Os meses que se foram escrita por 0 Ilimitado


Capítulo 1
Os meses que se foram


Notas iniciais do capítulo

Não assumo nenhum personagem, este sou eu. Em pessoa, em escritor. Apaixonado.



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Enfim, o natal está se aproximando, sorrateiramente se esgueirou pelos meus cantos e trombou pela frente, dizendo: “Viu? Eu cheguei!”, não proclamei glória e nem abaixei a guarda. Na hora morta, o meu único pedido e também o melhor, é tê-la de volta, com alusão de que a tive em algum momento, por uma tarde, ensolarada e jocosa.

Tornou-se normalidade, a saudade adentrar em um dia, decepar-me no outro, voar, dar trégua, levantar a bandeira branca e recomeçar o ciclo que se iniciou no começo deste ano. Minha oração é que enquanto durma, seu lençol esteja quente o bastante a ponto de te aquecer e remeter-te a recordação dos meus braços, que calorosos já puderam ser chamados um dia.

Conforme o meu andar se distanciava do seu, mais distante o meu olhar emoldurava-se, envolto em uma tralha, em um pedaço de pano, dava-me nome de santo, chamava-me de exemplo, e de mestre... Eu não tinha nada. Um tirano de meus sentimentos rendendo-me aos de outrem, aos seus longos cabelos de cores veludosas.

Com um vocabulário chulo, sinto-me obrigado a dizer que as minhas tentativas de te esquecer são fúteis. Ligo o rádio, sintonizo ondas qualquer, e em cada melodia procuro um trecho que decifre meu sentimento e inconscientemente te traga para perto dos meus lábios. Uma lenda antiga dita que o cachorro que perde a voz nunca mais volta a ser o mesmo.

Sento, franzo a testa, acaricio minhas sobrancelhas, expiro o ar. Eletrodomésticos não simulam a sua sutileza, vídeos de uma outra mulher só ilusionam um mundo distópico, onde vendo em grandes outdoors os rostos belos e deturpados de maravilhosas donzelas, ele foge da tentação a procura da única cura... A única.

A fumaça dos carros simulando cigarros. Encostado na janela do carro desola-se entre os poemas épicos. Este sou eu. O que realmente aconteceu?

Usando de toda a minha sinceridade, sei que de certo modo esforçando-me no seguir e adiantar da vida, poderia encontrar novas oportunidades com outras pessoas, porém penso que seria como uma traição, um adultério vil esquecer-te, lembra quando te disse para não trocar seus sonhos por nenhuma sarjeta? Seria uma quebra de princípios se eu fizesse o que disse ser contra.

A mente de um escritor romântico e demente, é quebradiça, para você ter uma ideia do que tanto falo, pela minha cabeça já passaram diversas explicações do que poderia ter te ocorrido. A morte soa clara, e não me faz desacreditá-la. Então, por outro lado, percebo que não foi apenas a sua querida alma que se foi, olho ao meu redor e percebo que todos os outros casos arrumaram desculpas, por mais mesquinhas e nulas que sejam, para por fim, esvair-se e não deixar rastros. Raposas que de tão peritas, aprenderam a roer até os ossos.

Imagino como seria o reencontro, levar a mão ao seu coração e sentir ele batendo com uma velocidade assustadora, ao mesmo tempo, espetacular. Estupefata.

Um silêncio forte e ecoante, a minha ânsia de questioná-la sobre a vida e a sua de tentar explicar o que muitas vezes não tem explicação. Baseando-se em José de Alencar, citando suas passagens sagradas, e eu, perdendo-me entre os moralistas, confundindo Hobbes com Marx, errando a nacionalidade de Fernando Pessoa. O básico, afinal, o que já nos manteve juntos, contudo não o “básico” das outras pessoas, criamos o nosso padrão, o nosso diálogo, corrija-me se eu me enganar, nossos alicerces são escritores e amores?

Sua vulnerabilidade estava na beira do olhar e o meu receio, beirando a sua meia de dedo.

Certo dia, aqui já residiu a mais bela flor, o olor mais profundo e enigmático, o coração mais apaixonante, a montanha mais alta e a estrela mais brilhante, a luz em pessoa brilhando em cada coração (matar-me-ia agora se dissesse que estou chorando?), aquela que percorreu caminhos que arrancaram pedaços de sua alma, e mesmo assim abriu-se na meia noite para o mais nobre paspalho que perdidamente se apaixonou e amarrou-se em seu calcanhar.

Um certo dia, a mais radiante mulher esteve aqui, enrolada em uma flor de carta, guardada ao seu remetente, desde o nascimento.

Deve desconhecer qualquer espécie já conhecida, ela é daquele tipo que converte o mais introvertido antipático em um orador, transforma um padre em um Cristo redentor. O reflexo da luz, nos meus olhos, cega-me, e o que me resta, é adormecer, pois continuar acordado ecoa mortífero. A esperança vem nos sonhos, onde ainda almejo ver o seu rosto.

FIM
23/12/14


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