Além da psicologia escrita por Bia de asa


Capítulo 24
Um sonho diferente


Notas iniciais do capítulo

Nossa, agora, depois de meses eu voltei. Não me matem! A culpa não foi inteiramente minha. O mês de outubro e novembro foram complicados demais pra mim. Passei por situações bem ruins mesmas, mas graças a Deus estou bem. Não vou dar detalhes sobre o que eu passei porque foi realmente muita coisa. Ah, também ocorreu muita coisa entre o Fofis e eu. Muita coisa LINDA! Mas eu também não vou detalhar agora porque é realmente muita coisa.
Bem, sem mais enrolação porque já enrolei muito, leiam!
Ah, e porque vocês sumiram nos últimos 2 capítulos, heim???



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Quando fechei o meu e-mail, ainda não sentia meus membros inferiores e superiores. Era como se eu tivesse sido anestesiada. Eu estava impressionada demais com a habilidade e sensibilidade do Roberto. Era como se ele tivesse entrado na minha cabeça e tirado todas as informações para escrever aquele conto. E eu, a própria TDAH, não tinha capacidade para escrever um parágrafo sobre isso! De repente fiquei com raiva.
Mas com raiva de quem?
Do Roberto!
Mas por quê?
Porque ele era um ótimo escritor!
Ora, mas eu também era uma ótima escritora! Podia fazer um conto bem melhor que esse!
Nossa, que confronto interno foi esse? Uhu! Que batida é essa alegre brotando dentro de mim?
Uhuuuuuu! Que ritmo legal. Que onda de emoções felizes estão me atingindo. Por que isso?
Ah, lembrei, estava ainda com os fones de ouvido escutando música. Eu costumava mesmo ler e ouvir música pra ninguém me perturbar. Espera, essa música era muito... Cara, que som legal! Ah, acabou. Caramba, vai começar outra! Que playlist bacana que eu escoli...
Por que eu tô pensando nisso? São as músicas de sempre. I don't give a shit, i don' give a fuck! Eu amo música!
Tudo bem, deixa eu voltar a me concentrar no conto. Eu amei, mas obviamente não ia colocar isso como resposta no e-mail, iria falar com o Roberto pessoalmente. My God! Não sabia que eu tinha baixado essa música! Ela é demais!
Voltando ao conto... Eu devia continuar com minhas tentativas de ser escritora e apelaria para o próprio Roberto me ajudar. Ah, e o Filipe também, é claro. Mas eu já não estava mais com vontade de escrever O jogo. Digamos que toda minha inspiração se esvaiu. Pra falar a verdade eu não tava com inspiração para nenhuma história.
Era uma sensação estranha. Eu queria escrever, mas tava sem ideia. Eu sentia necessidade de escrever algo só não sabia o que. Isso era frustante.
Desliguei o computador e fui fazer um lanche.
–--
Eu estava sentada no telhado da minha casa. O que era estranho demais já que o telhado era torto e a cadeira ficava bem torta também a ponto de eu quase cair.
A um metro e meio a minha frente a televisão estava ligada na hora do noticiário. Uma mulher bem alta de cabelos loiros lisos e bem compridos parecia estar me encarando e com os olhos de advertência dando a notícia:
– O Estado acaba de proibir que pessoas se sentem no telhado de suas casas. Qualquer pessoa vista nessa situação será presa imediatamente. Viaturas de polícia começaram a fazer a ronda pelos bairros.
Como é que é? Quer dizer que agora eu não podia ficar sentada no meu próprio telhado? Senti uma súbita raiva. Me levantei rapidamente e percebi que eu estava com um traje diferente. Usava uma jaqueta comprida jeans e um chapéu de aba reta preto. A televisão se desligou sozinha e me encarei no vidro escuro. Minha imagem estava sombria, mas gostei dela. Eu estava alta e bem mais magra, mas não parecia estar doente. Meu cabelo também estava maior e meus olhos frios. Uau. Era eu mesma?
– Karine! - Minha mãe apareceu no telhado, um pouco assustada. - Você não viu o noticiário? Por que ainda está aqui? Vão te encontrar!
No mesmo instante várias sirenes de viatura de polícia fizeram um coro ao redor da minha casa.
Dei um sorrisinho no canto da boca. Sei lá, eu me sentia esperta e segura demais. De modo que eu havia esquecido a última vez que havia me sentido assim.
– Eu dou um jeito nisso - eu disse para minha mãe.
Em menos de segundos o telhado estava coberto magicamente por uma lona comprida preta. A televisão havia se transformado em um computador e eu estava sentada de volta na cadeira. Na tela do computador vi uma página de documento aberta.
Ela estava em branco. A linha vertical preta que indicava onde as palavras seriam escritas piscava sem cessar no início da página.
Uma página branca. Tão branca quanto a minha inspiração naquele momento.
Bem, pelo menos agora o telhado estava coberto e ninguém me veria.
– Por que está aqui? - escutei alguém com uma voz feminina alarmante falar atrás de mim.
Virei-me lentamente e vi a mesma mulher do noticiário da TV de pé no meu telhado. Franzi a testa para ela. Quem ela achava que era para pisar no meu telhado?
– O telhado é meu, faço dele o que eu quiser. Até de escritório particular.
Minha voz estava diferente. Com mais imposição, como se eu pudesse ser tão persuasiva só com palavras. E parecia que era isso mesmo. A mulher see encolheu como se tivesse com medo. Com medo de mim? Que idiota teria medo de mim?
– É-é... Para o seu bem, desça. Sua casa já foi cercada por policiais. Você foi pega.
Pega por quê? Por estar no telhado da minha própria casa? Sério isso?
Atrás de mim o computador piscou como se estivesse pifando. Eu e a jornalista o encaramos, curiosas. De repente a página de documento em branco começou a se preencher sozinha. A palavra "Prólogo" surgiu no meio da primeira linha. A pequena linha horizontal piscante desceu para a segunda linha, mas, em vez de palavras, imagens surgiram na tela, como um filme.
Vi uma homem e uma mulher. Essa parecia ter acabado de dar a luz. A julgar pela forma como estavam vestidos, arriscaria dizer que eram um rei e uma rainha. O rei pegava a criança nos braços e fazia uma cara feia. A cena mudou. Uma menina com aparentemente 12 anos estava sorridente ao lado de um homem e uma mulher que também pareciam ser reis, mas não os reis de antes. Eram outros reis.
Mas a menina não. Não havia sidoinformada, mas, de algum jeito, eu sabia que aquela menina era a mesma bebê que o outro rei havia olhado feio, só que já crescida. Mas por que não estava com os seus pais? Por que estava com esses outros reis? E por que tinha dezenas de outras crianças a rodeando? Na tela do computador, dois rostos foram mais focalizados. Dois meninos. Seriam praticamente identicos se um não fosse mais baixinho que o outro. Seriam irmãos? Não sabia.
De repente o menino menor apareceu no meio de uma floresta junto de outras crianças inclusive da princesa que eu já não sabia quem eram seus pais verdadeiros. Ele estava machucado.
E a cena mudou novamente. A menina que inicialmente havia aparecido bebê estava dentro de uma cela escura e sozinha. Ela parecia aflita. Seus olhos transmitiam pavor e podia escutá-la gritando na minha cabeça: Mãe, mãe, mãe!
Mas ela não estava falando nada. Era como se estivéssemos nos comunicando mentalmente. E eu sentia vontade de ajudá-la. Mas como? Erapapenas um vídeo, mas parecia tão real...
Outras crianças surgiram na tela, mas o cenário era outro. Estavam em frente a um grande castelo e gritavam demais. Pareciam enfurecidos. O mesmo homem que vi segurar o bebê loga na primeira cena surgiu no portão da grande casa cercado por guardas que receberam a ordem de matar a todos.
E vi sangue. E vi pessoas correndo desesperadas. E vi a princesa de volta na cela e dessa vez ela chorava mais ainda. Tinha uma mulher próxima à ela. Era a mesma que eu vi dando a luz... Seria sua mãe? Estava tão confusa...
De repente a tela do computador escureceu. Fiquei paralisada por uns segundos e me virei para a jornalista atrás de mim para ver se havia visto o mesmo que eu. Pela sua cara de pasmo, parecia ter visto.
Saímos de nosso transe quando vários policiais subiram no telhado e apontaram as armas para mim.
– O que você pensa que está fazendo? - um deles perguntou.
Eu ainda me sentia estagnada, mas respondi:
– Eu estou escrevendo um livro.
E, sem nenhuma explicação eu estava sentada perante a tela do computador com várias páginas escritas.
Mas como...
E a tela do computador mostrou novamente imagens. Mas essas eram diferentes. Eu ainda via a princesa e ela estava com um rei e a rainha, mas não pareciam ser os mesmos da primeira cena quando vi uma mulher dando a luz. Eles corriam felizes para dentro de uma linda floresta.
E, como em um passe de mágica, eu não estava mais no telhado, mas sim dentro da floresta também. Dei um imenso sorriso. Era tão linda... Chamei as pessoas que lá também estavam, mas eles pareciam não me ouvir. Ué, mas eu também não estava enxergando meu próprio corpo! Era como se eu estivesse lá, mas invisível!
A menina estava tão feliz que fiquei feliz também.
– Você tem que sair desse telhado agora!
E agora eu estava de volta ao telhado cercada pelos policiais. Estava sem o chapéu e a jaqueta. Senti medo imediatamente. Tanto que fiquei sem respirar. Eu era a karine de antes. Insegura e problemática, cheia de medos e traumas.
Mas onde estava a menina?
Onde estava a...
– Rebeca! - me ouvi gritar com a voz trêmula. - Rebeca!
Rebeca? Então o nome da princesa era Rebeca?
– Não tem nenhuma Rebeca aqui, menina - o policial disse.
Eles se aproximaram pra me pegar. Fiquei com mais medo ainda e fechei os olhos. Depois disso, não vi mais nada.
–--
–Karine!
Acordei com um sobressalto e logo me sentei na cama. Estava muito ofegante como se tivesse acabado de correr uma maratona e meu corpo parecia cansado. Por um instante não soube distinguir sonho da realidade.
Um sonho. Tudo aquilo havia sido um sonho? Apenas um sonho? Mas parecia tão real... Ah, Karine, não seja idiota, é claro que foi só um sonho!
Pois é, depois de uns segundos a mais já acordada, vi que eu realmente havia sonhado tudo aquilo. Uma coisa engraçada que acontece com a gente é que, quando acabamos de despertar de um sonho, por mais maluco que seja, passamos cerca de um minuto confusos entre o real e o sonho e parece que não sonhamos o que sonhamos e sim vivemos de verdade o que se passou durante o sono! Mas, conforme vamos nos despertando cada vez mais ao longo do dia, percebemos que o que sonhamos não se assemelha nem um pouco com um acontecimento real e nos sentimos até meio idiotas por um momento acreditar que todo o sonho fez parte da realidade.
É confuso, eu sei. Eu estava me sentindo confusa. Minha vida era uma pura confusão.
– Tudo bem com você, minha filha? - minha mãe perguntou na porta, preocupada.
– Ahã, só tive um sonho... Diferente. Só isso.
– Hum... Tudo bem, então se arrume para ir à escola. Deixei leite quente dentro da garrafa.
– Já está de saída?
– Sim. O dia promete ser longo, mas eu volto antes da madrugada.

Soltei um suspiro. Minha mãe adentrou o quarto.
– Ei, filha. - Ela se sentou ao meu lado na cama. - Me desculpe por isso, mas eu preciso ir

- Tudo bem. - Reprimi as lágrimas. - É só que... Sinto sua falta, mamãe. O modo como chamei minha mãe de "mamãe foi tão sofrido que senti meu coração se apertar e minha mãe quase chorar. De repente me senti um pouco abandonada, o que era besteira já que tinha minha mãe, o Filipe e a Liliane. Mas eu sabia do que eu sentia falta. De amigos. Eu tinha uma mãe, um namorado perfeito e uma ótima psicóloga que também era minha amiga, mas eu queria ter amigos na escola. Amigos da minha idade, dividindo os mesmos interesses e passeios nos finais de semana. Mas eu nunca teria isso. Os adolescentes no colégio se afastavam de mim porque tinham medo de eu surtar na frente deles. Tinha que me contentar com o fato de não ser uma garota normal. - Me desculpe, Karine, por favor, me desculpe. Prometo que ficarei em casa durante esse final de semana e podemos fazer um pequenique. Vamos para aquela praia que você gosta. Ah,podemos levar o Filipe! Se os pais deles deixarem, é claro. Uma felicidade instantânea me preencheu. Eu ia amar fazer um pequenique com minha mãe e o Filipe na praia. - Acho ótimo - respondi. - Também acho. Agora eu vou indo. Tenha um bom dia, meu amor. Minha mãe me deu um beijo e um abraço antes de partir. Aproveitei a empolgação para tomar logo meu banho e meu café da manhã, mas não esqueci nem por um segundo o sonho que tive. Esse sonho que ainda daria muito o que falar.

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Notas finais do capítulo

Deixei para escrever isso nas notas finais para ter certeza de que vocês chegariam até aqui. Eu não sei como agradecer a vocês que leem e comentam. Até mesmo aos que só leem sem comentar. Vocês sáo demais e extremamente importantes. E se eu ficar muito tempo sem postar, é porque realmente algo aconteceu.
Estou feliz também porque estou viva. Passei por uma situação que quase me fez não estar mais. Falo sobre isso outra hora. Tchau!