Meu apartamento nunca cheirou tão deliciosamente bem. A comida parecia estar maravilhosa, o clima tinha ficado mais leve com o passar do tempo e resolvi esquecer essa história de fotos pelo menos por hoje, por aquele momento. Nos terminávamos de preparar o jantar enquanto tomávamos um vinho maravilhoso. Eu já tinha tomado banho e me trocado, escolhi o vestido rosa, por que além de Kenny ter dito que era o mais bonito, Luke disse que dava a falsa ilusão de que eu era inocente. Ethan tinha ido em casa e voltou ao final da tarde, Baby estava fazendo bagunça para variar. Tudo parecia perfeito, exceto pela ausência de Matthew.

“Se animou com o natal no fim das contas?!” Matthew falou rindo, estávamos nos falando por vídeo chamada no celular.

“Se não pode vencê-los, junte se à eles.” Dei de ombros e sente em minha cama.

“Você está linda, deixa eu te ver de corpo todo.” Ele disse e eu fiquei de pé esticando o braço pra ele conseguir me ver. “Perfeita, como sempre.” Ele sorriu.

“Você está muito bonito também Sr. Davis. Está usando seu presente de natal.” Sentei de novo na cama.

“Estou desde que ganhei, você disse que dá sorte, sorte nunca é demais. E me lembra você.”

“Você precisa parar de falar essas coisas enquanto está longe, sério.”

“O lado bom é que já já estou de volta, ai você pode matar toda essa saudade que você está de mim.”

“Quem disse que eu estou com saudades de você?” Me fingi de ofendida.

“O sorriso que você não tirou do rosto desde que começamos a nos falar te entregou.” Ele riu abertamente e eu me senti corando. “E o fato de você estar vermelha agora também.”

“Te odeio.” Bufei revirando os olhos.

“Não odeia não e estou com saudades também.”

“Sophie...” Ouvi alguém me chamando. “Luke quer saber se já podemos jantar.” Ethan abriu um pouco a porta do meu quarto e falou.

“Sim, ér... Eu estou indo já, só um minuto.” Sorri educadamente, ele assentiu e saiu fechando a porta.

“Quem era?” Matthew franziu a sobrancelha.

“O irmão do Kenny veio ceiar com a gente.” Disse relutante, mas não queria mentiras entre nós dois.

“O mesmo irmão que te viu de calcinha?” Ele falou sério.

“Achei que a gente já tinha superado essa fase...”

“Você com certeza superou. Não gosto desse cara e não quero ele ai com você.”

“Você quer realmente ter essa conversa agora? Sério mesmo?” Disse impaciente. “Deus, ele só veio comer e passar o natal com o irmão, não tem nada demais.”

“Ótimo, se está tudo bem por você, por que eu deveria reclamar né? Afinal de contas, minha opinião não conta muito pra você.” Ele falou ironicamente.

“Matthew... Não acredito que você pensa dessa forma. Principalmente depois de...”

“Olha só, não precisa falar mais nada, não quero atrapalhar seu jantar. Depois falamos.” E ele desligou a chamada.

Nossa... Sério mesmo? Precisava de isso tudo? Parecia que não importava o que eu fazia para Matt, nunca era o suficiente para ele entender que eu queria ficar com ele e mais ninguém. Resolvi tentar não me estressar com isso, sabia que Matthew era explosivo assim, mas depois sempre voltava atrás e pedia desculpas, não ia deixar isso destruir o natal. Voltei para a sala e enchi minha taça com vinho, me controlando para não tomar tudo de uma vez.

“Então... Lu, eu acho que esqueci umas sacolas no porta malas do carro. Pode pegar elas pra mim?” Kenny colocou a mão no ombro de Luke.

“Claro.” Ele beijou seu rosto e foi andando em direção a porta.

“Pode ajudar também Ethan, foram muitas sacolas.” Kenny disse e Ethan assentiu acompanhando Luke.

“Esqueceu tantas sacolas assim?” Perguntei com diversão.

“Na verdade, eu queria ficar uns minutos sozinho com você.”

“O que houve?” O olhei preocupada.

“Eu quero saber qual sua opinião sobre um determinado assunto...” Ele disse receoso e eu o olhei curiosa. Ele respirou fundo e tirou uma caixa de dentro do bolso me entregando, a peguei e quando abri, haviam duas alianças prateadas lindas.

“Ai meu Deus...” Cobri a boca com a mão. “É o que eu estou pensando?”

“Eu quero pedir Luke em casamento.” Ele falou sério. “Acha que ele vai aceitar?”

“Se eu acho? Kenny...” Olhei para as alianças novamente. “São perfeitas, vocês dois são perfeitos na verdade. Eu não poderia estar mais feliz.” O abracei forte e ele retribuiu. “Quando pretende pedir?”

“Ele me falou sobre a festa de ano novo que você dá na Trammer’s...”

“Sim, todos os anos.”

“É o momento perfeito. Vou pedir assim que der meia-noite!” Ele pegou a caixinha e guardou no bolso de novo.

“É muito romantismo pra uma pessoa só!” Suspirei. “Não acredito que me contou isso, agora vou ter que guardar esse segredo até próxima semana!”

“Você tem que guardar mesmo, quero que seja surpresa. E eu precisava saber se você aprovava.”

“Se eu aprovava?” Falei confusa.

“Bom, os pais de Luke não moram aqui então, você é meio quem tem que dar a ‘benção’ para nós dois.” Ele sorriu.

“A ‘benção’ já está mais do que dada e eu exijo ser madrinha, não aceito cargo menor.”

“Muito obrigado Sophie, muito mesmo.” Ele me abraçou de novo.

“Eu que agradeço.” Beijei seu rosto. “Faça meu amigo feliz.”

“Prometo que irei.” Ele sorriu.

Nem conseguia acreditar ainda... Ele iria pedir Luke em casamento. Isso definitivamente mudou meu humor, eu torcia muito pelos dois e esperava que desse tudo certo e Luke dissesse: Aceito!

“Ken, o porta malas estava vazio.” Luke disse entrando em casa seguido de Ethan.

“Ah... Sim, eu me confundi... Eu havia tirado todas.” Kenny disse e eu tentei conter o riso.

“Ken precisa aprender a ser mais discreto.” Ethan sussurrou ao meu lado.

“O que quer dizer?”

“Eu sabia que não tinha sacolas no carro.”

“Então por que desceu?”

“Por que eu entendi que ele queria falar com você sobre... Bem, você sabe.” Ele disse falando mais baixo ainda. Olhei para Luke e Kenny na cozinha, eles estavam rindo sobre alguma coisa.

“Como assim? Você sabe do pedido?”

“Se eu sei? Fui eu quem escolheu aquelas alianças.” Ele sorriu triunfante.

“Como eu vou guardar esse segredo dentro de mim até o ano novo? Eu vou explodir até lá.” Sussurrei também.

“Nem me fale...” Ele fez uma careta.

Sentamos para jantar e a comida não só parecia que estava gostosa, estava tudo uma delicia. Comemos, repetimos, bebemos e rimos. Rimos muito. Ao todo, ao longo da noite, já tinha olhado meu celular pelo menos umas 500 vezes, esperando uma ligação ou pelo menos uma mensagem de Matthew, mas nada veio. Luke me flagrou besbilhotando o celular em uma dessas vezes e me olhou com a sobrancelha levantada.

“Não acredito que está trabalhando.”

“Não estou. É que...” Mordi o lábio e coloquei o celular de volta em cima da mesa. “Matt e eu tivemos um mal entendido e eu estava esperando que ele fosse me ligar ou algo... Mas nada Luke, ele simplesmente desapareceu.”

“Sophie, não precisa ficar ansiosa assim. Ele deve estar tentando ter um bom momento em família e nós sabemos bem que ele pode falar as barbaridades que só ele fala, mas no fim ele se arrepende.”

“É tem razão... Ele viajou pra ficar com a família. Estou sendo muito grudenta?”

“Não, está sendo normal. O que é muito raro... Um milagre de natal.” Ele riu e Ethan voltou a mesa com Kenny.

“O que é um milagre de Natal?” Ethan disse sentando.

“Nada demais... Vamos abrir os presentes?” Luke falou animado e andando rapidamente até a árvore para pegar as caixas com os presentes que ele havia comprado para nós.

Depois dele entregar os presentes de Ethan e Kenny, ele entregou um pequeno embrulho e eu já sabia que era um novo pingente para meu bracelete. Abri e tirei de dentro um pequeno coração, olhei para ele curiosa para a explicação.

“Um coração?” Disse.

“Não importa o que você ache ou que diga que não tem um. Você tem o coração mais bonito e verdadeiro de todos.” Ele falou e beijou minha testa, eu o abracei forte.

“Bom, não posso dizer que não tenho um mais.” Sorri pra ele. “Minha vez de entregar os presentes!” Andei até a árvore de natal, peguei um envelope dourado e uma caixa. “Esse aqui, é para vocês dois.” Entreguei a Luke e Kenny. Eles abriram e me olharam surpresos.

“Passagens de avião?” Kenny disse sorrindo.

“Caribe meu amor.” Pisquei pra ele. “Eu deixei a data em aberto para que vocês possam planejar, mas já fiz reservas pra um resort maravilhoso, vocês podem ir quando quiserem!”

“Sophie... Isso é perfeito! Muito obrigado!” Luke falou animado.

“Imagina, é um prazer. E isso aqui é pra você.” Entreguei a caixa para Ethan. Ele abriu e começou a gargalhar.

“O que é?” Luke perguntou curioso.

“Uma caixa de preservativos.” Ele mostrou para todos. “Obrigado Sophie, vai ser muito útil.” Ethan falou ainda com diversão.

“Ah você sabe como eu sou, sempre preocupada com as necessidades dos outros!”

“Eu comprei uma coisa pra você também Sophie.” Kenny se levantou, pegou um embrulho e me entregou. Sorri pra ele e abri meu presente.

“Ai meu Deus...” Disse rindo. “Luvas rosas!” As tirei de dentro do embrulho.

“Eu achei sua cara, não tinha como não comprar pra você!”

“Eu amei Kenny, vou usá-las em breve eu prometo.” Soltei um beijo no ar pra ele.

“Você luta?” Ethan disse surpreso.

“Luto... Mas é um hobby só.” Disse ainda admirando minhas luvas lindas.

“Legal. Podíamos treinar juntos qualquer dia...”

“Tá, ia ser legal te dar umas porradas.” Olhei pra ele e sorri.

Já era tarde da noite, Luke e Kenny estavam sentados no sofá brincando com Baby, Ethan tinha ido ao banheiro e eu estava terminando de por as louças sujas na pia. Olhei meu celular de novo e nada de Matthew. Não agüentei e resolvi ligar. Uma gravação informava que o celular estava desligado. Que merda... Apoiei minha testa na parede e respirei fundo tentando manter minha calma.

“Está tudo bem?” Ethan disse atrás de mim e eu pulei de susto.

“Ah... Sim, está tudo bem sim. Só cansada e com sono, nada demais.” Desconversei e voltei a colocar a louça suja na minha pia.

“Eu também, inclusive eu já vou indo.” Ele se encostou no balcão.

“Está bem... Tome cuidado ao ir pra casa, as ruas estão escorregadias por causa da neve.”

“Acho que nem me lembro a ultima vez que alguém me disse para tomar cuidado com algo. Não tenho mais idade pra isso.” Ele sorriu e cruzou os braços.

“Não tem idade pra que alguém se preocupe com você Ethan.” Virei em sua direção e me encostei na pia.

“Então você se preocupa comigo heim?” Ele falou debochando e eu revirei os olhos.

“Se algo acontecer com você, Ken iria ficar péssimo. É o único motivo pelo qual eu me preocupo.” Andei até o balcão, ficando ao seu lado e apoiei meus cotovelos observando Kenny e Luke. Eles pareciam tão a vontade um com o outro e tão felizes... Era possível ver os olhos dos dois brilhando quando se olhavam.

“O que foi?” Ethan falou, mas eu não desviei meu olhar para ele, continuei assistindo os rapazes na sala.

“Nunca pensei que eu fosse dizer isso, mas... Eu quero aquilo.” Suspirei.

“Não estou entendendo nada...”

“Eu quero intimidade com alguém.” O olhei. “Não só ir pra cama com qualquer um e depois no outro dia vir embora pra casa fingindo que nada aconteceu.”

“Achei que já tinha isso com aquele cara.” Ele apoiou os cotovelos no balcão igual a mim.

“Não sei... Parece que sempre algo estraga as coisas entre nós, é tudo tão complicado.” Cobri o rosto com as mãos.

“Eu não sou o cara mais indicado do mundo pra estar tentando dar conselhos amorosos...” Ele respirou fundo. “Você é incrível Sophie. É bonita, é inteligente, é engraçada é sexy na medida certa... É a definição de mulher perfeita pra pelo menos 99% dos homens. Eu não sei o que você fez ou não fez, mas... Ele vai ser muito estúpido se perder você por uma besteira.”

“Obrigada Ethan.” Esbocei um sorriso. Quem diria que uma palavra de apoio viria de quem eu menos esperava.

“Eu já vou então...” Ele sorriu. “Ah, eu já ia esquecendo.” Ele tirou um pequeno embrulho do bolso e colocou em cima do balcão. “Feliz natal.” Ele piscou e saiu em direção à sala.

“Você já vai?” Luke perguntou à ele.

“Vou sim e sem palavras, a noite foi muito boa. O jantar estava uma delicia Ken.”

“Você ficou com os músculos, eu com o dom pra cozinha.” Kenny disse e eles começaram a rir. “Eu vou com você até a garagem.” Ele disse se levantando.

“Eu vou também.” Luke se pôs de pé. “Você vem Sophie?”

“Desculpem, eu estou morta.” Sorri e eles saíram.

Baby veio correndo e se apoiou na minha perna pedindo colo, o peguei no braço, coloquei em cima do balcão, ele se deitou e eu abri o presente de Ethan. Tirei um cordão da caixinha, era lindo, cheio de pequenas pedrinhas, era delicado e discreto. Sorri olhando pra ele, o guardei de volta na caixinha, peguei Baby no colo e fui andando para meu quarto. Tomei um banho, troquei de roupa e deitei na cama ao lado de Baby que já estava dormindo e em poucos minutos, dormi também.

Abri um olho e já estava claro, olhei para o relógio perto da cama e já iam dar 10hrs. Eu não dormi, desmaiei realmente. Minha cabeça doía um pouco por causa do vinho do dia anterior e voltei minha atenção para o barulho que me fez acordar. Peguei meu celular, que estava tocando, pisquei algumas vezes pra conseguir enxergar quem estava ligando, era Matthew.

“Oi!” Atendi com uma voz mais desesperada do que eu gostaria.

“Oi... Ér... Como foi o seu natal?”

“Foi... Legal. Nós só jantamos todos juntos.” Tentei enfatizar a parte de que todos nós estávamos juntos e eu não estava sozinha com Ethan. “Foi divertido. E o seu? Eu tentei te ligar ontem, mas estava desligado.”

“Eu estava chateado... E... Bom... Sophie, você sabe que quando ficamos chateados, nós fazemos coisas que não queríamos ter feito e...”

“Matthew, você só desligou o celular, calma.” O interrompi.

“Não foi só isso Sophie... Eu não sei nem como te falar isso... Não é adequado que seja por telefone, mas eu preciso te contar.” Ele respirou fundo.

“Olha, se você está tentando pedir desculpas... Sério, amor eu desculpo, eu entendo que você não gosta do Ethan, de verdade, vamos esquecer isso.”

“Espera... Você me chamou de amor?”

“Chamei... Eu acho.” Disse confusa. “Tem problema? Quer dizer, se você não quiser eu não chamo, por mim está tudo bem.”

“Não, é claro que não tem problema, eu gostei... Gostei muito, aliás.” Ele falou e eu respirei aliviada.

“Que bom!” Eu sorri. “Quando você volta? Estou com saudades.”

“Volto dia 27... Eu sinto sua falta também e agora mais do que nunca eu queria poder estar ai e poder te abraçar e te beijar.”

“Bom, então guarde toda essa sua vontade pra me agarrar quando voltar.” Deitei de novo na cama. “Fica bem tá? E me ligue quando possível, não suma de novo.”

“Não vou sumir, eu ligo mais tarde. E Sophie...”.

“Oi?”

“Pode me chamar de amor de novo?” Ouvi o seu riso.

“Amor...” Eu sorri falando. “Sinto sua falta e não vejo a hora de você estar aqui comigo.”

“Sabe que eu poderia pegar um avião agora só pra ir poder te ver...”

“Eu sei, mas você vai aproveitar com sua família esses dois dias e depois voltar correndo pra mim. Combinado?”

“Você quem manda...”.

“Mando mesmo.” Sorri. “Eu vou desligar por que tenho muito o que fazer, mas eu vou esperar que você me ligue mais tarde.”

“Eu vou ligar, pode ter certeza. Se cuida linda, beijo.”

Desligamos e eu fiquei uns momentos em uma bolhinha de amor enquanto me sentia aliviada por estar tudo bem entre nós. Baby começou a morder o bichinho de pelúcia que dei pra ele de natal e eu tive que tirar algumas fotos que iria mandar pra Matthew depois. Levantei, tomei um banho, troquei de roupa e quando passei em frente ao espelho, vi em frente à mesa a caixinha com o presente de Ethan, o tirei e coloquei o cordão em meu pescoço e eu realmente fiquei surpresa por que tinha gostado de verdade. Eu não costumava sair com muitas jóias ou acessórios, basicamente só usava a pulseira que Luke havia me dado, de vez enquando algum cordão discreto ou um anel mais discreto ainda e o presente de Ethan se encaixava nos quesitos ‘Discreto’, ‘Elegante’ e ‘Lindo’. Terminei de me arrumar, andei para fora do quarto, Luke e Kenny estavam na sala e eu me perguntava se eles tinham noção do quão perfeitos eles pareciam juntos.

“Vai sair?” Luke perguntou enquanto eu comecei a fazer um pouco de café.

“Trabalhar.”

“Sophie, hoje é 25 de dezembro...” Kenny me olhou como se eu fosse um extraterrestre.

“E o que tem?”

“É natal. Ninguém trabalha no natal.” Ele falou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

“Eu trabalho no natal.” Sorri. “E várias outras pessoas trabalham no natal, o mundo não para só por que é feriado Ken.”

“Nem tenta entender...” Luke disse voltando a olhar para a televisão.

“São só algumas coisas pendentes que eu tenho que resolver, volto na hora do almoço está bem?” Coloquei meu café em um copo, tampei, andei até o sofá e dei um beijo nos dois.

Desci para a garagem e fui dirigindo para o escritório. Emily não estava lá, eu exigi que ela tirasse folga, tinham algumas pessoas trabalhando também. Viram Ken e Luke? Não sou a única doida que trabalha no natal. Entrei em minha sala e comecei a responder e-mails, fazer algumas ligações e resolver problemas como de costume. Já tinham passado 2hrs e eu resolvi descer e ir comprar algo para comer, havia um pequeno restaurante do outro lado da rua, pedi uma salada com suco de abacaxi e hortelã, terminei de comer e andei de volta para o prédio.

“Ah, ai está ela.” O porteiro disse e eu virei em sua direção. “Tem um rapaz a esperando.” Olhei para o lado e Ethan estava sentado em uma das poltronas da recepção.

“Oi!” Disse surpresa. “O que está fazendo aqui?” Andei em sua direção.

“Luke disse que você veio pra cá, eu não tinha nada pra fazer então...”.

“Ah... Você veio ver o Black, não é?”

“Black?!” Ele franziu a testa. “Ah sim, claro... Sim, foi exatamente por isso que eu vim.” Ele sorriu sem graça e eu fiquei sem entender nada.

“Black está aqui no prédio?” Perguntei ao porteiro.

“Sim senhorita, como sempre.” Ele respondeu educadamente e eu assenti.

“Bom, vamos subir então.” Sorri e entrei com Ethan me seguindo, tirei o meu casaco e apoiei no braço.

“Bonito cordão...” Ele falou tentando conter o riso.

“Gostou?” Olhei para meu pescoço. “Ganhei de presente de natal.”

“Quem quer que tenha lhe dado, tem muito bom gosto.”

“É... De vez enquando ele tem.” O olhei sorrindo ainda. “A propósito, obrigada.”

“Não por isso...”.

Chegamos ao andar da segurança, Black estava em pé dando instruções para um grupo de homens fardados, acho que deviam ser vigilantes.

“Black?!” Falei e ele se virou em minha direção.

“Qualquer dúvida, já sabem, estou à disposição. E não esqueçam: Descrição, sempre.” Ele disse para os homens de preto os dispensando e veio andando até mim. “Não deveria estar em casa? É feriado.”

“Eu digo a mesma coisa pra você.” Sorri. “Eu quero te apresentar um... Ér... Amigo.” Olhei para Ethan. “Ele serviu o exercito também, igual a você.”

“Ethan Cross.” Ethan disse estendendo a mão e Black a apertou.

“Cross?” Black cerrou os olhos. “Capitão Cross. Eu lembro de você rapaz, é bom ver que você está bem. Como estão as coisas?” Capitão Cross? Ok... Essa é nova pra mim.

“Estão indo bem senhor, é ótimo descobrir que existe uma vida fora do exercito.” Ethan sorriu.

“É como se nascêssemos de novo não é?” Black sorriu também. “Você estava no 11 de setembro?”

“Sim, foi no meu primeiro ano servindo. Uma pequena amostra do inferno eu diria...”.

“Foi mesmo. Quero que saiba que todos sentimos muito pelo o que aconteceu em Bagdá, foi uma perda grande para todos nós, eu tinha conhecidos na equipe também... Fiquei em choque com o ocorrido.”

“É... Foram dias difíceis.” Ethan ficou sério. “Acho que nos encontramos um meses antes do incidente.”

“Sim, eu lembro. Dei um treinamento pra sua equipe. Eu espero que saiba que nada do que aconteceu foi culpa sua, eu sei como é fácil culparmos a nós mesmo, mas ninguém o vê como culpado, você é visto como um herói rapaz.” Black colocou a mão no ombro de Ethan.

“Eu agradeço as palavras senhor, mas eu teria sido herói se tivesse voltado para casa com todos em vida. Eu que era o responsável pela equipe e prometi à todos que voltariam para verem suas famílias e isso não aconteceu.” Espera ai... Do que eles estão falando?

“Eu entendo que se sinta assim, mas deixe o passado para trás. Você ainda é jovem rapaz, deve aproveitar a vida...”.

“Ah ele aproveita. E aproveita muito.” Disse irônica e Ethan riu.

“Como vocês dois se conheceram?” Black cruzou os braços.

“Sou irmão do namorado do melhor amigo dela. Somos... Quase cunhados, eu diria.” Ethan disse me olhando.

“É, algo do tipo.” Sorri também.

“Luke está namorando então?” Black disse surpreso e eu assenti. “Falta só você então.” Ele olhou para mim.

“Não começa...” O olhei feio, ele e Ethan começaram a rir.

“Bom, eu já vou indo. Foi um prazer revê-lo senhor.”

“Que é isso, não estamos no quartel e nem em missão. Me chame de Drew apenas.” Drew? Ele nunca tinha pedido pra ninguém chamar ele de Drew.

“Claro senhor... Quer dizer, Drew.” Ethan sorriu, ele e Black apertaram as mãos de novo. “Nos vemos mais tarde.” Ele olhou para mim e saiu em direção aos elevadores.

“Que mundo pequeno heim?” Black falou e eu virei de frente à ele.

“Eu não sei, o que você me diz Drew?” Levantei uma sobrancelha e Black começou a rir.

“O quê? Está com ciúmes dele?”

“Claro que não, eu sei que eu sou sua preferida.” Dei de ombros.

“Sim, você é.”

“Só que você não deixa eu te chamar de Drew aqui e muito menos me chama de Sophie.”

“Por que aqui você é minha chefe.”

“Você sabe muito bem que é mais que um simples funcionário para mim.” O olhei séria.

“E você sabe muito bem que você é como uma filha para mim. Mas, não pega bem nos chamarmos pelo primeiro nome na frente das pessoas.” Ele pôs a mão em meu braço.

“Eu sei...” Revirei os olhos. “Eu só... Estou frustrada e confusa.”

“Com o quê?”

“É como se existissem dois Ethans.” Disse e Black me olhou sem entender nada. “Tem o Ethan, Capitão Cross, aparentemente, herói do exercito e o Ethan, canalha e galinha. Não sei qual dos dois ele é realmente e isso é confuso.”

“Sophie...” Ele enfatizou meu nome me fazendo sorrir. “Ethan passou por bons bocados. Quando servimos, nós vivemos momentos que ser humano nenhum merecia viver. Quando me aposentei, passei meses sem conseguir dormir... Se não fosse minha esposa, eu teria enlouquecido.”

“O que isso tem a ver?”

“Tem a ver que nós passamos pelos nossos traumas de maneiras diferentes. Eu tinha Katlyn, talvez Ethan não tivesse ninguém.” Desviei o olhar de Black e fiquei pensativa. “Eu preciso voltar ao trabalho, seja boazinha está bem?” Ele beijou meu cabelo e saiu.

Voltei para minha sala, mas não conseguia parar de pensar no que Black disse sobre Ethan. Eu precisava saber o que tinha acontecido. Abri meu navegador e pesquisei na busca Bagdá, Capitão Cross. Vários links de vários sites de noticias apareceram, mas as manchetes eram basicamente as mesmas.

Morre, em ataque terrorista, equipe do exercito Norte-Americano.

Respirei fundo e cliquei para abrir a noticia completa.

Ontem à noite, a equipe liderada pelo Capitão Cross, sofreu um ataque por meio de tropas terroristas. Uma bomba atingiu o carro que levavam os militares, deixando mais de 20 vítimas. Ethan Cross, de 29 anos, foi internado em estado grave, mas seu quadro encontra-se estável.

Abaixei a página e vi fotos de vários corpos carbonizados, mutilados e senti um enorme enjoo no estomago. Abaixando mais, vi duas fotos de Ethan com a farda do exercito desacordado em uma maca de hospital, ele tinha sangue por todo o rosto, as roupas rasgadas... Meu Deus, que horror. Fechei a página e respirei fundo, não ia aguentar ver mais nenhuma dessas imagens. Lembrei que Luke me disse uma vez que Ethan não era tão ruim quanto eu achava e que não tinha sido só eu com um começo difícil. Agora eu finalmente entendia o que ele quis dizer.