Warmata escrita por The Vex


Capítulo 2
Capítulo 2. Música de Amor Número Um




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De acordo com a perspectiva de tempo de cada pessoa, dois minutos podem ser uma eternidade ou um piscar de olhos. Mas, quando se vê o seu ônibus indo embora sem você, a metade da metade da metade desse tempo é questão de você chegar ou não atrasado para um compromisso.

Quando Ícaro e Lúcio finalmente chegaram ao ponto, o ônibus deles já ia rua abaixo, parando no próximo ponto, que ficava quinhentos metros depois.

— A gente espera outro. — Disse Ícaro, conformado.

— Outro? Meu cu que eu vou esperar outro ônibus — Lúcio retrucou, indignado —, vamos a pé.

Lúcio voltou a andar, e quando percebeu que Ícaro não tinha saído do lugar, disse:

— Você não vai não?

Ícaro se sentou no banco do ponto de ônibus. — Vá, pode ir. Aposto que vou chegar mais rápido — desafiou.

Lúcio suspirou. — Se foder, hein. — Cedeu, e acabou por sentar ao lado de Ícaro.

O ponto de ônibus estava totalmente vazio, então os dois tinham espaço o suficiente para se sentar numa posição confortável. Quando Ícaro percebeu o quão quente o sol estava naquela tarde, agradeceu por aquele ser um ponto coberto, e não um daqueles que era só uma plaquinha grudada em algum poste ou vara de madeira. Passaram-se alguns minutos até um ônibus dobrar o final da rua. Ícaro se levantou para tentar olhar qual era, mas só conseguiu enxergar a plaquinha quando o veículo chegou mais perto.

— Setecentos e três — disse virando o rosto. — Bora?

— Melhor pegarmos um que vá direto para o shopping. — Lúcio respondeu.

Ícaro franziu o cenho. Não esperava por aquela resposta. Talvez fosse algum tipo de revanche, então deixou pra lá. Puxou o celular do bolso e percebeu que só tinham se passado dez minutos desde que tinham deixado o apartamento. Andou para trás e ia sentando de novo no banco de pedra quando Lúcio colocou a palma da mão aberta em suas costas, impedindo-o de prosseguir.

— Olhe lá — ele disse enquanto o empurrava e se levantava ao mesmo tempo —, o Circular. — Lúcio colocou um pé para fora da calçada, e estendeu o braço, fazendo sinal para que o ônibus parasse.

Lúcio subiu primeiro, dando um “Bom dia” para o motorista do ônibus por ele e por Ícaro. Estava quase vazio, então eles tiveram tempo de sobra para passar a catraca e selecionar um lugar vazio. Acabaram por sentar naqueles bancos um pouco mais alto que os outros, com dois lugares.

Ícaro se adiantou quando percebeu que o amigo tinha dado espaço para que ele sentasse na janela. Puxou o fone do bolso e o ajeitou por dentro da camisa.

— Tem medo de ser roubado não? — Lúcio perguntou

— Não — respondeu, seco. Encostou a cabeça no vidro, e colocou a música que queria. Os olhos fixados na paisagem do outro lado do vidro, e o olhar em um imenso vazio. Nem se incomodava nos momentos em que sua cabeça tremia com o vidro quando o ônibus passava por um quebra-molas, ou dava uma freada.

Como eu adoro esses fogos embelezando o céu.

Eu quase me esqueço que você tá do meu lado exigindo atenção

Que hoje está em falta...

Quando o ônibus parou no terminal, as poucas pessoas que estavam no ônibus desceram, e muito mais subiram. O ônibus encheu de gente. Com o canto do olho, Ícaro viu Lúcio se oferecendo para segurar a bolsa de uma garota que estava em pé ao lado dele.

Eu sou assim,

Me distraio facilmente: “Olha lá o avião”

Enquanto você me espera no escuro eu aproveito pra tomar o sol da manhã

A viagem não durou muito ou, pelo menos, não no ponto de vista de Ícaro. “Sol da Manhã” acabou e, na metade da próxima música do álbum, eles já tinham chegado ao destino.

O maior shopping da cidade era um conjunto de corredores cercados por lojas que se intercalavam, não tendo um padrão pré-definido. No centro, uma “área verde”, outrora com mini cascatas e peixes, agora era só um jardim mal desenhado. Foram até a ala do cinema, e, pelo fato de a fila não estar tão grande, conseguiram pegar a sessão das duas e quarenta. Depois de comprarem os ingressos, ainda tinham uns bons dez minutos para fazer qualquer coisa.

— Melhor entrarmos logo — Ícaro sugeriu, enquanto guardava os ingressos e o troco no bolso. — Vai comprar pipoca?

— Sim, mas pode ir indo pra fila.

Ícaro foi até a fila para a entrada enquanto Lúcio, que não demorou mais que quinze segundos para ser atendido, comprava a pipoca. Um grupo de pessoas conversava e ria alto à sua frente. Uma das garotas olhou para ele com um olhar de desgosto, mas quando percebeu que Ícaro tinha visto, tentou disfarçar com um sorriso falso.

Se preparou para ligar o “foda-se” mental, mas seu pensamento foi interrompido por Lúcio, que trazia uma pipoca mega numa das mãos, e um copo de refrigerante de um litro na outra, com dois canudos espremidos entre os dedos médio e indicador e o copo.

— Marcela! — Ele exclamou, e a garota mais baixa do grupo foi até ele com um sorriso. O cabelo estava amarrado numa trança pequena que caía pelo lado do pescoço. Era branca, quase pálida, com olhos castanho-escuro e nariz pequeno. — Cara, que que você tá fazendo aqui?

— Ué, não sabia que essa daqui é uma fila para um suicídio coletivo para sobrecarregar o inferno e derrotar Lúcifer? — Ironizou.

Ícaro se permitiu dar um sorriso, e Lúcio gargalhou. — Vamos? — Ele olhou para Ícaro, num sinal para que ele pegasse os ingressos. Entraram todos juntos, o cara que checava os ingressos disse que era a sala sete, uma das maiores.

— Qual é a fileira de vocês? — Ícaro perguntou, como quem não quer nada.

— J-treze até o dezessete; e a de vocês?

Torceu a boca, fazendo um rosto falso de desapontamento. — M-cinco e seis. — Disse, e foi para o lugar marcado com um aceno de mão. Lúcio não demorou a segui-lo, mas antes, ficou um tempo sentado ao lado das garotas. Quando os trailers começaram, ele voltou correndo, tomando cuidado para não derrubar a pipoca.

— Podia deixar isso aqui comigo, né não? — Perguntou, com raiva.

— Pra você comer tudo? Não.

— Modinha.

— O que é modinha? — Lúcio perguntou sem entender.

Ícaro pegou os canudos, e começou a tirar o plástico que os envolvia. — Aquela menina lá.

— Aaah, a Marcela? Não, quer dizer, sei lá — Lúcio ajeitou a pipoca entre as pernas —, ela me chamou pra uma parada na casa dela hoje à noite.

— Massa — disse enquanto colocava os dois canudos num pequeno buraco feito na tampa do copo.

— Massa nada, eu quero que você vá comigo.

— Me obrigue. — Ícaro colocou os óculos 3D. — Véi, você sabe que são aquelas festinhas, né? Vai ter bebida, pegação, se brincar, até droga. E eu não gosto dessas coisas.

— Ah, mas vai ser tão legal! Ela disse que descobriu um jeito pra fazer uma iluminação bem da hora.

— Vou ver — disse, finalmente.

O filme estava começando, então os dois calaram a boca. O fato de ter que pegar a pipoca entre as pernas de Lúcio o deixava um pouco desconfortável, mas se Lúcio não se sentia assim, não via motivo para fazer o mesmo.

No meio do filme, Lúcio entregou o saco de pipoca quase vazio para ele, e deitou a cabeça no braço da cadeira de Ícaro. Estava na última fileira, a mais alta, então não tinha nenhuma cadeira à frente deles. Ícaro sentiu um arrepio. Vendo Lúcio daquela maneira, teve vontade de pousar a mão em seus cabelos, fazer um cafuné, e beijar sua cabeça, mas se conteve. Amassou o saco de pipoca, deixou no banco ao lado que estava vazio, e voltou a ver o filme.


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Notas finais do capítulo

A música que aparece no meio do capítulo é "Sol da Manhã", do Supercombo.



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