Conseguimos sair da escola no final de contas. Reagan havia achado um clipe e Alex abriu o portão com ele. Ao chegar em casa, sou surpreendida por... Mike.

Mike: Ora, ora, ora... Amber Rose Thomas, a filha responsável entrando de fininho às três da madrugada.

Mike ri.

Amber: Ora, ora, ora.

Eu o imito.

Amber: Michael Grey, o filho irresponsável dando uma bronca.

Mike: Eu não estou dando uma bronca. Só estou surpreso que você tenha voltado tão tarde para casa...

Eu vou até a cozinha e pego um copo d’água, tudo isso me deixou com muita sede. Bebo o liquido deliciosamente gelado de uma vez.

Mike: Me conta, transou com quem?

Eu engasgo e começo a tossir enquanto rio.

Amber: Eu... Não... Estava...

É o que consigo dizer entre risos.

Mike: Você volta as três da madrugada, se não estava transando o que estava fazendo?

Eu respiro fundo e me controlo.

Amber: Estava fazendo um trabalho na escola.

Mike: Um trabalho? Até três da manhã?

Amber: Acredite se quiser, mas é verdade. Vou subir, estou cansada.

Mike: Então ta...

Coloco o copo na máquina de lavar louça e subo. Tomo um banho quente. Me impressiona como as gotas de água quente podem acalmar...

Visto um pijama e me deito. Tento dormir e acabo por ficar encarando o teto; eu disse "tento", não "consigo". Fico entediada em poucos minutos. Esse teto é tão simples... Nem aquelas figurinhas bobas fluorescentes em formato de estrelas tem... É só cimento pintado de branco. Eu poderia pintar esse teto... Quem sabe eu pintasse de azul... Azul como o mar, como os céus, como coisas azuis... Como os olhos do Alex...

Por que eu estou pensando no Alex!? Argh! Aquele garoto irritante, teimoso, uma praga, teimoso, burro, teimoso, chato e teimoso. Argh, eu preferia viver com uma espinha gigante no meio da testa do que com ele. Ele é uma espinha ambulante.

Eu rio com esse pensamento. Fico mais certo tempo olhando para o meu teto sem graça até que caio no sono e me lembro da última coisa em que pensei: a imensidão azul maior do que os céus e mais profunda do que o oceano, o azul mais bonito que eu já vi, os olhos do Alex.

***

Acordo com os gritos da Claire.

– LEVANTA!!! Anda, anda, anda. Já está na hora de ir, anda!

– Ir aonde? Hoje é sábado.

– Você se esqueceu? Marcamos de ir às compras hoje. Você está precisando de roupas.

Ah! Como pude me esquecer?!

– Ok, já vou.

Ela sai do quarto.

– Não demore!

Ela diz do lado de fora.

Me levanto lentamente e olho as goras no meu celular. 6:13h. Ontem eu cheguei em casa as três, devo ter caído no sono as quatro, então eu dormi por duas horas. DUAS HORAS. Estou exausta e ainda tenho que andar pelo centro o dia inteiro. Tomo uma chuveirada, me visto, calço o meu querido All Stars preto, amarro o cabelo em um rabo de cavalo improvisado e desço as escadas. Claire diz que Mike ainda está dormindo. Engolimos o café da manhã, escovamos os dentes e saímos.

Olho pela janela e vejo toda aquela gente de bicicleta, táxi, carro, a pé incessantemente seguindo os seus caminhos para aqui, ali e acolá. Finalmente Claire estaciona e nós descemos do carro.

– Mal acredito que estamos mesmo fazendo isso – ela diz empolgada.

– Nem eu – digo nervosamente.

– Vamos, não temos tempo a perder. São tantas lojas... Você vai adorar.

Ela trava as portas do carro e me puxa pela mão como uma criança apressada para entrar em um parque de diversões.

Entramos em uma loja chamada Barneys New York.

– Esta loja é realmente especial, super chique e bonita! São 8 andares e uma das seções mais legais é a de design! (Chelsea Passage)Jeans Seven, Habitual, Marc Jacobs, Welkin, Paper Denim & Cloth, Juicy, Joe’s, Joie, cintos Botkier...

– Você parece até um guia turístico.

Ela ri.

– Digamos que eu tenho experiência.

Nós reviramos todos os andares e a Claire escolhe alguns bilhões de roupas para eu provar e ela avalia. Eu escolho as que eu mais gostei, ela paga e nós saímos da loja com duas sacolas enormes.

– Próxima loja – ela diz ansiosamente. Nós fomos na Henry Bendel, na Macy’s, na Bloomingdale’s, na Bergdorf Goodman, na Nordstrom, na Saks Fifth Avenue e em tantas outras que perdi a conta. Paramos no meio da tarde para comer em um foodtruck.

Já estava escuro quando o comércio estava fechando. Estávamos cansadas, carregando umas 10 sacolas cada uma, Claire esqueceu onde estacionou o carro e - como prova de que sempre pode ficar pior - começou a chover. Corremos na chuva com as sacolas balançando de um lado para o outro pelas ruas de Nova Iorque até acharmos o carro.Assim que entramos no mesmo a chuva parou, como que instantaneamente. Não poderia ter esperado que chegássemos ao carro para chover?!

Ao chegarmos em casa, Claire me ajudou a levar as sacolas ao meu quarto e depois tomei banho e me joguei na cama. Não demorou muito até eu cair no sono.

***

Acordo com os feixes de luz que invadem o quarto sem pedir permissão pela janela. Enterro a cara no travesseiro, insatisfeita com o pouco tempo de sono, mas não consigo mais dormir. Por fim me sento na cama e olho no celular as horas. Na tela o relógio diz que são 7:46.

Amber: Argh. Ainda é muito cedo...

Sei que não vou mais conseguir dormir uma vez que já acordei então simplesmente faço uma nota mental: lembrar de fechar a cortina antes de dormir.

Me levanto e me espreguiço, calçando a pantufa e olho para o meu quarto, examinando a bagunça: roupas jogadas no chão, material espalhado sobre a cômoda e por fim, a cama bagunçada. Decido arrumar a minha bagunça. Guardo o material em uma gaveta da cômoda, coloco as roupas sujas no cesto de roupa suja e arrumo a cama. Um bilhetinho colado na porta do meu banheiro me chama a atenção.

Por fim terminei o seu banheiro. Espero que goste.

Beijos, Claire.

Retiro o bilhete da porta e a abro ansiosa. O resultado me surpreende.

O piso de madeira, a pia de mármore bege com um espelho pendurado na parede, a qual é coberta por um papel de parede florido nas cores bege e preto, e do lado de dentro do boxe, no chão tem uma paisagem (pintada, eu acho), parece que eu estou voando sobre ela. A Claire é uma artista muito boa.

Vou até o chuveiro, me dispo e tomo um banho quente demorado. Ao sair, me visto e desço as escadas. Todos ainda estão dormindo. Frito ovos e bacon, coloco duas fatias de pão na torradeira e pego uma caixa de suco de laranja na geladeira, arrumo a mesa, pego as fatias de pão tostadas, as como com os ovos e bacon e bebo um copo de suco.

Subo as escadas, escovo os dentes no meu banheiro novo e me sento na minha cama com o caderno sobre as minhas pernas e os livros didáticos à minha volta. Abro o livro de biologia na primeira página do capítulo 1 e começo a ler. As palavras que descreviam as relações intra e inter específicas harmônicas e desarmônicas pouco a pouco vão se prendendo na minha mente. Quando me dou conta já estou no capítulo 5 lendo sobre talassocíclo, limnocíclo e epinocíclo. Ao final de cada capítulo faço anotações no caderno. Paro de estudar quando sinto um cheio de queimado. Saio do meu quarto e desço as escadas. Vou até a cozinha e vejo Claire tirando a lasanha do forno praguejando.

Claire: Que diabos! Eu não consigo nem assar uma lasanha?!

Ela coloca a assadeira sobre a mesa e se vira, se assustando comigo.

Claire: Amber! Se você quer me matar me dê um tiro, não um ataque cardíaco.

Eu rio.

Amber: Desculpe, não quis te assustar. Estava estudando e senti um cheiro de queimado.

Claire: É... Sobre isso...

Amber: Deixa eu adivinhar, Tim é o cozinheiro da casa.

Claire acena positivamente.

Amber: Mas ainda podemos salvar o que não queimou da lasanha.

Eu olho para a assadeira.

Amber: Não está tão mal. Só as bordas foram queimadas. Me passa a faca, por favor?

Ela me dá uma faca, esperançosa.

Eu coloco a lasanha em um prato grande e corto as partes queimadas, jogando-as fora.

Claire me abraça.

Claire: Amber, eu não sei o que eu faria sem você.

Amber: Bem, eu acho que você comeria lasanha queimada.

Ela ri.

Claire: Agora me ajude a arrumar a mesa.

Ela pega a toalha de mesa e nós a estendemos sobre a mesa. Colocamos os três pratos sobre a mesa, os talheres, os copos, a lasanha e a caixa de suco de laranja.

Claire: Vou acordar o Mike, já volto.

Ela sobe as escadas e eu me sento à mesa.

Ouço as reclamações do Mike e um grito que só pode ser do Mike. Logo os dois descem as escadas. Mike ensopado usando nada mais que uma cueca do Bob Esponja.

Mike: Não precisava me molhar.

Começo a rir.

Claire: Quem mandou não levantar quando eu pedi gentilmente?!

Mike: E você pare de rir, Amber.

Amber: Eu não sei o que é mais engraçado, um sênior de cueca do Bob Esponja ou um sênior seminu ensopado porque não quis acordar por bem.

Claire começa a rir comigo.

Mike: Ta, ta. Já se divertiram.

Nos servimos e Mike, aparentemente faminto, engole um pedaço de uma vez.

– Não é que está bom?! Claire, você comprou pronta, né? – Diz Mike

– Não, eu fiz com a ajuda da Amber.

– Nossa, parabéns para vocês. Amber eu te devo a minha vida. Você fez a gororoba da Claire ficar boa!

Eu rio.

Amber: Eu só ajudei a cortar as partes queimadas.

– Que seja – Ele responde de boca cheia.

Quando terminamos, Mike sobe as escadas correndo para jogar videogame ou alguma coisa assim. Claire e eu tiramos a mesa, colocamos a louça na máquina e eu subo as escadas. Após escovar os dentes, eu me sento na cama e volto a estudar biologia e depois história e a atividade de matemática. As horas seguintes escorrem miseravelmente devagar, mas por fim o sol se põe e eu termino. Lá se vai o meu domingo.