Lucy estava se ajustando muito bem a escola, mesmo com o ritmo acelerado de lá. Logo no segundo dia de aula já houve mudanças bruscas que confundiram a menina, principalmente quanto ao comportamento dos professores. No primeiro dia, estes se mostraram compreensivos e flexíveis, mas, assim que este dia acabou, esse temperamento bonzinho e gentil também acabou. Lucy passou a vê-los como máquinas de passar matéria. A loira ficou abismada com a quantidade de matéria que aquelas pessoas conseguiam passar em apenas cinquenta minutos. Mas a quantidade de matéria não era tão impressionante quando a quantidade de dever de casa.

Apesar disso, houve uma boa adaptação por parte de Lucy e até mesmo de Natsu Dragneel, que estava acostumado com um ritmo mais lento. Nas primeiras semanas o garoto quase enlouqueceu, principalmente com as provocações constantes de Gray Fullbuster. O garoto de cabelos róseos só conseguiu se ajustar quando Levy e Lucy começaram a ajudá-lo a se organizar com os estudos e Erza — secretamente — começou a impedir que Gray tornasse a vida de Natsu um inferno. Entretanto, todos perceberam que Erza estava intervindo a favor de Natsu. Não que Dragneel gostasse de ser defendido desse modo. Mas Gray estava tão aterrorizado sob os cuidados da Titânia que o menino achou que seria válido receber um pouco de “proteção para que pudesse estudar em paz”.
E tão rapidamente quanto foi mudança de temperamento dos professores, foi também a chegada das provas. Lucy e Erza começaram seus estudos com antecedência, mas ninguém superaria a pequenina azulada no quesito de adiantamento. Levy já estava estudando arduamente desde as férias, mesmo que ela não admitisse.

— Este ano vai acontecer uma competição entre escolas. Pelo que eu ouvi falar, cada edição é diferente, mas tudo leva a crer que, este ano, a pontuação nas provas da competição serão somadas as notas das provas. Ou seja, ir bem na competição já garante uma boa nota no boletim, entendem? Não sou boa com esportes, uma das ramificações da competição. Mas ao menos quero me garantir nas disputas intelectuais. — McGarden assumiu uma pose completamente didática ao ajustar os óculos de leitura e erguer o indicador direito quando começou a explicar a situação para seus colegas de classe. E isso rendeu alguns risos que a menina simplesmente ignorou. Estava acostumada com o tom brincalhão daquela gente.

— Então ir bem nas provas pode salvar seu boletim? — Natsu, com um novo brilho no olhar, um brilho com certo toque de súplica por boas notícias, dirigiu-se a Levy. Mesmo com a ajuda de todos, o garoto de cabelos espetados estava tendo problemas com algumas matérias.

— Bem, creio que sim... — Levy foi interrompida por um grito de felicidade de Natsu e a repentina comemoração do garoto, que consistiu em abraça-la e rodá-la no ar, como se ela fosse a responsável por tudo aqui.

— Natsu! — Lucy, percebendo que a azulada estava começando a se sentir mal, gritou. Dragneel se tocou do que estava fazendo e colocou Levy no chão, murmurando algumas desculpas enquanto coçava a cabeça.

Todos se dirigiram a biblioteca para estudar para as provas e para a competição. Aparentemente, eles, da turma do segundo ano do Ensino Médio, eram alguns dos poucos do Colégio Fairy Tail que já sabiam sobre a competição, afinal, o terceiro ano parecia muito preocupado estudando para a faculdade, enquanto o primeiro ano encontrava-se na fase de adaptação, achando que o ensino médio seria tão fácil quanto os níveis anteriores, o que lhes rendeu mais tempo para se preparar. Não imaginavam que tivessem que competir contra os estudantes de sua própria escola, mas, caso ocorressem fases eliminatórias, gostariam de estar preparados. Por isso, depois de uma votação, decidiram deixar o conhecimento sobre o evento guardado entre eles.

Porém, a tentativa de guardar segredo não foi muito bem sucedida. Aparentemente, os estudantes da Fairy Tail não eram muito bons para manter as coisas escondidas, então, em menos de uma semana, a escola inteira já sabia sobre o evento. E tal repercussão preocupou o diretor e mestre Makarov que, com a proximidade das provas daquele bimestre, esperava mais empenho dos alunos com seus estudos normais. Porém, para todo lado que o velho olhava, ele só via montes e montes de alunos discutindo e tentando se preparar para provas que eles nem sabiam quais seriam.

Erza não era muito estudiosa. A menina de cabelos escarlates tinha certa facilidade e, por conta disso, estudava o necessário para entender completamente e se dar bem nas provas. Não estudava desesperadamente como Natsu ou avidamente como Levy. A ruiva estudava no ritmo das necessidades dela. Por conta disso, mesmo em épocas de provas, ela não ficava estressada, fato que chamou a atenção de Lucy. Mesmo gostando de estudar, Lucy Heartfilia precisava estudar bastante para assimilar bem as matérias, situação complicada em períodos de provas. Ela simplesmente se perdia e não sabia o que estudar, quando nem como.

Como Levy já era acostumada com um ritmo intenso, até pelo prazer que sentia ao estudar, Lucy sabia que não podia estudar com ela. Jamais conseguiria acompanhá-la. Já Natsu seria um problema ainda maior, porque ela teria de se interromper o tempo inteiro para explicar algo a ele. Óbvio que ela não o deixaria na mão. Ajudaria o menino sempre que este precisasse. Mas ela também estava precisando de certa ajuda, então teve que olhar um pouco mais para si mesma naquele momento.

Fullbuster e seus estudos eram um completo mistério para Lucy. Ela não sabia se ele estudava muito ou pouco, se era inteligente ou não, se tinha facilidade ou não. Ele simplesmente não deixava as pessoas se envolverem muito nesses quesitos, parecia que havia uma crosta de gelo entre ele e as pessoas ao seu redor. Ele não era uma pessoa fria, muito pelo contrário. Gray era um dos melhores companheiros que Lucy já tivera, e a menina se sentia muito bem perto dele. Mas ela sentia que não sabia muito sobre ele, mesmo em questões simples como estudos.

Ao analisar todos os seus amigos, Heartfilia chegou a conclusão de que era melhor estudar com Erza. Erza Scarlet poderia ajuda-la com os estudos sem atrapalhar a si mesma e ainda poderia ensiná-la alguns métodos bons para aprender sem se estressar. Quando encontrou a ruiva, Lucy fez a proposta de estudarem juntas e ficou feliz com o sorriso e a aprovação da menina.

— Porém, — começou Scarlet — precisamos resolver a situação de Natsu primeiro. Estou preocupada com ele. Mesmo que seja avoado e meio boboca, Natsu sempre se virou bem na escola. Algo está acontecendo e ele não quer nos contar, então ao menos arrumei alguém para ajuda-lo a estudar. Venha, você não a conhece ainda. Vou apresentar as duas.

Pegando Lucy pela mão, Erza caminhou até a sala que, alguns dias atrás, Lucy descobriu servir para os alunos estudarem. Não era como a biblioteca, que havia livros para pesquisar e o silêncio reinava absoluto. Somente haviam mesas e cadeiras dispostas como em um refeitório, para que grandes grupos pudessem estudar juntos. Ali, poderia haver discussões e aulas dadas pelos próprios alunos sem que ninguém brigasse.

Depois de analisar a sala um pouco, Lucy percebeu que ela e Erza não estavam sozinhas. Uma garota de fisionomia tranquila e carinhosa estava de costas para elas, olhando para a paisagem do jardim da escola através da grande janela que havia na sala. Seus cabelos eram longos e platinados, fazendo curvas que lhe caíam bem. Usava um vestido vermelho com uma faixa rosa na região da cintura com um laço ao lado. Mesmo de costas, a figura parecia extremamente bonita.

Quando virou-se, Lucy se viu frente a frente com uma garota um pouco mais velha que ela, provavelmente do terceiro ano. Lucy reparou que usava um pingente azul no pescoço e que havia outro laço rosa na parte da frente do vestido. A menina de cabelos pratas, quase brancos, tinha uma expressão que exalava tranquilidade e estava com seus lábios curvados em um sorriso simples. Fechou os olhos e jogou a cabeça para o lado, como se estivesse feliz em vê-las.

— Olá, Erza. Estava a sua espera. – dirigiu-se somente a Erza, mas seu tom demonstrava que estava a espera da apresentação que a ruiva deveria fazer.

— Bom dia, Mirajane. — virando-se para a loira, Erza começou — Lucy, essa é Mirajane Strauss, do terceiro ano. Pedi a ela que ajudasse Natsu com algumas matérias. Mirajane, essa é Lucy Heartfilia, a menina nova da minha sala.

— Prazer em conhecê-la, Lucy — o sorriso de Mirajane se alargou e, por um momento, Lucy não sabia o que falar. Sentiu-se a criatura mais desajeitada do mundo perto daquela menina.

— O prazer é todo meu, Mirajane-san. — respondeu enfim, retribuindo o sorriso da menina mais velha. — Erza me contou que você vai ajudar Natsu. Obrigada.

— Não precisa agradecer. Conheço Natsu há muito tempo e gosto dele. Não quero que passe por problemas. Aliás, onde ele está?

Nesse momento, algo que pareceu um furacão moreno irrompeu para dentro da sala. Depois do susto inicial, as meninas perceberam que era somente Gray, exasperado, que entrara correndo como se o mundo estivesse para acabar.
Gray desculpou-se e explicou que o diretor Makarov estava convocando todos os alunos para uma reunião no refeitório. Erza e Mirajane, que estudavam naquela escola há anos, trocaram olhares cheios de dúvida. Não era comum o diretor fazer reuniões, ainda mais com a escola inteira reunida. Todos sabiam como era difícil controlar muitos alunos juntos. Principalmente quando estes estudavam na Fairy Tail. A escola podia ser marcada por grande prestígio devido a qualidade elevada de ensino, mas todos em Magnólia, cidade onde a escola se situava, sabiam que os estudantes da FT eram ansiosos e festeiros demais. Muitos deles em um ambiente só não costumava ser uma ocasião tranquila e silenciosa.
As meninas se dirigiram juntas ao refeitório enquanto Gray continuava a correr pela escola para passar o recado. Erza riu internamente quando percebeu que o diretor Makarov estava brincando com Gray. Se quisesse, o velho poderia simplesmente convocar todos os alunos através do auto falante da escola, mas ele fez questão de mandar o menino espalhar a noticia.

Chegando ao refeitório, viram que estavam no grupo dos últimos estudantes a chegarem ao local, provavelmente só faltavam aqueles que estivessem dormindo em algum canto escondido da escola ou os que foram ao banheiro. Procuraram por um tempo até encontraram Levy. A pequenina estava em uma mesa com alguns assentos vazios, provavelmente reservados para elas, Natsu e Gray. Erza estranhou por um momento, até finalmente se lembrar de que havia avisado de seu encontro com Mirajane. Estando todas sentadas, os únicos lugares vazios eram os dos meninos, que chegaram alguns minutos depois, aos berros. Natsu provavelmente se enquadrava no grupo de alunos que estavam dormindo em algum canto da escola. Gray chamava-o de idiota e ele só ignorava, bocejando. Dragneel sentou-se ao lado de Lucy e apoiou sua cabeça no ombro da menina, que se assustou com a atitude repentina. Via que ele estava com sono, mas imaginara que ele tentaria se manter acordado para ouvir o diretor, mas o menino de cabelos espetados só ficou acordado porque Erza e Gray socaram-no na cabeça.
Mesmo com dor, Natsu forçou-se a ficar quieto. Makarov chegara.

— Meus queridos alunos da Fairy Tail — o diretor usava um auto falante, o que fez com que Erza risse novamente e Gray percebesse que sua corrida fora inútil. Suas orelhas ficaram vermelhas e ele cruzou os braços, bufando, mas resolveu ficar quieto. — Sei que muitos de vocês já sabem sobre a competição que irá acontecer entre a Fairy Tail e — quando o diretor falou em “competição”, todos no refeitório começaram a gritar e jogar suco uns nos outros.

Após alguns minutos e algumas ameaças de suspensão, Makarov conseguiu retomar o controle da situação.

– Continuando. Sei que muitos já sabem sobre a competição – quando repetiu a “palavra proibida”, Makarov lançou um olhar assustador para todos os estudantes ali presentes, para garantir que não seria interrompido de novo. Limpou a garganta e continuou – Entretanto, poucos sabem que evento realmente nos espera. Esta competição acontecerá aqui mesmo, na Fairy Tail, escola escolhida para sede do evento através de um sorteio. Como algumas escolas desistiram, a competição será travada entre vocês e os estudantes da escola Phantom Lord, apenas. Haverá uma quantidade diversa de atividades, que requererão grande intelecto ou capacidade física para esportes. A distribuição será por meio de pontos, não de medalhas, e tais pontos serão contados na média de vocês. Portanto, além de irem bem nas provas da semana que vem, é bom que consigam uma boa pontuação na competição. Lembrem-se que as notas de vocês são o futuro de vocês. Esforcem-se agora e tal esforço será recompensado no futuro. Mas não se esqueçam de manter o espírito esportivo e de jogar limpo. Não aceitarei trapaças ou qualquer atividade que prejudique a competição em prol de um único aluno ou algum grupo. Quero uma competição honesta. Confio em vocês, estudantes da Fairy Tail. Saibam que a competição acontecerá em dois meses, um pouco antes das férias. Preparem-se bem e boa sorte.

Ao fim do discurso, Makarov ergueu o braço direito. Seu punho estava quase fechado, com o indicador erguido e o dedo polegar direcionado para a direita. Então, gritou:

— BOA SORTE, FAIRY TAIL!

Todos os alunos levantaram-se, repetiram o gesto e gritaram todos juntos, o nome da escola.

Lucy não sabia, por ser uma novata, o que aquele gesto significava. Mas, ao repeti-lo junto com seus amigos, sentiu-se mais conectada a eles e seu coração se aqueceu em completa felicidade, como quando viu Natsu sorrir pela primeira vez. Na verdade, a sensação era mais forte. É como se cada estudante sorrisse para ela.

Não era mais simplesmente Lucy Heartfilia. Era Lucy Heartfilia, estudante da escola Fairy Tail. Sentia-se bem, como se estivesse em casa. Pouco tempo se passou desde que as aulas começaram, mas aquela ruiva, aquela azulada, aquele moreno, aquele róseo e até mesmo aquela platinada já eram parte de sua família, e estariam para sempre em seu coração.

Lucy não conseguiu conter as lágrimas, por isso virou-se para escondê-las. Não queria ter que explica-las, queria apenas deixa-las caírem, em paz. A sensação de paz, a sensação de amor. Ela realmente se sentia em casa.