Meus olhos estavam focados nos de Nico, o sangue quente molhava minha blusa e como se estivesse câmera lenta eu caia no chão.

–Annabeth não fecha os olhos. -Ele implorava chorando e pressionando minha barriga onde a bala havia entrado, a dor era aguda e agonizante, parecia que ferro em brasa estava invadindo minha pele, meu corpo tremia, como se eu tivesse tendo convulsões.

–SOCORRO! -Gritou tentando estancar o sangramento, eu não via mais nada, estou envolta em minha própria bolha de dor e lagrimas.

–Annie. -Uma voz já muito conhecida por mim disse chorosa, pisquei várias vezes não acreditando que o via.

–P-p-percy? -Não conseguia acreditar no que via, devo estar morta, porque a Thalia falou que ele morreu.

–Não morra, Nico foi buscar ajuda, fique comigo. -Ele pressionava minha barriga e tentava se manter forte, mas as lágrimas escorriam marcando seu rosto.

–Não. -Peguei sua mão e levantei seu rosto. -Me deixe olhar para você.

Eu sei que vou morrer, sei que em menos de meia hora meu cérebro vai parar por falta de sangue, mas se eu vou embora desse mundo que seja olhando nos olhos dele, nunca pensei que iria ser uma garota tão clichê, é isso que o amor faz com você, fode sua mente e te transforma em uma merda de clichê.

–Isso não é uma despedida. -A voz dele foi ficando cada vez mais distante, a dor fritava meu cérebro e minha língua parecia uma lixa de tão seca. -Não ouse fechar os olhos Annabeth.

Não quero fechar os olhos, só que isso é maior que eu, é como se uma grande sombra negra me empurrasse cada vez mais fundo, para um vazio escuro e sem dor, antes que eu percebesse o verde dos olhos dele sumiu e tudo apagou.

Eu morri? Não vi a luz no fim do túnel, será que a morte é só um lugar escuro que eu vagar eternamente? Não tenho certeza que estou morta, já que minha barriga dói mais que o inferno e alguém esta apertando minha mão para caramba, no começo era bom, agora já esta machucando.

–Solta a porra da minha mão. -Isso foi uma tentativa falha de soar ameaçadora, estou tão rouca que até uma formiga é capaz de intimidar mais.

–Annabeth. -Não consigo nem piscar direito quando uma cabeleira negra esta me enforcando com um abraço de urso.

–Percy, tá machucando. -Digo estrangulada.

–Desculpe. -Ele sorria como uma criança no dia de Natal, estava com algumas olheiras sobre os olhos verdes e os cabelos mais bagunçados que o normal.

–Como você conseguiu se meter em uma confusão dessas? -Perguntou a ranzinza Atena Chase.

–Olá Atena, bom te ver de novo, como anda a vida? Muita falta de sexo? -Pergunto ironicamente, mas minha voz falha, que droga odeio quando minha voz falha ou gaguejo, pareço tão infantil. Atena ainda estava como a vi meses atrás, cabelos loiros cacheados, olhos cinzas, roupas feitas especialmente para ela, sapatos caros e celular na mão.

–Ótima, até dizerem que minha filha foi baleada no colégio e que eu preciso ir vê-la no hospital. -Diz ficando de frente para minha cama, é como se uma enxurrada de imagens preenchessem minha mente.

–Como estão todos? Como você sobreviveu? Onde esta Nico? Quem matou? Quanto tempo dormi? -Pergunto de uma vez para Percy e um aparelho que soltava bipes apitou como louco.

–Calma Annabeth, pode estourar os pontos. -Percy coloca as mãos nos meu ombros tentando me calmar. -Estão todos bem, menos Clarisse, Jason e Piper. Thalia conseguiu fugir, o Nico bem, ele esta preso, parece que a arma que matou o garoto da cidade era dele, e uma garota foi contratado para se passar pelo cobra. -Dava para ver a dor nos olhos de Percy, como se ele fosse culpado de não ter salvado ninguém.

–Não foi sua culpa. -Digo segurando a mão dele.

–Se eu não tivesse criado essa brincadeira idiota, se eu tivesse corrido mais rápido conseguiria ter ajudado, sabe como é ver uma amiga de infância levar um tiro na cabeça e logo depois encontrar a garota que eu estou apaixonado sangrando no chão? -A voz dele era uma mistura de ódio, raiva, dor, ressentimento, culpa, acho que todos nós estávamos assim. -Sabe, eu pensei que o Nico fosse gay e gostasse do garoto que ele matou, mesmo namorando a Thalia.

–Qual era o nome do garoto? -Pergunto tentando manter o assunto longe dos que aconteceu.

–Will, Will Solace. -Respondeu. -E você só dormiu por um dia.

–Annabeth a policia quer falar com você. -Atena informou, puxando Percy para fora do quarto. -Não demorem, ela já tomou os remédios e vai dormir em uma hora. -Disse sem olhar para os policiais que entraram.

–Não levaremos muito tempo senhorita Chase. -Falou o mais alto com óculos aviador em um local fechado. -Só queremos saber se pretende prestar queixa contra o senhor Nicolas Di Angelo.

–Do que ele vai ser culpado? -Pergunto me mexendo na cama dura e desconfortável, mas os fios grudados no meu braço não ajudam muito no quesito ficar confortável.

–De duplo homicídio e crime passional. -Diz o mais baixinho e de apareceria carrancuda.

–Passional? Ele não matou a namorada. -Estou confusa.

–Temos provas de um caso entre ele e a vitima William Solace. -Responde o mais baixo. -Vai prestar queixa ou não?

Meu cérebro começou a processar mais rápido, formando uma saída para aquela encruzilhada sem sentido.

–Acho que pegaram a pessoa errada, tem algum gravador? -Pergunto fazendo cara de inocente os policiais bufam mas me entregam o pequeno gravador.

–O que pensa em fazer menininha? -Pergunta o baixinho.

–Sou Annabeth Chase, estou pensando e vou fazer, peçam para chamar Thalia Grace e se escondam no banheiro, se eu estiver certa, vão querer ouvir isso.

Eles resmungam mas fazem o que eu pedi, o poder do sobrenome Chase é incrível, aperto o botão para gravar e o escondo debaixo da coberta.

–Annie. -Thalia joga seus braços sobre mim chorando. -Eu não acredito que ele te machucou.

–Ele tentou te matar também. -Digo triste. -Quem diria que seu próprio namorado tentou de matar.

–Nico não me ama faz tempo. -Ela diz abaixando a cabeça. -Só liga para aquele Will.

–Quem é Will? -Pergunto.

–O namorado do Nico, eles pensavam em sair do país! Acredita nisso? -Exclamou mais irritada do que triste. -Ele matou a Clarisse, a Piper e até o Jason, tentou te matar também, com aquela arma, você devia ter atirado nele.

–Ninguém sabia que o Nico atirou em mim. -Falo blefando, mas conhecendo minha mãe como eu conheço ela não deixaria isso vazar.

–Eu ouvi sua mãe falar. -Ela soluçou chorando.

–E você não me levaria para igreja sabendo que o Nico te traia, não é? Quer dizer se ele matou o namorado, com certeza poderia matar todos nós.

–Sim, como eu fui idiota. -Thalia soluçou mais uma vez, e deuses como aquilo era falso.

–Você é inteligente Thalia e vingativa. -Falo friamente.

–Eu o que? -Pergunta levantando a cabeça e me olhando confusa.

–Você manipulou todos, quando eu recebi a primeira mensagem foi você que mandou. -Digo e ela ri.

–Você esta dopada, eu estava do seu lado. -Diz cruzando os braços.

–Mas você não trabalhou sozinha não é, matou o Will porque ele estava com o Nico, a Clarisse foi só para incrimina-lo, mas a Piper e o Jason? Eles são seus irmãos.

–Piper sabia, ela sempre soube que o Nico tinha uma namorada e não fez nada para me contar, já o Jason, foi porque ele insistia que eu devia seguir em frente, quando ele descobriu que eu matei o Will, ficou louco, queria que eu contasse, não podia deixar que ele continuasse vivo.

–Então você era a cobra, esse tempo todo? -Pergunto chocada e Thalia ri com escarnio e desde.

–Descobriu agora querida, você é bem lerda em, eu tinha o plano pronto, até contratei uma assassina de aluguel para me ajudar com o disfarce, no original você devia atirar no Nico e ser presa, parece que nem para morrer você serve, mas o lado bom é que o Nico vai ficar preso para sempre.

–Você plantou a arma, me disse onde esta, sua mente é diabólica. -Minha cabeça girava, os remédios começaram a fazer efeito, preciso continuar, ela não vai matar meus amigos e continuar livre.

–Pois é, foi um golpe de mestre. -Ela se sentou na cama ao meu lado e alisou meu cabelo com as pontas dos dedos, o sorriso de Thalia era doentio.

–O que me impede de contar tudo a policia? Você acabou de se vangloriar pelas mortes dos seus amigos.

–Em quem vão acreditar? Na garota que tem a ficha limpa, ou na que foi expulsa de quatro escolas, tem envolvimento com drogas e já foi presa por roubar um carro? Acho que as chances não estão ao seu favor. -Ela sorriu ainda mais.

–Você estudou o meu passado? -Pergunto chocada.

–Cada linha, não tem erro. -Ela se levantou e foi até a porta.

–Hey Thalia, você só não contou com uma coisa. -Digo chamando sua atenção e mostrando o gravador na minha mão. -Eu sei usar o cérebro.

O choque eu sou rosto me faria gargalhar se eu não estivesse tão cansada, triste e dopada.

–Senhorita Grace, nos acompanhe. -Falaram os policias saindo do banheiro, para mim eles foram muito educados, tinham é que algema-la tão forte que seus pulsos sangrasse.

XXXX

Depois de toda a confusão eu consegui sair do hospital com um cicatriz horrível na barriga e outra pior ainda no coração onde ficavam meus amigos, mandei o ensino médio se foder por um ano, preciso respirar novos ares e Atena entendeu, o que é um milagre.

–Para onde vamos? -Perguntou Percy entrando no meu carro.

–Não precisamos saber para onde vamos, só precisamos ir. -Respondo acendendo um cigarro, e deixando a nicotina aliviar minha tensão, as coisas mudaram muito em um mês, Thalia foi presa, Nico se mudou para Itália, não consegui ir no velório de Jason, Piper ou Clarisse, porque para mim eles não morreram, só entraram em outro jogo, e nossas vidas se entrelaçaram de tal modo que eles se tornaram eternos em minhas lembranças.

Depois de uma catástrofe daquelas nós mudamos por dentro e por fora, eu fiquei mais fria e Percy também, eu cortei meu cabelo na altura do ombro e parei de me importar tanto, afinal vamos todos morrer no final.

–Quer mesmo ir comigo? Posso não ser a garota que você espera. -Digo para Percy olhando para seus olhos verdes, meu refugio favorito do mundo.

–Você esta certa, você não é a garota que eu espero, é muito melhor do que ela. -Ele sorriu e me beijou, seus lábios macios e quentes contra os meus era uma das melhores sensações do mundo.

–Então vamos Jackson, porque o mundo é grande. -Falo ligando o carro, dirigindo rápido, com os cabelos ao vento, nós ultrapassamos limites, por apenas não ligar.

Se eu morrer hoje ou amanhã, não quero ser lembrada como alguém que sobreviveu a uma louca, quero ser a garota que aproveitou sua vida até o último suspiro.