Le renard de marche escrita por Annemyra


Capítulo 8
VII - This lab is on fire!


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu sou uma decepção mesmo como autora. Desculpe mesmo.
Desculpe do fundo do meu coração. Não tem justificativa para o que eu faço com vocês e eu não espero meu perdão tão cedo.
Como agora consegui me acostumar com o ritmo do ensino médio, talvez eu consiga atualizar cada vez mais a fanfic. Um cap por semana? Um cap por duas semanas? Não sei, mas vai ser melhor do que 2 ou 3 caps por ano...
Espero que gostem mesmo ♥



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— Lucy, onde está Trisha?

A voz do professor de matemática, o qual parecia incrivelmente com aqueles professores patéticos de filme que lecionam a mesma matéria, ressoou forte em minha cabeça, enquanto eu girava o lápis nervosamente, na tentativa de me distrair do exercício difícil que se encontrava em meu caderno e também do motivo que estava me fazendo ficar com os nervos à flor da pele.

Fazia três horas que eu tinha percebido que Trisha, minha colega de quarto e melhor amiga, havia sumido. Nenhum vestígio de onde pudera ter ido, nem ao menos alguém que tenha a visto. Não passou no refeitório, enfermaria, sala dos representantes...

Em nenhum lugar ela deixara algum vestígio de onde pudera ter ido. Nem um bilhete ela deixara.

Eu não sabia como reagiar. Não sabia se consideraria isso um motivo para aumentar o medo que sentia por ela ou apenas preocupação pela minha melhor amiga. Na realidade, não estava entendendo muita coisa nesses últimos dias. Como podia amar algo e ter medo daquilo?

Era minha relação com Trisha. Embora eu a conhecesse há poucos dias, ela foi minha única amiga em quase toda minha vida. E não me tratava mal como o restante da sala. Assim como os amigos dela, mesmo que eles não falassem tanto comigo. Como eu podia temê-la?

Independente disso tudo, a situação era a seguinte: Trisha e sua “gangue” de garotos extremamente altos e intimidadores estavam sumidos. E ninguém ligava para isso.

Meu subconsciente fritava feito louco para eu me esconder em alguma toca e só sair depois de dois meses ou mais. Porém, eu não o escutaria dessa vez. Eu tinha uma amizade a manter, e esse era meu maior desejo.

— Ela está na enfermaria, senhor. — Menti com a maior facilidade possível. Era capaz qe o professor soubesse do motivo de Trisha ter sumido e eu estar mentindo na cara dura, mas eu não era capaz de adivinhar isso. — O jantar de ontem não caiu bem para ela, sabe.

— Hã... entendi. — O professor, chamado Christopher, corou levemente devido aos detalhes mínimos que dei e voltou sua atenção para as folhas na mesa a qual estava em sua frente.

Bufei com irritação, jogando a caneta com raiva dentro do meu estojo e literalmente pouco ligando para matemática. Eu não conseguia me concentrar desde que acordei, não conseguia parar de pensar sobre Trisha e seu desaparecimento. Eu não sabia onde minha melhor amiga estava e nem se ela estava bem! Como ficar calma?! E como ficar calma com alguém que coloca medo em mim sem estar sob minha observação?!

Era simplesmente algo que conseguia fazer meu corpo inteiro tremer em calafrios e uma sensação gélida escorrer por toda hora pelas minhas costas. Olhei pela sala na tentativa de espairecer, nem adiantava me preocupar naquele momento, no meio da aula. Devia procurar Trisha e seu grupo durante o horário de almoço e nos intervalos de aula, embora minha vontade fosse correr pelos corredores e pelo internato inteiro à procura deles só para me sentir tranquila sobre minha amiga estar bem e aliviada sobre estar com ela em minha observação.

Observando a sala, todos estavam concentrados em seu caderno, exceto a pessoa quem eu menos esperava estar literalmente não prestando atenção. Do outro lado da sala, um par de olhos dourados me encaravam com curiosidade, praticamente perguntando se eu estava bem apenas com o olhar. Uma sensação morna e confortável me preencheu um pouco por dentro. Nathaniel ainda estava comigo e poderia me ajudar a procurá-los.

É bom ter amigos.

Assenti com firmeza para ele e um breve sorriso surgiu vindo de Nathaniel e ele voltou sua atenção para seu caderno. Tentando seguir seu exemplo, voltei minha atenção para o meu caderno e, sem perceber, a aula já tinha acabado e nem tinha conseguido passar da primeira etapa do meu exercício.

Eu preciso me acalmar. Realmente.

A próxima aula era de Agatha, o que até me deixava um pouco tranquila, porque ela parecia próxima de Trisha e seus garotos, então poderia questioná-la sobre eles sem perguntar para a pessoa errada. Fiquei esperando a professora com uma certa ansiedade, batendo o pé e o aroma de cerejeiras ficando mais forte.

Talvez o aroma do perfume fique mais forte porque estou nervosa e as glândulas sudoríparas trabalhem mais, exalando mais cheiro.

Nada melhor do que uma conclusão científica feita por uma garota de 17 anos que nem sabe o que quer da vida.

Era muito recorrente meus ataques de ansiedade, desde que meu pai veio a me abandonar nesse mundo com sua morte. Minha tia sempre dizia que fazer listas sobre o que te aflingia e os motivos ajudava a organizar os pensamentos e ficar centrada no presente, sem ficar se preocupando com o futuro. Dessa forma, com determinação, abri na última folha do caderno e peguei minha caneta, começando a escrever furiosamente.

Motivos pelos quais estou ansiosa hoje

1°: minha melhor amiga desapareceu.

2°: minha melhor amiga desapareceu, provavelmente sequestrada pela gangue de garotos com quem ela anda.

3°: um dos garotos, o moreno de olho azul, me parece um maníaco que não para de me encarar, então é o possível “cabeça” do plano. Ou o ruivo que parece incrivelmente irritado. Ou o platinado calmo demais.

4°: são muitos suspeitos.

5°: eu tenho que me acalmar.

Bati o pé com força e joguei novamente minha caneta dentro do estojo em revolta, largando-me na cadeira na tentativa de me acalmar. Já era esperado que eu teria uma premissa de ataque alguma hora. Só não esperava que fosse dessa forma, com raiva e não medo. Eu estava irritada, mais irritada que com medo. Por que isso estava acontecendo?! Só acontece coisa estranha desde que entrei aqui.

E nada de Agatha chegar...

Senti uma leve cutucada em meu ombro e, ao me virar, deparei-me com Nathaniel me olhando com curiosidade, principalmente para meu caderno. Dei um sorriso amarelo para ele e, discretamente, fechei o caderno enquanto me virava para ele, o qual havia se sentado atrás de mim, já que o lugar estava vago pela falta de um moreno maníaco, assim como o lugar da frente (ocupado por um ruivo de TPM) e a carteira ao meu lado (ocupada por um projeto de cantor).

— Olá, Lucy. — Nathaniel foi extremamente cordial comigo, mesmo para alguém como ele que é extremamente educado. Eu tinha a impressão de que estava esquecendo algo... — Você não veio falar comigo ontem depois da natação.

Bingo.

— Ah, é verdade! Desculpe mesmo. É que eu passei mal logo depois do teste para entrar no clube, então fui descansar no meu quarto...

— Mas você está melhor? Eu realmente preciso conversar com você, à sós...

Seu semblante de preocupação me fazia sentir uma espécie de remorso, embora nem tão forte assim porque Nathaniel realmente me dera medo ontem. Juro que eu não era de sentir medo, porém ele, assim como Trisha e sua gangue, conseguiam me fazer ficar externamente alerta com qualquer coisa que acontecesse ao meu redor – alerta de um lápis caindo até de algum movimento brusco vindo da parte de qualquer um deles.

Meus nervos realmente estavam à flor da pele. Mas eu deveria me acalmar? Coloquei na minha lista que sim, eu deveria me acalmar, mas...seria o mais seguro para mim? Manter-me alerta provavelmente seria o mais seguro.

Para. De. Ser. Paranóica. Não vai acontecer nada, eles são seus amigos.

— Ah, claro! Durante o almoço? — Eu realmente esperava que a pergunta tivesse soado de um modo casual, porque senti um calafrio intenso na hora de proferi-la. Sabia que tinha que procurar Trisha, porém Nathaniel poderia me ajudar depois dessa conversa que ele tanto queria, a qual me causava certos calafrios. Porém, embora causasse calafrios, de certa forma, eu confiava em Nathaniel. Assim como meu subconsciente.

— Claro. E sua colega de quarto? Trisha, não é? — Ele perguntou casualmente, recostando-se de um modo mais relaxado na carteira.

— Ela está passando mal no quarto, o jantar de ontem não caiu muito bem. Ela nem conseguiu levantar sem fazer cara de enjoo — respondi apressada para o garoto sentado na carteira que seria de Armin, se ele estivesse na sala naquela hora.

Dei um sorriso sem graça para completar a mentira descarada usada para acobertar o desaparecimento da minha amiga. Porém, enquanto olhava para aquelas reluzentes pérolas cor de âmbar, perguntava-me se realmente estava conseguindo enganá-lo tão facilmente. Nathaniel invadia minha alma e descobria, de forma analisadora, todos os meus supostos e terríveis pecados que cometi durante minha vida. Ou, pelo menos, dos quais eu me lembrava apenas vagamente do que tinha ocorrido.

Eu não fiz nada de errado, sempre me acusaram sem motivos...

Pisquei rapidamente para fazer com que aqueles pensamentos saíssem da minha cabeça. Não tinha motivos para revirar o passado naquele momento, só me deixaria ainda mais desestabilizada, e eu já estava assim havia muito tempo.

Se eu pudesse, fugiria desse lugar. Porém, duas coisas me prendiam aqui: Trisha e o fato dos meus tios estarem melhores sem mim.

Sem ter a sobrinha esquisita.

Mas eu tinha que lidar com outros problemas agora. Problemas que me causavam calafrios.

Problemas que pareciam ser sempre relacionados à Trisha.

Nathaniel, percebendo que eu já não estava mais afim de conversar sobre qualquer coisa, levantou-se calmamente, murmurou um “fique bem” desanimado e rumou para sua carteira do outro lado da sala. Ele devia ter lido meus pensamentos, porque eu realmente não estava afim de conversar.

O medo me impedia de ficar normal. O meu medo por Trisha não estar bem mesmo, o medo de ela ter fugido com os garotos dela e ter dado muito ruim nessa saída e, principalmente, o meu medo irracional para com eles.

Irracional por não ter motivos.

Simplesmente não tinha.

Suspirando de cansaço, joguei meus braços na carteira supostamente de Armin e permiti-me descansar um pouco nela. Não podia ficar pensando naquilo toda hora, acabaria ficando louca de tanto achar uma solução para problemas que aparentemente não eram problemas; eu que era paranoica e ansiosa demais.

— Minha cadeira vai ficar cheia de baba de Lucy, Trisha, o que eu faço?

Abri os olhos alarmada com aquela voz debochando de mim e de meu quase sono e levantei tão rápido que senti uma tontura forte. Olhando para cima, vi brilhantes olhos azuis me analisando, ainda mais com um sorriso divertido no sorriso. Atrás dele, a minha amiga baixinha rindo alto chamava a atenção de todos. Ao meu lado, para completar, havia Castiel, que fazia cara feia para a risada de Trisha e seu fiel companheiro Lysandre.

...o que eu faço agora? Pergunto onde eles estavam? Ou deixo quieto?

Eu sempre fui curiosa demais.

Armin sentou-se atrás de mim, com seu PSP já nas mãos preparado para mais uma jogatina durante a aula, e os demais também se sentaram: Castiel à minha frente, Lysandre ao meu lado e Trisha próxima ainda do grupo.

Cercada novamente.

O fato de estar cercada me enjoava por completo, mas talvez o maior culpado do meu enjoo e tontura seria a mistura do forte aroma de cerejeiras com um odor metálico e pungente. Minha cabeça praticamente girava enquanto tentava focar minha visão na lousa que Agatha enchia com mais e mais conteúdo de literatura moderna, conseguindo distinguir poucas palavras sobre os poemas mais famosos da época.

Minha cabeça está tão pesada...

As letras da lousa se misturavam cada vez mais enquanto eu tentava ao menos me manter com os olhos abertos e costas eretas, porém estava quase já jogada em minha carteira, com os olhos semicerrados lutando para enxergar ao menos algo que me deixaria acordada. Forçando um pouco a visão e tentando me levantar, sem sucesso, consegui distinguir uma palavra dentre toda aquela sopa de letrinhas que era a superfície na qual Agatha tinha escrito.

“Mate”.

Meu coração acelerou. De repente, tudo ficou claro demais e conseguia ver mais nitidamente do que nunca em minha vida, mesmo com as características avançadas em meu corpo, de acordo com os médicos. A sala estava clara e limpa e fui capaz de distinguir coisas que me fizeram querer sair correndo daquela escola e me refugiar na casa de meus tios.

Sangue.

Manchas negras, porém pequenas, estavam espalhadas pela jaqueta de Castiel e um pouco na ponta de seu cabelo na altura do queixo. Ele nem percebia que o estava observando descaradamente. Tentando analisar discretamente, olhei para Lysandre e Trisha e eles também tinham essas pequenas manchas espalhadas por suas roupas.

Armin também? Eu não conseguia vê-lo, mas o cheiro pungente atrás de mim também era forte, assim como na frente da mim, provindo de Castiel.

Trisha prestava atenção na aula com os olhos serenos, o cabelo castanho-avermelhado preso num rabo de cavalo forte e alto. Nele, as manchas negras ficavam mais destacadas, brilhando cada vez mais de um modo tão repulsivo que fazia meu estômago parecer que estava dando cambalhotas e quase me forçando a vomitar. Seus braços estavam cobertos por uma pesada jaqueta de couro preta parecida com a de Castiel, e nela também havia pequenas manchas negras.

Curvei-me para frente com ânsia de vômito. Eu precisava respirar.

Assim que o sinal do final da aula de Agatha tocou, sai correndo da sala de aula, sem me importar se iria cabular. Eu não conseguia respirar, meus pulmões pareciam que estavam sendo pressionados.

Acalme-se, Lucy, você está paranoica! Não era nada demais! E o que eles fazem da vida deles não é da sua conta.

Meu ritmo era tão constante para fora daquele prédio escolar que eu nem tinha reparado que tinha ido parar no jardim ao lado do dormitório feminino. Eu corri bastante.

Fui para mais fundo do jardim, quase nos fundos do próprio dormitório, e apoiei-me numa árvore, arfando forte. Minha mente estava a mil e eu não conseguia pensar em nada direito além de que eles tinham sangue em suas roupas. O rabo de cavalo de Trisha também tinha, não duvidava que os cabelos de todos também tinham.

E como ninguém percebia?! Todos os cumprimentaram normalmente, embora cordialmente demais, como faziam comigo sempre...

Fui escorregando pelo tronco da árvore até parar sentada numa posição muito estranha, porém confortável, na grama que, pelo incrível que pareça, estava bem cuidada. Talvez a escola realmente quisesse ajudar a gente e cuidasse até do ambiente para fazê-lo.

De quem era o sangue? E por que faziam isso?

Minha mente incrivelmente mentirosa ainda queria acreditar que eles foram em algum lugar com paintball aqui em Portland — por mais que Sweet Amoris não parecesse que ficasse mais em Portland, e sim em algum lugar pacato entre Portland e Burlington, ou propriamente em Burlington — e não me convidaram. Aí eu poderia fazer o clássico teatrinho de amiga renegada, o qual eu não me encaixaria muito bem, mas é assim que os filmes mostram como você deve reagir em situações dessas.

Nunca que seria isso. Mas eu precisava acreditar que era um inocente e inofensivo paintball.

Para minha cabeça não explodir mais do que explodia todo dia com meu dilema de confiar ou não em Trisha.

Fechei os olhos e tentei me acalmar pelo menos um pouco. A brisa suave de outono acariciava minhas bochechas friamente, dando o breve gostinho de inverno que apenas essa estação das folhas caindo poderia oferecer. O perfume adocicado de cerejeiras impregnava o ar de tal forma que era praticamente palpável, como uma delicada flor de cerejeira caindo de seu galho fino. Sentindo esse aroma, eu não sabia se me sentia calma ou assustada, mas, de certa forma, era familiar para mim. Trazia-me uma sensação estranha no estômago com a qual eu não estava acostumada.

E, de certa forma, fazia-me sentir mais forte. Bem mais forte.

Como se eu pudesse me reerguer de qualquer mal que me causaram durante minha vida inteira.

Não como se as pessoas fossem maldosas comigo todo o tempo do mundo, mas todos me evitavam e fitavam-me com olhares de ódio ou horror, não importava o lugar, não importava nada, apenas me olhavam feio e evitavam.

Mesmo querendo relaxar — era o que eu mais queria em toda a minha vida —, não podia simplesmente pegar a situação toda da sala de aula com Trisha e seus amigos e jogar no lixo, como uma pequena folha de papel.

O que me fazia lembrar que meu material estava ainda na sala. E eu tinha feito uma lista do porquê terem sequestrado Trisha.

Maravilha.

Lucy, sua burra, nem para cabular aula você está prestando.

Com um suspiro derrotado, levantei-me do gramado da escola e caminhei em direção ao prédio de aulas.

Espero que não tenham lido meu caderno, senão talvez o sangue na roupa deles se torne o meu.

Um calafrio percorreu meu corpo inteiro quando abri com força a porta do prédio, devido à lembrança das manchas negras e repulsivas quase brilhando em suas roupas escuras.

Com um jaleco ridículo e gigante me atrapalhando — tinha pego emprestado de Castiel, que não queria aparecer na aula de química — e com luvas de látex em minhas mãos, ergui o balão que estava em minhas mãos acima da minha cabeça para olhar melhor a mistura que estava lá dentro. Simplesmente tinha sal no fundo do balão e um monte de água, quase o enchendo por completo.

— O que diabos você está olhando, sua esquisita? — Ambre me encarou com desgosto, enquanto tamborilava suas unhas na fria bancada de granito do laboratório de química. Através da mistura, sua cara distorcida parecia feia como a de um monstro. — Faça logo esse trabalho.

O professor de química do segundo ano tinha separado toda a sala em duplas para fazer um experimento de destilação simples. Ele poderia demorar até mais que a aula inteira, então apenas daríamos início ao experimento e o professor liberaria a nota total depois do almoço; por ora, ele apenas daria nota pelo início do experimento.

E eu tive o azar de ser a dupla de Ambre. Não era bem azar, Trisha não havia parado de falar comigo desde que retornara para a sala de aula apenas para pegar meus materiais e me deu o maior sermão sobre matar aula e não a avisar. De acordo com a garotinha, eu poderia matar aula se a avisasse. Por não ter parado de falar, o professor decidiu nos separar, para termos um “maior entendimento” da matéria.

Não que eu achasse um saco fazer o experimento, eu estava gostando. Mas minha dupla...

Mesmo que ela decidisse agir como a superior na situação em que nos encontrávamos, Ambre tinha seus olhos turquesa quase pulando de suas órbitas a cada movimento que eu fazia perto dela. Suas mãos tremiam brevemente quando não estava tamborilando seus dedos na superfície da bancada e seu corpo se retesava quando a olhava brevemente.

Talvez eu a tenha aterrorizado ontem. Ela mereceu, de certa forma...

Revirando os olhos, coloquei o balão com a base apoiada na tela de amianto e regulei a válvula do bico de Bunsen. O professor era meio louco de deixar alunos com acompanhamento psiquiátrico e ficha na polícia mexer com fogo, mas o que eu podia fazer?

Talvez Trisha e seus amigos tenham mais do que uma passagem na polícia. A lembrança de sangue em suas roupas me fez ter novamente um calafrio que percorreu meu corpo inteiro. O odor de cerejeiras era mais forte que nunca, mas, dessa vez, ele estava me aterrorizando. Como se eu estivesse pressentindo que algo ruim iria ocorrer.

Algo ruim mesmo.

— Isso deve estar numa temperatura boa... — comentei para mim mesma, temendo a possibilidade de explodir o balão. Seria uma bagunça e tanto. Talvez seja isso o “algo ruim”, mas algo em meu subconsciente dizia que era algo muito mais grandioso. Meu corpo respondia isso com calafrios constantes

— Está tudo pronto? Ainda bem, agora posso ficar longe de você, sua louca.

Agarrei firmemente a bancada de granito quando ouvi a palavra “louca” sendo proferida por aquela boca mais podre do que de qualquer pessoa da sala. Ela tinha tentado acertar meu rosto com um chinelo e nos ameaçado, o que ela queria? Que a recebesse com flores na mão? Tentei me acalmar o máximo que pude, mas...

Quando tornei a abrir meus olhos novamente, vi Ambre junto de suas amigas, Charlotte e, pelo que ouvi falar, a outra se chamava Li. Li tinha descendência chinesa, seus olhos puxados e com roupas que faziam jus a sua cultura. Ela segurava o balão sem saber o que fazer, enquanto Charlotte apenas descansava a cabeça em sua mão, com o braço apoiado na bancada. Assim que elas me pegaram as observando, sussurraram algo no ouvido de Ambre e deram risadinha. Isso não me cheira bem. Ambre deixou-as e começou a caminhar em minha direção.

A fragrância era forte.

Forte demais.

Minha cabeça dói...

Quando ela parou em minha frente, eu já não conseguia ver mais nada de forma clara. Seu jaleco impecavelmente branco era apenas um borrão gigante em minha visão, a banqueta de granito contrastava perigosamente com suas cores escuras. Tive que me apoiar na bancada para não cair do meu banco alto.

Meus dedos doem...

E uma imensa chama nascia dentro de mim. Morna no começo, porém ia se alastrando firmemente entre meu corpo, indo para meus braços, pernas, pescoço, até as pontas dos dedos, acariciando-me com leveza e esquentando-me por completo. Tentei erguer minha cabeça o máximo que pude para encarar Ambre e ouvir a besteira que ela tinha a dizer.

Até que eu ouvi um estilhaço de vidro.

Ambre havia jogado minha mistura no chão.

— Que pena, não é? O professor não precisa lembrar que somos dupla, então... Sem nota para você, Lucy!

Trinquei os dentes. Minha visão estava embaçada ainda, mas conseguia ouvir muito bem. As chamas do bico de Bunsen tremularam levemente quando as olhei, tentando processar melhor a informação que Ambre tinha falado.

Ela...tinha me ferrado.

Trinquei os dentes novamente. A raiva me consumia quase como um todo e a chama dentro de mim estava mais forte a cada segundo que passava. As chamas do bico tremularam novamente, mais violentas dessa vez. Meus dedos agarravam firmes a bancada a minha frente e, ainda cabisbaixa, tentava focar mais minha visão e tentar me manter calma.

Calma, calma... não se estresse...

— Você bem que mereceu, não é? — Sua voz arrogante soava bem clara em meus ouvidos, enchendo-me ainda mais de um sentimento bem maior que raiva e alimentando mais a chama dentro de mim. Poderia a chama ser esse sentimento bem maior? — Sua amiga louca e você colocaram medo ontem na gente, nada mais justo do que você pagar agora, não é? Esquisita. Você nem merecia ter nascido.

De repente, todo o equipamento de destilação caiu da bancada. Eu estava de pé, embora com a visão ruim, conseguia saber exatamente que Ambre estava na minha frente com um sorriso cínico, quase cantando a vitória em alto e bom som.

— Repita o que acabou de falar. — Sussurrei, com uma voz alterada. Aquela não era minha voz. Era mais...profunda. E completamente ameaçadora.

— V-Você não merecia ter nascido! — Ambre gritou, com a voz embargada por algo ruim. Medo, talvez? Nem eu sabia. Poderia ser qualquer coisa, mas eu não ligava. —Toda essa esquisitice sua e seus problemas que fizeram você parar aqui deveriam queimar no inferno! Ninguém gosta de você, sua esquisita de merda.

Naquele instante, eu caí pesadamente no chão aos seus pés. Meus olhos fecharam penosos e se recusavam a abrir. Meu corpo todo tremia no chão gelado do laboratório e ouvia gritos de alunos preocupados com o que estava acontecendo. Meus dedos mexiam-se sem direção a cada segundo que se passava, arranhando o chão com força, enquanto meu peito subia e descia rápido e tremia como se estivesse tendo uma convulsão.

O que está acontecendo? Eu preciso dar uma lição nessa vadia!

É exatamente nisso que eu vou ajudar.

E, então, um clarão.

Uma explosão.

O que pude ver brevemente quando consegui abrir com dificuldade meus olhos mostrava literalmente o inferno.

O laboratório estava em chamas.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, porque a coisa vai ficar séria agora ~carinha satânica~



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