto ele estava certo, por que agora eu estava muito preocupada e muito nervosa com essa história, mas não gostava de mentiras.

“Eu entendo que só estava pensando no meu bem...” Suspirei. “Mas eu não gosto que me escondam coisas, isso inclui você, principalmente.”

“Tudo bem... Isso não vai se repetir, eu prometo.”

“Promete mesmo? Sem mais segredos?” Levantei o dedo mindinho.

“Daqui para frente, sem mais segredos.” Ele levantou o mindinho apertando o meu dedo. “Vem, vamos dormir.” Ethan me puxou para si e deitamos de lado, com ele me abraçando.

Quando acordei, Ethan ainda estava dormindo, levantei com todo cuidado para não o acordar, já que ele estava de folga, tinha direito de dormir mais um pouco. Peguei meu celular e vi que eram 6:30hrs, levei minha bolsa para o banheiro e tomei um banho rápido, aproveitando a cadeira que tinha ficado ali na noite anterior, nem molhei meus cabelos por que não teria tempo de secá-los antes de sair. Tirei minha roupa da bolsa e a vesti com cuidado, uma calça social preta, de cintura alta e uma camisa branca de seda, prendi meus cabelos em um rabo de cavalo e me maquiei. Antes de me trocar já havia mandado uma mensagem para o motorista com o endereço de Ethan e ele respondeu que já estava vindo me buscar. Não ia fazer Ethan dirigir por toda cidade só para me deixar no trabalho quando ele deveria ficar em casa aproveitando o seu dia de descanso. Quando saí do banheiro, Ethan se moveu e piscou algumas vezes, acordando.

“Que horas são?” Ele perguntou sonolento.

“São 7hrs20min dorminhoco.” Sentei na cama ao seu lado.

“E por que raios você já está de pé e vestida?” Ele resmungou.

“Por que eu vou trabalhar né...” Bati em sua testa.

“Ah é... Já estava acostumando com você só em casa.” Ele sentou e beijou meu rosto. “Só vou trocar de roupa e vou te deixar.”

“Não precisa, eu já falei com o motorista, ele já está vindo para cá... Acho que daqui a pouco chega.”

“Nada disso, eu vou te deixar.” Ele se levantou e eu fiquei de pé cruzando os braços.

“Amor, relaxa, vai dormir, vai levantar peso, sei lá...” Falei rindo. “O motorista já está vindo de qualquer forma, não vou fazer o coitado voltar o caminho todo.”

“Está bem...” Ele coçou a cabeça. “E o que eu faço então?”

“Você podia fazer uma xícara bem grande de café pra mim né?” Sorri docemente e ele riu.

“Já vou trazer.” Ele me beijou rapidamente. “E não desce sem mim, você pode se machucar.”

“Sim senhor.”

“Como quer o café?” Ele falou andando para a porta.

“Preto, bem forte e pouco açúcar.”

“Credo!” Ele saiu rindo e eu voltei a me arrumar.

Entrei no banheiro de novo para juntar minhas coisas, coloquei minha bolsa em cima da cama e comecei a guardar tudo. Meu celular tocou alertando uma mensagem, tentei andar rapidamente até ele, por que poderia ser o motorista avisando que já tinha chegado, mas algo prendeu em minha muleta, me fazendo perder o equilíbrio e cair de cara no chão.

“Ai...” Gemi baixinho para não assustar Ethan.

“Sophie? Está tudo bem?” Ele gritou.

“Está, eu só derrubei a cadeira, não foi nada!” Tentei me por em pé, não tinha sido nada demais mesmo, mas meu joelho estava um pouco dolorido.

Em quê eu tropecei? Olhei para o chão e vi uma alça de bolsa preta, saindo debaixo da cama. O que é isso? Sentei e a puxei para fora, era uma bolsa enorme e pesada. Por que isso está escondido aqui? Olhei para o chaveiro pendurado nela, onde estava escrito U.S. Army 2015. Forças armadas? Abri a bolsa e tirei o que tinha dentro, sem querer acreditar no que estava vendo. Levantei e olhei para porta, onde Ethan estava parado com uma xícara na mão e me encarando.

POV Ethan Cross

A vida é mesmo engraçada... Uma caixinha de surpresas. Alguns meses atrás, se alguém me falasse sobre amor, relacionamentos e tudo o que eles trazem, eu iria rir e repetir meu discurso típico: Não tenho tempo nem paciência para o amor. Ai então, eu conheci Sophie Trammer. Desde o primeiro momento que eu coloquei meus olhos nela, eu não tinha mais conseguido pensar em outra coisa senão em Sophie Trammer. Talvez pelo fato de que ela estava só de camiseta e calcinha... É, isso definitivamente ajudou com que eu ficasse pensando nela o tempo todo. Mas tirando esse fato de ela ser gostosa pra cacete, acho que um dos fatores que me fizeram apaixonar por ela, foi poder tê-la conhecido como jamais tinha conhecido alguém, a intimidade e a cumplicidade que nasceram entre nós dois e foi evoluindo para algo mais forte eu nunca tinha tido por mais ninguém.

O exército surgiu na minha vida do nada, eu queria ajudar pessoas, salvar pessoas e ser importante para elas, acho que no fundo sempre quis ser algum tipo de super herói, da minha própria maneira. Mal posso descrever a sensação que tive quando fiz o meu primeiro resgate... Foi algo surreal, a adrenalina, a emoção e mais dezenas de sentimentos todos juntos ali dentro de mim, eu senti que ali era meu lugar... Até que um dia, eu perdi toda minha equipe, todos os meus amigos, em questão de segundos. Eu não conseguia mais lembrar com muita clareza como lembrava antes de todos os detalhes, acredito que por ter passado tanto tempo sem querer falar sobre ou sequer pensar, pouco a pouco essas imagens foram sumindo da minha memória, só uma coisa não foi possível esquecer: Os noves caixões, com bandeiras do país em cima e sendo recebidos com tiros de honra por oficiais do exército. O som do choro dos familiares ainda era muito real para mim, eu os vi chorar, gritar e passar mal, enquanto os nove caixões iam para debaixo da terra. Onde eu estava? Num quarto de hospital, com mais da metade do corpo coberto por queimaduras e acompanhando o enterro pela televisão. ‘Não foi sua culpa! Você não poderia salvá-los! Você estar vivo é um milagre, aceite-o!’, todos repetiam essas frases para mim, mas não fazia muito sentido, eu não conseguia entender por que entre tantos companheiros, com enormes famílias e até filhos, tinham morrido, enquanto eu que era praticamente sozinho no mundo, estava ali. Embora não passasse pela minha cabeça voltar a servir, eu não posso negar que eu sentia falta. Não dos tiros, bombas e guerras, como a própria Sophie descreveu para mim, mas de ser útil. Algo dentro de mim me dizia que eu tinha sobrevivido por que podia fazer mais, mas eu escolhi não ouvir essa voz e continuar seguindo minha vida da forma que estava indo. Mas há algumas semanas, um convite mudou tudo.

“Quero que venha treinar nossas novas equipes Cross.” O General Layon disse.

James Layon era um homem nos seus 50 e poucos anos, mas mesmo assim ainda intimidava. Tínhamos quase o mesmo tamanho, eu era um pouco maior, ele era grisalho e jamais, em todos os meus anos servindo, vi ele fraquejar ou demonstrar algum tipo de emoção. Ele havia vindo me visitar no hospital, depois do incidente, mas apenas disse: ‘Um Capitão do exército americano não demonstra fraqueza. Supere o que aconteceu e volte para o serviço o quanto antes’.

“Treinar novas equipes?” Repeti tentando assimilar as coisas. “General, eu agradeço o convite e é uma honra terem pensado em mim, mas não acho que sou o homem indicado para o serviço.”

“Não tomo decisões erradas Cross, a essa altura já deveria saber disso.” Ele tomou um gole do seu café. “Sabe que não aceitei seu pedido de dispensa, queria que tivesse continuado conosco.”

“Eu entendo senhor, mas não estava pronto para voltar para alguma missão e não acredito que esteja.”

“Não quero que volte para missões, você é esperto Cross, sempre se destacou entre os demais, por isso se tornou capitão rápido, se tivesse continuado hoje você seria, no mínimo, um tenente.” Ele recostou-se na cadeira. “Temos novos jovens entrando em nossa unidade. Eles têm vontade e entusiasmo, porém...”

“Indisciplinados?”

“São um horror como oficiais. Quero alguém que os ensine a cumprir ordens, horários... Nossa equipe que está os treinando agora fizeram o seguinte questionamento: O que você faria se tivesse que passar com um companheiro ferido em meio há arames farpados? As respostas foram das mais imbecis possíveis.” Ele bufou e eu tentei não rir. “O que você faria Cross? Deitaria no chão para seu companheiro passar?”

“Acho que eu sou mais do tipo que cortaria o arame senhor.”

“Viu? Era isso que eu queria deles. Pensamento rápido, estratégico e lógico. Você tem a sabedoria e a experiência Cross, pode ajudar esses idiotas a salvarem vidas futuramente. E não me faça implorar, por que não sou homem disso.”

“Eu sei que não é senhor.” Esbocei um sorriso. “Mas recentemente minha namorada sofreu um acidente e está em coma no hospital...”

“Sinto muito por isso.”

“Obrigado.” Assenti. “Ela não concordaria muito com isso, então eu gostaria de pelo menos debater com ela sobre o assunto. Se o senhor não se importar, é claro.”

“Tudo bem... Mas quando acha que isso será possível?”

“Em breve, eu espero.”

“Ok, vamos mantendo contato então e pense bem, sabe melhor do que eu que seu lugar é lá, trabalhando conosco.” Fiquei em silêncio e ele se levantou tirando a carteira do bolso e jogando uma cédula em cima da minha mesa. “Por minha conta hoje, o próximo café você paga.”

“Com certeza senhor.” Ele saiu e eu fiquei como que mais uma meia hora apenas sentado pensando no que deveria fazer.

Sophie já tinha acordado do coma e estava se recuperando, mas não reagiu muito bem quando contei sobre o trabalho no exército, o que me deixou um pouco sem esperanças de que ela iria aceitar isso. Prometemos conversar sobre quando ela recebesse alta, mas Layon estava me colocando contra a parede para ter uma resposta o mais rápido possível e eu não o culpava, se ele tinha vindo até mim, é por que precisava que eu estivesse lá e semanas já se passaram desde que ele me fez a proposta. A questão é: Eu queria e estava pronto para voltar para o exército? Depois de refletir sobre isso, cheguei a conclusão de que sim, eu estava pronto e eu queria voltar. Mas não tinha com quem conversar ou de quem pedir uma segunda opinião, Ken também não aprovava muito essa minha decisão e se falasse com Luke ele contaria para Sophie, logo, começaria a terceira guerra mundial. Em um ato de desespero, fui atrás da única pessoa que poderia entender o que eu estava passando.

“Ethan?” Black disse surpreso ao me ver sentado na recepção, fiquei de pé e apertamos as mãos.

“Tem alguns minutos?”

“Claro. Aconteceu alguma coisa? Sophie está bem?” Ele disse preocupado.

“Sim, ela está ótima, se recuperando bem.” Tentei o tranquilizar. “Eu preciso conversar com você sobre outra coisa.”

“Vamos para o meu escritório.” Ele falou e eu assenti.

Black autorizou minha entrada e subimos pelo elevador até o andar onde ficava sua sala. Contei sobre a proposta que tinha recebido e de como estava receoso de aceitar por causa da reação de Sophie.

“É uma situação complicada...” Black disse.

“Nem me fale.” Bufei. “Não sei o que fazer Black... Não entendo essa aversão da Sophie para que eu volte a servir.”

“Acho que ela está preocupada com o seu bem estar Ethan.”

“Mas eu expliquei que não vão mais me mandar para missões.” Disse e Black ficou calado por um momento.

“Ela já perdeu muitas pessoas, acredito que está com medo de perder mais uma. Ela te contou sobre a mãe dela?”

“Não muito... Ela não fala sobre o que aconteceu na vida dela antes de mim e eu prefiro não perguntar, não quero que sinta pressionada a me dizer algo.”

“Ela foi embora quando Sophie era um bebê ainda, ela foi criada apenas pelo Richard e nós sabemos que ele não é referência quanto aos quesitos amor e carinho.”

“Então você é amigo da família há um bom tempo.”

“Richard e eu éramos melhores amigos desde o colégio, mas não concordei com algumas atitudes que ele teve e acabamos por nos afastar, mas a Sophie... Não tinha como não se apaixonar por ela, então sempre ia visitá-la quando possível, ela é como se fosse uma sobrinha para mim. Temos muito respeito um pelo outro e eu a conheço o suficiente para saber quando ela está com medo de algo. E na verdade achei que ela não iria mais querer se relacionar com ninguém, já que nas duas vezes que ela tentou isso, não terminou da forma mais agradável possível. Primeiro com Connor e depois com...” Ele se calou e eu sabia bem de quem ele estava falando.

“Matthew.” Disse e ele assentiu. “Ele ainda é afim dela não é?”

“Ele é.”

“Outro problema que preciso lidar...”

“Não acredito que seja problema Ethan. Se ela quis ficar com você, não tem com o que se preocupar, jamais o trairia com outra pessoa.”

“Então o que eu faço Black? Se fosse você no meu lugar, o que faria?”

“Pode soar clichê, mas realmente entendo os dois lados da história. Sei o que ela sentindo, mas também não acho certo que baseie suas decisões de vida na opinião de outra pessoa que não seja você. Se você não aceitar, pode acabar se arrependendo futuramente, ou não... Não saberemos. Mas se aceitar, por favor, apenas não faça minha menina sofrer, é tudo o que eu peço.”

“Eu não vou Black, prometo.” Levantei. “E obrigado por me ouvir, ela sempre fala com muita ternura de você e eu vejo o porquê agora.”

“Eu que agradeço por ter me procurado. É um homem de sorte, tem uma mulher incrível ao seu lado. Ela vai te apoiar, não importa a decisão.” Black estendeu sua mão e eu a apertei.

Saí do prédio com a minha decisão tomada. Eu iria voltar para o exército, só não sabia como dizer isso para ela. Black tinha razão, ela iria me apoiar qualquer que fosse minha decisão então eu tinha que confiar que isso iria acontecer. Mas e se ela não apoiasse? Ela poderia usar isso como desculpa para terminamos e voltaria para o banana do Matthew. Tá, mas... E se ela não soubesse? Foi quando eu tive a brilhante e maldita idéia de simplesmente mentir, assim, na cara dura.

Ela sempre botou a maior pilha pra que eu me dedicasse mais a boate, fosse mais presente e mais interessado no que acontece por lá e eu poderia me utilizar disso. Então falei para ela que iria ficar indo todos os dias para lá, trabalhar das 8hrs as 17hrs como qualquer bom homem faria e enquanto ela acreditava nisso, eu estaria fazendo o que eu gosto e que nasci para fazer. Ela não desconfiou, pelo contrário, estava orgulhosa de mim e não tocou mais no assunto sobre exército, eu sabia que teria que contar para ela uma hora ou outra, mas eu estava tentando adiar isso o máximo que eu conseguisse. Acho que quando tive essa idéia tão magnífica, não passou pela minha cabeça que ela estaria em pé, no meu quarto, de frente para mim, segurando a minha farda do exército na mão, minha arma na outra e me olhando com tanta surpresa e decepção, como ela estava fazendo nesse exato momento.

“Eu posso explicar.” Coloquei a xícara com seu café em cima da minha mesa e me aproximei dela.

“Estou ansiosa por isso.” Ela me disse com raiva e eu sabia que não importava os argumentos que eu usasse, já era uma batalha perdida.

“É minha farda antiga.” Menti o que a fez ficar mais puta comigo.

“Para de mentir Ethan!” Ela jogou minhas coisas na cama. “Então você está trabalhando na boate e voltou a servir?”

“Não exatamente...” Disse receoso e ela arregalou os olhos em choque quando entendeu o que eu quis dizer.

“Não estava indo para a boate, não é?” Fiz que não com a cabeça. “Como você pôde mentir pra mim desse jeito? E a promessa de ‘sem segredos’?” Ela gritou.

“Olha só, tecnicamente, eu disse que sem segredos a partir de agora. Então eu não quebrei promessa alguma.” Ela me fuzilou com os olhos. Você não está se ajudando muito Ethan...

“Tem munição nessa arma?”

“Tem, por quê?”

“Por que do nada, não sei o motivo, mas me deu uma vontade de meter um tiro nessa sua cabeça oca!” Que comecem as ironias...

“É melhor eu guardar isso...” Peguei a minha arma e a guardei na gaveta do criado mudo.

“É melhor mesmo.” Ela falou e respirou fundo. “Como eu fui burra... Por isso o cabelo curto e por isso nunca mais está em casa.”

“E eu tenho ótimos motivos pra não ter contado sobre isso.”

“Ah, é? Me diz pelo menos um motivo que seja bom o suficiente para me convencer a não cometer um homicídio agora mesmo!”

“Bem, primeiro de tudo, você não deveria ter descoberto assim dessa forma. Aliás, o que você estava fazendo mexendo nas minhas coisas?” Cruzei os braços tentando reverter minha situação.

“Eu não estava mexendo nas suas coisas criatura! Eu tropecei na alça da merda dessa bolsa e caí no chão, fui ver o que era e surpresa! Descubro que meu namorado é um mentiroso escroto!” Ela gritou com mais raiva ainda.

“Você caiu? Mas está bem? Machucou alguma coisa?” Me aproximei mais a examinando a procura de machucados.

“Desencosta de mim Ethan!” Ela andou se afastando.

“Sophie eu amo o que eu faço e amo você também. Por que eu não posso ter os dois?”

“Acho que você perdeu esse direito quando escolheu mentir para mim de uma forma tão baixa.” Ela disse olhando pela janela. “Meu motorista chegou, vou trabalhar.”

“Espera, deixa eu ir com você, a gente precisa conversar.”

“Ethan, o termo ‘vou trabalhar’ é só um eufemismo para ‘não consigo mais olhar pra sua cara’. Deu pra entender?” Sophie pegou sua bolsa e a muleta e foi andando para a escada.

“Não vai descer essa escada, você pode cair e vai ser pior!” Fui andando atrás dela.

“Não preciso da sua ajuda, pode deixar que eu me viro sozinha!” Ela tentou descer o primeiro degrau e levou quase 1hr pra conseguir essa proeza.

“Mas é muito cabeça dura mesmo...” Bufei e desci ficando de frente para ela e a coloquei por cima do meu ombro.

“Me solta Ethan! Sabe que eu odeio quando faz isso!” Ela bateu nas minhas costas, na tentativa fracassada de me fazer obedecê-la.

“Só mais um minuto meu amor!” Disse com sarcasmo.

“Amor é o cacete!” Ela resmungou.

Chegamos ao fim da escada e eu a coloquei no chão.

“Pronto senhorita. E de nada.”

“Não vou agradecer, não fez mais que sua obrigação.” Ela se virou indo para a porta e eu a segurei pelo braço.

“Acha justo sair daqui desse jeito, brigada comigo? Você deveria ficar aqui para a gente resolver nossos problemas e não ir trabalhar.”

“Sabe o que é Ethan? Eu amo o que eu faço!” Ela falou imitando o que eu tinha dito a poucos momentos atrás. “E não me culpe, não fui eu quem mentiu todo esse tempo.” Ela saiu e entrou no carro indo embora.

Merda! Me joguei no sofá. O que foi que eu fiz?


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