Além da psicologia escrita por Bia de asa


Capítulo 4
Encontro desagradável no shopping


Notas iniciais do capítulo

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Já que tinha feito promessa a minha mãe, fui a psicóloga na quinta. Foi quase a mesma coisa de sempre. Conversamos sobre a semana, como estava me sentindo blá, blá, blá... Mas o inusitado foi quando eu sai do consultório. Como ele é próximo ao shopping, resolvi dar um passeio. Minha semana tinha sido uma tormenta.

Lembra daquele garoto de quando eu tinha 5 anos que tinha me acertado um brinquedo? Acho que devo contar isso antes de prosseguir com os acontecimentos.

Eu voltei ao shopping depois daquele incidente da creche. Ainda assustada, passava por perto e via aquele moleque. Toda a vez que eu ia ao shopping ele estava lá, mostrava língua e fazia caretas para mim. Como eu era menor, ficava apavorada, mas ai eu fui crescendo e às vezes ia ao shopping sozinha. Aquele garoto se chama Gabriel e também descobri que o pai dele trabalha no MC Donald's, naquela parte de entrada que vende sorvetes. Deve ser por isso que ele está no shopping toda a vida que estou lá.

Pois bem, depois da consulta, fui para lá. Conhecia o pai de Gabriel, mas ele mal sabia que eu odiava o filho dele e vice-versa. Comprei o sorvete e fui perambular pelo shopping. Resolvi ver os cartazes de filmes na área de cinema. Estava distraída quando a criatura me assustou:

– Você por aqui de novo. - Foi a primeira vez que ele falou comigo. Estava com o cabelo espetado pra cima e uma camisa xadrez. Não era mais gordo como quando criança.

– Eu que o diga. Você vive aqui - disse.

– Meu pai trabalha aqui - disse ele com ar de de superioridade.

– Eu sei. Acabei de comprar um sorvete com ele.

Seu rosto ficou vermelho de raiva.

– Acalme-se Gabriel. O imprestável aqui é você.

Nunca tinha arranjado briga verbal com alguém antes.

– Ah, é mesmo? E você acha que eu não sei que você é a criancinha problemática da família?

– Quê?

Como ele ousou me atingir nesse ponto?

– O que foi? Acabou de sair da sala do psiquiatra?

Não me aguentei, dei um tapa na cara dele. Ninguém viu, a bilheteria ainda não estava aberta. Era uma área deserta.

– Por que não foi mais agressiva semana passada com seu pai?

– Hã?

Ele retirou o celular do bolso e me mostrou uma filmagem. Eu de camisola chorando e meu pai sendo louco gritando comigo.

– Como você... - foi tudo o que consegui dizer.

– Ah, Karine, está circulando na internet. Você é a sensação do momento.

Ele gargalhou. Tentei pegar seu celular, mas ele foi mais rápido.

– Ei, calma ai! Ainda tem muita gente querendo ver isso.

Senti-me impotente. Sem a mínima força. Mas não podia chorar; não na frente dele.

– O que você ganha com isso? - perguntei.

– Essa sua cara de besta - ele respondeu. - Você sempre fez essa cara quando era criança.

Pensei em correr, mas ele me segurou com força.

– Já vai? Não vai nem me convidar pra ver um filme? Pago a pipoca.

– Não seja ridículo, você já conseguiu me deixar mal, o que quer mais?

– Ah, Karine... Você é tão linda.

Ele me olhou malicioso.

– Eu vou gritar!

– Não. Você não quer que esse videozinho alcance mais olhos, ou quer?

Ele sorriu. É agora, pensei. Sai correndo, mas ele me puxou de novo, mas dessa vez para um beijo.

Um beijo de Gabriel. Que horror! Tentei me soltar, mas ele me prendia a ele. Lutei em vão, mas sua boca não desgrudava da minha. Queria gritar, espernear, mas não.

Suas mão alcançaram minha cintura e meu corpo estremeceu. Parei a resistência. Havia algo naquele toque que me fazia querer continuar. Quando me dei conta, meus braços abraçavam o pescoço dele e estávamos tendo o beijo mais molhado da história.

Meu primeiro beijo.

Com um garoto que odeio.

O que eu estava fazendo?

O que eu estava pensando?

No meio do beijo chutei Gabriel e sai correndo. Ele ficou sem ação.

Saí do shopping o mais rápido que pude e entrei no ônibus que, graças a Deus, estava quase vazio. Fechava os olhos e a cena voltava. Não acredito que fui beijada por ele! Agora ele devia estar cantando vitória. E aquele vídeo? Quem gravou? Nossa, a rua estava cheia no dia do escândalo... É claro que filmaram. Mas e agora? Minhas aulas começavam semana que vem. Vão me reconhecer!

Minha cabeça começou a doer. Fiquei enjoada com confusão mental. Balançar a cabeça parecia não afastar os pesadelos. Não podia ter uma crise. Não no ônibus. Para minha sorte, cheguei logo em casa.


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Notas finais do capítulo

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