Todo o Lugar havia sido atingido pela caixa da tragédia. Cadáveres cobertos com um manto de sangue estavam amontoados numa pilha, outros presos por lanças pretas que pareciam ter saído da terra, condiziam com o monte de ruínas à sua volta. Qualquer pessoa que reparasse nos seus rostos, veria o horror na sua forma mais pura, e no cimo da pilha de cadáveres um rosto sorridente, que olhava para o vazio murmurando uma canção. Muitas perguntas passaram pela minha cabeça, que começara a sentir rodar devido ao forte cheiro a sangue e as arrepiantes expressões dos corpos à minha frente. Porem apenas uma única pergunta saiu da minha boca.

–Porquê?

O garoto, por uma fração de segundo, parecia surpreendido, mas a expressão sorridente rapidamente voltou ao seu rosto. Fez sinal com mão manchada de sangue, de forma a que eu me aproximasse, enquanto se dirigia a um casal de cadáveres. Aproximei-me com as pernas a titubear, não por medo do misterioso garoto que sorria enquanto eu me aproximava, mas sim devido à ideia que me passou pela cabeça quando vi o casal para o qual ele apontava. Quando vi as suas silhuetas, o meu corpo paralisou. Seguidamente comecei a tremer com a possibilidade de que aqueles corpos, pálidos e inanimados, fossem realmente quem eu pensava. Inconscientemente, virei os seus corpos frios para ver os seus rostos e tirar qualquer dúvida que pudesse permanecer.

Repentinamente um arrepio percorreu todo o meu corpo. Comecei a ver tudo nublado e umas pequenas gotas quentes e salgadas rolaram sobre o meu rosto caindo finalmente no canto dos olhos fechados da mulher que estava a minha frente. Um sentimento de ódio assaltou todo o meu corpo e nesse momento queria dirigi-lo ao garoto que estava ao meu lado. No entanto, no momento em que olhei para os seus olhos não consegui sentir nada. Os seus olhos não demonstravam qualquer emoção, fazendo com que todo o meu odio e fúria se transformassem em medo.

“Dizem que quando uma pessoa enfrenta o verdadeiro medo, não consegue nem gritar”

O garoto chegou perto de um cadáver e rapidamente fez um corte na barriga do mesmo, tirando todos os órgãos internos, um por um. À medida que os ia tirando, podia jurar que a expressão do cadáver se contorcia cada vez mais. As minhas pernas começaram a perder a força e cai de joelhos no chão coberto de sangue. Tudo começa a tremer e, no horizonte, vejo o chão cair rapidamente na minha direção. Tento fugir, mas sou impedida pelo meu próprio corpo que paralizara. O chão desaparece sobre mim e durante a queda ouço uma suave voz

–Samanta, acorda, estas atrasada!