Were you really surprised? - Cobrade escrita por HJ


Capítulo 44
Capítulo 44




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Mal sabia ela que o melhor remédio para Jade era o Cobra do seu lado.

***

– Não precisa, doutora. – Adiantou-se Jade, radiante, assim que uma moça entrou no quarto do hospital empurrando uma cadeira de rodas. – Eu consigo andar!

Depois de duas semanas de internação, tudo o que a morena queria era sair correndo por aí, se sentindo livre, ainda mais depois que os exames apenas confirmaram aquilo que o Dr. Campbell já havia recomendado para a ex-bailarina. Passado o período de recuperação, a alta hospitalar foi dada e a Jade estava, junto com Cobra, esperando os profissionais que os acompanhariam até a saída.

– Eu sei, Jade, mas a cadeira de rodas é obrigatória. Procedimento de rotina. Ah, e eu não sou médica. Sou enfermeira. – Explicou-se a jovem, acostumada com a confusão.

– E tem diferença? – Perguntou Cobra, de imediato recebendo um olhar matador da namorada.

– Claro que tem, Cobra! E você me desculpe, moça. É que eu estou tão ansiosa para voltar para casa que acabei confundindo tudo. – Ela respirou fundo e explicou para o lutador. – Tem uma diferença enorme, Cobra. Apesar do enfermeiro não ser habilitado a dar diagnósticos ou receitar tratamento, é ele que acompanha o paciente durante a passagem no hospital. Eles lideram equipes, aplicam medicações, dão colo, dão carinho, cuidam. Eles são um dos poucos profissionais que carregam o dom de conseguir se colocar no lugar do outro. É uma profissão muito digna, embora não seja muito reconhecida.

– Então é praticamente eles que trataram de você de verdade, dama? – Perguntou Cobra, recebendo o afirmativo da morena. – Ô, se é assim muito obrigada, moça!

A enfermeira agradeceu, um pouco envergonhada com a súbita gratidão demonstrada e apontou novamente a cadeira de rodas, a qual o vagabundo fez questão de empurrar.

***

– Sabe que eu até curti? – Perguntou Jade, enquanto se acomodava no sofá.

– Curtiu? Sério que você curtiu cair de uma altura de aproximadamente dois metros e meio e ficar com a movimentação restrita? Sério que você curtiu quase me matar de susto? Sério isso? – Surpreendeu-se o lutador, indo em direção a cozinha do apartamento, que era divida da sala apenas por uma bancada, então eles puderam manter a conversa normalmente.

– Não isso, vagabundo! – Jade sorriu. – Tô dizendo que eu curti passar um tempo no hospital, observando a rotina do pessoal. Você não tem noção, Cobra! De segunda a segunda, de manhã a manhã... Sempre tinha alguém lá. É estranho pensar que todos eles podiam estar em casa, com suas famílias e, por vocação, estão em um hospital, cuidando dos outros. Até não falo tanto pelos médicos, mas por quem realmente carrega a saúde nas costas, sabe? Os enfermeiros, os técnicos de enfermagem, o pessoal da higienização... Todo mundo com seus problemas, mas mesmo assim lá, cuidando dos nossos. Dá até um orgulho pensar que existem pessoas assim.

– Ah entendi... Você tá deslumbrada com esse povo, né Jade? – Perguntou Cobra, observando encantado o sorriso bobo da noiva ao se referir aos enfermeiros.

– E não é pra estar, Cobra? Se você parar pra pensar, eles já participaram muito da minha vida. Eles cuidaram da minha mãe quando ela tava com câncer, cuidaram de você sempre que você faz bobagem e acaba parando no hospital, cuidaram de mim agora...– Refletiu Jade, encarando o namorado. Pasmou-se ao entender para onde os olhos do lutador estavam direcionados. - Eu tenho uma dívida eterna com eles. – Concluiu ela.

– E... E quem sabe não é essa a sua vocação? – Sugeriu Cobra, tentando manter a concentração no lanche que preparava. Isso se tornava consideravelmente difícil quando se tinha a Jade vestindo um short minúsculo e expondo suas belas pernas no sofá bem na sua frente. Esperava apenas que seus olhares fossem discretos, afinal ela estava doente. – Agora que você... Bem, agora que você não pode mais dançar, é melhor... Você sabe, pensar em outra carreira.

– Eu... Eu não sei. Você acha que eu daria uma boa enfermeira? – Provocou a morena, sabendo que aquilo mexeria com a imaginação do lutador.

Funcionou. Cobra fitou novamente o corpo da namorada, desta vez a imaginando dentro de um uniforme de enfermeira. Não conseguiu evitar um sorriso malicioso ao responder, ainda com o olhar perdido nas curvas da morena:

– Você daria uma enfermeira espetacular, minha dama.

– Você é muito tarado, Cobreloa! – Jade exclamou, perplexa.

– O que...? Não! Eu só tava...

– Me devorando com os olhos. É, eu notei. – Ela riu do lutador, que estava desconcertado. – Cobra, o estilo envergonhado definitivamente não combina com você.

Cobra piscou repetidas vezes, respirou fundo, balançou a cabeça, tentou voltar a fazer o lanche, mas acabou derrubando o prato no chão, arrancando mais gargalhadas da namorada.

– Para de rir, Jade! – Pediu Cobra, rindo também. Desistiu de juntar os cacos do prato quebrado e foi se sentar no sofá, junto da namorada. – Caramba, dá um desconto, vai! Desde que a gente terminou... Você sabe...

– Você não pegou mais ninguém?! – Surpreendeu-se Jade.

– Por que? Você pegou?! – Perguntou o lutador, com medo da resposta.

– Não, claro que não! – Respondeu a garota, antes que o Cobra começasse a imaginar coisas. – É que você é todo metido a pegador, praticamente viciado em sexo... É estranho pensar que você passou tanto tempo sem ninguém.

– Eu sou viciado em você, é diferente. – Explicou-se ele, se afastando da Jade e indo pegar um copo de água bem gelada. A proximidade seria a sua maior inimiga no momento. – E ver você aí, toda linda, toda gostosa e saber que não vai rolar nada porque você ainda tá se recuperando... É muito difícil, Jade!

– Bem... Se você prometer... – Começou a morena.

– O que? – Incentivou o lutador, depois de um gole grande de água. – O que eu tenho que prometer?

– Se você prometer ir com calma... A gente pode tentar. – Sugeriu a ex-bailarina, sorrindo maliciosamente enquanto o noivo corria na sua direção. Assim que ele pulou em cima dela, Jade lembrou: - Eu disse com calma, Cobra!

– Eu prometo, eu prometo! – Afirmou o lutador, pouco antes de beijar a morena com fervor. Enquanto Cobra tentava se controlar, Jade depositava pequenos beijos ao longo do pescoço do noivo e acariciava sua nuca, fazendo com que ele se arrepiasse por inteiro. – Ah, quer saber?! Eu não prometo porcaria nenhuma!

***

Quando Karina chegou no apartamento, levou um susto. Além do prato quebrado, o sofá tinha ido parar no outro lado da sala e o tapete estava revirado. Entendeu tudo quando passou pelo quarto do casal e ouviu risos baixinhos.

– Vocês dois vão ter que arrumar toda essa bagunça depois, hein?! Não quero saber de casa virada do avesso! – Gritou ela na porta do quarto, recebendo como resposta apenas mais risos.

Acabou por ir para o seu quarto com um sorriso nos lábios. Como é bom esses dois juntos de novo.

***

No dia seguinte, Cobra levou a morena para a Companhia. O pessoal de lá tinha preparada uma despedia para a Jade depois que ficaram sabendo que não poderiam mais contar com ela.

Assim que chegou, Jade sentiu um frio percorrer a sua espinha. Tinha sonhado tanto em se tornar uma bailarina conceituada, famosa, trabalhar em uma companhia de sucesso e finalmente realizar o sonha da mãe... Quando finalmente conseguiu, uma queda acabou com tudo.

Dirigiu-se para o auditório de apresentações mais nervosa do que nunca. Seria difícil reencontrar aqueles rostos amigos e dar um adeus. Mas tudo isso se desfez quando sentou em um dos assentos e ouviu os gritos autoritários do Dimitre implorando por silêncio para que ele pudesse enfim começar o seu discurso. Assim que todos pararam suas conversas, o coreógrafo limpou a garganta.

– Jade, eu queria iniciar te pedindo sinceras desculpas. Aqui nos Estados Unidos, nós temos um certo preconceito com os latinos e com você não foi diferente. Eu pensava que as brasileiras só alcançavam uma posição de prestígio quando dormiam com o chefe, mas aí você apareceu aqui e deu um simbólico tapa na minha cara. Você chegou com seu talento e conquistou o seu lugar por puro merecimento. É uma pena que tenha acontecido esse acidente... Você tinha um grande futuro dentro dessa Companhia. – Concluiu ele, com o olhar um pouco marejado.

Era diferente ver o Dimitre demonstrado sentimentos, já que ele parecia incapaz de sentir qualquer coisa que fosse. Talvez por querer manter essa fama de mal, o coreógrafo passou a palavra para John e Cobra se mexeu desconfortavelmente na cadeira.

– É... Bom, eu não preciso repetir o quanto você é importante, não é Jade? – Ele suspirou e encarou o Cobra, receoso. – Eu lembro do dia dos testes, quando você chegou aqui completamente apavorada... Foi engraçado! – Ele riu ao se lembrar e Jade o acompanhou, mas interrompeu o riso assim que percebeu que o noivo não estava se divertindo muito. – Mas enfim, você passou no teste e se tornou uma grande parceira, tanto nos palcos quanto fora deles. Eu queria te agradecer muito por todos os momentos que a gente passou junto, por todas as piadas, por todos os conselhos... Provavelmente, nós nos veremos cada vez menos, mas saiba que eu vou guardar você com muito carinho no meu coração para sempre. Muito sucesso daqui em diante, seja lá o que você decidir fazer. Tenho certeza que você vai se dar muito bem. E eu tô sempre por aqui mesmo, então se você precisar de um ombro amigo em um dia difícil, ou se você precisar contar uma novidade boa, pode me procurar.

Jade sabia que era verdade. Aquela amizade, apesar de tudo, era real.

Quando viu que os outros não iriam falar nada, chegou a vez da ex-bailarina dizer algumas palavras.

– Pois é, pessoal... Eu esperava me despedir de vocês só daqui há muitos anos, quando me aposentasse, mas olha o que a vida preparou pra gente. – Ela respirou fundo. Ok, isso é um pouco mais difícil do que eu imaginava. – É claro que é horrível ter que dizer adeus pra vocês, mas saibam que eu estou feliz. Não por deixar a Companhia, mas sim por ter conhecido cada um de vocês. Sério, vocês são demais! Tanto os meus colegas de dança, como o pessoal da produção e até você, Dimitre, cada um de vocês me marcou de alguma forma e é muito especial. E é por isso que eu quero pedir: sejam felizes. Eu sei que é difícil sem a minha presença... – Eles sorriram. – Mas sejam felizes. Eu já estou pensando em outros projetos pra minha vida que também vão me trazer felicidade. E é isso... Vida que segue. Brilhem bastante! Mesmo de longe eu vou estar acompanhando vocês, portanto me representem, hein! - Todos sorriram, emocionados.

Sentiriam falta, sem dúvidas, mas a vida é enorme e o futuro estava ali na frente, os esperando.

Era sobre isso que a Jade refletia durante o caminho de volta para o apartamento.

***

Quando chegou da Academia de noite, Cobra encontrou a noiva já na cama, com o olhar fixo no computador. Ele tomou banho, jantou e se preparou para dormir enquanto Jade permaneceu do mesmo jeito.

– O que você tá vendo aí, minha dama?! Tô ficando preocupado já... – Confessou ele, sentando ao lado dela. - É algum daqueles sites de relacionamento?!

– Para de bobagem, vagabundo! - Ela sorriu. - Eu tô pesquisando como é o sistema de acesso na faculdade aqui nos Estados Unidos... Pelo jeito vai ser bem complicado eu entrar agora. – Explicou ela, desanimada.

– E você já sabe o que quer fazer?

– Eu pensei bastante, pesquisei, e decidi que vou fazer enfermagem. – Afirmou ela, mas surpreendeu o lutador. – O que, Cobra? Acha que não sou capaz?

– Não, não é isso, Jade... É que... É diferente. – Disse ele. – Nunca imaginei você como enfermeira... Pelo menos não até ontem a noite.

– Para, Cobra! – Ela riu, depois de dar um tapa de leve no braço do noivo. – Enfermagem é coisa séria, não tem nada de sensual. Eu pensei muito e vi que é isso que eu quero: é dar carinho, dar apoio, cuidar. E eu até gostei de cuidar da minha mãe. Quero fazer isso com mais pessoas.

– Tenho certeza que você vai ser uma enfermeira incrível, minha dama... Mas hoje você pode cuidar de mim? O pessoal da Academia me desmontou... – Reclamou ele, enquanto tirava o computador do colo da morena e se aninhava ali.

Jade sorria e fazia cafuné no seu lutador, mas sua cabeça estava fervilhando. Tinha que dar um jeito na sua vida.

***

As semanas passavam e Jade se esforçava para reaprender todo o conteúdo do ensino médio, dessa vez em inglês. Começou a pensar no quão difícil seria passar uma faculdade inteira traduzindo tudo e foi ficando desanimada. Não era aquilo que ela queria. A situação piorou quando todos os amigos do Brasil começaram a postar coisas sobre suas faculdades, sobre seus espetáculos. A ex-bailarina e possível futura enfermeira sentiu que estava ficando para trás, que a sua vida estava passando e ela não estava fazendo nada de útil.

Foi aí que ela tomou uma decisão importante. Uma decisão que mudaria tudo.

Assim que o Cobra chegou em casa naquele dia, Jade o chamou para conversar. Mentalmente o lutador repassava os últimos dias. Nada de crise de ciúme, nada de cena constrangedora, nada de grosseria, nada de nada. Qual seria o assunto então?

Cobra se sentou no sofá e a Jade também, com uma cara preocupada. O lutador, já desesperado, se adiantou:

– Fala, Jade! O que aconteceu?! É coisa ruim?

– Isso vai depender do jeito que você vai reagir. – Ela respirou fundo, preocupada. Aquilo seria difícil. – Eu só queria te pedir para não tentar me convencer a mudar de ideia. A minha decisão já tá tomada e eu tenho certeza dela.

– Mas que decisão? – Ele encarou a morena. – Jade, o que você vai fazer?

– Eu vou voltar para o Brasil, Cobra. – Ela disse, decidida. – Eu só preciso saber se você vem junto... Ou não.


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Notas finais do capítulo

Oi, meus amores! Desculpem pela demora (tá ficando repetitivo, não é?), mas é que o último capítulo era bem importante e recebeu relativamente poucos comentários (mas maravilhosos! Muito obrigada ao pessoal que comentou!). Isso me desanimou bastante, mas como não sou de deixar fic pela metade... Apareci de novo!
Teve "eu te amo", teve casamento, teve tudo que podia ter e... Teve sumiço! Pode isso?! Titia Rosane, titio Paulo, cadê Cobrade?! Só no último capítulo? Que maldade! :'(
E HOJE É O DIA DELA, MEU POVO!! DA NOSSA DIVA MASTER!! #HappyBirthdayAnajúDorigon
Capítulo aí, se divirtam e comentem! Nos vemos nos reviews! Beijinhos!



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