Were you really surprised? - Cobrade escrita por HJ


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Oiiiee geenntee!! Eu ia postar só o ano que vem, mas eu tô tão feliz pelo reaparecimento de Cobrade depois de quase uma semana que resolvi adiantar esse cap para vcs! Não esqueçam de comentar! Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/576067/chapter/6

Antes de dizer qualquer palavra, Cobra segurou firme os braços de Jade, empurrando-a para dentro do apartamento e fechando a porta atrás de si com um chute.

– Me solta, Cobra! Senão...

– Senão o que? Vai chamar a mamãezinha? Eu só acho que ela não vai te escutar, porque ela deve estar bem longe daqui, junto com aquele boiola metido a besta.

– O que você fez com eles? - Jade se desesperou.

– Nada. Eu ia fazer essa visitinha independente de quem estivesse aqui com você, mas eu vi quando os dois saíram do prédio. - Cobra apertou ainda mais os braços da garota, completamente fora de si. - Eu sei muito bem que a dama está sozinha em casa, sem ninguém para pedir ajuda.

– Existem vizinhos, sabia? - Jade estava ofegante e com medo, mas mesmo assim juntou suas forças e gritou: - Me solta! Socorro!! Tem bandido no prédio!! Socorr...

– Para, garota! - Cobra sussurrou, enquanto empurrava Jade em direção ao sofá. - Eu até gosto de gritos, mas não desse jeito. - Nisso, lançou o corpo trêmulo da dançarina no móvel e afastou-se: - Eu só queria te dar um susto.

– Meta atingida. - O tom de voz denunciava toda a aflição que a dançarina sentia e toda a falta de coragem que lhe assombrava naquele momento. Cobra olhou para a indefesa dama com olhar assustado que estava sentada no sofá a sua frente e percebeu que tinha pegado pesado. Não que ele quisesse, mas ela tinha provocado e ele não tinha auto-controle suficiente para evitar de fazer o que tinha feito. Ainda que aos poucos sendo dominado pelo sentimento de culpa, uma coisa Cobra não havia entendido ainda.

– Você pensou que, mesmo depois de tudo que a gente passou junto, eu ia fazer alguma coisa contigo? - Jade continuou imóvel, com o olhar fixo no chão e sem pronunciar uma palavra. - Me responde! Você tem medo de mim, Jade?

Ela respirou fundo, ergueu a cabeça, olhou no fundo dos olhos do lutador e retrucou:

– E não é isso que eu devia ter de um marginal?

E então um silêncio tomou conta da sala. Cobra parecia ter perdido o norte, pois lentamente sentou-se em uma das poltronas, sem tirar a visão já um pouco marejada de Jade. Ela, porém, voltou novamente o olhar para o chão, em uma tentativa falha de conter as lágrimas que invadiam o seu rosto. Cobra não queria acreditar no que tinha ouvido.

– Você acha mesmo isso? - perguntou, após um tempo, com a voz baixa e embargada.

A resposta não veio de pronto. Antes, Jade enxugou o choro e preparou a mente para olhar para Cobra. Infelizmente, esqueceu-se de preparar o coração, pois assim que avistou o semblante triste do lutador, sentiu um aperto insuportável no peito. Lutando contra esse sentimento, ela falou:

– Acho. Uma pessoa que faz o que você fez com a Ruiva, tá sempre ocupada com coisas que ninguém pode saber o que é, invade o apartamento dos outros e trata alguém como você vem me tratando... - Uma lágrima rolou, solitária, pelo rosto da morena. - É um marginal.

Cobra estava mais machucado do que nunca, incapaz de revidar alguma coisa. Ele apenas conseguiu baixar a cabeça, enquanto Jade dizia:

– Você foi um erro, desde o começo. - Seu tom não era acusador, ela somente estava desabafando toda mágoa que vinha carregando. - Sabe o que é pior? Eu fui avisada, por Deus e pelo mundo, que isso ia acabar acontecendo. Disseram que eu ia me machucar, ia atrasar a minha vida se continuasse com você. Mas eu, idiota como sempre, cai na tua conversa, várias e várias vezes. Com o tempo, mais do que um passatempo, você foi se tornando um vício para mim. Uma verdadeira droga. Quando eu estava contigo era... maravilhoso. Eu me sentia bem. Eu me sentia... viva. Eu esquecia que era filha da ex-bailarina genial Lucrécia Gardel, que tinha que se esforçar para ter uma carreira brilhante e não manchar a ótima história que a minha mãe começou a escrever. Com você eu podia ser eu mesma, toda errada, que não tinha problema. Você era igual. - Cobra ouvia a tudo atentamente, com o coração batendo forte, pulsando para todo o seu corpo uma vontade incontrolável de interromper aquela garota, explicar a razão do seu afastamento e beijá-la. Obviamente, não fez nada disso, apenas continuou escutando: - Mas aí, quando eu ficava longe de você, vinha a sensação de abstinência. Eu tinha vontade de largar o que eu estava fazendo, ir para o QG sem dar satisfação para ninguém e ficar lá por horas e horas. Eu simplesmente... precisava de você, entende? - Cobra fez o sinal positivo com a cabeça. Ele se sentia exatamente do mesmo jeito. - Porém às vezes, quando eu seguia esse meu instinto e ia me encontrar com você, ao invés de ser tratada como uma dama... você me tratava como uma vagabunda. Como todo vício, você começou a me fazer mal. - E então Jade baixou a cabeça, colocando-a no meio das suas mãos, sem condições de falar mais alguma coisa.

Cobra tentava assimilar tudo o que tinha ouvido. Ele estava um pouco tonto por ter recebido tantas informações em tão pouco tempo, mas ainda sim lhe restava uma dúvida, que por sinal era o motivo da visita.

– Se eu sou tão ruim assim, por que você se deu ao trabalho de ir lá no campeonato, gravar a minha luta e fazer aquele vídeo? Você podia simplesmente tentar me esquecer, sei lá, seguir em frente na companhia do Thawik. Por que você fez questão de me humilhar, em plena internet?

– Porque eu quis me vingar. - Jade voltou seu olhar para o Cobra e ele conseguiu sentir a frieza deles. Ela estava triste de verdade, e a culpa era dele. Com o volume da voz mais alto, ela recomeçou: - Sinceramente, eu acho que aquilo nem chegou perto de tudo o que você fez comigo. Você se lembra das vezes que me tratou feito um pano de chão sujo? E das vezes que disse em alto e bom tom que, por dinheiro, você terminaria comigo? Você lembra de quando você me roubou? E de todas as vezes que você prometeu que me protegeria? Você sabe quantas vezes me deixou destruída, e eu tive que me obrigar a me reconstruir e parecer bem? - Naquele momento, ela já tinha desistido de impedir as lágrimas de rolarem. Ela tinha caído de uma altura gigantesca e estava se dando ao direito de expor os seus machucados. - Você realmente se sentiu humilhado? Me desculpe, mas eu acho você não sabe o que é isso. - Ela levantou-se, foi até a porta e, abrindo-a, disse: - A gente podia ter uma história legal, de evolução, tanto eu quanto você, mas o seu egoísmo acabou com tudo. Vai embora.

Cobra não aguentaria ficar ali e não contar a ela toda verdade. Ele precisava dela em seus braços de novo e como controle de si mesmo não estava na lista de qualidades do lutador, ele resolveu acatar a decisão da Jade.

– Eu vou, mas antes eu posso te perguntar uma coisa?

– Pergunta. - Jade já estava cansada e se era apenas de uma resposta que ele precisava para ir embora, que perguntasse o quanto antes.

– O que você tem com o... Thawik? É que eu ando vendo vocês dois bem próximos e...

– Eu o Thawik temos a mesma coisa que você tinha com as suas colegas lutadoras depois da luta. - Respondeu Jade, sem conseguir conter o ciúmes.

Tomara que seja só isso mesmo, pensou Cobra. Quando estava prestes a sair, encontrou-se perto da Jade. E ele, mais uma vez, não conseguiu se controlar e a puxou para um beijo. Esquecendo-se que a pouco tempo estava brigando com aquele cara, Jade se entregou por inteiro naquele momento. O beijo dele tinha essa poder de deixá-la tonta, com amnésia. Os dois estavam com saudade daquilo e aproveitaram cada segundo, pois não sabiam quando podia acontecer de novo. Quando o ar já lhes era escasso, desvincilharam-se as línguas e os dois ficaram se olhando. Cobra não parecia mais aquele troglodita que havia invadido o apartamento da dançarina, pelo contrário, parecia estar tão afetado pelas palavras da garota que seu rosto chegava a dar pena. Se ele ficasse mais alguns minutos, ela tinha certeza que o colocaria no colo e faria cafuné, para que ele ficasse feliz. O rumo daquela situação estava nas mãos dele, mas Cobra respeitaria a vontade da Jade. Afastou-se da menina e disse:

– Respondendo à sua pergunta, eu me lembro sim de tudo aquilo, e te peço desculpas. E eu lembro principalmente das promessas de te proteger que eu fiz. Por mais que pareça mentira, eu tô cumprindo elas. - Então virou-se e saiu dali, antes que Jade pudesse entender melhor as palavras.

Quando ele foi embora, parecia ter levado junto com ele um pedacinho da dançarina. Um pouco do coração, talvez. Sem o pedaço que lhe faltava, Jade deitou-se e, chorando, se pôs a arrancar seu cabelo. Até pegar no sono.

***

Cedo do dia seguinte, Cobra estava em pé, esperando pela pessoa que havia chamado. Assim que ela chegou, o lutador foi falando:

– Eu não aguento mais. - Após pensar alguns minutos, continuou: - É isso mesmo, eu desisto, jogo a toalha.

– Calma, Cobreloa, não é assim. Já tá quase terminando. Na próxima quinta você disse que vai rolar uma luta ilegal, não é? - Perguntou Nat.

– Vai.

– Então vai ser nessa que a Khan vai rodar. A gente conseguiu as provas que faltavam para colocar todo aquele povo na cadeia. Aí você vai poder voltar para a sua dançarina. - Nat sorriu mas Cobra não fez o mesmo. - Qual é, Cobra? Você já aguentou tanto tempo, vai amarelar agora? Além de que você sabe, que se você não tá do lado da polícia, tá do lado da Khan. E se tá do lado da Khan, o teu destino é o mesmo que o deles.

– Tá, tá bem. Eu vou continuar de olho neles. - Disse Cobra, meio contrariado.

– Cobra, relaxa. Ela vai entender. Parece que depois de dar muito soco em ponta de faca, você tá fazendo o certo.

***

Na casa da Lucrécia, o dia seguinte aos acontecimentos começou de forma bem normal. Jade já estava recuperada da choradeira do dia anterior, mas não esperava o que estava por vir.

– Filha, a gente precisa conversar. - Começou Lucrécia, deixando Jade apavorada.

– Sobre o que?

– Sobre mim. - Jade não sabia se ficava aliviada ou assustada. Mesmo assim, a professora prosseguiu: - Lembra que eu disse que talvez fosse preciso fazer uma cirurgia, para a retirada do tumor e consequentemente, da mama? - Jade afirmou. - Pois é, segundo os resultados dos meus últimos exames, a cirurgia se fez necessária.

– Quando?

– Na próxima quinta, mas eu vou precisar que você me dê muita força também na quarta, porque eu decidi revelar aos alunos a minha doença. Eu vou precisar que você fique forte, para que eu fique também, certo?

– Claro, mamãe. Agora você vai fazer essa cirurgia e vai ficar bem. Logo logo vai estar dando bronca em todos os seus alunos de novo. - A garota sorriu, tentando parecer firme do que dizia, mas não se sabe até que ponto ela conseguiu.

***

No final da tarde da quarta-feira seguinte, os alunos e professores da Ribalta foram reunidos para um comunicado. Quando o silêncio existiu, Edgard começou o discurso:

– Bom gente, vocês foram reunidos aqui para receberem um recado da professora Lucrécia. Peço com todo carinho, que vocês tentem receber a notícia com a maior calma possível. - Olhou para a amiga e, encorajando-a, disse: - Lu, quando você quiser.

– Olá alunos! Todos vocês aqui me conhecem e sabem que eu tenho fama de bruxa. - Iniciou calmamente, com a voz já um pouco embargada. - Mas eu tenho um segredo para contar: eu sou humana. E como todos os humanos, eu tenho qualidades, defeitos, dias bons, dias ruins e... doenças. - Nisso, começou a desenrolar o lenço que trazia na cabeça, já assustando os alunos mais inteligentes. - Sei que vocês pensavam que eu usava lenços como esse por maluquice, querendo aparecer. Mas a verdade... a verdade é que eu estou com... câncer de mama.

Assim que isto foi dito, um bochicho tomou conta da sala e Lucrécia não conseguiu segurar algumas lágrimas. Muitos olharam na direção da Jade, mas esta estava de cabeça baixa. Edgard bateu palmas e recriminou:

– Pessoal! O que nós combinamos? - Em poucos instantes o silêncio voltou a imperar e as atenções se voltaram para Lucrécia. A mesma aparentava estar um pouco mais pálida do que o comum, mesmo para alguém com câncer. Apesar de estar cambaleante, continuou:

– Amanhã eu vou fazer uma cirurgia para a retirada do tumor. Espero poder contar com a oração e com o pensamento positivo de cada um de vocês. - Ela parecia estar tonta ou muito cansada. - Peço que vocês alertem suas mães, tias, primas, enfim, as mulheres ao redor de vocês, para a importância do auto-exame e das consultas periódicas. Elas podem evit... - Tentou encerrar a frase, mas caiu no chão, desmaiada.

Tão logo ela caiu, Renê pegou ela nos braços, levando-a em direção ao seu carro. Os alunos se agitaram começaram a sair do prédio, chamando a atenção do Cobra, que se encontrava no QG.

Jade chorava e levava a mão à nuca, arrancando uma quantia cada vez maior de fios. Depois de empurrar muitos colegas, ela chegou até o carro. Estava pronta para abrir uma das portas e entrar, quando Dandara a impediu, dizendo:

– Você tá muito nervosa, querida. Deixa que eu e o Ed vamos acompanhando ela. Procura ficar calma, tá? A gente manda notícias. - Antes que a bailarina pudesse reclamar, a professora entrou no carro e este pegou o seu rumo em direção ao hospital.

Os alunos começaram a entrar novamente na Ribalta sob a supervisão do Nando, deixando Jade acompanhando o carro até onde a visão alcançava, sozinha. Pelo menos, até alguém chegar e abraçá-la. Antes que ela sentisse medo, esse alguém a acalmou, dizendo:

– Relaxa, minha dama! Vai ficar tudo bem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem!!