– Disamis? – perguntei recobrando a consciência.

– Sim – respondeu – eu ainda estou aqui.

As mãos de Disamis deixaram a minha face, colocando-se uma na minha cintura e a outra derretendo o metal que me prendia ao pódio.

Os homens afastavam-se de nós a medida que o elfo carregava o meu corpo, agora fraco, pelo centro da cidade.

– Nem te atrevas! – gritou Heim – devolve-a.

– Ela não te pertence humana – respondeu Disamis com uma voz calma mas potente – ela é uma descendente da família real, filha de Madelaine da casa de Patron, coisa que nada tem a ver com um verme como tu.

Ele virou-se e continuou andando, ignorando Heim que se aproximava a correr com uma garrafa na mão, que ao bater em Disamis quebrou-se deixando o líquido que continha cair sobre a sua pele.

Senti-me cair no chão enquanto Disamis gritava, cambaleando para trás e tapando a sua cara que radia.

Heim levantou-me pelo pescoço, de onde vinha aquela forca toda?

– Para!– gritou Esel que aparecia do nada – bruxa!

Heim esboçou um sorriso sarcástico, puxou o braço para trás e projetou-o para frente, afundando a sua mão no meu peito. Senti algo apertar e vi a mão de Heim sair segurando o meu coração que ainda batia.

– Tu mataste o meu pai… - murmurava Esel se aproximando – mataste a minha irmã e escondeste o facto de que Drako morreu a anos.

Heim parecia algo surpresa com aquela declaração.

– É – continuou Esel, deixando lagrimas rolarem pela sua face – eu li as cartas ontem – parou de andar e desembainho a espada – nem penses que vais tirar de mim o único que me resta.

Com um pequeno movimento, o meu coração transformou-se em um monte de chamas azuis.

– Isto é a essência da vida, demorei muito a encontrar uma bem forte –explicou Heim – partilha- a comigo e vamos viver para sempre juntos. Sabes que a mãe vai estar sempre contigo.

– Urusee! – gritou Esel. Naquele momento estava tao determinado que se fosse um pouco mais velho, facilmente o confundiriam com o pai.

Heim se preparava para esquivar o ataque do seu filho, quando Disamis levantou-se segurando-a por trás e deixando que Esel perfurasse os dois. Heim começou a despedaçar-se, desaparecendo em um feixe de luz.

Disamis pegou nas chamas e levou-as até mim.

– Tu escolhes – disse ele, deixando claros aqueles olhos que imploravam para que eu o escolhesse.

Segurou-me nos seus braços enquanto Esel se aproximava. Antes que protestasse, juntei as minhas chamas ao seu peito, sabendo que ele não teria como tira-las.

– Porque Daarin? O que vai ser de mim se fores embora? – Esel chorava amargamente.

– Eu não vou a lado nenhum. – respondi – quando precisares estarei aqui.

Esel ajoelhou-se incapaz de conter as lagrimas e notei que até mesmo nos seus momentos mais fracos, ele era lindo e imponente como o pai. Sentirei saudades.

Esel P.O.V on

Queria tanto que ficasses comigo.

Pingos de chuva caiam grossos e frios, eu tentava parar as lagrimas mas era como se o olhar de Daarin respondesse “deixa-as estar”.

Ela olhou para o ser que a segurava, o mesmo que me havia contado toda a verdade. Ele sorria singelo.

Aproximou-se e deixou nos seus lábios um beijo leve enquanto os dois desapareciam como se fizessem parte da chuva.

Estou sozinho, mas isso não importa.

– Jaana Papa… - murmurei levantando-me – Jaana Mama… - virei-me e caminhei de volta a casa, a minha casa sem vida, a minha casa vazia – Jaana Liese.

Parei por um momento e olhei para trás. Também vou sentir saudades.

–Sayonaara Daarin.