Cartas para um anjo escrita por Sayu


Capítulo 2
Bia




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Eu sempre achei que eu era uma boneca quebrada. Como uma vez que minha boneca favorita acabou quebrando seu braço e minha mãe a jogou fora. Eu chorei por uma semana por causa daquilo e meus pais falaram que eu estava sendo boba e mimada.
Eles não entenderam, mas você entendeu. Entendeu que aquilo não era só uma boneca pra mim. Você veio até a minha casa e vasculhou o lixo do meu quarto, achou a boneca e seu braço e o colou de volta no lugar. Eu chorei de felicidade e a abracei.
Foi dali que viramos amigas. Eu não conseguia me soltar de você, nunca. Porque era a única pessoa que fazia eu me sentir bem e a única que eu conseguia conversar normalmente. Porque eu era terrivelmente tímida.
Sendo tão sensível, sempre achava que as pessoas me odiavam. Sempre achava que era um incômodo. E acreditei que havia algo dentro de mim que não funcionava bem. Porque todas as crianças sorriam e tinham amigos, então eu só poderia estar quebrada. Igual a minha bonequinha. E quando a jogaram fora, senti como se fosse a mesma coisa que iria acontecer comigo.
Quando a colou, eu senti que mesmo que eu estivesse quebrada, ainda poderia ser consertada. E acho que foi verdade. Porque você fez com que eu pudesse criar novos laços e ter mais amigos. Fiz amizade com Ed e Carlos. E todo dia eu chorei de felicidade por finalmente ter tido aquela oportunidade.
Nesse momento estou chorando, me desculpa... Eu sei que você odiava me ver chorando, mas não consigo parar. Não quero ir pra escola, porque não quero ver a cara zangada de Ed e muito menos sua cara triste. Ed não é um cara mau e eu queria que as pessoas pudessem ver como ele se importa com seus amigos. Não quero ver ele sofrer...
Estou sendo covarde, sei disso. Mas é que... Isso só pode ser uma mentira, um sonho distorcido. Como pode você estar lá num dia e no outro você ter partido? E para onde? Carlos falou que você havia ido para outro lugar, um lugar mais feliz. Espero que você tenha amigos aí, Laurinha.
Ah, mas você é boa nisso, então você vai fazer amigos rápido! Eu só estou preocupada comigo mesma... Porque ainda não sei bem se vou conseguir ficar sem você comigo. Sei que Ed e Carlos são muito bonzinhos, e Ed me entende quase tão bem quanto você. É só que você é você e não existe substituta.
Tenho certeza que Deus está precisando de alguma pessoa gentil pra ajudá-lo, porque eu sei que o mundo não tá muito bom. Eu vejo no jornal e parece que todos estão chorando e se machucando. Eu sei que você poderia fazer qualquer um sorrir, não importando o que estivesse acontecendo.
Mesmo tentando pensar positivo, não consigo parar de chorar. É que seria terrível se eu não chorasse por você... Eu choro por tudo, então se eu não chorasse agora não seria uma falta de respeito? Não queria preocupar mamãe e papai, mas ainda sinto que é a primeira vez que eles acham que há algum sentido para meu choro.
Enquanto esteve aqui, você foi a melhor pessoa que poderia ser e eu gostaria muito de seguir seu exemplo. Vou tentar ser mais legal e mais forte. Quero poder parar de dar tanto trabalho para o Ed... Como naquele dia que inventei de subir na árvore e não consegui subir. Eu chorei muito, mas Ed subiu lá e me ajudou a descer. A professora brigou tanto com ele, mesmo ele tendo sido tão gentil.
Ed não gritou comigo, não falou: "eu te avisei", nem perguntou meus motivos pra ter subido na árvore de forma inconsequente. Parecia até mesmo que sabia o que havia acontecido, parecia que sabia que eu estava fazendo aquilo para provar minha coragem pra mim mesma.
Não quero ser um fardo pra ninguém. E você não me fazia sentir como se fosse um fardo, você me fazia sentir eu mesma. Era como se tudo ficasse bem enquanto estivessêmos juntas e eu poderia sorrir sem sentir culpa pelos meus atos.
Você nunca reclamava quando não conseguia fazer algo. Você me abraçava e me encorajava, eu sentia-me aconchegada e feliz. Porque sentia que você acreditava em mim e eu poderia fazer tudo que eu quisesse.
Se o que Carlos falou for verdade, eu queria que a gente se encontrasse logo. Mas enquanto não podemos nos ver, vou tentar me esforçar e ser aquilo que você sempre me ajudou a ser. Uma pessoa tão iluminada como você.
Quando meus pais brigavam comigo ou quando as crianças da sala riam de mim, você sempre esteve do meu lado. Nunca me julgou e nunca disse nada ruim. Eu sei que era sincero, porque seus olhos eram cheios de amor. Realmente me sentia bem quando estavamos juntas.
Brincar com você, rir com você, me fazia esquecer das coisas que odiava sobre mim. Parava de me importar tanto com tudo aquilo que me torturava. Me sentia mais forte, uma pessoa melhor. Mesmo que ainda chorasse com quase tudo que acontecia.
Obrigada por ter feito eu conhecer pessoas tão incríveis como Carlos e Ed. Até mesmo Lucas, não nos falamos tanto, mas é meu amigo também. Se não fosse por você, provavelmente eu ainda estaria sentada num canto da sala, comendo meu lanche sozinha.
Eu quero te encontrar sorrindo, mas eu não paro de chorar! Laura, você foi realmente um anjo, não foi? E teve que ir embora, porque sua missão acabou ou algo assim? Se eu pensar nisso, dói menos. Mas eu ainda tenho dúvidas. Adeus Laurinha, eu espero que a gente se veja rápido, vou tentar ser forte por enquanto. Obrigada por tudo, mesmo.


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