Human World Observation escrita por Lady Pompom


Capítulo 22
Capítulo 20: Fraqueza


Notas iniciais do capítulo

Essa história não tem qualquer relação com fatos, pessoas ou lugares da vida real, é uma obra de ficção com puros fins de entretenimento.



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No escritório do Presidente

. . .

–– Sr. nós temos um relatório sobre o progresso nas investigações do caso do jato que caiu na Rússia.

Gilbert entrou na sala e deixou uma pasta sobre a mesa do chefe, que folheava alguns documentos.

–– O que descobriram? Resuma.

––... Sim, Senhor... Após a prisão temporária do Secretário, apuramos alguns fatos... O criminoso conseguiu armar bem a queda do avião, e fez parecer culpa de Allen Garchovsky. Claro que, as evidências foram todas forjadas...

–– Eu sei disso, o que quero saber é: Sabem quem fez isso?

–– Reduzimos muito a lista de suspeitos, e não surpreendentemente a pessoa que está no topo da lista é alguém do próprio governo nacional, um dos seus ministros Senhor...

–– Um dos...? –o Presidente ficou tenso- E quem seria...?

––... É alguém que sempre comparece às reuniões, mas nunca fica disposto a entrevistas para a mídia e viaja bastante...

O superior franziu o cenho, calado, concentrando-se nas palavras de seu subordinado. Logo, quebrou o silêncio com uma voz decidida:

–– E como pretendem capturá-lo?

–– Sobre isto... Não dissemos ao Secretário Garchovsky que ele não está mais no topo da nossa lista de suspeitos, ele continuará preso por mais um tempo. Estamos rastreando o movimento dele, mas queremos que pense que o culpado oficial é o Secretário, assim ele se moverá mais livremente e quando fizer algum movimento em falso, estaremos com evidências o suficiente para prendê-lo.

–– Muito bem, monitorem meticulosamente os movimentos dele, e não permitam que mais cidadãos se machuquem!

–– Entendido, Sr.

E com isso, o comandante prosseguiu com outros relatos, detalhando a investigação.

. . .

Na residência de Eileen Sanders,

pela tarde...

. . .

–– Hoje é sábado Halley, eu estou cansada... Saí a manhã toda para pagar as contas e quase não tive tempo de descansar esta semana, cobrindo expediente pelos dias que faltei ao trabalho...

–– Ora, vamos, Eileen! –a outra insistiu-

As duas estavam sentadas no sofá, uma de frente para a outra e enquanto a dona da casa se escorregava preguiçosamente com as costas numa das almofadas do sofá, Halley puxava o braço dela, como uma criança tentando arrastar os pais para fazer algo que se negaram a fazer.

–– São só algumas horas, e amanhã é domingo, quando chegar vai poder cair na cama e dormir até amanhã!

––... Mas eu me sinto cansada, não tenho energias pra sair agora...

–– Está sem energias pra sair porque gastou saindo com outro alguém por acaso? Você é daquelas amigas que quando conseguem um namorado abandonam as amigas de infância?

Eileen franziu o cenho, indignada, e respondeu de imediato aos protestos da amiga:

–– Não! É claro que não, e que namorado?! Eu nem tenho um! Pare de inventar essas coisas!

–– Ah, então pra que está guardando energias?–perguntou no mesmo tom, irritando ainda mais a amiga-

–– Eu só não quero sair!

Ela lançou as palavras num tom tão furioso quanto o da amiga e ajustou a postura se sentando corretamente no sofá.

–– Estou interrompendo algo?

Uma voz masculina pronunciou subitamente, fazendo as duas se assustarem um pouco por não terem notado a presença do terceiro indivíduo. Era Siv Borghild que descia as escadas, com uma expressão levemente admirada.

Eileen suspirou pesadamente, dando uma tapa na própria testa e lançando um olhar mortífero para a amiga que ria da expressão dela.

–– Com certeza não... –Halley respondeu entre risos- Desculpa, Eili... Mas isso foi muito engraçado.

––... Siv, o que está fazendo aqui...? Não tinha um compromisso hoje? –Eileen perguntou com uma expressão emburrada-

––... Não tenho mais, eu só estava curioso para saber o que era toda a comoção na sala...

–– Ah, não se incomode com a cara malvada da Eileen, Siv, ela está muito chata hoje! –a amiga puxou a bochecha da outra- Mas ela vai ficar de bom humor quando sair e ver o dia lindo que está lá fora!

O alienígena disfarçado de humano arqueou o cenho quando a morena questionou com um sorriso brincalhão no rosto:

–– Será que eu posso roubá-la um pouquinho de você?

–– Bem, eu não sei, ela quem decide se quer ir ou não... Eu não tenho nada a ver com isso... –deu de ombros, despreocupado-

–– Nesse caso,

Halley levantou-se do sofá e puxou a amiga pelo braço, fazendo-a se levantar.

–– Vamos andar e viver a vida um pouquinho, certo, Eileen?

–– Ah, Halley, espera, espera!

Mas os gritos alarmados de protesto foram inúteis, e a mulher acabou sendo arrastada pela amiga. Logo as duas estavam nas ruas, Halley a arrastou até o movimentado centro da cidade, onde havia inúmeros prédios, lojas e poluições visuais.

–– Esse lugar vai te dar energia!

Ah... A Halley não entende... Além de ter que repor o expediente que perdi, à noite eu fiquei a semana toda respondendo às perguntas do governo, e o Comandante Gilbert ainda me pressionou pra ver se eu contava algum ponto fraco do Siv.

E eu ainda nem contei que o nome verdadeiro dele é Ahcsar! Eu devia mesmo me livrar logo desse peso da mentira e dizer tudo que sei! Ficar escondendo isso já está começando a me irritar!!

–– Nossa... Não consegue nem relaxar por um minutinho, Eileen?

A voz da amiga cortou os pensamentos dela, fazendo um arrepio percorrer sua estrutura óssea para então, voltar a atenção a mulher que andava a seu lado.

–– Sua cara é de alguém que definitivamente está pensando no trabalho... É por isso que ele dá uma resposta indiferente daquelas... Se você se esforçasse um pouquinho pra conquistá-lo ela daria mais atenção a você...

–– Esse assunto de novo?

–– É claro, você só me escuta quando eu falo disso!

Ela riu-se de ironia como se não tivesse outra opção e Eileen suspirou cansada. Não importa aonde ela fosse, tudo que conseguia era trabalho e mais trabalho.

–– Tudo bem, tudo bem, vamos nos divertir, eu prometo que esqueço o trabalho enquanto estivermos aqui fora!

–– Isso aí! Muito bem, Eileen, agora está falando a minha língua! –ela sorriu, e depois piscou sussurrando para a outra- Depois a gente pode procurar alguma roupa sexy pra você numa loja, quem sabe isso não te dê um empurrãozinho!

–– Halley, comporte-se! –Eileen bronqueou com o rosto vermelho de raiva-

E as duas passaram a tarde andando, olhando roupas, depois foram ao cinema de um shopping local. Foi uma tarde divertida cheia de risos, e elas puderem relembrar os tempos de colégio, quando saíam juntas no ensino médio.

Ao fim da tarde, as duas estavam com o humor renovado. Eileen coçava os olhos, com sono, mas o tempo que havia passado ali com a amiga tinha valido apena. Precisava de um tempo assim de vez quando.

–– Eili, me empresta seu celular? O meu está sem crédito e eu preciso ligar para o Cláudio. Vou jantar com a família dele hoje!

–– O seu namorado?

–– Noivo, na verdade, se esqueceu? Está ficando tão velha que nem se lembra do noivo da sua melhor amiga?

–– Eu devia me recusar a lhe emprestar só pra descontar os comentários maldosos que você faz, sabia? –ele cedeu o telefone, fazendo um bico de irritação-

–– Obrigada!

A amiga se afastou dela, para conversar em particular. Eileen esperou um pouco. Sua impaciência começava a surgir, queria voltar para casa. Ouviu passos se aproximando, abriu um sorriso, iria despedir-se da amiga e voltar para casa, mas, não viu quem ela esperava...

–– Quem é você?

Era um homem encapuzado, que gesticulou com uma das mãos para que ela fizesse silêncio, e antes que ela pudesse reagir, ele a puxou e cobriu a boca e nariz dela com um pano. Logo, a mulher perdeu os sentidos e desfaleceu.

. . .

–– Eileen, eu terminei! –Halley voltou com um sorriso, mostrando o celular- Eileen?

A amiga procurou em volta, mas não viu sinal de vida algum no local. Arqueando o cenho, perplexa, Halley se perguntava para onde a outra tinha ido...

–– Ela esqueceu o celular comigo...? Ah! Aposto que ela fugiu! Logo quando nós estávamos indo pra casa... Será que ela não podia esperar só um pouquinho pra se despedir da amiga...?

. . .

De volta à residência dos Sanders,

Ao fim da tarde...

. . .

A campainha tocou, e visto que não havia mais ninguém além do próprio Siv para atender, ele levantou-se do sofá e abriu a porta. Era Halley.

–– Oi, Siv! Poderia chamar a Eileen pra mim? Tenho que dar um sermão nela. Acredita que ela foi capaz de esquecer o celular comigo e me abandonar no meio da cidade?!

–– Eileen? Hum... Na verdade, ela não está aqui...

–– Como assim não está aqui? Ela sumiu da minha vista, voltou pra casa não foi?

–– Ela não estava com você...?

O semblante descontraído de Siv Borghild não indicava, nem o mínimo de preocupação, já a mulher começava a se intrigar:

–– Se ela não está aqui, então... Já está anoitecendo, ela não passou aqui mesmo par dizer aonde ia?

Vendo a aflição da mulher, para não levantar suspeitas, o alienígena deu um sorriso fingido e respondeu:

–– Ah, é mesmo... Eu acabei de lembrar, ela passou aqui sim, se lembrou que esqueceu o celular e voltou par te procurar, mas tudo bem, pode deixar comigo, ela deve voltar logo quando perceber que não vai encontrá-la no mesmo lugar ao qual foram hoje...

–– Viu só? A Eileen não toma jeito! –a amiga balançou a cabeça negativamente, entregando o aparelho nas mãos do homem – Cuide dela por mim, tudo bem, Siv?

Ele manteve o sorriso até que a mulher saísse. Porém, uma vez que ela não estava mais lá, a expressão dele escureceu enquanto ele olhava o aparelho que tinha em mãos.

–– Sumiu de vista...?

. . .

Em algum lugar distante,

. . .

Eileen abriu os olhos atordoada, estava tudo escuro. Ela sentiu que seus olhos estavam cobertos com uma espécie de venda, impedindo que visse onde estava. Também percebeu que estava sentada numa cadeira, com as mãos amarradas para trás, e as pernas amarradas aos pés da cadeira.

Mesmo tonta, seus sentidos alarmavam sobre o perigo. Ela tentava se mover, mas tudo que conseguiu foi arrastar a pesada cadeira e fazer um ruído fino que fez seus tímpanos vibrarem, então ela parou de se mexer.

O sangue dela ferveu, a adrenalina percorreu todas as suas veias. Suou frio, e se moveu freneticamente, tentando se livrar das amarras, mas foi um esforço sem compensação.

Ouviu o barulho de algo ranger e depois uma batida. Pareceu-lhe o som de uma porta de ferro se abrindo. Sentiu um calafrio e um mal estar. Onde estava? O que era aquele lugar? Por que alguém a raptara? Esta última pergunta, ela conseguiu responder sozinha, com facilidade. Só havia um único motivo para que alguém a raptasse... E seria o fato dela conhecer certo extraterrestre.

Alguém do governo? Provavelmente... Ah... Eu devia imaginar que isso aconteceria cedo ou tarde... O Comandante Gilbert pode ter sido compreensivo o bastante para ir com calma e me interrogar calmamente, mas... Não acredito que todos do governo estavam felizes com o método dele...

Quem será? Bem... Poderia ser algum inimigo? Não, não tem lógica... Tenho certeza de que tanto Ahcsar quanto o pessoal que sabe sobre ele foram extremamente sigilosos... Ninguém de fora descobriria fácil assim...

Ouviu o barulho de metal arrastando no piso, era mais uma cadeira, e depois o som abafado de alguém sentando. Presumiu que seu raptor estava sentado de frente para ela.

–– Olá, Senhorita Sanders.

A voz era mecânica e grossa, não era a voz de uma pessoa normal, era uma voz alterada por algum tipo de aparelho. E ele estava próximo dela.

Pensou até nisso? Parece que tomou boas precauções para não ser reconhecida... E aposto que deve estar usando algum capuz ou máscara para o caso da minha venda nos olhos sair...

–– Qual o problema? Confusa? –ele riu- Deve estar se perguntando como veio parar aqui...

–– Não pretende falar nada? Não se preocupe, logo estará conversando como se fôssemos amigos de longa data...

–– Eu sei o porquê estou aqui, mas não pretendo responder a nenhuma das suas perguntas...

Seu raptor fez silêncio pela primeira vez, ela aproveitou esta oportunidade para inquiri-lo:

–– Está fazendo isso a pedido do governo ou foi uma ação individual? Aposto que planejou isso sozinho, não? Espere só até o governo descobrir...

–– Mas eles já sabem, Eileen Sanders... Que me mandou aqui foi o Comandante Gilbert em pessoa.

––... Isso é mentira!! Ele não recorreria a métodos tão sujos! –ela gritou alterada-

–– Ora, ora... Não disse que logo você falaria?

Ela mordeu os lábios, furiosa consigo mesma por ter aberto a boca. As pernas dela tremiam de nervosismo, o sangue fervia enquanto ela suava frio.

–– Tremendo? Está com frio? –ele tocou no joelho da mulher- Espere um pouco, deixe-me ajudá-la...

E em seguida, ela sentiu uma rajada d’água gelada atingindo todo seu corpo. E tremeu ainda mais, com muito frio.

–– Não está melhor agora? –ele riu-se-

–– Bem, que tal se eu me aproximar mais pouco, quem sabe assim você não se sinta mais à vontade para conversar...

Ele sentou-se no colo da mulher e ergueu o queixo dela com uma das mãos.

–– Assim está bom pra você? Porque devo dizer que uma mulher bonita amarrada numa cadeira parece bem sugestivo para mim.

–– Canalha!

Ele levantou-se e arrastou a cadeira dela para mais perto, sentando-se novamente em frente à mulher.

–– Agora vamos falar sério... Que tal me contar o que sabe sobre aquele alienígena, o que me diz? Será que poderia falar sobre ele? Aposto que vai me contar um monte de informações, afinal vocês dois estão sempre andando junto, não é?

Ela franziu o cenho, estava numa situação bastante complicada, mas deveria selar sua língua ou os problemas só se agravariam.

–– Vamos, Eileen, me conta um pouco sobre ele, -ele dizia num tom cínico- Eu sei que pode me contar uma ou duas coisas que o governo ainda não sabe, certo? Suponho que, pelo tempo que passam juntos, ou ele tem te ameaçado ou você realmente tem problemas, porque, sério, preferir passar seu tempo com um alienígena, o mundo está cheio de pessoas tão boas...

–– Boas como você? Não me faça rir! Eu não sei de nada que ele já não tenha dito ao Comandante. –ela virou o rosto-

–– Não poderia fingir que eu sou ele? Aí poderia contar o que quisesse pra mim. Prometo que o que quer que diga, a informação não sairá desta sala.

Ela calou-se com os lábios torcidos em desgosto, e virou o rosto para o lado, num gesto de negação ao pedido do homem.

–– Bem... Já que é assim... Eu acho que devia começar a brincar um pouquinho... –ele se aproximou- Ah, mas você tem mãos lindas... E olha só suas unhas, tão perfeitas... Seria uma pena se eu tivesse que arrancá-las, não é?

Ela jurou para si mesma internamente, que não importava o que acontecesse ali, ela não abriria boca para dizer uma única palavra sobre o que sabia. Era um sentimento amargo de responsabilidade, porém, ela havia decidido que era uma carga que valia a pena suportar.

–– Vejo que um pouco de pressão psicológica não vai fazê-la falar muito, então que tal irmos para a ação?

O tom gélido com que o homem pronunciou aquelas palavras a fez estremecer internamente. No entanto, o que mais a assustou foi quando ouviu um barulho metálico e subitamente, o homem perfurou a perna dela com algum instrumento pontiagudo. Uma dor estonteante passou por seus nervos e ela deixou um grito escapar.

–– Ah, como eu esperava... Sua voz é linda quando você é espontânea, não acha?

Ela mordeu os lábios, tanto para evitar gritar quanto por sua própria frustração. Tentou discretamente se livrar das amarras.

–– E então, já pode me contar pouquinho sobre ele? Quem é ele realmente, de onde veio; os poderes que ele possui além daqueles que já conhecemos... Esse tipo de informação básica...

Ela selou os lábios e manteve o silêncio. O homem irritou-se e num impulso lançou a mão no rosto dela, dando uma tapa que estalou.

–– Sua vadia! Acha que pode ficar calada para sempre?! Eu estive pegando muito leve com você... –ele aproximou-se- Talvez eu deva fazer as coisas um pouco mais apimentadas...

Ele puxou o blazer dela, arrancando os botões, e fez o mesmo com a blusa social que ela usava por baixo, arrancando os botões e deixando à mostra parte da pele dela. Mais do que a bochecha dela que estava vermelha, eram seus olhos que ardiam, e lágrimas começava a brotar, por baixo da venda.

––Eu ainda nem comecei... –ele riu- E não pretendo terminar até que me diga tudo que sabe.

As lágrimas logo começaram a escorrer pelo rosto da mulher enquanto ela tremia involuntariamente. Era impossível não sentir medo, por mais que lutasse para não deixar este sentimento transparecer.

–– Oh, qual o problema? –ele sussurrou nos ouvidos da mulher- Ninguém vai vir aqui, e sabe por quê? É porque você é só mais uma civil sem importância, então independente do que lhe aconteça, ninguém vai notar... É bem fácil sumir com o corpo de pessoas assim, sabia? Não temos que dar muitas satisfações e os outros se esquecerão de você com o tempo...

–– Bem, é uma pena ter que te estragar... –fez um clique com a língua, como se estivesse decepcionado-

Jogou novamente um balde d’água sobre ela, e em seguida, pegou uma arma de choque, mas antes que pudesse encostar na mulher, ele parou ao ouvir a porta daquele lugar se abrindo. Eileen engoliu seco, seria mais um torturador?

O homem olhou para a figura que entrava calmamente pela porta, era o alienígena em pessoa, com uma expressão indiferente.

–– Que coisa... Eu demorei pra achar esse lugar... –ele suspirou-

–– Você... –o torturador se surpreendeu-

–– O quê? –respondeu seco- Apavorado?

–– Como as câmeras não...

–– Câmeras, está falando daquelas? –o alien olhou para o teto-

As câmeras ocultas da sala estavam todas quebradas, como se tivessem sido explodidas. O torturador fraquejou, como aquela criatura tinha conseguido fazer aquilo?

–– Siv...?

Eileen reconheceu a voz do homem. Ele simplesmente olhou na direção ao ouvir o chamado dela, com um ar frio em torno dele. Depois voltou a olhar o torturador.

–– Se divertiu muito? Porque não foi muito divertido achar esse lugar, sabe... –ele respirou fundo, dando passos em direção ao outro- E vocês insistem em tentar me capturar... O que querem? Me dissecar ou algo assim? Garanto que não entenderão um centésimo do funcionamento do meu sistema biológico.

O torturador sacou uma pistola e apontou para o alien, franzindo o cenho e dizendo convencido de sua força:

–– Dissecar? Bem, antes disso seria bom fazer uso deste seu cérebro incrível, nos seria muito útil... Mas é claro, precisamos ter controle sobre você para fazer isso...

–– Controle...? –ele abriu um sorriso caçoando do outro- Acreditam que podem me controlar? O quanto estão se superestimando?

–– Por que não? Você veio até aqui, como tínhamos previsto que viria, não foi? –o torturador deu um sorriso por baixo do capuz- Você tem uma fraqueza...

––... Fraqueza... -ele riu-se- Sim, eu tenho muitas, na verdade... Mas essa não é uma delas –a expressão de Siv se obscureceu- Pois eu também gostaria de saber o que tem dentro do cérebro de vocês para que pensem assim... –ele aproximou-se mais ainda- Será que eu deveria abrir seu crânio pra ver o que tem aí dentro?

O homem atirou, Eileen ficou nervosa com o barulho dos tiros, queria saber o que estava acontecendo. As balas foram inúteis, caíram no chão antes de chegar perto do alien, como se tivesse um campo invisível ao redor dele.

–– Siv!!

Ele estagnou o passo e virou-se para trás ao ouvir o chamado da mulher. Aproveitando a distração, o homem atirou novamente, mas não surtiu efeito, as balas caíram e o torturador sentiu uma pressão empurrar seu corpo contra a parede.

Ele voou até a parede e sua consciência sofria pressão, era como se sua cabeça fosse explodir, e incapaz de se mover, a última coisa que visualizou foram as costas do alien se afastando, não dava nem atenção à ele, que era esmagado contra a parede, tal era a relevância que ele dava ao homem. E assistindo a esta cena desconcertante, a consciência do torturador sumiu.

O alien desatava os nós em silêncio, e logo tirou a venda dos olhos da mulher, estavam vermelhos e lacrimosos. De alguma forma, o olhar dele estava incomodado com o que via.

–– Ahcsar...

––Ei, Eileen, você não me parece muito bem... –ele disse indiferente e levantou a mulher pelo braço- Foi difícil localizar esse lugar pelo seu pensamento sabia? –ele segurava numa das mãos dela, puxando-a para fora do local-

–– Pe-pelo meu pensamento?

–– Sim, como eles taparam seus olhos, eu não pude ver nada também...

–– Então estamos perto da minha casa?

–– Não... Estamos em outra cidade...

–– Pensei que só pudesse ler pensamentos numa determinada área...

–– Sim... Mas eu vi pela minha conexão mental com você...

_Cone... Isso soa muito esquisito... O que exatamente é isso? O que você anda colocando na minha cabeça?! Desde quando temos isso?

–– Nada... –ele fitou-a com uma expressão séria- ...Você parece ter problemas para andar, foram só algumas horas e eles furaram a sua perna?

––... Escuta aqui! –ela puxou a mão dele e parou de andar, indignada- Isso não é culpa minha! E tem alguém usando o nome do Comandante Gilbert pra fazer esse tipo de trabalho sujo! Esse não é um assunto tão simples assim, Ahcsar... Ai! –sentiu uma dor aguda na perna-

–– Você consegue mesmo andar?

–– Sim...

––... Isso é culpa minha. –disse fitando a mulher, angustiado, depois ele virou-se e continuou a andar- O alvo sou eu, mas o seu governo adora usar métodos não ortodoxos para resolver os assuntos pendentes... Eles fariam qualquer coisa para me encarcerar e me estudar, não é?

Ela suspirou fundo, acabara de ser sequestrada, ainda assim, era ele quem mais parecia ter problemas no momento, ela não podia simplesmente assistir àquilo ficar calada.

–– Você é muito inteligente, mas às vezes consegue ser tão estúpido, Siv...

Ele a fitou confuso quando o tom de voz dela se alterou e um discurso inusitado saiu dos lábios dela:

–– Por que está agindo como se realmente tivesse culpa? Me responda, é mesmo culpa que o governo decida priorizar o desenvolvimento e pesquisa científica ao invés dos civis? Ou que você tenha nascido provido de capacidades sobre-humanas? Ou que tenha um bando de imbecis gananciosos no governo deste país? Se for por isso, você é um idiota! Se alguém tem a culpa, são as pessoas de mente distorcida que pensam nessas estratégias... Não é como se você estivesse pedindo a eles pra usar esses meios pra te capturar, não é? E não é como se eles tivessem mesmo que fazer isso por um pouquinho de informação... O que existe no coração das pessoas, não tem nada a ver com você... Não importa quantos pensamentos possa ler, não muda o fato de que, no fim, tem coisas que você pode evitar e outras que não...

Ele ficou paralisado fitando a mulher por alguns minutos com o semblante surpreso, como se não tivesse palavras para contrapor a declaração dela. O rosto dele ficou vermelho, e ele desviou o olhar, virando-se pra frente novamente e caminhando, segurando ainda mais apertado na mão dela.

–– Você fala demais às vezes...

–– Seu... Eu só estava tentando te animar, seu grosso!!

E logo ele a tirou dali, voltando para a residência da mulher.

. . .

Residência de Eileen Sanders

Manhã

. . .

–– Ai, ai... E quando o governo descobrir sobre isso? Será que foi o Comandante Gilbert mesmo que mandou fazer aquilo comigo? –ela assanhava os cabelos, preocupada-

–– Fique quieta. -o alienígena reclamava enquanto enfaixava a perna dela, agachado- Eu não tenho certeza de quem fez isso, mas tenho uma pista já que aquele humano não parava de pensar em quem o havia ordenado... O problema está em saber se a pessoa na qual ele pensou é o verdadeiro chefe ou se tem alguém mais por trás disso...

–– Conseguiu saber isso tudo enquanto estava lá?

–– Não pude me concentrar mais porque alguém ficava gritando e me distraindo o tempo todo na minha cabeça... –ele encarou a mulher com um olhar de reprovação-

–– Eu estava com medo! O que esperava?!

–– De qualquer forma, -ele terminou o curativo, mas não se levantou- Aqueles agentes do governo estão ocupados investigando os incidentes, vão me deixar em paz por um tempo...

–– Em paz? E aí você poderá continuar sua missão?

Hum? Por que ele parou? E que tipo de expressão é essa? Pensando bem, é estranho... Ele não esteve observando muito... Tudo que ele tem feito é ficar trancado com uma expressão de poucos amigos e responde as perguntas do governo evasivamente...

–– O que foi? Decidiu me analisar também, Eileen?

–– Ah... Me desculpe...
–– Não importa... Eu estou entediado...

Ele fitou a mulher por alguns segundos, com uma expressão vazia, depois se levantou preguiçosamente.

–– A propósito, isso... –tirou o celular do bolso e a entregou-

–– Meu celular? Por que está com ele?

–– Aquela humana amiga sua veio lhe entregar isso, eu tive que mentir para que ela não descobrisse que você tinha sumido...

–– Obrigada... A Halley deve estar louca comigo por dar um susto nela... –ela sorriu nostálgica-

–– Estou impressionado que não tenha chorado muito desta vez Eileen. –ele provocou-

–– É que eu me acostumei a não ser mais tratada como uma civil comum... –ela estreitou os olhos- Eu agradeço que tenha ido me salvar, mas... Isso não vai fazer com que eles me persigam ainda mais?

–– Provavelmente sim. –ele desviou o olhar-

–– Então com o que estava na cabeça quando foi lá?! Se... Se isso não foi uma ordem do comandante Gilbert você devia tê-lo chamado...

–– Eu já disse, não gosto do seu governo, tampouco confio neles... Mas eu não tive muito tempo para refletir, você já tinha sumido e estava anoitecendo... Eu levei algumas horas pra saber onde eles haviam te levado, por isso só consegui ir lá pela manhã...

–– Bem...

Isso é verdade... Eu não acredito que o Comandante tenha mesmo dado esse tipo de ordem só pra conseguir informações, ou melhor, se ele quisesse mesmo extrair informações de mim, acho que ele o faria pessoalmente... Mas o Siv não confia no governo...

Eu costumava dar crédito sempre ao governo, mas desde que isso tudo começou não tenho mais tanta fé que eles estejam agindo da forma certa... Eu não sei mais o que fazer...

Ela suspirou novamente, fechando os olhos, mas os abriu em surpresa quando ouviu a voz do homem num tom mais suave do que o usual.

–– Eu estava preocupado porque você não se cura rapidamente, diferente de mim, e poderiam te torturar da forma que quisessem, então...

–– Siv...? –ela estava perplexa com o comportamento dele- Está dizendo que agiu por impulso porque estava preocupado com o que poderia acontecer comigo? –ela arqueou o cenho- Isso é definitivamente raro.

–– Você acha?

–– Ah, por favor, pare de brincadeira.

No que ele está pensando afinal?

–– Você diz que eu sou estúpido, mas consegue ser ainda mais...

Ele tocou no rosto dela, se aproximando, mas parou no meio do caminho, por causa da expressão assustada da mulher, era como se a insegurança dela fosse um sino que o alertasse para parar. Ele se afastou, respirando fundo novamente, com a expressão confusa, mas...

–– Siv, o que você-

Antes que ela pudesse completar com palavras, ele aproximou o rosto novamente ao dela e a beijou suavemente. O sangue subiu à cabeça. Ela estava surpresa, mas mais do que isso, confusa. O coração dela disparou num ritmo acelerado, ela tinha certeza de que desta vez não era um teste. A mente dela ficou conturbada e ela não sabia o que fazer, mas quando se deu conta ela estava correspondendo ao beijo que durava mais do que o esperado.

Mas o que eu estou fazendo?

Então, ela o empurrou e se afastou, ainda incerta do que ela própria fazia, envergonhada.

–– O que você está fazendo Ahcsar? Se isso for mais um dos seus experimentos estranhos, pare com isso, por favor.

––... Eu disse que não faria mais experimentos em você Eileen, as minhas palavras não foram o bastante pra que acreditasse em mim? –perguntou num tom sério e entristecido –

––... Siv...?

Mas o que é isso? Por que ele...?Ahcsar...

Os sentimentos da mulher estavam girando descoordenados, por que ele havia feito aquilo repentinamente?

–– Eileen você ainda não entendeu...? –ele aproximou o rosto novamente e a fitou nos olhos-

_ Eu-

Mas a frase dele foi interrompida pelo som da campainha. Que momento inoportuno. A mulher se assustou quando ouviu o som de repente. Estava tão concentrada na face de Ahcsar que estava próxima a dela para prestar atenção ao mundo.

O alienígena respirou fundo, como se procurasse paciência e então levantou-se do sofá e foi subindo as escadas.
–– Ei! Aonde vai? A campainha está-

–– É sua amiga... Melhor falar com ela...

E dito isto ele subiu as escadas de mau humor. Eileen correu para atender a porta. Era Halley.

Ah, ele sabia mesmo quem era... Mas ele subiu as escadas... Será que ele ficou irritado? Ela tinha que aparecer logo agora?!

–– Eileen, oi!! -sorriu e abraçou a amiga, com alegria- Mas o que aconteceu, você está com uma expressão surpresa!

–– Estou?

–– Por quê? O que aconteceu? Sabe, eu estava preocupada quando sumiu naquele dia, mas o Siv disse que você tinha ido me procurar, aí eu fiquei mais aliviada...

–– Sim... O Siv...

–– Eileen, você está bem? –perguntou arqueando as sobrancelhas-

–– Não... –respondeu hesitante-

Eu me sinto confusa... Agora a pouco Ahcsar... E-Eu...

–– Desculpe, o que aconteceu com você?

–– Nada! –respondeu de imediato- Nada, mas eu preciso resolver algo urgente e eu te vejo outra hora, então até mais Hail! –ela rapidamente se despediu da amiga e fechou a porta na cara dela-

Halley ficou parada na beirada da porta por alguns segundos sem entender e depois foi embora, desconhecendo a situação por a qual a amiga passava.

Eileen não estava racionando bem, ainda inquieta pelo que havia acontecido, subiu as escadas correndo e apressou-se para chegar ao quarto do homem, abriu sem bater na porta, com expectativas de que ele estivesse lá, mas...

–– Siv...

Recuou um passo, com uma expressão decepcionada quando percebeu que não havia ninguém lá, e a janela estava aberta.

Ele foi... Embora? O que eu estava esperando afinal? É claro que...

Seus pensamentos foram irrompidos por uma voz que ela conhecia bem:

–– Eileen...?

Ele saía de um do cômodo anexado ao quarto, com o rosto um tanto admirado.

–– O que está fazendo aqui...?

Ela correu e agarrou-se nas roupas do homem, fitando o rosto dele, deixando-o surpreso e sem ação.

–– Siv, me responda por que você fez aquilo? Por que você me beijou? –ela o pressionava, sacudindo-o nervosa-

–– Por quê? Eileen...?

–– Eu preciso saber agora!

–– Bem, eu...

Ele tinha uma expressão levemente confusa e afastou um pouco a mulher de si segurando-a nos ombros. Logo o brilho que antes havia nos olhos dele sumiu, e a expressão dele tornou-se solitária.

–– Eu não posso responder a essa pergunta...

–– Como assim não pode?! É claro que pode foi você quem...

Eu tenho que entender isso agora, porque eu sinto que se não for agora, não terei outra chance de esclarecer isso!

–– Eu não amo você.

Ele respondeu num tom calmo e resoluto, e a expressão fria que ele tinha era convincente o bastante para que ela acreditasse. Se afastando dele alguns passos, com o semblante aflito, ela franziu o cenho.

–– Se era isso que queria saber... –ele desviou o olhar- Eu pensei que poderia entender vocês humanos, mas acho que é inútil no fim das contas... Não consigo ter os mesmos sentimentos que vocês. Isso é tudo.

Primeiro, o rosto dela estava desolado. Aquelas palavras feriam mais do que ela poderia imaginar, principalmente vindas dele. Fosse qualquer outro, talvez ela não tivesse se importado tanto, mas o fato de ser ele a dizer aquilo tão claramente apertava seu coração. Depois o rosto dela foi se torcendo o cenho franzindo, os olhos dela arderam, e ela sentiu tanta raiva que nem pensou duas vezes antes de dar uma tapa forte no rosto daquele alien.

O rosto dele virou de tanta força, e depois ele a fitou, sem emoção alguma aparente.

–– Seu imbecil! –ela gritou furiosa- Suma da minha vista! Por que você teve que entrar na minha vida? Desapareça! A quem acha que convence com essas palavras?! Acredita mesmo que eu não perceberia suas mentiras, Ahcsar Angsaw?! Seu covarde! Se não tem coragem de admitir isso, então suma daqui!

Mentiroso...

Ela descontava o turbilhão de emoções nele, que simplesmente mantinha o silêncio na vista dela. E enquanto gritava, as lágrimas iam escorrendo pelo rosto dela, brilhantes e amargas.

Ahcsar você é um péssimo mentiroso... Por que está fazendo isso comigo? Qual é o seu problema? Droga! Eu pensei que... Eu finalmente pensei que...

E ela escondeu o rosto entre as mãos, chorando e soluçando. Sua garganta já estava seca e não conseguia mais pensar em insultos que pudessem expressar sua raiva. Nunca esteve tão frustrada em toda sua vida. Ela sabia bem o que aquele sentimento era e isso que pesava mais em sua consciência.

Estava apaixonada, mas entendia que, em algum momento, ele teria que ir embora, afinal, ele não podia ficar na terra para sempre.

É por que eu sou humana...?

E embora ela estivesse ocupada demais com as próprias lágrimas para notar isso, aquelas palavras ressoaram na mente de Ahcsar e toda a frieza na expressão dele se descontruiu. Incerteza. Era isso que estava expresso agora. Por que tudo tinha que ser tão complicado? Não seria simplesmente mais fácil para ele abraçá-la e admitir de uma vez os sentimentos? Ele queria, mas não sentia que podia...

Seria a diferença um empecilho tão grande que ele não pudesse ser capaz de dizer as palavras que queria em voz alta? Era isso que as fazia ficarem entaladas na garganta? Há pouco mais de meio ano atrás ele era nada mais do que um prisioneiro, mas agora... Ele vivia na terra, como um humano, entre eles, se comportando como um deles, e desde o início estava focado em sua missão, mas, quando ela foi abolida, por qual propósito ele estava ali? Não tinha um propósito específico, ele apenas... Não podia voltar para sua casa... Porque nunca pertenceu àquele lugar...

Não... Aquilo não era sua casa. Uma cela de prisão solitária não é exatamente o que ele poderia chamar de lar. E a terra, aquele lugar... Aos poucos, ele tinha se acostumado com a convivência, e apesar das turbulências, a vida era relativamente pacífica. Não como era quando ele estava preso numa cela, isolado. Era diferente. E as pessoas agiam de formas tão únicas que ele não cansava-se de se impressionar. Porém, acima de tudo isso, acima de qualquer outra coisa que ele tenha adquirido desde que foi a terra, foi um sentimento em especial...

Por que ele estava sempre por perto dela? Ou talvez por estar sempre conectado aos pensamentos da mulher? Nem ele mesmo sabia. Mas quando aquele sentimento surgiu e começou a crescer dentro dele, ele passou a ter confiança. Não importava do que se tratasse, ele começou a contar tudo a ela, porque ela não se importava em perder tempo ao escutá-lo e era sempre sincera, desde que ele havia ficado doente aquele sentimento começou a surgir. Ele se perguntava inúmeras vezes o que seria, mas era algo tão humano que ele não achava que fosse próprio dele.

Foram poucas as vezes que ele sentiu medo, mas uma delas foi quando a viu sumir. Quando ela desapareceu sem deixar vestígios. Ele perdeu inúmeras coisas que considerava preciosas durante a vida: família, liberdade, até sua identidade, mas em nenhuma delas ele sentiu tanto medo quanto da última vez. Contudo ele pensou que, se fosse dizer esse sentimento em voz alta, se tentasse expressá-lo agora, por mais que tudo desse certo, ainda assim, a promessa de que Crow-Hreimdar voltaria com sua sentença estaria de pé. E conhecendo como era sua raça, ele sabia que tipo de sentença o aguardava. Foi por isso que pensou “Se for algo efêmero, então é melhor que eu não sinta nada...”. Ele tentou apagar aquele sentimento como sempre fazia quando ele escondia suas mentiras e raiva por trás de um cínico sorriso ou quando emitia frieza e indiferença enquanto fervia por dentro, mas... Inesperadamente, ele não conseguiu.

Ele não conseguiu evitar querer estar com ela, e também não conseguiu evitar todo seu conflito interno. Ele sabia o que precisava fazer, sabia como deveria fazer, ele conseguiu dizer tudo impecavelmente em alto e bom tom, ainda assim, aquele sentimento se recusava a sumir. A quem ele tentava convencer afinal?

Mais uma vez sua covardia entrava no caminho. Ele teve medo de que aquilo não fosse duradouro e ficou apavorado quando pensou que algum dia, teria que partir, mas...

–– Não... Não isso está errado... –disse com o semblante triste- Eileen, eu...

Não adiantava mais. Não havia mais conserto porque ele não queria que aquele sentimento fosse embora. Se ele possuía um tempo limitado, então ele queria usufruir desse tempo ao máximo.

E quando ela levantou o rosto, com os olhos vermelhos, cheios de lágrimas, ele tomou uma decisão, convicto que de que não se arrependeria no futuro. Ele puxou a mulher e a envolveu num abraço.

–– Eu sinto muito Eileen... Eu menti de novo...

––... O quê?

–– Pensei que estaria tudo bem se eu não lhe contasse, contanto que estivesse segura...

–– Do que você está...?

–– Você sabe que quanto mais se aproximar de mim, mais pessoas visarão você... Eu ainda sou um prisioneiro e algum dia, eu precisarei retornar, mas... Até lá, Eileen, é com você que eu quero estar.

As lágrimas dela cessaram, e os olhos se abriram em surpresa enquanto ele a abraçava. As palavras dele soavam embargadas, como se ele próprio quisesse chorar. Mas o calor gentil daquele abraço... Era como se os sentimentos dele estivessem condensados ali.

–– Ele disse que você era minha fraqueza, mas... –ele afastou-se um pouco e pôs uma das mãos no rosto da mulher- Isso não é verdade... Você é a minha força...

O sorriso que ele tinha no rosto não era como os outros, pela primeira vez em muito tempo, era um sorriso singelo e afável. Desta vez, ele queria revelar seus sentimentos. Desmascarar as emoções que encarcerava em seu próprio coração.

E terminando aquelas palavras, ele selou os lábios dela num beijo apaixonado e delicado. Dedicado a expressar todas as emoções que havia retido por tanto tempo. Ela fechou os olhos, e aquilo tudo parecia um sonho, mas... Era real. E ela se permitiu ser absorvida pelas quentes emoções que transbordavam dele.

O dia mal tinha começado e o futuro ainda era inseguro, mas, naquele momento. O presente. Era tudo que bastava.


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Notas finais do capítulo

Dando início a última parte da história!

Desculpem a demora!!



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