Le renard de marche escrita por Annemyra


Capítulo 7
VI - Os sussurros do subconsciente


Notas iniciais do capítulo

Gente, sério, eu não sei se consigo realmente manter um ritmo de atualização bom. Na realidade, nem chega ao bom, é praticamente péssimo e eu peço desculpas por isso.
Para quem não sabe, eu entrei no ensino médio ainda esse ano num tipo de escola chamada ETEC.
Ou seja, eu vendi minha alma para a escola -q
São trabalhos complexos e provas, eu não tinha tempo nem para sentar no sofá e relaxar por 10 minutos. Isso piorou ainda mais com o demônio que eu tenho no pulmão, familiares com dificuldades as quais eu deveria realmente ajudar e, infelizmente, decepções amorosas -q
Claro, a questão da escola não me deixou irritada por não ter tempo livre, eu realmente batalhei para entrar nela e valorizo cada momento lá, mas, graças a ela, tive que deixar a fanfic BEM de lado e lamento por isso T^T
MAAAS CREIO QUE TUDO FIQUE MELHOR ALGUMA HORA ♥
Vou tentar usar meu tempo livre apenas para escrever, ao invés de ficar jogando Undertale, que, caso queiram saber, é um ótimo jogo, a trilha sonora é simplesmente magnífica e os personagens ainda mais (Sans ♥)
Sem mais delongas e tendo consciência de que têm ódio de mim, espero que aproveitem o capítulo ♥



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A primeira coisa que senti no momento em que ouvi aquela voz foi conforto. O conforto de um pequeno laço que havia sido estabelecido sem que eu quisesse realmente. Eram bem raros os momentos que algum laço a qual eu tinha criado não me deixava decepcionada ou triste, ainda mais sendo tão recente. Com um breve sorriso no rosto, virei-me para o lugar de onde a voz saiu e encontrei Nathaniel me olhando.

Meu sorriso se esvaiu e senti minhas mãos ficarem geladas, respirando fortemente o ar intensamente adocicado.

Nathaniel parecia mais alto, por mais que eu soubesse que aquilo era impossível. Seu rosto estava pálido, mas ele tentava manter um sorriso que, creio eu, ele achava que fosse gentil. Sua presença perturbava tanto a mim quanto ao meu subconsciente, ou seja, duas coisas nas quais eu confiava imensamente gritavam “PERIGO, CORRE PRA CHINA”.

Engoli em seco.

— Ah, o-oi, Nathaniel! Claro que pode, mas é tão urgente assim? Eu ia na piscina com a Trisha, sabe, f-fazer parte do Clube de Natação. — Dei uma risada na tentativa de quebrar o clima tenso, mas, na realidade, minha risada foi tão ruim que só deixou bem estampado na minha cara “TENTATIVA DE UMA TROUXA”.

— Na realidade, Lucy, é bem urgente...

Ele deu uma olhada nervosa para trás de mim, exatamente para onde estava Trisha. Tentei vê-la com o canto do olho, porém sem sucesso. Naquele momento, minha vontade era, como sempre, sair correndo. Estava com medo dos dois.

Eu nunca sentira medo!

Então por quê?

Olhei para Nathaniel. Seus olhos nervosos percorreram meu rosto e sua mão estendeu-se ligeiramente para mim; ninguém perceberia se não estivesse totalmente alerta, o que era o meu caso. Fitei sua mão por um momento, tentando ignorar as batidas fortes do meu coração em minha orelha.

Ouvi breves passos atrás de mim e, em um instante, Trisha estava ao meu lado, encarando Nathaniel com olhos serenos, porém com um sorriso nervoso. Percebi um movimento vindo dela e ela encostou a ponta de seus dedos nas costas da minha mão. Uma sensação gélida percorreu todo meu corpo com isso e também com o olhar nervoso de Nathaniel devido a esse movimento.

O que estava acontecendo?

Todo esse medo deveria ser coisa da minha cabeça. Só podia ser isso...

— Olha, Nathaniel, eu já tinha combinado isso com a Trisha, mas a gente pode falar mais tarde, que tal? Logo depois que eu me inscrever. Te encontro na sala dos representantes mesmo.

Seu pseudo-sorriso gentil sumiu de seu rosto e algo em seus olhos fez com que eu paralisasse totalmente no lugar onde estava. Eu realmente devia entrar logo naquela maldita piscina.

Ele assentiu levemente, pediu desculpas a Trisha cordialmente e deixou-nos, caminhando calmamente até para dentro do Edifício Principal, sem olhar para trás.

Virei minha atenção para Trisha, a qual ainda se encontrava encarando o portão pelo qual Nathaniel havia acabado de passar. Seu olhar era de extrema concentração e seus dedos — que não estavam mais nas costas de minha mão — tateavam cegamente seu bolso traseiro da calça preta. Precisamente, o cós da calça.

Acho que vou passar a me acostumar com a sensação de um cubo de gelo escorregando pelas minhas costas.

Respirei fundo o ar adocicado com o aroma de cerejeiras — provavelmente o perfume do amaciante de minhas roupas — e estalei meus dedos na frente do rosto de Trisha. Ela piscou várias vezes, confusa, e me olhou, com um sorriso terno e tímido.

— Ok, isso foi estranho, mas isso não me impede de ainda querer nadar um pouco. Vamos, Lucy, você conversa com ele mais tarde! — Ela riu fortemente e começou a correr em direção à piscina coberta, olhando um pouco para trás para ver se eu a seguia.

De bom grado, segui-a para aquela estrutura enorme. Não sabia o que tinha sido aquilo com Nathaniel e Trisha, mas deveria deixar de lado; os dois eram meus amigos e, embora Trisha ainda coloque um pouco de medo no meu subconsciente, Nathaniel conseguia me passar sensações de segurança que nunca senti em minha vida. Dessa forma, eu iria esquecer aquele breve incidente.

Para o meu bem.

Ao chegarmos lá dentro, dei uma boa olhada no lugar. Havia uma espécie de saguão, com um banco enorme de madeira e uma porta azulada, com uma placa escrito “Vestiário das meninas ♥” à direita. À esquerda, havia uma máquina de refrigerantes e salgadinhos e uma porta igual a outra, com a placa escrito “Vestiário dos garotos”. Na parede a nossa frente, uma porta dupla levava ao que achava que seria a piscina.

— Droga! — Trisha resmungou ao olhar para o relógio pendurado em cima da porta dupla. — Estou atrasada! Vem, vem, vem!

Ela me puxou com toda sua força para o vestiário feminino, quase me fazendo bater a cara na porta.

— Ei, toma cuidado! — Resmunguei, tropeçando no meu próprio pé. Ela me obrigou a sentar num banco de madeira que havia entre as fileiras de armários vermelhos do vestiário.

Ajeitei-me emburrada com toda a situação, mas aliviada ao ver que Trisha voltou ao normal, sem seu jeito estranho de quando estava encarando fixamente Nathaniel. Sorri discretamente, mais para mim mesma.

Ela corria de um lado para o outro, reunindo toalhas brancas em seu pequeno braço, e parou abruptamente em frente a um armário. Sem usar chave nem nada, ela escancarou a porta vermelha de metal e vasculhou rapidamente lá dentro, jogando em minha direção elásticos de cabelo, touca de natação, um maiô preto com uma listra grossa roxa em cada lateral e um óculos preto de natação.

Foco para o fato de que ela quase acertou um par de chinelos na minha cara.

Logo, ela parou, ainda agitada, ao meu lado, segurando também as mesmas coisas que eu, tirando o fato de seus óculos ser rosa-choque.

— Vai, vai, a gente precisa se trocar! — Ela quase estava dando pulinhos de ansiedade ao meu lado. Trisha me agarrou novamente e, sem aviso, me puxou para o final da fileira de armários, virando à direita e correndo novamente, comigo a seu encalço, para a porta que levava ao banheiro do vestiário.

A garota me empurrou para dentro de uma cabine e fechou a porta a tempo de eu conseguir salvar o meu cabelo do terrível destino de ser preso na porta. Conseguia ouvir a respiração pesada de Trisha e, vez ou outra, uma batida forte no que eu julgava ser na parede que separava as cabines. Comecei a me trocar rapidamente e em pouco tempo já estava com a toalha enrolada ao redor do meu corpo, com os chinelos cor de rosa praticamente brilhando em meus pés.

— Rosa, sério... — murmurei, desanimada. Saí do banheiro e bati na porta de Trisha, calmamente. — Vamos, dona atrasada, você não me apressou à toa, anda logo.

Um segundo depois, saiu uma Trisha ofegante da sua cabine, com a touca mal colocada e um chinelo ainda na mão. Rindo fracamente, ajeitei seu cabelo dentro da touca e tirei o chinelo da mão dela, colocando no chão para ela calçar. Recebi um sorriso em troca; isso foi gratificante depois daquele momento estranho no pátio junto de Nathaniel...

Eu deveria esquecer isso o mais rápido possível, era coisa da minha cabeça todo aquele medo e nervosismo.

De novo, Trisha correu para fora da cabine, com seus chinelos fazendo um barulho absurdamente alto. Fui atrás dela, num ritmo devagar, seguindo o caminho para uma porta branca gigante, a qual foi aberta com violência pela garota baixinha afobada. Passei pela porta logo depois.

Não pode ser...

— Trisha, isso é uma piscina de escola ou uma piscina olímpica?

A piscina era gigante! Várias raias a dividiam e via tanto garotos quanto garotas nadam rapidamente nas raias, usando o crawl e borboleta, em sua maioria; poucas pessoas estavam nadando no estilo peito ou costas. Podia praticamente ver meus olhos brilharem de ansiedade para nadar naquela coisa linda.

— Hehe, gostou? — Ela ficou se gabando por uns dois minutos até ser interrompida por uma tosse proposital logo ao lado dela.

Uma garota alta, com pele negra, estava parada ao lado de Trisha. Ela usava um maiô igual ao meu, exceto as listras serem verdes. Seu cabelo era na altura do queixo, porém com duas mechas mais compridas enquadrando seu rosto forte; os olhos verdes demonstravam impaciência e uma certa força.

— Trisha, você está 15 minutos atrasada, íamos treinar o revezamento, lembra?! — Ela ralhou com Trisha, que se encolheu, tímida. A garota alta bufou e seu olhar caiu em cima de mim e, por puro instinto, ergui o pescoço. Eu não queria parecer intimidante, mas meu subconsciente apoiava essa ideia, então o fiz. Ela estreitou os olhos para mim. — Trisha, quem é essa sua amiga?

A arrogância era terrivelmente notável em sua voz. Endireitei-me rapidamente para parecer ainda mais segura de mim.

O que, claro, não era muita verdade.

— Essa é Lucy, uma novata do segundo ano. — Trisha apresentou-me, timidamente, para a garota.

Essa, por sua vez, veio até mim, analisou-me dos pés à cabeça e estendeu sua mão.

— Prazer, sou Kim. — Apertei forte sua mão como cumprimento. Mesmo assim, ela continuava com sua postura arrogante, quase como se me rejeitasse. Isso...deveria ser normal para mim. — Sou a capitã do time de natação de Sweet Amoris. Quer tentar uma vaga, guria?

Um desafio, dava para ver nos olhos dela.

Eu particularmente me achava medrosa e um pouco indecisa, embora conseguisse esconder essas minhas duas características com uma máscara de pessoa segura de si e independente de qualquer coisa. Porém, a realidade não era essa, além do fato de eu ser independente por simplesmente não ter ninguém com quem contar.

Mas aquele desafio estava praticamente gritando na minha orelha que eu deveria aceitar. E seria bom, porque estaria no mesmo clube que minha amiga — que coloca medo em mim, mas isso não vem ao caso — estava. E, como um belíssimo bônus, estaria praticando um dos esportes que sempre gostei.

Então, sim, eu queria tentar.

— Claro, por que não? — Esbocei um sorriso provocador logo após dizer isso, sendo recebida com outro sorriso, mas forçado demais, era perceptível pelo quanto suas bochechas estavam contraídas. — Como faço?

Kim puxou o apito, que estava pendurado em seu pescoço por uma longa fita, à boca e o soprou a plenos pulmões, o barulho ecoando por todo o lugar até o time inteiro estar bem em sua frente, consequentemente a minha também. Olhares inquisidores e de puro nojo voaram para cima de mim, permanecendo em mim até quando Kim tentou chamar a atenção deles novamente.

Com impaciência, ela começou a falar:

— Temos uma novata aqui para tentar uma vaga para o nosso time. Como todos vocês, ela passará por um teste um tanto quanto difícil. Charlotte! — Kim praticamente gritou com a garota que estava claramente a ignorando, conversando com outro membro do time de natação. Charlotte desviou seus olhos cor de caramelo do peitoral do garoto e encarou Kim com um olhar arrogante. — Infelizmente, você é uma das melhores do time no crawl, então você que vai competir com a novata aqui, está claro?

O olhar que eu recebi foi pior do que Charlotte direcionou para Kim. Seus olhos caramelo me perfuraram afiados e suas sobrancelhas se estreitaram ainda mais conforme passava seu tempo me encarando. Não pude evitar de me encolher um pouco com sua mirada penetrante. Ela bufou e caminhou até uma das raias, Kim me indicando que eu deveria me posicionar na do lado da qual Charlotte se encontrava se aquecendo.

Iniciei um breve aquecimento também e assim que terminei, Kim assoprou o apito e nos posicionamos nas plataformas. Meu coração praticamente martelava no meu ouvido.

— Preparar! — O grito de Kim ressoou por toda área da piscina. Coloquei minhas mãos na plataforma e flexionei minhas pernas para dar um impulso melhor. — Já!

Meus braços foram rapidamente para frente e mergulhei com maestria na piscina. Debaixo da água, nada mais existia, apenas eu, minhas braçadas e a necessidade de conseguir fazer o melhor tempo possível para entrar naquele time.

Para conseguir ficar mais tempo ao lado de Trisha e ganhar mais confiança para com ela.

Aumentei a velocidade das minhas braçadas e das pernas, dando uma cambalhota perto da parede da piscina e tomando impulso nela logo depois. Com o canto do olho, vislumbrei Charlotte brevemente atrás de mim. Se eu pudesse sorrir naquele momento, meu rosto estaria todo deformado com um sorriso de ponta a ponta dele.

Não sabia o que tinha acontecido a partir de então, estava cega com a sede de vencer de Charlotte, de poder afundar sua arrogância no poço mais fundo do mundo, finalmente encontrando uma maneira de revidar todo ódio e nojo que foram direcionados a mim a vida inteira. Não era mais questão de apenas ficar com Trisha.

Era como se, se eu vencesse, eu poderia ficar livre de todo sentimento repugnante e olhares do mesmo nível, com os quais sempre sofri.

Senti minha mão indo fortemente de encontro à outra parede da piscina e, com isso, pude colocar meu rosto para fora da água, ofegante. Charlotte chegou logo depois.

Nem tive tempo de processar minha vitória direito, uma mão agarrou meu pulso fortemente e me puxou para fora da piscina. Como aquilo foi possível?! Então, senti pequenos braços, porém firmes, envolverem-se ao redor do meu tronco e um rosto se afundar em meu peito, um abafado “você conseguiu” sendo audível da pequena pessoa que me abraçava.

Acariciei levemente o que seria o cabelo de Trisha, se não fosse a touca o guardando e desvencilhei-me de seu abraço delicadamente, caminhando até Kim. A garota estava boquiaberta, Charlotte ao seu lado praticamente espumando de raiva.

— Novata, nem precisa perguntar, tu tá dentro com certeza! — Ela exclamou, alegre, provavelmente por causa do meu desempenho, batendo sua mão contra a minha num high five, e saiu andando até uma salinha ao lado da piscina, balançando seu apito alegremente. Charlotte, vendo que sua capitã não daria ouvidos a ela, caminhou a passos pesados até para a porta que levava ao vestiário feminino.

Eu venci.

Mas não tinha certeza se ainda estava livre realmente.

— Você deveria ter visto a cara dela logo que chegou no fim, era de assustar!

Soltei uma risada forte enquanto terminava de lavar meus cabelos dentro de um dos chuveiros privados do vestiário feminino. Logo depois da minha vitória contra Charlotte, Trisha não parava de falar sobre a expressão dela depois da derrota e de como se sentiu feliz de finalmente alguém ter colocado a garota arrogante em seu devido lugar.

Aparentemente, Charlotte sempre se gabava de ter ganhado, pelo menos uma vez, da lendária capitã Kim no crawl, o qual não era o forte dela, apenas de Charlotte. Porém, ela se esquecia das quantas vezes Kim simplesmente venceu em outros nados e também parecia não se importar com isso.

Ou seja: extremamente arrogante.

Surgir alguém que pudesse colocar até mesmo Charlotte em seu lugar que, embora fosse ainda quieta em algumas situações — natação não era uma delas —, deu uma levantada na autoestima do time.

Meus lábios se ergueram num sorriso tímido, passando o sabonete rapidamente em meu corpo, enxaguando-me e enrolando-me na toalha que Trisha havia me emprestado anteriormente. Eu domaria meus cabelos depois.

Assim que saí do chuveiro, notei que algo estava errado. Minhas roupas já não estavam mais no banco em frente aos chuveiros e até meus chinelos tinham sumido — essa última parte eu não ligava muito porque eles eram rosas, mas mesmo assim era Trisha que tinha dado o par para mim. Olhei por todos os cantos, mas não achei as malditas roupas, tendo que segurar a toalha ao meu redor firmemente, sendo a única coisa que me impedia de estar totalmente nua.

Trisha saiu logo assim que desisti da minha procura, a tensão subindo por meu corpo. Como eu poderia sair do vestiário vestida apenas de toalha? Eu tive que devolver o maiô, por mais que fosse da escola e estava à venda e minha ideia era comprá-lo. Sentei no banco, colocando minha cabeça entre as mãos.

— Ah, eu estou ferrada mesmo! — Murmurei, tentando forçar um sorriso.

— O que houve? — Trisha perguntou, curiosa, terminando de enxugar os cabelos com outra toalha que ela tinha disponível. Levantei meu olhar e encontrei Trisha encarando atônita o banco. — Cadê minhas roupas?

Eu fui tão distraída que não percebi que as roupas de Trisha também tinham sumido.

— Ahhh, com certeza foi coisa da Charlotte, ela nunca gostou de mim e com certeza iria aprontar com nós duas! — Ela socou a parede da cabine do chuveiro, fazendo sair uma leve poeira do lugar atingido. Arqueei as sobrancelhas.

Trisha era forte que nem eu. E os médicos diziam que minha força era muito incomum. Eu era a única paciente a ser assim.

Então por quê?

— Vocês querem isso?

Saindo de meus devaneios rapidamente, pude ver com o canto do olho que um chinelo iria acertar meu rosto, se eu não tivesse desviado rapidamente. Encarei com ódio para a pessoa que o tinha jogado em minha direção, ignorando inteiramente Trisha, que veio ao meu encontro, apertando de leve o meu ombro.

Aquilo era um aviso para não me irritar?

Não iria funcionar.

A garota que tinha jogado o chinelo me encarava divertidamente com seus olhos turquesa, um sorriso de extrema arrogância em seus lábios “perfeitos”. Os cabelos caíam em pesados cachos loiros logo na altura de seu peito, a bolsa branca aparentemente cara em seu ombro quase os prendendo na alça. Uma bata bege — que lembrava vagamente um saco de batatas —, calça jeans e botas de couro em detalhes turquesa completavam o visual do inferno.

— Ora, ora, essa é a novata que ousou combater Charlotte? — Ela riu com desdém para as duas amigas atrás dela, uma chinesa com blusa vermelha do mesmo estilo e a própria Charlotte. Nas mãos da loira, havia as minhas roupas e as de Trisha. Ao perceber meu olhar, ela riu novamente — É isso que você quer, mas vai ter um preço. Vai ter de volta se sair do time.

Meu queixo praticamente caiu nessa hora. Podia ver, com o canto do olho, o olhar de repulsa de Trisha com o que ela havia acabado de falar, mas ela se conteve em avançar nela. Eu estava tentando.

Não ia aguentar por muito tempo.

Algo no meu subconsciente gritava para que eu caminhasse até a garota loira e apertasse o pescoço dela até ela parar de respirar e, na hipótese menos agradável ao meu subconsciente, cair desmaiada.

Ela merece isso, Lucy. Faça...FAÇA AGORA!

Levantei lentamente, sem sentir força alguma em meus membros superiores e inferiores.

Me sinto lenta...e pesada...

Minha visão estava embaçada, porém era só esse sentido o afetado; conseguia sentir muito bem o aroma de cerejeiras que exalava pelo ar daquele vestiário. Algo viscoso escorria pelos meus dedos, mas não liguei, continuei fazendo o que meu subconsciente sussurrava para mim.

Continue caminhando, vamos.... Está perto!

— Lucy! — Trisha exclamou e voltei a ter a visão em foco. Pisquei várias vezes e virei minha atenção para ela. A garota apanhou minhas mãos nas suas desesperadamente. — S-suas mãos!

De fato, algo estava doendo pra caramba.

De novo não...

Minhas unhas...

— O-O que foi isso?! — A loira gritou, em puro terror, os olhos aterrorizados sem brilho algum. Segui o olhar da garota, o qual estavam em minhas mãos repletas de um sangue viscoso vermelho. — V-Você estava vindo em minha direção e...e...! Vamos, meninas, ela é bizarra!

A loira jogou nossas roupas no chão do vestiário e saiu correndo a passos fortes junto com suas fieis seguidoras. Ainda me sentindo lenta, encarei serenamente minhas mãos.

Você está indo bem...está quase!

Sem entender os meus pensamentos profundos do subconsciente, sentei-me no banco e deixei que Trisha cuidasse das minhas mãos.

No final, acabei não falando com Nathaniel.

Trisha expressamente me proibiu de fazer qualquer atividade que poderia ser considerada pressionara, e a conversa com o representante de classe — o qual falou que queria conversar sobre algo extremamente sério — se encaixava nesse quesito.

Ela me fez ficar deitada quase todo o nosso tempo restante em nosso quarto, certificando-se de que minhas mãos estavam bem. Pelo incrível que pareça, ela não fez nenhuma pergunta.

O que está acontecendo comigo?

Foram já várias vezes que isso aconteceu comigo desde que comecei a traçar meu caminho pela Sweet Amoris. Aquilo era coincidência? Mesmo que não fosse, o que estava causando isso? Meu cérebro praticamente estava acelerado com tantas perguntas sem respostas, principalmente em dúvida das minhas unhas e por que eu tinha medo de Trisha e seu grupo.

Não sabia em que hora eu comecei a relaxar, mas consegui adormecer quase tranquila.

Porém, esse estado de tranquilidade que eu tanto apreciava só durou durante o sono. Ao sentir o sol queimando levemente o meu rosto pela fresta da cortina, resmunguei e sentei-me sonolenta na cama. No primeiro segundo acordada, já senti algo errado.

Olhei no mesmo momento para a cama de Trisha e minha respiração parou.

Trisha sumiu.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Espero que sim ♥



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