Break My Heart escrita por Selenis


Capítulo 8
Insônia




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/575778/chapter/8

– Como assim, "escapou"? - gritou Ciel ao receber a notícia de forma abrupta.
– Minhas sinceras desculpas por isso, Jovem mestre... - dizia Sebastian de cabeça baixa, desapontado por não ter realizado sua tarefa.
– Hum... - pensou Ciel - Se um dos integrantes da Aliança foi assassinado em plano ar livre quando eu fui chamado para ser um membro, isso significa que o assassino só pode ser do Submundo.
Os dois ficaram sérios.
– Sabe o que isso significa? - Ciel fez um breve momento de silêncio antes dele mesmo responder - Eles são bem mais atualizados do que nós. Ou seja, já sabem que uma união foi feita para combatê-los.
Sebastian franziu o cenho e piscou os olhos várias vezes. Ainda sentia uma pontada de dor em seu glóbulo esquerdo.
Ele subiu na caleça e sacudiu as rédeas, guiando o cavalo nas trevas. A carruagem avançava com rapidez, balançando o corpo de Ciel.
Ele estava preocupado. O Submundo ainda lhe era um mistério, uma coceira atrás da orelha; uma pedra no sapato. Ao mesmo tempo, ele temia. O Submundo era mais adiantado e não sabia o que se poderia esperar de pessoas assim.
Quando se mesmo esperava, eles já entravam no pátio da mansão. Ciel vinha cochilando a viagem toda, e não acordou quando Sebastian o pegou no colo e o levou para dentro.
A mansão estava muito silenciosa. Os empregados já estavam dormindo, com certeza. Quando Sebastian pôs o pé na frente da escada, foi surpreendido por uma assombração jazida na frente da porta do quarto de Ciel.
Era Cassandra; vestindo uma camisola branca e com seus cabelos negros caindo em ondas por cima dos ombros. Estava mais bonita ainda, apesar de ali não haver uma iluminação apropriada para exibi-la adequadamente.
Ela dirigiu um olhar preocupado ao menino que dormia nos braços do mordomo.
– Por Deus! Onde estavam? - perguntou.
– Em uma festa. Foi muito cansativo para o Jovem Mestre.
– Ele está esgotado, coitadinho! - estendeu os braços - Dê-me ele. Vou pô-lo na cama.
Sebastian desconfiou. Ao avaliá-la com mais atenção, notou que seus pés estavam cobertos por botas sujas de terra e lama.
– O que faz a esta hora acordada?
– Ah, não consegui dormir sabendo que vocês ainda não haviam chegado. Fiquei muito preocupada e perdi o sono completamente. - esticou ainda mais os braços.
Sebastian cedeu e passou Ciel para ela, que logo se acomodou em seu colo. Parecia uma mãe ninando seu filho. Ele empurrou a porta e Cassandra entrou, andando sorrateiramente para não fazer o menor ruído. Deitou Ciel na cama, e começou a despi-lo.
Ela conseguia tirar com gentileza e paciência as peças de roupa, sem comprometer o sono de seu jovem mestre. Logo vestiu-lhe a camisola e o cobriu com o cobertor.
Quando seus dedos deslizaram pelo rosto pequeno do garoto, pararam do nó do tapa-olho. Estava prestes a desatá-lo, quando foi impedida por Sebastian que segurou fortemente seu pulso.
Cassandra o olhava com uma pontada de curiosidade.
– Qual o problema? - perguntou, sussurrando.
– A senhora pode deixar comigo agora. Por favor, volte a dormir.
Ela se levantou e fixou-lhe inteiramente o olhar. Parecia que estava gostando daquela situação.
– Sr. Michaelis - dizia com a voz baixa e sedutora - Qual o problema?
– Problema? Não há problema algum.
– Eu digo isso porque... - desviou os olhos para a sua mão, ainda agarrando seu pulso. Deu um sorriso e as covinhas se aprofundaram.
– A senhorita interpretou de forma errada. A cicatriz dele é horrível e precisa ser escondida.
– Mesmo na hora de dormir? - ergueu uma sobrancelha.
Sebastian vasculhou por uma resposta convincente em sua mente, e logo disse:
– Não é adequado uma dama ver essas coisas. Além do mais, pôr o jovem mestre para dormir é trabalho do mordomo, não da empregada.
Os dois se largaram e houve então um momento de silêncio antes de Cassandra quebrá-lo com um afirmação que deixou Sebastian mudo mais uma vez:
– Eu só estava tentando ajudar. - e saiu, fechando a porta logo atrás de si.
Ele deixou um suspiro escapar. Ciel se remexeu na cama e Sebastian desatou o nó, pondo o tapa-olho em cima do criado-mudo.
Pegou o candelabro e as chamas das velas ascenderam magicamente, provocando longas sombras nas paredes. E então vagou pelos corredores como uma alma, sempre vigiando e zelando pela moradia de seu senhor.
No caminho à frente, havia sujeira. Era terra com lama, mas em uma pequena quantidade.

Os dias foram passando e Cassandra demonstrou ser uma empregada prestativa. Tinha uma disposição e habilidade impressionante em fazer as coisas com perfeição. Os móveis eram polidos temporadicamente, nenhuma louça fora quebrada e todos os dias a casa ficava um brinco.
Em pouco tempo ficou querida por todos, menos por Sebastian que detestava a ideia de tornar-se obsoleto. Chegou ao ponto de sentir inveja, um sentimento somente dado aos humanos.
Havia algo em Cassandra Miller que o intrigava. Ela era perfeita demais, tão perfeita que às vezes desconfiava de ser humana. Mas não tinha nada de sobrenatural nela, a não ser seu sorriso constante ao ver Sebastian.
Ele passava noites em claro na companhia de seus pensamentos. Por nunca ter dormido, não saberia descrever a deliciosa sensação de sonhar. Mas havia uma coisa em que ele poderia associar e até mesmo afirmar de que fosse um sonho: Meyrin.
Sentia falta dos dias em que ela virava a casa de cabeça para baixo e ele tinha que arrumar tudo depois. Finnian e Bard não eram mais uma dor de cabeça sua, mas sim de Cassandra agora que os dois a babavam direto.
Com Meyrin, ele tinha o que fazer. Sua falta de coordenação a qualificava como algo útil para ele, já que com ela tinha o que fazer.
Ele se irritou por pensar nessas coisas. Não saberia destacar diante dessa confusão em sua mente, a verdadeira causa de sua "insônia''


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!