Theory of Nothing escrita por Mari Hime


Capítulo 4
IV - Agora Existe


Notas iniciais do capítulo

Observações:

1- A oração que Apola/Gaia está entoando em Latim foi baseada nas orações cristãs "Pai-Nosso", "Credo" e "O Terço da Misericórdia", além de ter referências ao "Hino a Ísis" e claro, uma super dose de imaginação. Não foi intensão desta autora de ofender qualquer religião, esta é apenas uma Fic regida para diversão, e não para a difamação ou pregação a qualquer entidade religiosa.

2- Gaia é uma deusa greco-romana descrita como elemento primordial e latente de uma potencialidade geradora incrível. Não há relatos sobre Gaia após a gerra Titânica.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/576786/chapter/4

Saint Seiya pertence ao Masami Kurumada.

Baseado em um sonho que tive em 2008

~O~o~O~

Theory of Nothing

~O~o~O~

IV

Agora Existe

"O que é puro se torna sujo, o sujo se purifica. O que é bom se torna mau e o mau se torna bom. Tudo que vive morre e o que morre renasce." - Inuyasha

~O~o~O~

9 de janeiro de 2012, 18h41min

Atenas, Grécia.

Três dias se passaram. A notícia já havia sido transmitida por todo o santuário, e estavam receosos com a chegada daquela garota que se dizia ser deusa. Claro que estavam felizes e esperançosos que seus amados cavaleiros de ouro iriam retornar à vida, mas se perguntavam como aquilo poderia acontecer, afinal, ninguém tem poder suficiente para reconstruir corpos e almas totalmente destruídos.

Pelo menos era o que acreditavam até então.

A menina, Apola, não saíra nenhuma vez de seus aposentos, trancando-se em seu quarto. Atena também tornou-se mais reservada nos últimos dias,

Os cavaleiros de bronze ficaram encarregados de buscar os objetos requisitados, enquanto isso as amazonas e os outros guerreiros preparavam o grande salão de pedra, que fica atrás da decima terceira casa.

Em meio a tanto trabalho e receio, as duas jovens estavam no quarto destinado a Seiya. O quarto era grande e arejado, grandes janelas do teto até o chão permitiam a entrada dos raios de sol. Havia um armário enorme de madeira, com arabescos esculpidos, uma cama larga, com cortinas de seda que escondiam o corpo que dormia profundamente. A cabeceira da cama tinha os mesmos arabescos que o armário, e o piso era do mais rico mármore branco, paredes de cor azul claro, onde alguns quadros de flores estavam pindurados. Atena limpava o rosto adormecido com uma toalha molhada com água e algumas ervas, enquanto que Apola observava o sol se pôr no horizonte grego, divagando em meio aos pensamentos.

– Por que eles estavam em meus sonhos? – Apola perguntava a si mesma. – Ou melhor, por que resolveram aparecer agora? O que significa isso, o que eles querem me dizer?

– Por que não descansa um pouco? Ainda faltam algumas horas para a cerimônia. – indagou Atena.

– Não estou cansada, e depois, se dormir agora terei pesadelos. Quero evitar isso ao máximo.

– Sinto muito não ter utilidade. – Atena olhou tristemente para o rapaz deitado. – Por mim, mais ninguém sofreria.

– Não se preocupe com isso, a culpa não é sua. – desviou os olhos do céu, que já estava escuro, e olhou para a prima, os olhos estavam roxos. – Na verdade, sou eu que devo me desculpar por obriga-los a participar de outra guerra.

– Nem sabemos se haverá uma guerra e...

– Eu não tenho sonhos desde os três anos, e da última vez que isso aconteceu, ocorreram desgraças. Acredita verdadeiramente que não acontecerá nada?

– Não perca a esperança, talvez não seja nada.

– Esperança é um sentimento que perdi à muito tempo. – Apola voltou seus olhos para o céu, onde as primeiras estrelas já estavam brilhando.

Atena preferiu ficar quieta.

– Vou tomar meu banho – dizendo isso, saiu pela grande porta de mogno.

Atena olhava para a porta fechada e voltou sua atenção para Seiya, que permanecia imutável.

– Seiya, precisamos de você. Eu preciso de você.

~O~o~O~

– Eu não confio nessa garota e ponto final.

– Ikki, você nem ao menos conversou com ela, dê uma chance. – ralhou Shiryu, aquela era a decima vez que ouvia a mesma coisa do colega.

– Shiryu tem razão, ela me pareceu uma boa garota, não age como uma deusa prepotente. – Shun tentou acalmar os nervos do irmão.

– Concordo com Shun, mas Ikki também tem razão. Ela é esquisita, a começar por aquela história maluca de sonhos a terminar pela aparência dela. – disse Hyoga.

– É ,e ela não disse que tipo de deusa é! Mas que ela é bonita, isso ela é. – declarou Ikki.

– Vai com calma Ikki, ela deve ter no máximo quinze anos, não fique todo contente.

– Cale a boca Shiryu! Não estava pensando nisso seu idiota! Só estou falando que ela é linda, me diga, quantas vezes já se deparou com pessoas como ela?

– Sempre que vou à Rozan.

– Neste caso vá até lá, se declara pra Sunrei e pare de imaginar coisas!

– Parem de brigar vocês dois! Mas que droga, é quase meia noite e ainda não levamos essas coisas para Atena e Apola. – disse Hyoga, enquanto o dragão enrubescia de ódio e de vergonha.

– Por falar nisso, por que diabos é necessário uma vasilha e uma jarra de prata, roupas, taças de ouro e a maldita adaga? – perguntou Ikki, enquanto tentava equilibrar as taças.

– Quem sabe? Mas isso será interessante de ver, afinal, os corpos de todos foram destruídos, sem falar das almas. – respondeu Hyoga, que carregava a jarra de prata, cheia de água.

– Mas pensei que nenhum deus, nem mesmo Zeus, poderiam reconstruir almas.

– Isso é verdade Shun, mas até então não existia nenhuma deusa Apola, quem sabe qual é seu poder? – Shiryu indagou, levando os panos de seda.

– Para mim, esta história está muito mal contada. E acho bom isso seja contado explicitamente e detalhadamente o mais rápido possível, caso contrário, cabeças vão rolar.

– Meu irmão, mostre algum respeito, mesmo que ela não seja uma deusa, ainda é a prima da senhorita Saori.

– Mas isso não muda o fato de que não confio naquela garota!

– Então, além de impaciente e rude, é desconfiado, Fênix?

– Que? – todos exclamaram e olharam para frente, reconhecendo a voz.

Seus longos cabelos louros estavam trançados com pequenas flores. O corpo esguio estava usando um vestido tomara-que-caia na cor branca que ia até os joelhos.

– Já voltaram? Que bom! – disse Atena, que sorria docemente. Ela usava o costumeiro vestido branco, longo, e os cabelos lilases estavam soltos. Na mão direita, segurava o báculo dourado. Cada vez mais seu corpo tornava-se como de uma mulher, e isso era algo que todos concordavam.

– Sinceramente, você e seus irmãos com essa mania. - os cinco fizerem uma cara de interrogação. - Deixa pra lá. Trouxeram o que pedi?

Estavam no grande salão de pedra. Era um local amplo e grande, havia um alto altar no centro, envolto de pilastras, o chão era de granito, o céu era um tapete de estrelas, sem lua. Esperaram três dias para a Lua Nova. Abaixo do altar havia uma grande mesa de pedra, redonda, com dezoito cadeiras do mesmo material, dispostas lado a lado. As pilastras que cercavam o altar estavam decoradas com ramos de rosas trepadeiras brancas, o local era iluminado por tochas e velas. O vento gélido do início do inverno soprava gentilmente, acariciando seus rostos e cabelos.

– Vasilha, jarro, taças e roupas. - enumerou Ikki.

– Venham comigo. – e começou a subir as escadas que levavam para o altar.

Seguiram a jovem, enquanto Atena permanecia parada no mesmo lugar. Notaram que Apola carregava uma pequena caixa na mão, e todos sabiam o que estava dentro.

A adaga dourada que certa vez foi banhada pelo sangue de Atena.

– Agora façam o que peço, por favor. – todos concordaram com a cabeça. - Menino Alface, coloque a vasilha no chão, exatamente no centro do altar. Projeto de Dragão, coloque as peças de seda lado a lado no chão. Pato de Borracha e Frango Queimado...

– Quem diabos você está chamando de Frango Queimado?! - Ikki sentiu várias veias sendo estouradas em sua cabeça.

– Calminha irmão...

– Calma?!

– Que seja... Apenas coloquem a jarra e as taças na mesa de pedra, mas antes...

Apola ergueu suas mãos na direção dos cabelos, e delicadamente tirou uma pequena flor que fazia parte do arranjo que prendia a trança. Um lindo jasmim rosado, seu cheiro doce podia ser sentido de longe, e o jogou dentro da jarra que o cavaleiro de cisne carregava, segundos depois todos arregalaram os olhos com a cena que presenciaram. A flor se desfez ao tocar a água, dando-lhe uma cor branca, como leite.

– Encham os copos com esta bebida e se afastem.

Terminando de fazer o que a jovem havia pedido se juntaram com Atena, que observava atentamente a prima, com um pequeno sorriso. É claro que estavam contentes e felizes que todos iriam retornar, mas havia algo a mais.

– O que é isso? - Ikki cheirou uma das taças. Aquele líquido tinha um cheiro extremamente doce e enjoativo.

– Voltar a vida não é assim tão fácil. - a menina brincava com um de seus cachos despojadamente. - As almas deles vão passar por um tremendo choque, fora que seus corpos terão de passar por um processo doloroso e desgastante para se manterem vivos. Essa bebida vai ajudá-los.

– Como vai trazê-los de volta? - Hyoga não a encarava enquanto despejava a bebida nas taças. - É errado, não é mesmo? Ressuscitar...

– Por quê acha isso?

– Quando Saga, meu Mestre, Shion e os outros voltaram, sob os mandos de Hades, nenhum deles parecia feliz. Pareciam estar em sofrimento.

– Sim. E daí?

Nesse ponto, o cisne parou de encher as taças e se voltou para a garota, que continuava a brincar com os próprios cabelos. Ele, mais do que ninguém, desejava que seu Mestre, e Pai, fosse feliz. Mesmo que em um outro mundo. Mesmo que isso o deixasse infeliz e solitário.

– Como "e daí"? Não acha que talvez eles se sentirão em sofrimento quando voltarem em vida? Não acha que eles já sofreram o suficiente?!

– Hyoga... - Saori apertou com força seu báculo.

Os outros três permaneceram em silêncio, compartilhando dos pensamentos do amigo.

– Quando as pessoas morrem, encontram aquilo que lhe trazem paz. - Apola enrolava os fios no dedo. - Alguns reencontram parentes. Outros reencontram pessoas das quais gostariam de terem dito algo, mas que por algum motivo não conseguiram. Muitos encontram o deus, o profeta, o santo, o anjo, a quem idolatravam em vida. Outros são transportados para lugares que os marcaram. E depois, saciados, desaparecem nas dimensões e tornam-se parte do Universo mais uma vez. Sem dor, cansaço ou tristeza, apenas paz.

– E vai tirá-los dessa paz para te ajudar a...

– A questão Hyoga, é que essas coisas que acabei de citar só acontecem com aqueles que morreram. - seus dedos pararam de se mover. - No entanto, os cavaleiros do zodíaco dourado não foram mortos...

– Do que... ?!

– ... Eles foram dizimados. - o encarou com olhos rubros. - Aniquilados. Suas almas foram consumidas. Seus corpos foram devorados. Eles já não existem, neste ou em qualquer outro mundo. Eles romperam com as leis da física, criaram luz no breu sacrificando as mais preciosas armaduras já forjadas, desafiaram um deus, destruíram parte do inferno, quebram o Muro das Lamentações que possuía uma carga de poder devastador, e, pior, ainda saíram vencedores dessa bagunça. - franziu as sobrancelhas. - A morte não é o suficiente para a quantidade de crimes absurda.

– Vencer foi o problema? - Ikki tinha um sorriso descrente. - Que hipocrisia.

– Mas eles não... - disse Shun exasperado. - Eles não eram criminosos, não merecem sofrer desse jeito!

– Se não fosse por eles, nenhum de nós estaria aqui pra começo de conversa! - Shiryu se irritou.

– Onde, diabos, eles estão? - o Cosmo do aquariano se elevou, ignorando a própria Atena.

– Onde? Hum... Eu também gostaria de saber. - Sua expressão não mudou, mesmo com o Cosmo hostil ao seu redor. - Além dos confins do Universo, onde as Dimensões embaralham-se. No Limbo...

– E quem colocou eles lá?! Hades?

– Hades? É claro que não, vocês o mataram, como ele faria isso? Não foram deuses que fizeram isso, e sim as Leis que Regem o nosso universo, o que vocês chama de "Ciência". Para equilibrar todo o caos acometido.

– Hyoga... - Saori falou suave, não apenas ao Cisne, mas para os quatro que estavam visivelmente alterados. - Apola não fez isso, fique calmo.

Mesmo relutante, o Cosmo inflado foi sumindo aos poucos.

– Mas não discordo de você, Cisne. É realmente um crime grave fazer pessoas mortas voltarem a vida. Não apenas afeta a ordem do "Destino" ou a "Lógica" do Universo, mas também fere, obscurece e amaldiçoa almas que, após uma vida hostil, encontraram a paz. - andou elegantemente até o rapaz louro. - Mas o que eu estou prestes a fazer não é um crime. Estou salvando seus companheiros de um destino tão aterrorizante que nem a pior pessoa desse mundo mereceria. - parou seus passos. - ... O esquecimento.

Hyoga sustentou o olhar da menina por segundos que pareceram ser horas. Mas finalmente, assim como Shiryu, compreendeu o que ela estava dizendo e que Shun já havia entendido dias atrás. Aquela garota era... diferente.

– Como pretende salvá-los desse "terrível destino"? - Ikki abaixou o tronco para ficar da altura de Apola. Ela realmente era pequena. - Você não me parece lá grande coisa.

– Pois é. E você com toda essa pose de "machão", não passa de um bebê birrento. - sorriu forçadamente. - Para você ver como as aparências enganam.

– Atena é poderosa e não consegue fazer isso. - continuou. - Quão poderosa um bichinho de pelúcia como você pode ser?

– Eu disse que sou uma deusa, não disse? Enfie isso nessa sua cabeça esquentada e observe.

As cabeças de Atena, Shun, Hyoga e Shiryu iam de um lado para o outro, acompanhado o debate dos dois para ver quem tinha a língua mais afiada.

– Essa foi a única coisa que disse sobre si. - Ikki a olhou duro. - Quem é você, afinal de contas? Um fantasma?

– Estou pálida, mas não é para tanto. Eu sou uma deusa que, para a sua sorte, é capaz de reconstruir corpos que foram pulverizados e almas que já não existem.

– Ah, então vai transformar o nada em alguma coisa? - cruzou os braços no peito. - Vai fazer o que não existe, existir?

– Exatamente. - sorriu presunçosa. - Estou dando uma segunda chance para uma coisa que já não existe. Acho que vocês humanos chamariam isso de milagre, não?

– Eu chamo de loucura ou esquizofrenia.

– Meu caro, para viver a minha vida é preciso ser louco, ou você morre em menos de cinco horas.

– Hã... vocês dois já acabaram... ? - Atena tentou findar aquela discussão toda.

– Seu cavaleiro é realmente um passarinho bem esquentado, hein. - a garota soltou uma risada abafada, e começou a subir a pequena escada que levava até o altar. - Já está na hora. Tentem não perder nada, porque vai ser legal.

– É melhor nos afastarmos um pouco. - Atena deu alguns passos para longe dos degraus de pedra. Os outros quatro imitaram a moça, circundando-a para melhor protegê-la.

Apola caminhou lentamente até a grande mesa ovalada e abriu uma pequena, porem bonita, caixa de madeira. Esta era forrada por um almofadado de cetim vermelho e, descansando em seu meio, havia um objeto dourado. Delicadamente, a pequena deusa retirou o objeto, segurando bem próximo de seus olhos, avaliando a lâmina de ouro. Os cavaleiros, inconscientemente, sentiram repulsa daquilo e Saori estava imersa nos próprios pensamentos para notá-los. E, ignorando a platéia, a loura voltou a caminhar até o centro do altar.

Naquele momento, era como se a Terra havia parado de se mover, o vento tivesse parado de soprar, as ondas parassem de se quebrar. Era como se o universo tivesse parado simplesmente para vislumbrar uma criança desafiar a morte. Ao longe, era possível ouvir os sinos velhos de uma igreja soando, avisando o início de um novo dia.

Meia noite.

De pé no altar, a adaga outrora usada pelo cavaleiro de gêmeos possuído, pendia em sua mão esquerda. Seus lábios se separaram minimamente e sua voz começou a sussurrar. Aquele tipo de sussurro que todos ouvem perfeitamente e que causa calafrios. (1)

Pater noster, qui es in Caelis, Sanctificétur Nomen Tuum

(Pai nosso, que estais no Céu, Santificado seja o Vosso Nome)

Podia ser apenas a imaginação, ou uma ilusão, mas as estrelas e a lua cheia no céu diminuíram seu brilho, tornando-se opacas.

A respiração de todos foi cessada. A voz da garota era baixa e ao mesmo tempo imponente. Ela olhava fixamente para frente, não piscava, não respirava, não se mexia, apenas sussurrava.

Sol et Luna reditum

(Faça com que o Sol e a lua retornem)

Aestus et revertatur ad tempus

(que a maré e o tempo retrocedam)

Em um movimento rápido, ela ergueu a adaga e cortou seu pulso direito. O sangue escorreu e tingiu a vasilha de prata virgem, em vermelho. Um vermelho escuro, quase negro, com um cheiro forte de podridão. Um sangue diferente dos que estavam acostumados a ver. Seus olhos estavam roxos, como o crepúsculo, frios e duros, encarando firmemente algo que apenas ela podia ver a sua frente.

O sangue simboliza o pacto entre um indivíduo e uma entidade sobrenatural, divina ou demoníaca. Sacrifício. Estes seres sobrenaturais necessitam de sacrifício para restaurarem seus poderes, acalmarem sua ira e engrandecer a si próprios. Em retribuição a mana oferecida, os seres sobrenaturais pagam um preço. Um preço equivalente, havendo um equilíbrio. Não se paga mais do que se vale, nem menos do que se deve. Caso contrário, haverão danos.

Ao seu corpo, no mundo físico.

A sua sorte, no mundo espiritual.

A sua alma, no mundo celeste.

Curantes quid autem vulneratus

(Cura o que foi ferido)

Salvum facere quod perierat

(Salva o que foi perdido)

Quae semel fuit converteret

(Traga de volta aquilo que uma vez existiu)

O sangue da vasilha começou a escorrer para fora, e penetrou nas rochas, como se fosse terra. O vento soprou fortemente o salão, apagando as chamas das velas e tochas, a trança da garota se desfez e seus longos cabelos esvoaçavam. Ficou frio e era possível ouvir o vento uivar. Mas naquele momento, não era o vento que gritava.

Aquilo era a entidade sobrenatural, divina ou demoníaca. Ela estava estasiada com o Sacrifício recebido. Atordoada, drogada, embebedada. Completamente viciada por aquele sangue quase negro que escorria das veias finas daquela garota.

"Aqueles que procuram a mim, certamente, possuem um desejo".

"Certamente".

"E este és teu desejo".

"Certamente".

"Há um preço, para teu desejo".

"Certamente".

Praebeo mea Corpus et Sanguinem

(Eu vos ofereço o Corpo e o Sangue)

Mea Anima et Diuiniitatis

(Minha Alma e Divindade)

In expiationem Peccatorum

(Em expiação daqueles que Pecaram)

"Certamente, recebi o pagamento".

"Vossa Excelência, com o pagamento quitado, certamente o desejo será realizado".

"Certamente. Conquanto, há algo que tu, Ser Divino, deves ter conhecimento".

"Pois não, Entidade Sobrenatural, divina ou demoníaca".

"Tudo aquilo que vive, independente da maneira que vive, está entrelaçado por Correntes. As Leis da Natureza, o Fluxo do Tempo, o Receptáculo conhecido como "corpo" e a Existência chamada "Mente". Tudo está entrelaçado. Tudo está predestinado. Porque não há coincidências, apenas o inevitável".

"Reconheço minhas responsabilidades".

"As existências, que antes não existiam mas que agora existem, estão e sempre estiveram entrelaçadas. Contigo. Comigo. Com tudo".

"Vossa Excelência, agora existe?".

"Agora existe".

In resurrectione Carnis

(Pela ressurreição da Carne)

O chão encharcado pelo sangue negro tornou-se limpo mais uma vez, e no local em que estavam as manchas surgiram pequenas luzes, como vaga-lumes no céu escuro. No início eram poucas, mas se tornaram muitas, milhões e mais milhões de pontinhos brilhantes. Elas iam e vinham, com leveza e suavidade, brincando entre si. Então começaram a se unir, um pontinho de luz se uniu com outro, e tornou-se um único pontinho de luz um pouco maior. Depois esse ponto unia-se novamente e sucessivamente.

No começo eram objetos sem forma, mas minutos depois se tornaram algo que podiam lembrar-se perfeitamente. Um tronco. Uma perna. Outra perna. Dois braços. Indicadores, Polegares. Pescoço. Cabeça. Rosto.

In remissionem Peccatorum

(Pela remissão dos Pecados)

Os corpos foram perdendo a luminosidade dos pontinhos brilhantes e se tornaram ossos, carne e sangue. Alguns tinham a pele branca, outros a cor era dourada, alguns tinham madeixas azuis e outros tinham fios castanhos. Olhos fechados e corpos musculosos nus. Eram como bebês, pareciam indefesos e pequenos. O sangue de deusa continuava a escorrer dos braços para a vasilha, da vasilha para o chão, e do chão evaporava-se.

Dormiam um sono que parecia não ter fim. Sonhavam sonhos que não existiam. Frágeis como cristal. Paralisados como estátuas. Inúteis como o pó.

In communionem Corpus, Mens et Anima

(Pelo comunhão do corpo, da Mente e da Alma)

Treze delicadas borboletas surgiram do sangue que escorria dos pulsos ao chão. Todas eram únicas e cada qual tinha sua impressão. Uma graciosa, uma companheira, uma bondosa, uma corajosa, uma divertida, uma majestosa, uma sábia, uma curiosa, uma gentil, uma cuidadosa, uma delicada, uma bonita e uma honrosa. E uma por uma, encontraram seus respectivos corpos, seus "receptáculos", e fundiram-se no peito, a cima do coração. E naquele local, um luz brilhou, para depois se apagar. O único barulho que foi possível ser escutado foram as batidas dos corações.

Uma batida forte e dolorosa.

Propter me, Ego sum primus et novissimus

(Por mim, porque sou a Primeira e a Última)

Primeiro, um forte som de respiração dificultada foi ouvida. Depois veio a tosse. E o oxigênio impregnou o sangue, que foi bombeado pelo coração. O sangue circulou até o estômago vazio, foi filtrado nos rins, conheceu cada osso, cada veia, cada artéria, cada glândula, cada órgão, cada linfo. E chegou ao cérebro. O líquido viscoso e vermelho inundou cada célula neural, e cada célula uniu-se a outra. A memória, os sentidos, os pensamentos. Estava tudo lá. Tudo estava existindo.

E finalmente, um por um, seus olhos abriram. Azuis, verdes, castanhos, violetas e pretos.

Quia Vobis, Creator et Praedo

(Por Tu, porque és o Criador e o Destruidor)

As últimas gotas de sangue caíram e todas as velas e tochas voltaram a serem acesas. Apola virou-se de costas para os homens ainda deitados, enquanto que Atena aproximava-se a passos lentos do altar, abismada. Os quatro cavaleiros de bronze estavam estáticos, suas bocas escancaradas e seus olhos esbugalhados. As palavras estavam engasgadas. A felicidade era tanta, que lágrimas escorriam pelas faces.

– Bem vindos de volta, meus cavaleiros de ouro. - disse Atena em meio as lágrimas. - Pessoal...

A tosse era forte, o frio estava intenso e seus corpos tremiam e arrepiavam-se. Os sons incomodavam seus tímpanos. A luz, mesmo fraca, machucava seus olhos. Eram bebês que acabavam de nascer.

Mas aos poucos a tosse acabou, o frio cessou, os sons eram agradáveis, a luz era uma bênção. As memórias voltavam em uma frequência quase que assustadora. Um choro de criança, uma mãe, um pai, um mestre, treino, dor, fome, amizade, conquistas, uma armadura dourada, sangue, uma deusa, alegria, tristeza, guerra, morte, esperança. E as memórias não acabavam.

Os olhos se abriram, assustados e exaustos.

– A... Ate... Atena? - murmurou um rapaz de longos cabelos azuis e olhos verdes com medo.

– O q... que aconteceu? - perguntou o outro, de cabelos castanhos e olhos verdes.

– Onde... estamos? - disse o rapaz de cabelos verde escuro curtos, olhando para os lados, tentando entender, querendo saber.

– Meu peito... está doendo... - o de cabelos curtos e castanhos, olhos amendoados, segurava com força o peito.

– Minha cabeça... - tão belo e tão confuso, todo seu corpo tremia. - Façam isso parar...

– Nós... estamos... - os longos cabelos liláses cobriam parte de sua nudez, o jovem tentava acalmar-se, inspirando e expirando.

– Ah... - o primeiro a erguer o tronco do chão e se sentar era um rapaz de olhar frio, porém ainda tinha dificuldades para respirar. Era como se estivesse faltando oxigênio no mundo. - Estamos...

– Vivos... - o mais alto e forte fisicamente de todos também se sentou, tocando os braços, pernas e cabeça com dedo trêmulos. - Vivos... vivos...

– Isso é impossível... - seus dedos bagunçavam os fios castanhos que iam até seus ombros, uma tatuagem de tigre brilhava em suas costas nuas.

– Quem é você? - indagou o que parecia ser o mais velho, de cabelos longos louro escuro e olhos violetas, a menina ainda de costas para o grupo.

– E por que, raios, estamos nus?! - exclamaram dois jovens de cabelos azuis. Um tinha cabelos longos e o outro eram curtos.

– Poupem as energias. - disse Apola, que mantinha os olhos fechados. - Vistam-se e respondo o que quiserem. - e desceu do altar, mas foi parada por uma voz.

– Apola?

Ela parou e abriu os olhos.

– Oh! Então você ainda se lembra de mim Shaka? - disse debochada, de costas para o loiro. - Você realmente gosta de desobedecer. - sussurrou, e voltou a descer as escadas.

Os cavaleiros, que olhavam para a menina, voltaram seus olhares para o loiro com rostos confusos.

De repente, sem anunciação e assustando todos os demais, um dos rapazes se levantou. O corpo dourado, forte e alto teve dificuldade para se manter de pé. Os cabelos castanhos escuros faziam sombra em seu rosto. Depois de alguns segundos firmando o próprio peso, ele deu um primeiro passo, curto e destrambelhado, e mais um, e mais um. Pouco a pouco, depois do que pareceu ser uma eternidade, ele chegou até o seu destino e caiu de joelhos, mal suportando o próprio corpo.

Ergueu seu braço, seus dedos tremiam de hesitação e sua boca estava entreaberta numa mistura de surpresa e tristeza. E finalmente, seus dedos tocaram um rosto tão surpreso e tão triste quanto o dele.

– Aioria...

Os outros apenas observavam a cena, alguns preferiam dar-lhes privacidade e começaram a se erguer também.

– Aioria... Aioria... - e cada vez que ouvia seu nome ser dito, o rapaz sentia uma lágrima escorrer. Sua voz estava entalada em sua garganta, impendido-o de falar e dificultando a respiração. - Aioria... Não chore...

– Atena... - Shun sussurrou para a deusa, que chorava copiosamente.

– Desculpe... Desculpe por ser um irmão tão terrível. - o homem segurava o rosto de Aioria delicadamente, tentando secar cada lágrima que escorria dos olhos verdes, sem se importar com as lágrimas de seus próprios olhos. - Me desculpe... por te abandonar... Me desculpe... por te negligenciar... Você sofreu tanto... Por minha culpa... Minha... Culpa... - as lágrimas escorriam furiosamente.

Os onze homens já de pé olhavam a cena. Alguns sentiam os olhos umedecerem, outros tremiam. Um deles notou um bonito pedaço de seda no chão, uma roupa.

– Desculpe... Aioria... Aioria...

– Não. - segurou uma das mãos que seguravam seu rosto. - Não perdoo... - sentiu um grande aperto no coração. - Você... fez o que era o certo... Você... quebrou as regras... fugiu... sequestrou... foi desonrado e... morto... - respirou fundo. - E EU NÃO ACREDITEI EM VOCÊ! - chorou, como uma criança.

– Aioria...

– Você sempre foi justo... honesto... bondoso... E mesmo assim... eu não quis acreditar em você... Por isso... - com a outra mão, segurou o rosto do irmão. - NÃO ME PEÇA DESCULPAS! ERA VOCÊ QUEM ESTAVA CERTO! FOI VOCÊ QUEM SOFREU E NÃO EU! FOI VOCÊ, AIOROS, QUE MAIS SOFREU!

E os dois se abraçaram. Não era um abraço como o de um pai e filho, ou de avó e neto. Mas sim, o abraço de irmão e irmão. Separados por mais de quinze anos por um muro intrespassável chamado morte.

– Você... realmente cresceu... Não é mais um filhote. - a voz saia abafada.

– O que queria? Eu precisava crescer...

– Ah... obrigado.

– Por crescer? - eles agora sussurravam, de forma que apenas elas saberiam o foi dito naquela noite.

– Não. - riu. - Por não desistir de viver...

– Aioros?

– Sim, Aioria?

– Nunca mais, nunca mesmo, volte a se sacrificar daquele jeito sozinho.

– Ah sim... Eu prometo. - sentiu algo suave ser colocado em seus ombros. - Hã?

Os dois desfizeram o aperto e foram surpreendidos. Seus amigos estavam ao seu redor, já recobertos por sedas, sorrindo para a cena, a maioria com lágrimas nos olhos. Os jovens de cabelos longos lilases e azuis tinham acabado de recobrir Aioros e Aioria respectivamente com os tecidos.

– Eu não estou entendendo nada do que diabos está acontecendo, mas não quero ficar te vendo pelado, bichano maldito. - falou o de cabelos azuis, causando um riso geral.

A felicidade e o espanto estavam estampados nos rostos, por alguns longos minutos, respirando e pensando calmamente. Depois olharam para os lados e reconheceram o lugar. Sabiam que aquele era o salão de pedra.

Fora no Salão de Pedra que se reuniram todos pela primeira vez, a muitos anos atrás. Fora neste lugar que a maioria vislumbrou pela primeira vez as armaduras de ouro. A partir daquele dia, seus destinos estavam todos entrelaçados. Quinze anos se passaram desde então, já eram adultos, mas naquele momento pareciam crianças que não compreendiam nada do que acontecia. Desceram as escadas do altar e logo reconheceram o rosto de sua amada deusa, os rostos de seus jovens amigos de bronze e uma figura de longos cabelos loiros.

– Bebam. - Ela apontou para os copos, e antes de perguntarem qualquer coisa sentiram uma vertigem forte na nuca, fazendo com que cambaleassem. Rapidamente pegaram as taças e levam aos lábios. O sabor era doce, muito doce, Mas o efeito foi imediato: Se sentiram mais quentes, fortes, bem dispostos e saudáveis. Era como se jamais tivessem morrido e suas almas estavam felizes. E não era apenas isto, seus corpos estavam totalmente reconstruídos, não havia marcas de dor e sofrimento.

– Ah... bem melhor.

– O que é que está havendo?

– Quem é essa menina?

– Cadê o aquele moleque do Seiya?

– Não estávamos mortos?

– Como foi que voltamos?

– Acalmem-se por favor. Está tudo bem. - Atena sorriu. - Agora já está tudo bem.

– Pode-se saber o que faz aqui? - disse o cavaleiro de virgem, seus olhos azuis estavam abertos.

– Antes de mais nada, é bom ver você também - disse, fazendo com que o irmão semi-serrasse os olhos. - E estou aqui para ajudar Atena e trazer seus poderosos cavaleiros de ouro a vida.

– Como foi que soube da Guerra Santa?

– Apolo e Ares estavam preocupados com a irmãzinha deles. - olhou para Atena - Então pediram à Hermes para que fosse até o mundo inferior e contasse as notícias da batalha. E eu pedi para que me contassem.

– Não deveria se entrometer em assuntos de outros deuses, sabe disse.

– Olha só quem está falando. - A menina apontou para o Bindi, o terceiro olho. - Buda.

– Sou um cavaleiro de Atena, antes de qualquer coisa.

– Tem certeza que essa é a sua resposta? - o virginiano abriu a boca para responder, mas Milo foi mais rápido.

– Com licença? Detesto atrapalhar o reencontro do casal, mas será que alguém pode nos explicar o que está acontecendo? - disse o jovem de cabelos azul comprido.

– Por que não se apresentam primeiro? - Apola sugeriu.

– Nem você se apresentou direito! - resmungou Ikki.

– Mas sabem meu nome, por hora já está muito bom. - olhou para o jovem de cabelos de cor lilás. - Eu sou Apola, e você?

– Sou Mu de Aries. – Um jovem, de pele muito branca, longos cabelos lilases e duas pintinhas no lugar de sua sobrancelha, possuidor de belos olhos verdes turquesas. Sua voz era extremamente gentil e bondosa.

– E eu, Aldebaran de Touro. – O que mais chamava sua atenção não era seus dois metros e meio de altura, nem sua pele morena ou seus curtos cabelos e olhos cor de chocolate, mas sua voz, que ao contrário de sua aparência, era reconfortante e alegre.

– Saga de Gêmeos. – Nem seus longos cabelos azuis escuros como o crepúsculo e nem corpo forte e alto se comparavam aos seus olhos, belos verdes e gentis. Voz extremamente cortês, embora triste, que passava confiança.

– Máscara da Morte de Câncer. – Uma voz cheia de graça com toque de cinismo, mas afinal, era isso que dava encanto à sua pessoa, além de sua aparência, com os curtos cabelos e olhos azuis escuros, quase púrpuras.

– Eu sou Aioria de Leão. – Os cabelos castanhos louros cacheados, os olhos verdes expressivos e voz cheia de confiança davam a ele uma aparência e atitude de um moleque, no entanto, passava coragem com o brilho determinado de seus olhos.

– Virgem. – Lindos cabelos dourados emolduravam seu rosto, branco como porcelana, sua franja cobria seu terceiro olho, e escondia parcialmente seus lindos olhos azuis, puros como as Estrelas Gigantes Azuis. Voz calma e polida.

– Me chamo Dohko de Libra. – Era de conhecimento de todos ali, até mesmo de Apola, que Dohko era o mais velho, mas sua aparência jamais o denunciaria, um ar de menino-homem, com os curtos cabelos marrons avermelhados e brilhantes olhos verdes, juntamente com sua voz divertida.

– Meu nome é Milo, de Escorpião. – Os olhos azuis do mar tinham o ar de criança levada, embora a voz fosse grave e bela. Os longos cabelos azuis púrpuras, a pele dourada e o sorriso orgulhoso eram marcas de seu perfil.

– Aioros de Sagitário. – Por breves minutos, todos da sala olharam para sagitário com profunda admiração. Para aqueles que lembravam, sua aparência não era mais de um adolescente de quatorze anos, mas de um homem de mais de vinte. Os cabelos antes dourados como o do irmão Aioria, estavam escuros como o chocolate e mais lisos, mas os olhos bondosos e castanhos eram os mesmos, tal como sua voz, calma e pacífica como sempre foi.

– Shura de Capricórnio. – Apesar de ter se apresentado, não estava prestando atenção ao seu arredor e encarava Sagitário. Uma onda de memórias percorria sua mente, enquanto isso, o restante os olhava de forma ansiosa. Apola observou o rapaz a sua frente, curtos cabelos verde escuro, olhos negros e um belo corpo, a voz apesar de grandiosa, estava um tanto falha, e ela sabia o motivo, e por esse motivo decidiu não intervir naquele reencontro de marcas do passado e olhou para o próximo cavaleiro, aguardando que dissesse seu nome.

– Camus de Aquário. – Com certeza sua pele era a mais contratante entre todos de tão pálida que era. Os cabelos azuis caiam pelas costas e tampavam parte de seus olhos azuis frios, embora estivessem com certa emoção. A voz igualmente fria e impenetrável.

– Sou Afrodite de Peixes. – Mais belo que uma pintura, com belos e longos cabelos azuis piscina, tais como seus olhos que lembravam o céu azul do verão. Sua voz era aveludada e ao mesmo tempo era cortante, como pétalas e espinhos de uma rosa.

– E eu sou Shion, o mestre do Santuário. – Sua voz emanava austeridade e confiança, embora não se possa falar o mesmo de sua aparência, afinal, parecia um belo jovem, com longos cabelos verdes, olhos violetas e duas pequenas pintas sobre sua testa alva. - E em nome de todos agradeço por ter nos tirado daquele lugar.

– Não tem de que. Ouvi falar muito de vocês, a elite dos cavaleiros, são de fato os melhores, caso contrário não teria conseguido traze-los de volta, é uma honra conhece-los. E quem diria que meu irmão se tornaria o cavaleiro da constelação de virgem? Astreia deve estar orgulhosa. - disse irônica a última parte.

– IRMÃO?! - a grande maioria gritou, ou outras apenas escancararam suas bocas.

– Não comece novamente. - Shaka disse sem hesitação. - Por que nos trouxe de volta?

– Pelo mesmo motivo de vocês me assombram nos sonhos. - Ela olhou para o irmão mais velho com olhos escuros e frios. Ele por sua vez arregalou os olhos azuis surpreso.

– Você... - mas foi cortado.

– Alguém pode fazer o favor de me explicar o que está acontecendo? Eu não to entendendo nada. Que sonhos? Quem é essa menina? Como e por quê ela fez a gente voltar? Não tínhamos morrido no muro das lamentações? Ou eu tava dormindo todo esse tempo? E por que o Shaka tem irmã? Quem mais aqui têm irmãos aqui e quer revelar? E aliás, que lugar era aquele que a gente tava? E... - sentiu uma batida na cabeça.

– Milo, se acalme. - Camus falou com a voz suave. - Respire um pouco.

– Mas Camus...

– Escorpiões hein. - a garota riu. - Eu vou explicar tudo, mas com calma, a poção vai perder o efeito daqui a pouco.

– Muito bem. Que tal começar por: "Quem é você?" - falou Ikki, pela décima vez.

– Tudo bem, você ganhou Fênix. - começou a jovem. - Meu nome é Apola. Sou a filha do deus Urano, a personificação do Céu, e da deusa Anake, personificação do Destino, ambos falecidos. - estendeu ambas as mãos. - Sou a reencarnação de Gaia. (2)

Nesse momento, suas mãos brilharam e materializaram uma pesada moeda de ouro, com alguns escritos e um pentagrama esculpidos.

– Gaia? - murmurou Mu. - A Mãe-Terra?

– Não me chame de mãe, sou nova demais pra isso.

– O que diabos tinha naquela bebida? - Afrodite sussurrou.

– Espere um pouco. - a voz de Saga inundou o salão. - Depois da guerra entre Zeus e os Titãs, Gaia repartiu o próprio corpo e distribuiu suas partes pela Terra. Ninguém nunca mais ouviu falar dela.

– Isso é verdade. - completou Aioros. - Como foi que voltou a vida?

– Ah, isso explica por quê demorei tanto tempo pra voltar a vida. - olhou o geminiano que tinha os olhos ferinos, suspirando. - Olha, eu falo a verdade. De fato, A primeira Gaia repartiu seu corpo, mas não a alma. Ela apagou a própria existência da face da Terra, por isso ninguém tem conhecimento sobre minha atual ou outra vida. Mas podem acreditar, eu sou ela.

– E por que diabos alguém apagaria a própria existência?

– E por que diabos alguém não apagaria a própria existência? - olhou para MdM. - Shaka e eu - olhou para o loiro. - Somos meio irmãos, por parte de nosso pai.

– São filhos de Urano?

– Em carne e osso.

– Que?! ... Então isso que dizer que o Shaka... - continuou Aioria.

– ... o Shaka é um semi-deus! - finalizou Milo.

– Como podem ser tão tapados? - comentou Aldebaran. - Isso não estava na cara?

– É claro que ele é um deus! Nunca ouviram os rumores sobre ele ser a reencarnação de Buda?

– Claro que ouvimos, Máscara. Mas eu pensei que ele era o mais próximo de ser um deus e nao que ele era filho de um deus, literalmente. - Aioria se defendeu.

– Eu não sou um deus. - disse Shaka. - Não misturem as informações.

– Como assim? - indagou Camus.

– Eu sou um homem como qualquer outro. Apenas desenvolvi meu corpo e espírito, assim como vocês. Nada mais e nada menos.

– É. A única diferença entre você e a gente, é que o seu poder dá calafrios. - murmurou Máscara para ninguém em especial.

– Nossa, você realmente ficou chato, hein. E não me olhe assim Shaka, você sabe que é verdade.

– Tá, bacana, vocês são irmãos que se odeiam. - Máscara começou. - E por quê nós voltamos a viver?

– Parece que um velho amigo meu decidiu voltar a vida também. - Apola respondeu, colocando a pesada moeda no pescoço como um colar.

– E esse seu amigo quer a sua cabeça na parede dele. - ela afirmou. - Ótimo. Mais um deus louco atrás da gente.

– Deus? Quem disse algo sobre deuses? Se o que eu estiver pensando esteja correto, então esses inimigos serão bem piores que deuses. - olhou Atena.

Os cavaleiros se entreolharam.

– Meu nariz me diz que você esconde algo. E com a minha idade, eu posso dizer que meu nariz nunca falha. - falou Dohko. - Quer a nossa ajuda? Nos diga a verdade.

Apola olhou o cavaleiro, enxergava a vivacidade de seu olhar assim como a confusão. Voltou seu olhar a Shaka. Seu "irmão" também tinha um olhar confuso, afinal, ele também não sabia de nada. E finalmente olhou Atena, ou Saori. Não compreendia o amor que ela tinha por humanos, mas via em seus olhos verdes um pedido silêncioso para não falar nada à eles, pelo menos não por enquanto. Aquilo era demais.

– Façamos o seguinte: Vocês se recuperam, vão a minha casa e então, eu explico tudo a vocês. - Dohko e Shion se entreolharam. - Não é uma armadilha, é uma promessa.

– Atena confia em você. Confiamos também.

Apola e Dohko trocaram um demorado olhar, e depois a menina simplesmente sorriu de canto.

– Excelente. Atena? Duas semanas. Faça o que fizer, mas esteja no meu Palácio em dua semanas.

– Muito bem.

– Posso fazer uma pergunta? - começou Aioros . - Por que nós? Somos apenas cavaleiros.

– "Apenas"? Acho que você se subestima demais, Sagitário. - suspirou. - Vocês são a elite da elite no mundo dos guerreiros, são capazes de criar supernovas, destruíram o Muro das Lamentações e criaram Luz no mais profundo inferno. Acha que isso não é nada?

– Não, mas...

– Neste caso, obrigado. - Saga completou o colega.

– Não me agradeçam. - começou a andar novamente, mas depois parou. - Você é o cavaleiro de gêmeos, certo? - ele afirmou com a cabeça. - Ouvi muito sobre você e de seu irmão gêmeo. Como ele se chama?

– Kanon.

– Kanon de Dragão Marinho. - disse Atena, sorrindo.

– Oh, um general marinha de Poseidon? Excelente... Talvez seja hora de mais alguém acordar.

– Vai traze-los de volta? - O sorriso de Atena se dissipou.

– Bem, a presença dele também pode ser importante. Vejo vocês dentro de, no máximo, duas semanas. - voltou a andar em direção à saída que levava até o portão de madeira. - Vejo todos mais tarde. Tchau.

– Ei! Espera aí! Acha que pode ir saindo desse jeito? Temos perguntas! - Ikki resmungou.

– Já disse que respondo depois...

– Mas é madrugada agora! Não vai querer esperar amanhecer?. - disse Saori.

– Não estou cansada, além do mais, se ficar aqui mais um dia, seu irmão irá enviar uma equipe de busca atrás de mim. - parou em frente ao portão pesado. - Oh sim, mais uma coisa. Renascer é mais complicado que nascer. A poção vai perder efeito e vocês vão desmaiar.

– Como?! - exclamaram os treze.

Mas já era tarde.

.

.

.

~O~o~O~


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

21/02/2015

E ai pessoal?! Gostaram?

Esse foi de longe o capítulo mais trabalhoso (já tenho alguns prontos), pois não importava quantas vezes eu reescrevia, nada me satisfazia. Eu dramatizei bastante o reencontro do Aioria com o Aioros, porque eu realmente imagino a dor que o Leão deve ter sentido no passado. Talvez eu tenha exagerado um pouco no drama xD

Pois é, Apola é Gaia. E ela é irmã do Shaka. As coisas vão ficar interessantes.

De qualquer forma, a história realmente vai começar agora, por isso continuem acompanhando que vai ficar legal, eu prometo!
È isso gente, fico por aqui! Obrigada a todos que leram!

Beijos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Theory of Nothing" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.