Break My Heart escrita por Selenis


Capítulo 17
O Aristocrata




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Apenas uma pergunta permanece em minha mente: " Por quê não estou impressionado? ".

Ambos somos criaturas medíocres comparados aos nossos criadores. Rivais, inimigos. Travamos inúmeras batalhas para conquistar o controle do mundo. E no final? Houve e sempre haverá guerra. Cá entre nós, francamente, meu time irá perder. Sem sombra de dúvidas.

Nunca em toda minha miserável existência vi e senti algo assim. Era como se um peso finalmente saísse de meu peito, me permitindo ingerir o ar pelo qual eu tanto aspirava. E o medo de perder algo - ou alguém -, estranhamente visitou-me durante o estado de reflexão. Meu subconsciente agora era meu terror, pois este usava tudo aquilo que prezo contra mim. E como posso lutar contra isso? Quem pode? Logo eu, que me julgava alguém superior aos humanos.

Foi então que tive o que eles chamam de epifania. Um momento de clareza. Somos nós meros pecadores. Eu, principalmente. Mas agora pergunto: Se não sou humano, sendo que apenas os mortais tem a escolha de pecar; por que então que eu me considero alguém que sabe que é errado pecar? Por que sinto essa necessidade de fazer o que é certo?

A resposta é simples.

Por tanto tempo viver com os homens, acabei absorvendo como uma esponja sua humanidade. Agora estou encharcado, mas basta um simples aperto para que tudo se esvaia.

Cassandra continuava a me prender no chão sem escapatória. Algo me impedia de dar-lhe uma cabeçada ou mesmo um chute entre suas pernas. Ela me olhava com profundo ódio; penetrando no âmago do meu ser. As asas em suas costas agitavam-se, querendo alçar voo. O bater das penas negras provocou pequeninos redemoinhos de poeira. Então ela assumiu uma posição felina sobre meu peito; soltando minhas mãos, porém agarrando meu pescoço.

– Diga-me, demônio! - rosnava ela feito um cão. - Para onde levou Ciel?

– Largue-me! - gritei.

– Fale, ou arranco sua língua.

– Então quem perde é você. Afinal de qualquer forma, você fica sem informação.

Isso a enfureceu bastante. Tanto que me deu tapas fortes; chegando a rasgar as laterais de meu rosto. Suas unhas eram como garras afiadas. O sangue escorreu, mas não senti nenhuma dor física.

Então encontrei forças para revidar. Agarrei o pulso que me prendia pelo pescoço, e o torci. Ela gritou de dor quando seu osso quebrou e por fim me vi livre. Rapidamente soquei seu rosto e me refugiei nas sombras das árvores. Pendurado em um galho, tomando cuidado para não fazer barulho, a observei.

Cassandra gemia e olhava ao redor, segurando o braço inútil.

– Aaahhh! desgraçado! - apareça, filho da *@#*. Eu vou te matar, Sebastian! Apareça, covarde!

– Quem é você, Cassandra? - perguntei.

Ela olhou para todos os cantos, esperando me encontrar.

– Sou aquela que protege Ciel! - gritou.

Certo, aquilo de fato me intrigou mais do que qualquer coisa. Desci do galho e caminhei até ela, imitando a postura de um mordomo. Parei e tirei a luva esquerda, exibindo a marca de meu contrato com Ciel. Cassandra ficou paralisada.

– Agora quero explicações. - afirmei.

Ela recuou alguns passos e pulou. De longe pude ouvir as suas asas voando; se misturando ao contraste da noite. Logo era como se ela houvesse sumido do mapa. Mas o seu cheiro não. A ordem foi que eu não saísse de perto dela.

E era isso o que iria eu fazer.

Segui o seu cheiro e corri velozmente, pulando de árvore em árvore para ganhar tempo de alcançá-la. Eu podia ver sua silhueta sobrevoando as copas das árvores pelo qual eu passava sob. Era quase impossível não me impressionar com as poderosíssimas asas, que quando batidas no ar, lançavam poderosíssimos empuxos de vento em minha direção. Perdi o equilíbrio duas vezes, mas logo o recuperei.

Com um mínimo de força nas pernas, dei um salto enorme. Estiquei os braços e agarrei Cassandra em pleno voo. Ela se contorceu e me deu um abraço da morte. Nós despencamos.

Enquanto a gravidade nos puxava, eu sentia as unhas dela me arranharem. Me dava mordidas no pescoço e nos braços; cravando os dentes com vontade. Gotas rubras começaram a escorrer das abas apertadas. Rolamos no ar, e a prendi pela cintura. Mas Cassandra deu-me uma cotovelada no estômago, que fui obrigado a soltá-la e expelir um bolo de sangue que se acumulou em minha garganta.

Ela aproveitou a oportunidade e fincou a mão em meu peito. Esperando atingir algo que não estava ali. Ela me olhou com espanto. Eu sorri e agarrei seu braço.

– Você não sabia? Este corpo não possui um coração.

Então, com um simples giro, torci seu antebraço e o arranquei fora. Um jato de vermelho e um grito cobriram a noite.

Isso aconteceu em segundos. Depois colidimos contra o chão, como um meteoro. Primeiro um grande choque e em seguida, uma grande torre de fumaça e ergueu. Uma cratera formou-se ao nosso redor e quando me sentei, Cassandra jájá estava em pé.

Ela não deu atenção ao braço decepado. Em vez disso, dirigiu-a toda a mim. Houve um momento de silêncio então eu também me levantei.

– Então para libertá-lo... - disse ela - primeiro eu tenho que te matar.

Pelo seu jeito, com certeza ela teria avançado para cima de mim e a briga se reiniciaria. Mas ela não o fez. Olhou para trás e vi as asas minguarem debaixo da carne. Havia duas cicatrizes em suas costas, mas que foram logo cicatrizando. Cassandra deu de ombros e se ajoelhou. Mas não foi pra mim ( Por que seria? ). Foi para um homem de preto que avistava tudo do alto da cratera.

Eu o reconheci. Era o mesmo aristocrata que perguntou se eu estava bem. Agora este estava sombrio e sério do que eu me lembrava.

– Casmie! - gritou ele - O que andou fazendo?

Cassandra ergueu a cabeça e disse com uma voz trêmula:

– E-Ele disse que é servo de Ciel, mestre. E agora? O que faremos? Essa coisa fez um contrato com Ciel. Sua alma será roubada.

– Não é roubo se um contrato foi assinado. - disse eu.

– Então tudo agora não passa de um simples contrato? Francamente!

– Enought! - gritou o outro - Basta! Cassandra, você sabe o que deve fazer. - ele desceu da cratera e caminhou até ela. - Ouça. - Tocou-lhe o ombro e sussurrou algumas palavras incoerentes. Cassandra caiu desacordada no chão.

O Aristocrata olhou para mim e disse:

– Desculpe-me por ela. Casmie te deu muitos problemas?

– O nome dela é Casmie?

– É apenas um apelido carinhoso. - ele sorriu. - Ah, como eu amo essa garota. Por favor, cuide dela. - bateu em meu ombro.

– Espere, quem é você?

– Apenas um convidado da festa. - estendeu a mão - Me chamo Saitou J. Muller. - apertei a sua mão - Muito prazer, sr. Michaelis.

Meu queixo caiu. Cassandra não era a única cheia de surpresas.

– Como sabe meu nome?

– Ora, e quem não reconheceria o senhor, mordomo demônio?

Arregalei os olhos. Uma tira gelada percorreu minha espinha até o final.

– Cassandra não se lembrará de nada pela manhã. É como se esta noite não tivesse acontecido. Leve-a para casa e por favor, dê-lhe um banho. E não se preocupe, seu braço irá crescer.

– Não. Primeiro você vai me esclarecer tim-tim por tim-tim tudo o que está acontecendo.

– Pelo o que eu saiba, você recebeu uma ordem de não abandoná-la. - ele sorriu e seus olhos verdes brilharam por trás das lentes meia-lua escuras.

– Você faz parte do Submundo? - perguntei-lhe seriamente.

Ele tirou os óculos, fitando-me e disse:

– Se faço parte?! - zombou - Rapaz, eu sou o Submundo.

Nesse momento tive vontade de agarrá-lo, mas ele havia sumido. Olhei ao meu redor e não vi mais ninguém além de Cassandra. O que por sinal, já havia despertado. Ela coçou os plhos e disse ao me ver:

– Sr. Sebastian? O que houve? Por que está me olhando assim?


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