You're Always Here - Hayffie escrita por F Lovett


Capítulo 19
Capítulo 19 - Minha Defesa


Notas iniciais do capítulo

Olá, amores da Lovett!!!

Ansiosos pra verem a Effie em ação? Bom, não anseiem muito, porque esse capítulo ta bem leve em relação ao treinamento da Effie, mas no final do capítulo tem uma revelação meio chorosa, então vai compensar a falta de "ação" vinda dela.

O treinamento da Effie não será exatamente de um tributo, aliás, eles vão para o D13 e as coisas são diferentes lá, não é mesmo? Enfim, vou deixá-los com o capítulo!

Boa leitura! ;)



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CAPÍTULO XIX

Haymitch só pode estar louco.

Ele está parado a um pouco mais de um metro de distância. Seu olhar mostra sua determinação. Não, ele não está brincando.

– Vitoriosa - repito o que ele disse há pouco. - O que quer dizer com isso? - indago, mesmo tendo uma ideia do que se trata. Olho novamente ao meu redor e, mais a frente, vejo algumas armas. Reconheço um revólver entre elas.

– Precisa aprender a se defender sozinha - ele explica enquanto analisa o salão. - Não temos certeza se vamos sair em segurança ou não, então é melhor que aprenda alguma coisa... só para garantir.

– Mas Haymitch... Essas armas - aponto para o revólver mais a frente - não fazem parte do treinamento dos tributos. Como conseguiu?

Talvez ele não esperasse por essa pergunta. Ele rói a unha do polegar e lança um olhar para as armas de fogo reunidas numa mesa.

– É delas que nós vamos precisar - ele responde. - Precisamos de algo ágil, rápido. Será mais favorável a nós se estivermos munidos com essas belezinhas aí.

Volto a olhar para as armas. Um frio percorre meu estômago e me sinto nervosa. Nunca segurei arma alguma e nunca imaginei que viesse a precisar fazer isso algum dia.

– Não precisa ficar nervosa - Haymitch diz calmamente, tentando me tranquilizar, mas sei que também está preocupado. - Vá trocar de roupa, pois quanto mais cedo começarmos, melhor.

Assinto com a cabeça e retiro minha peruca, deixando-a na mesa onde Haymitch deixou a bolsa térmica. Em seguida descalço meus saltos e começo a abrir o zíper do vestido aqui mesmo.

– Não é melhor se trocar lá? - Haymitch indaga e olho para trás. Ele está apontando para a porta que dá para a antessala do salão.

– Estou com uma roupa por baixo - respondo. Haymitch levanta rapidamente as sobrancelhas, consentindo.

Me sinto um pouco ridícula fazendo isso. Literalmente desci do meu tão amado salto e estou vestindo roupas que não tem nada a ver comigo. Mais uma coisa que nunca me imaginei fazendo: usar uma camiseta simples com um short. Esse é o tipo de roupa que, quando uso, é apenas por baixo, quando preciso. Uso como algumas mulheres usam cinta, como outras usam espartilho. Peças desnecessárias para o meu dia-a-dia. Peças que não fariam falta se eu não as usasse, mas, agora, foi realmente preciso.

Tento imaginar como deve ser no Distrito 13. Será que será permitido que eu seja eu mesma? Poderei continuar usando as minhas roupas? Continuarei na alta costura, como sempre fui? Essas perguntas martelam na minha cabeça, mas sei que mesmo se perguntar para Haymitch, ele não vai saber responder.

– Acho que nunca vou me acostumar com você assim - ele comenta assim que retiro o vestido. Olho para a minha roupa e não me reconheço. Espero que isso não demore. Quero colocar logo aquele vestido de volta no meu corpo.

– Muito menos eu - digo e ele ri brevemente. Ao perceber que estou pronta, ainda com um pouco de nojo por estar descalça, Haymitch se direciona até a mesa que está com as armas, acenando para que eu me aproxime.

– Bom - ele começa a dizer quando paro ao seu lado e encaro as armas na mesa - essas armas foram liberadas por Plutarch há alguns dias. Como só tivemos a liberação dele para virmos hoje, então vamos aproveitar - Haymitch cruza os braços e olha para mim. - Reconhece alguma? Tem ideia, pelo menos?

– Só o revólver - respondo. - Eu acho.

– Ótimo - Haymitch exclama com tanta empolgação que acaba me assustando um pouco. Ele estica o braço e pega a arma, me entregando logo em seguida. Após isso ele se vira e vai empurrando a mesa para um canto. - É pequena, ligeiramente leve, em relação as demais, e prática.

– Você sabe atirar? - indago. Nunca vi Haymitch com alguma arma desde que começamos a trabalhar juntos e na arena não é permitido usar armas de fogo. Nunca foi. De todas as armas da cornucópia, nunca teve alguma de fogo.

– Aprendi há algum tempo - ele responde. Agora está indo para o extremo a minha frente e começa a levantar alguns objetos que me parecem manequins. Ele levanta cinco e os arruma um ao lado do outro, numa distância de, acredito, dois metros. - Mas como nunca houve a necessidade de usá-la, nunca precisei tocar nesse assunto com ninguém.

Assim que termina de arrumar os manequins em seus respectivos lugares, Haymitch volta até mim e pega a arma nas mãos, começando a inserir as balas.

– São de verdade?

– É claro que são - Haymitch responde como se fosse a pergunta mais óbvia. - Acha que vou treinar você com o que? Doces?

Lanço-lhe um olhar de reprovação. Haymitch ri ao me ver assim.

– Tudo bem - ele diz. - Não vou ensiná-la a atirar logo hoje. Faremos isso à medida que você ficar mais... - ele me analisa de cima a baixo e sinto calafrios com isso - treinada.

– Então por que arrumou aqueles bonecos, se não vai usar?

– Só queria ver você nervosa - ele diz com um ar divertido na voz. - Foi engraçado.

Fecho a cara para o lado dele. Cruzo os braços e dou de ombros.

– Tá bom - ele diz e começa a chegar mais perto. - Vou criar algumas situações e quero apenas que você se defenda, tente fugir.

– Vou ter que bater em você? - indago. Confesso que isso está me assustando.

– Agradeço se não fizer isso - ele diz. - Só se for realmente preciso... tudo bem?

Concordo com a cabeça. Haymitch continua andando, mas agora está atrás de mim. Não sei exatamente o que devo fazer, então fico parada. De repente, Haymitch me segura pelos pulsos com força. Ele junta as minhas mãos atrás de mim e me puxa brutalmente. Ele me aperta nos pulsos cada vez mais forte.

– Ai, Haymitch! - berro quando ele me aperta. - Por que não avisou que ia começar?

– Você acha que vai ser avisada numa situação dessas? - ele indaga, impaciente. - Ah, com licença, Srta. Trinket, mas me dá permissão de atacá-la? sua voz sai cômica, como se tentasse imitar qualquer um. - Não, queridinha - ele retoma seu tom de voz normal. - Você não vai ter isso. Tem que estar preparada.

– Não, Haymitch, por favor - minha voz sai embargada. Estou choramingando. - Está me machucando!

Fungo sem querer. É quando percebo que estou prestes a chorar. Seu aperto está realmente me incomodando bastante. Ele quer que eu me defenda, mas não quero machucá-lo.

– Então se defenda! - ele me incentiva, puxando um pouco os meus braços.

Aperto os meus olhos, com raiva de mim mesma por estar fazendo isso, mas conto até três e piso com força em um dos pés de Haymitch. Isso faz com que ele afrouxe o aperto nos meus pulsos. Dou meia volta e encontro os seus olhos. Haymitch parece me encarar um pouco assustado e não entendo a razão. Eu poderia simplesmente correr, mas olho rapidamente para os meus pulsos, que agora estão com as marcas dos dedos de Haymitch, em vermelho, e isso acaba despertando uma raiva lá no fundo. Então não penso duas vezes até investir o meu joelho entre as suas pernas com toda a força que tenho. Haymitch passa apenas dois segundos em pé antes de desabar no chão, cheio de dores. Ele coloca as duas mãos entre as pernas e começa a se contorcer de dor. Seria até cômico se eu não estivesse me sentindo tão culpada.

– Haymitch! - sussurro quando, na verdade, queria gritar. Ponho as mãos na boca e o observo gemendo de dor no chão. Me abaixo rapidamente e fico de joelhos. Hesitantemente, tento pousar minhas mãos em cima dele, no seu braço, tentando acalmá-lo, mas não sei o que fazer.

Com o pouco de esforço que fizemos até agora, já noto que estou suando e isso não tem nada de bom. Preciso de um banho imediatamente.

Me aproximo aos poucos de Haymitch e o percebo recuar. Ele berra algo sem sentido e se encosta na parede, ainda com dores. Me sinto um monstro por ter feito isso. Sento-me, então, ao lado dele e me encosto na parede, esperando que o chão não esteja tão sujo.

– Me desculpe, Haymitch - começo a dizer, sentindo o desespero começar a tomar conta de mim. Haymitch continua se contorcendo de dor. - Não foi minha intenção, eu juro!

Haymitch parece se contorcer menos agora. Paro de falar e aguardo até que ele se acalme. Isso leva um ou dois minutos.

Hesitantemente, levo minha mão até a sua cabeça e começo a passar os dedos pelos seus cabelos. Haymitch não protesta, então aproveito o espaço. Sento-me um pouco mais perto dele e o induzo a pousar sua cabeça no meu colo. Suas mãos não estão mais entre as pernas, o que me faz deduzir que a dor diminuiu, mas não cessou, já que ele ainda faz algumas caretas.

Continuo passando os meus dedos pelos seus cabelos rebeldes. Sua expressão suaviza e eu suspiro, aliviada.

– Me desculpe - murmuro.

– Deixa pra lá - ele resmunga baixinho. Seus olhos, então, se abrem e ele me fita. - Mas algo me diz que você já fez isso antes - comenta. Um frio percorre o meu estômago. Desvio meu olhar e olho para a frente, foco em um dos bonecos no canto do salão. Alguns flashes começam a passar pela minha cabeça e tento afastá-los de imediato, mas eles insistem em me atormentar agora.

"Você já fez isso antes" disse Haymitch. Sim, já fiz. Mas até então estava feliz por não precisar me lembrar disso. Estava feliz o suficiente para não perder meu tempo com algumas lembranças que faria questão de apagar para sempre.

Ótimo. Agora isso.

– Effie? - ouço Haymitch me chamar, acordando-me dos meus devaneios. Ele parece um pouco preocupado, então forço um pequeno sorriso, tentando aparentar que está tudo bem.

– Haymitch, acho melhor subirmos - proponho. Ele continua com o cenho franzido. - Portia já deve ter chegado e pode estar procurando por nós. Ela disse que viria hoje de manhã - acrescento.

Haymitch leva dois segundos para decidir, então concorda com a cabeça. Ele se levanta primeiro e depois estende uma mão para me ajudar a levantar. Quando me viro para pegar meu vestido, Haymitch me puxa para um beijo e começa a dar alguns passos na minha direção, até me encostar na parede. Suas mãos passeiam por baixo da minha camiseta e acabo me arrepiando.

Ele não me beija por muito tempo. Logo se afasta e me fita novamente. Sua mão agora está pousada no meu rosto.

– Você ainda não me respondeu - ele diz. - Você já fez isso, não fez?

Meu coração erra uma batida. Meu estômago congela novamente.

– Ah - gaguejo.

Passo a língua nos lábios para tentar ganhar tempo. Haymitch continua me observando.

– Já - digo. - Já fiz.

– E o que aconteceu para você fazer isso? - Haymitch indaga. - Foi algum assalto?

Balanço a cabeça negativamente e olho para baixo. As imagens começam a passar mais uma vez na minha cabeça.

– É uma longa história - respondo ainda de cabeça baixa.

– Eu posso ouvir. Eu quero ouvir.

Respiro fundo, sabendo que ele não vai me deixar ir sem dizer alguma coisa.

– Eu... - começo a dizer, tentando encontrar as palavras corretas. - Eu tive um namorado, o Colin, já tem um tempo. Terminamos logo após eu conseguir o cargo como escolta dos tributos. Acredito que um mês depois - continuo olhando para baixo. Sei que Haymitch me fita com bastante atenção, mas neste momento não quero fitá-lo. - Mas... depois de um tempo ele começou a beber e... - percebo minha voz falhar, mas tento controlar o choro.

– Ele bateu em você?

Suspiro e assinto com a cabeça.

– Ele me ameaçava quando eu dizia que ia terminar - nesse ponto já sinto meus olhos ficarem cada vez mais úmidos. Fungo e tento prosseguir. - Então, um dia, ele foi até o meu apartamento e tentou me forçar a transar com ele. Eu disse que não, é óbvio, mas ele insistiu e me segurou da mesma forma que você fez aqui - levanto finalmente meu olhar para fitar Haymitch. Seu rosto está vermelho de raiva e seus olhos estão tão úmidos quanto os meus. - Então eu fiz o mesmo que fiz aqui e em seguida chamei os pacificadores de plantão do meu prédio. Eles o levaram e... bem, até hoje não tenho mais notícias dele.

Forço um sorriso que, provavelmente, saiu torto. Percebo que algumas lágrimas já escorreram pelo meu rosto, então me adianto em enxugá-las.

Filho da puta!– Haymitch rosna e dá um soco na parede, então faz uma careta e cobre sua mão dolorida com a outra. Caminho até ele e seguro sua mão dolorida. Ele continua apertando os olhos com a dor.

– Haymitch, calma! Descontar na parede não vai adiantar.

Volto a me encostar na parede e Haymitch me abraça, enterrando seu rosto no meu pescoço.

– Como alguém teve coragem de fazer isso com você?

Haymitch aperta o abraço e respiro fundo, fechando os olhos.

– Por que não me contou? - ele indaga.

– Achei que seria mais fácil para esquecer - respondo. De fato, era. Não tocar nesse assunto me ajudava a não lembrar.

– Effie.

– Hm?

– Eu nunca machucaria você.

– Eu sei - digo, sem conseguir evitar o pequeno sorriso que se forma nos meus lábios. - Gosto de saber disso.

Ficamos abraçados por mais um bom tempo. A facilidade com que Haymitch consegue me tranquilizar é tão grande que, às vezes, me assusta. Fecho os olhos e sinto o leve cheiro de álcool que emana dele. Mas isso não me incomoda, pois nunca alterou sua personalidade desde que o conheci. Suas mãos pousam nas minhas costas e se movimentam lentamente, passando-me uma sensação boa. Nesse abraço tenho a certeza que, com ele, estarei protegida.


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Notas finais do capítulo

E Effie nunca tocou no assunto, nunca, nunquinha.

Estava tentando encontrar algum lugar para encaixar essa parte do passado da Effie, mas só consegui agora. Mas, bem, o Colin não vai aparecer mais para atormentar a vida dela. Isso eu posso garantir a vocês.

EEEEEEENFIM, espero que tenham gostado do capítulo. xD

Deixem seus comentários, me deixem feliz ♥