Break My Heart escrita por Selenis


Capítulo 10
O Presente - Parte II - O Poema do Remetente




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Sebastian inalou aquele aroma familiar que o bilhete exalava. Era atrativo e levemente adocicado; lembrando flores diversificadas na primavera. Levou o envelope ao nariz para ter a sensação extasial mais prolongada.

Só veio a recobrar a consciência quando Bard o chamou; querendo saber o motivo da demora.

– Deixaram um presente para o jovem mestre. - disse Sebastian, voltando para a festa e sem tirar os olhos do bilhete.

Encontrou Elizabeth lutando com Ciel para pôr um chapéu conífero com um arco-íris de fitas pendendo da ponta sobre a cabeça do conde. Finnian e Cassandra se renderam,assim como Soma e Agni que agora comiam metade do bolo. As laterais da boca sujas de glacê e cobertura.

– É para o senhor, jovem mestre. Um anônimo o deixou na porta. - disse Sebastian, entregando a caixa preta ao conde.

Ciel ergueu uma sobrancelha e rasgou o papel de embrulho. Abriu a tampa da caixa e encontrou ali dentro um objeto envolto de papéis que ele jamais teria a necessidade de usar; mas que também isso não comprometera a sua capacidade de identificá-lo.

Dois cones ocos de vidro eram unidos a um orifício, protegidos por uma armação de madeira; com seus finos pilares moldados a delicados dedos. O conteúdo dentro dos frascos de vidro era fino e seco; ocupando metade do cone. Sua tonalidade era acinzentada e metálica. Pó de prata.

Era um dos instrumentos mais usados pelo homem para marcar o tempo. A ampulheta.

– Mas que diabos... - disse Ciel, avaliando seu presente. - Quem poderia mandar uma ampulheta para mim?

Sebastian ficou calado pois tinha suspeitas do entregador em sua mente. O bilhete em sua mão. Ele o entregou a Ciel, que notou a marca do selo desconhecido servindo como lacre. O desenho marcado ali, fora feito por um anel com o desenho da lateral de um leão com sua boca escancarada; rugindo.

O rasgou e tirou o pedaço de pergaminho dobrado três vezes no formato do envelope. Começou a ler o poema escrito a mão pela ponta fina de uma pena.

" O tempo não esquece nem perdoa aqueles que julgam.

Mas sim aqueles que são julgados.

O amor, por tantos machucados,

Permanece inconsolável

Até o momento em que seu causador

o torna insuportável.

E de repente, o peito não suporta mais o peso

de um coração carregado de amarguras.

E a coragem que antes tinha,

torna-se o medo causado pelas desventuras.

Ah, o tempo não esquece. Não esquece.

E então, outrora,

Um recipiente vazio o coração se torna.

Porém, este não é mais feito de vidro.

É de aço, para que possa suportar as quedas.

O pó então irá escoer...

Na ampulheta da vida; você vai ver.

O tempo passa.

E leva consigo a graça.

Infeliz é aquele que observa a areia transpassar

a finíssima passagem

e não se faz nada.

Observa o monte se formar,

E não toma jeito.

O tempo não para.

Ele passa.

E não perdoa, não perdoa.

Aqueles que não julgaram injustamente,

são os que possuem o mérito para virar a ampulheta

e ver a areia escorrer novamente. "

– Feliz Aniversário! !!

– O quê significa isso? - perguntou Ciel.

É um presente para você! - disse Elizabeth. - Mas não é nada fofinho. O que é?

– É uma ampulheta. - disse Cassandra.

Ela mantia o olhar fixo no objeto. E de repente, não tinha mais aquele ar de alegria estampado. Sua pele empalideceu e os olhos verdes enegreceram. O sangue deixou de correr pelas bochechas e os lábios comprimidos perderam a cor pecadora.

– Você está bem, Cassandra? - perguntou Finnian.

– Oh sim. Só senti um pouco de tontura. - arrastou as pernas da cadeira no assoalho e levantou-se. - Tenho que levar esses pratos...

– Não, vá descansar. - disse Ciel - Qualquer um torna-se inútil em suas tarefas quando a atenção não é devidamente posta.

Cassandra suspirou e agradeceu, fazendo uma reverência e subindo para seu quarto. Sebastian a espiou pelo canto do olho, subir os degraus com as pernas bombeando. De fato, o mistério e a suspeita aumentaram.

Quando todos foram embora, Sebastian levou o aniversariante para seu quarto, para proporcioná-lo a uma ótima noite de sono que recobriria suas forças. A face redonda e pálida da lua minguante espiava os dois pela vidraça da janela.

Desabotoando a camisa de Ciel, o silêncio de Sebastian perturbava profundamente o conde.

– O que foi? - perguntou ele ao mordomo.

– Apenas uma coceira atrás da orelha. - respondeu o outro.

– Seja mais claro.

Respirando fundo e soltando uma baforada de ar das narinas, Sebastian continuou.

– É sobre o presente que o jovem mestre recebeu hoje. E também da reação de Cassandra. Não acha estranho ela ter mudado sua reação ao ver a ampulheta?

– Sim, de fato. Ela estava saudável antes e depois...

– A dor de cabeça. - Dizia Sebastian enquanto despia Ciel de suas roupas antigas e colocava a camisola branca em seu corpo - Um dos membros da Aliança foi morto justamente na noite em que o senhor foi convocado para ser um participante. E que por coincidência, algo que ainda acho impróprio, Cassandra veio residir aqui.

Ciel ficou calado, absorvendo tudo o que seus ouvidos captavam e refletindo sobre.

– Então você suspeita de Cassandra? Por quê? - tirou o tapa-olho, pondo-o sobre o criado-mudo.

– Sim. Porque ela afirma saber muito sobre o senhor e a mansão em si. Diz até que sabe de sua história. Temo que futuramente, quando eu tiver as provas de que ela seja algum tipo de ser maligno, ela possa vir chantagear-me com o fato de haver um demônio que guarda a mansão Phantomhive; cujo senhor fez um pacto com este para vingar-se.

Ciel pigarreou e deu uma risadinha.

– Então você não suspeita dela. Você tem medo dela.

– Acha mesmo que um demônio como eu poderia ter medo de alguma coisa que o seu mundo tem a oferecer?

Ciel o fitou.

– Então do que você tem medo? Realmente?

Sebastian ficou mudo um bom tempo antes de responder:

– De perder uma deliciosa alma.

E as chamas das velas bruxulearam. Um vento frio apagou-as e o quarto foi envolto pela escuridão. A única fonte de luz dali eram o brilho avermelhado e infernal que era transmitido dos olhos de Sebastian; ofuscando como dois faróis na mais assustadora e agoniante iluminação.

– Apenas me dê a oportunidade de provar-lhe de que minha teoria talvez esteja certa.

– O que você pretende fazer?

Sebastian esticou os músculos da face num sorriso, exibindo os caninos desenvolvidos.

– Simplesmente dar a ela o que têm ansiado desde que pôs o pé aqui.


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